De grão em grão https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br Como cuidar do seu dinheiro, poupar e planejar o futuro Sun, 05 Dec 2021 09:31:02 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Com taxas prefixadas e inflação mais elevadas, entenda qual renda fixa é melhor https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/11/07/com-taxas-prefixadas-e-inflacao-mais-elevadas-entenda-qual-renda-fixa-e-melhor/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/11/07/com-taxas-prefixadas-e-inflacao-mais-elevadas-entenda-qual-renda-fixa-e-melhor/#respond Sun, 07 Nov 2021 05:30:53 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/sem-cabeca-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2809 A alta da inflação acima do esperado e o ruído político promoveram uma forte elevação da curva de juros. Com isso, as taxas de juros de títulos de renda fixa prefixados parecem bem interessantes quando comparadas com as taxas disponíveis no início de 2021. No entanto, a inflação ainda preocupa e investidores se questionam se vale a pena correr o risco das taxas prefixadas, ou é melhor a segurança dos títulos referenciados ao IPCA. Explico abaixo o que precisa avaliar para decidir.

A curva de juros  futura, negociada na B3 e que é utilizada para precificação dos títulos de renda fixa já sugere que a Selic pode superar 13% ao ano em meados 2022.

A tabela abaixo apresenta na segunda coluna a estimativa do mercado para as variações da Selic nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (COPOM) e, na última coluna a expectativa da taxa DI após a elevação dos juros. Para entender os números na tabela, 100 pontos base de variação da Selic equivalem a uma alta de 1%.

A tabela acima apresenta as datas das próximas reuniões do COPOM, as estimativas do mercado para as altas em cada reunião e a taxa DI resultante após a reunião. Fonte e elaboração: Bloomberg.

Perceba que as taxas negociadas no mercado já consideram que a taxa Selic pode alcançar 13,5% ao ano em junho de 2022.

Desde o final de 2017, brasileiros não têm disponível taxas de retorno acima de 10% ao ano em títulos de renda fixa. Este retorno parece tentador, mas para decidir entre o indexador prefixado ou referenciado ao IPCA, é preciso fazer uma difícil aposta. Antes de explicar qual é a aposta, apresento alguns detalhes que você também deve considerar.

O primeiro ponto a entender é que quando for comparar títulos de renda fixa de remuneração diferente, deve considerar o mesmo emissor. Obviamente, um título público que rende a Selic vai render menos que um título pós-fixado emitido por um banco médio.

Por exemplo, o título Tesouro Selic, devido à taxa de custódia cobrada pela CBLC de 0,25%, deve render próximo de 90% do CDI. Já um CDB de banco médio, pode render mais de 130% do CDI. Essa diferença de rentabilidade ocorre pelo risco de crédito do banco. Quem investe menos de R$250 mil por emissor, conta com a garantia do FGC. Portanto, para estes casos, o risco é mitigado e o CDB de banco médio é imbatível em relação ao Tesouro Selic.

O mesmo raciocínio se aplica quando compara um CDB de banco médio prefixado ou referenciado ao IPCA e o título do Tesouro de mesma remuneração. Para o mesmo prazo, o CDB provavelmente terá maior rentabilidade

Entretanto, meu objetivo é explicar como você pode decidir entre a remuneração prefixada e IPCA. Portanto, usarei os títulos públicos do Tesouro Nacional para a comparação, considerando, assim, o mesmo risco de crédito.

A decisão entre os títulos não deve considerar apenas o retorno que é apresentado hoje, mas o que deve ocorrer com os movimentos do COPOM e da inflação, nos próximos anos. Entenda, que um título prefixado pode parecer mais vantajoso hoje, mas pode perder para a Selic, dependendo das alterações de taxa de juros que o COPOM deve praticar até o vencimento do título.

Vamos nos restringir, no entanto, à decisão apenas às duas remunerações: IPCA e prefixada. O processo de escolha é simples, mas, como mencionei, vai exigir que você faça uma aposta em relação ao que há implícito nas curvas de juros em cada momento até o vencimento do título. O site da Anbima te ajuda neste cálculo.

A Anbima atualiza, diariamente, a tabela abaixo, disponível no link. Nesta tabela encontrará a taxa equivalente para o Tesouro IPCA e Tesouro prefixado para cada prazo.

Estrutura a termo de taxas de juros (ETTJ) calculada pela Anbima. Taxas equivalentes aos títulos públicos referenciados a IPCA e prefixado para os vários anos de vencimento. Fonte: Anbima

Na última coluna desta tabela, há a taxa de inflação implícita no título prefixado que faz ele ser equivalente ao referenciado ao IPCA, de mesmo vencimento. A deliberação entre IPCA ou prefixado reside em como sua perspectiva diverge desta inflação implícita.

Vamos usar os títulos com vencimento em cinco anos (2026) para ilustrar. Se você acredita que a inflação de hoje até cinco anos a frente será superior 6,33% ao ano, você deve preferir o título referenciado à inflação. Mas, se você acha que a inflação, nos próximos cinco anos, será inferior a 6,33% ao ano, deve preferir o título prefixado.

A rentabilidade do título prefixado é a composição da taxa do Tesouro IPCA e da inflação implícita. Por exemplo, com o título do quinto ano: 11,97% = (1 + 0,0530) * (1 + 0,0633) – 1.

Logo, se acredita que a inflação nos próximos cinco anos será de 4% ao ano, se comprar o título referenciado à inflação, vai ganhar 9,51% = (1 + 0,0530) * (1 + 0,04) – 1. Portanto, menos que a remuneração do título prefixado para o mesmo período que hoje é de 11,97% ao ano.

De outra forma, caso suspeite que a inflação nos próximo cinco anos, será de apenas 7% ao ano, melhor comprar o título referenciado ao IPCA. Isso ocorre, pois o título referenciado ao IPCA vai render 12,67% = (1 + 0,0530) * (1 + 0,07) – 1. Logo, mais que o título prefixado.

Como vimos, o processo de escolha é simples, mas para se chegar à decisão correta, você precisa ter uma boa previsão sobre a inflação nos próximos anos. Na dúvida, prefira a segurança dos títulos referenciados ao IPCA, se for investir com prazo superior a três anos de vencimento.

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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Economistas começam a revisar suas projeções para 2022, mas o mercado sai na frente https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/10/24/economistas-comecam-a-revisar-suas-projecoes-para-2022-mas-o-mercado-sai-na-frente/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/10/24/economistas-comecam-a-revisar-suas-projecoes-para-2022-mas-o-mercado-sai-na-frente/#respond Sun, 24 Oct 2021 05:30:40 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/Mark-Abramson-The-New-York-Times-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2787 As novas sinalizações sobre a política fiscal do governo levaram economistas a iniciar revisões de suas projeções de crescimento econômico, inflação, juros e câmbio para o próximo ano. No entanto, o mercado, nesta semana, já ajustou os preços dos ativos para um cenário bem pior.

Semanalmente, o Banco Central (BC) agrega e divulga a expectativa média dos economistas com relação às principais variáveis econômicas. O relatório divulgado na última segunda-feira já representa um passado distante. Veja abaixo a média dessas expectativas.

Expectativa média dos economistas para 2022 sobre as principais variáveis econômicas. Fonte: Relatório Focus do Banco Central do Brasil.

Em relatório divulgado neste sábado pela corretora XP Investimentos, o economista Caio Megale revisou suas projeções sobre as mesmas variáveis. Veja abaixo que os números se distanciam do que foi a pesquisa do BC.

Revisão das projeções de Caio Megale sobre as principais variáveis econômicas para 2022. Fonte: Relatório da XP Investimentos.

De fato, a revisão de Megale não foi a única. Na sexta-feira, o Credit Suisse também revisou seus números e agora espera que o crescimento econômico no próximo ano seja de apenas 0,6%, que a inflação suba para 5,5% e que a Selic atinja 10,5% ao ano em 2022.

Mais revisões devem ocorrer nas próximas semanas e, provavelmente, o relatório Focus do BC não vai capturar todas as revisões tão logo. No entanto, os investidores já ajustaram nos preços dos ativos o novo cenário pior.

 

Quanto o mercado já precifica para Selic em 2022?

Com a alta na curva de juros que ocorreu esta semana, o mercado já precifica que a Selic alcançaria antes do fim de 2022 o patamar de 12% ao ano.

O quadro abaixo apresenta o que o mercado de juros futuro já tem implícito para aumentos da taxa Selic pelo Comitê de Política Monetária (COPOM). A primeira coluna são as datas das próximas reuniões do COPOM, a segunda coluna são os aumentos previstos e a terceira coluna qual o valor resultante para a taxa DI.

Expectativas de altas da taxa Selic pelo COPOM implícitas na curva de juros futuro. Fonte e elaboração: Bloomberg.

Portanto, o mercado já precifica que o COPOM deve elevar os juros mais do que os economistas esperam.

 

Qual a expectativa do mercado para o IPCA em 2022?

Considerando, as taxas negociadas para os títulos de renda fixa prefixados e as taxas reais dos títulos referenciados ao IPCA, é possível descobrir a inflação implícita pelo mercado.

Esta inflação implícita já está acima de 6% ao ano para os próximos anos. Logo, acima da projeção revisada pelas corretoras mencionadas.

 

O que o mercado já colocou no preço das ações para 2022?

O cenário de taxas de juros mais altas e de crescimento econômico menor se reflete nas empresas em menor crescimento de lucros.

O gráfico abaixo apresenta a evolução nos últimos 10 anos do índice de ações Ibovespa (linha branca) e da expectativa para o ano seguinte para o lucro médio ponderado das empresas que o formam (linha verde). Perceba que ambos andam em sincronia no longo prazo.

Evolução nos últimos 10 anos do índice de ações Ibovespa (linha branca) e da expectativa para o ano seguinte para o lucro médio ponderado das empresas que o formam (linha verde). Fonte e elaboração: Bloomberg.

O mercado espera que em 2021 o lucro médio ponderado do Ibovespa (EPS – Earnings Per Share, ou lucro por ação) seja equivalente a R$ 14,39 mil. Para 2022, esperava-se que este EPS fosse de R$13,3 mil. Logo, os analistas já tinham em suas projeções uma queda 7,5% para 2022 nos lucros.

No entanto, a queda dos preços das ações desta semana sugere que a expectativa para o lucro médio das empresas apresente queda adicional de 15% para 2022. Ou seja, que a queda dos lucros em 2022 superaria os 20%.

Uma queda de lucros de mais de 20% considera um crescimento econômico para o país pior que o esperado pelas corretoras mencionadas.

 

E o câmbio para 2022?

Já o câmbio tem seguido de perto a trajetória do risco país. O gráfico abaixo apresenta a evolução do risco país medido pelo Credit Default Swap (CDS) (linha laranja) e do câmbio R$/ USD$ (linha branca).

Evolução do risco país medido pelo Credit Default Swap (CDS) (linha laranja) e do câmbio R$/ USD$ (linha branca). Fonte e elaboração: Bloomberg.

Considerando o atual patamar do risco país e como o câmbio era negociado em momentos anteriores que o risco país atingiu este mesmo nível, é possível esperar mais desvalorizações para nossa moeda no futuro.

 

Como agir no portfólio?

Avaliando as expectativas dos economistas e do mercado, é possível tirar algumas conclusões.

Cuidado ao decidir sobre sua carteira considerando apenas as mudanças que estão sendo realizadas pelos economistas e analistas. Muitas destas mudanças já estão refletidas nos preços de mercado.

Assim, para tomar suas decisões, reflita sobre o que pode ocorrer aos preços em relação ao que o mercado já considera, como mencionado acima.

Também é muito importante atentar para seu perfil de investidor e considerar horizontes de investimentos mais longos quando se deseja se expor a risco em momentos de mercado mais volátil como o atual.

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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Mercado, economistas e BC divergem sobre inflação. Quem está certo e o que fazer? https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/09/12/mercado-economistas-e-bc-divergem-sobre-inflacao-quem-esta-certo-e-o-que-fazer/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/09/12/mercado-economistas-e-bc-divergem-sobre-inflacao-quem-esta-certo-e-o-que-fazer/#respond Sun, 12 Sep 2021 05:30:33 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/Banco-Central-em-Brasília-Amanda-Perobelli-Reuters-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2740 Nos momentos de maior volatilidade do mercado, a incerteza sobre a evolução das variáveis econômicas é maior e ocorrem as maiores divergências sobre as expectativas entre os agentes. Nestes instantes, o risco é maior, mas surgem oportunidades. Comento abaixo as divergências que existem sobre as expectativas de inflação e como você deve investir em renda fixa neste cenário.

A meta de inflação do Comitê de Política Monetária (COPOM), medida pelo IPCA, está em 3,75%, 3,5%, 3,25 e 3% ao ano para 2021, 2022, 2023 e 2024, respectivamente. Estes dados representam o centro da meta, mas o Banco Central do Brasil (BC) tem um intervalo de tolerância para esta meta. O intervalo de tolerância é de 1,5% para cima e para baixo.

Caso o BC não consiga cumprir a meta e a inflação fique no ano fora do intervalo de tolerância, o BC deve “divulgar publicamente as razões do descumprimento, por meio de carta aberta ao Ministro da Fazenda, presidente do CMN, contendo descrição detalhada das causas do descumprimento, as providências para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos e o prazo no qual se espera que as providências produzam efeito”, como descrito em suas normas.

Como pode ser visto no gráfico abaixo, o BC já teve que se desculpar algumas vezes nos últimos anos e deve repetir neste ano.

Evolução do IPCA, expectativas de mercado (Focus) e meta para a inflação. Fonte e elaboração: Banco Central do Brasil.

A média das expectativas dos economistas, representada pela linha vermelha no gráfico acima, indica que a inflação deve ceder e voltar para dentro da faixa de tolerância do BC antes do fim do próximo ano.

Segundo o relatório Focus, divulgado semanalmente pelo BC, a expectativa média dos economistas é que o IPCA seja de 3,98%, 3,25% e 3% em 2022, 2023 e 2024, respectivamente.

No entanto, os investidores não estão tão confiantes quantos os economistas de que o BC conseguirá honrar seu dever.

A expectativa dos investidores de mercado pode ser extraída da diferença entre a taxa dos títulos públicos prefixados e referenciados ao IPCA. Essa diferença entre as taxas prefixadas e referenciadas ao IPCA é conhecida como inflação implícita nos títulos públicos.

O gráfico abaixo mostra a inflação implícita para os próximos nove anos.

Evolução da inflação implícita nos títulos públicos prefixados e referenciados ao IPCA ao longo dos próximos nove anos. Fonte: Anbima

Perceba que não só os investidores não acreditam que a inflação reverta e ceda para dentro da faixa de tolerância do BC, mas apostam que ela deve se manter elevada e superar 6% ao ano nos próximos anos.

 

O que isso significa e o que você deve fazer?

Como mencionei, a inflação implícita é extraída da diferença entre as taxas dos títulos públicos prefixados e referenciados ao IPCA.

Quando a inflação implícita é muito alta a taxa real de juros fica esmagada entre a taxa prefixada e a inflação implícita. Atualmente, isso ocorre nos títulos referenciados ao IPCA com vencimento acima de 5 anos.

A decisão entre comprar um título prefixado e referenciado ao IPCA deve considerar sua crença para o IPCA em relação a esta inflação implícita.

Se você acredita que o IPCA será maior que esta inflação implícita, você deve preferir o título referenciado ao IPCA.

Caso contrário, se você acredita que o IPCA será menor que esta inflação implícita, você deve preferir o título prefixado.

Assim, atualmente, não compensa investir em títulos referenciados ao IPCA com prazo longo, ou seja, de vencimento superior a cinco anos. Isso ocorre, pois a inflação implícita já está muito elevada.

Se os economistas estiverem certos e o mercado errado, os investidores de títulos prefixados devem rir a toa e os aplicadores de títulos referenciados ao IPCA de vencimento longo podem amargar prejuízo ou terem ganhos magros.

Entretanto, aplicar em títulos prefixados de longo prazo representa um risco devido às incertezas que o cenário eleitoral nos traz.

Portanto, no cenário atual, a melhor alternativa para investir em renda fixa é ter um balanço entre títulos e fundos pós-fixados, referenciados ao IPCA até 5 anos e prefixados até 3 anos. De preferência, se puder manter o título até o vencimento, aproveite os prêmios existentes nos títulos privados.

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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Onde investir para se proteger da inflação? https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/09/05/onde-investir-para-se-proteger-da-inflacao/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/09/05/onde-investir-para-se-proteger-da-inflacao/#respond Sun, 05 Sep 2021 05:30:49 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/planejamento-é-o-caminho-para-a-independencia-financeira-Unsplash-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2733 A divulgação do IPCA 15, na semana passada, de 0,89% em agosto elevou o receio com relação ao fantasma da inflação. Esta medida é uma prévia da inflação oficial, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Se confirmado, o IPCA deve acumular em doze meses encerrados em agosto o patamar de 9,7%.

Parece natural a decisão de ter parte do portfólio protegido pela inflação. No entanto, o retorno dos ativos neste ano confunde os investidores sobre qual deles pode ser utilizado como proteção.

A tabela abaixo apresenta a rentabilidade em 2021 até a última sexta-feira (3/setembro) dos 10 principais investimentos brasileiros e do IPCA no ano acumulado até julho.

Rentabilidade em 2021 até a última sexta-feira (3/setembro) dos 10 principais investimentos brasileiros e do IPCA no ano acumulado até julho. Fonte: Economatica

Perceba que nenhum ativo neste ano obteve rentabilidade suficiente para alcançar metade do retorno da inflação.

De fato, 60% deles apresentam variação negativa. Até mesmo ativos referenciados ao IPCA como os populares Tesouro IPCA apresentam retorno abaixo.

O pior de todos eles inclusive são os títulos públicos do Tesouro com vencimento superior a cinco anos. O título Tesouro IPCA+ 2045, por exemplo, perde mais de 21% no ano.

Qual o melhor investimento para evitar esta perda de poder de compra?

Antes de apontar quais investimentos podem ser considerados para proteção da inflação, é importante ressaltar que a expectativa não é que a variação do IPCA permaneça elevada como no último ano.

Segundo o boletim semanal Focus do Banco Central desta última segunda-feira, economistas do mercado esperam que o IPCA em 2022 caia para menos de 4%.

Explico abaixo quatro instrumentos que podem ser considerados para proteção contra inflação. No entanto, esta proteção deve ser avaliada em um horizonte de médio prazo, ou seja, de mais de dois anos.

No curto prazo, como observamos na tabela acima, a volatilidade da marcação a mercado pode prejudicar o reflexo da proteção.

 

Títulos públicos

Não é qualquer título público que deve ser comprado neste momento e não basta que ele seja referenciados ao IPCA.

Neste momento de instabilidade política, é arriscado investir nos títulos de vencimento longo. A variação destes vai ser muito mais influenciada pelos movimentos de taxa de juros causados pelo ruído político e fiscal.

Prefira os títulos com vencimento de curto a médio prazo. Estes títulos devem sofrer muito pouco com eventuais aumentos de taxa de juros, favorecendo o ganho de curto prazo da inflação.

 

Títulos privados

Para os títulos privados, você deve seguir a mesma estratégia dos títulos públicos. No entanto, estes possuem uma vantagem adicional.

Os títulos privados possuem um prêmio em relação aos títulos públicos. Esse prêmio pode elevar em 30% o juro real, ou seja, os juros acima da inflação que ganha quando comparado aos títulos públicos.

Por exemplo, o Tesouro IPCA 2026 tem taxa de IPCA + 4,5% ao ano. No entanto, deve subtrair desta remuneração a taxa de custódia da CBLC. Assim, o retorno que deve receber, ainda bruto de IR, será de IPCA + 4,25% ao ano. Existem CDBs de mesmo prazo com retorno de IPCA + 5,6% ao ano. Logo, uma taxa de rendimento acima da inflação 31% maior.

Uma vantagem extraordinária dos CDBs em cima dos títulos públicos é o fato de eles não serem marcados a mercado. Assim, o investidor percebe mais facilmente o efeito de proteção para a inflação.

 

Fundos de investimentos

Os fundos referenciados ao IPCA cujo prazo médio dos títulos seja até 6 anos também podem ser utilizados.

Procure os fundos que possuem como índice de referência (ou benchmark) o IMA-B5. A carteira deste índice é composta pelos títulos públicos referenciados ao IPCA com vencimento até 5 anos.

Cuidado para não se confundir com o IMA-B 5+. Este é formado pelos títulos de longo prazo.

O prazo médio dos títulos no IMA-B 5 é de dois anos e meio. Esta é a vantagem dos fundos que perseguem este benchmark. Você investe em uma carteira de títulos e não em um título fixo.

Se investir em fundos de crédito privado, pode ter a mesma vantagem em rentabilidade para estes títulos citados acima. Também, para alguns fundos pode ter a isenção de IR.

Os títulos e fundos referenciados ao IMA-B5 sempre ganharam do IPCA no longo prazo. Veja pelo gráfico abaixo que nos últimos 18 anos o IMA-B5 rendeu mais de 4 vezes a variação do IPCA. Um investimento de R$ 10.000,00 no IMA-B5 em 2003, se valorizou para R$90.111,3 atualmente. O mesmo investimento em um ativo que se valoriza apenas o IPCA atingiria R$ 26.430,3 no mesmo período. Como comparação, neste período o CDI apesar de ganhar do IPCA, rendeu 36% menos que o IMA-B5.

A dificuldade para avaliar o benefício ocorre apenas quando se avalia em intervalos curtos, como neste ano.

Evolução de um investimento de R$100 no IMA-B5 e no IPCA nos últimos 18 anos. Fonte e elaboração: Bloomberg.

Fundos imobiliários

Os fundos de investimentos imobiliários (FIIs) também podem ser uma boa alternativa para proteção da inflação. Os aluguéis são corrigidos pela inflação. Portanto, os dividendos dos FIIs devem subir com o tempo.

Eles guardam uma vantagem em relação aos imóveis diretamente, pela diversificação, liquidez, isenção de IR e maior remuneração.

Os FIIs que investem em CRIs são uma alternativa interessante para os que desejam correr menos risco.

 

A paciência para esperar passar o período de maior turbulência será recompensada com maior remuneração no futuro.

Lembre-se de manter parte dos recursos em liquidez. Esta é uma boa estratégia para capturar oportunidades com uma eventual alta de taxas de juros mais forte que o esperado.

 

Michael Viriato é sócio e fundador da Casa do Investidor.

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Apenas um título a venda no Tesouro Direto tem rentabilidade positiva no ano https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/08/22/apenas-um-titulo-a-venda-no-tesouro-direto-tem-rentabilidade-positiva-no-ano/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/08/22/apenas-um-titulo-a-venda-no-tesouro-direto-tem-rentabilidade-positiva-no-ano/#respond Sun, 22 Aug 2021 05:30:15 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/Tesouro-Diretoret2-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2718 Quando comecei a investir, por volta de 1994, existiam poucas alternativas para aplicação. Minhas primeiras aplicações foram em fundos do Banco do Brasil, onde meu pai abriu conta quando eu ainda era universitário.

Naquela época não havia a plataforma do Tesouro Direto. Também aplicar diretamente em ações era difícil, pois não existiam as atuais plataformas de home broker.

No entanto, uma dúvida que eu tinha naquela época, muitos investidores ainda têm até hoje: como é que um título ou fundo de renda fixa apresenta rentabilidade negativa?

Eu entendia perfeitamente que o pequeno percentual que aplicava em fundos de ações poderia cair. Ainda mais naquele período, pois a bolsa oscilava ainda mais que hoje. Mas a parcela de renda fixa era a minha mesada e responsável pelas despesas do mês.

Gostaria de saber quem foi o gerente que atendeu minha ligação naquele momento de perda. Eu estava irritado e, infelizmente, a ligação caiu com alguém que não sabia explicar. Eu repetia constantemente: como é que um fundo de renda fixa apresenta rentabilidade negativa? Afinal, é renda fixa, ou seja, fixa.

Depois fui pesquisar, então entendi que não é bem assim. Neste ano de 2021, muitos investidores também estão aprendendo esta lição.

Dos 5 tipos de títulos disponíveis a venda neste mês na plataforma do Tesouro Direto, apenas um acumula rentabilidade positiva no ano.

Entretanto, o único que está positivo, o Tesouro Selic, ainda rende menos que o CDI e que a Selic que é seu indexador.

O pior retorno ficou com o título Tesouro IPCA+ 2045 que se desvalorizou 18,96% em 2021. Isto significa que se investiu R$10 mil neste título ao final de 2020, teria nesta última sexta-feira apenas R$ 8.104,00.

Muitos investidores se questionam por que um título que deveria render a inflação mais uma taxa de juros, na verdade perde valor.

Vou explicar esta dúvida a seguir usando como exemplo os títulos de renda fixa, mas ressalto que os fundos de renda fixa que não seguem o CDI possuem o mesmo efeito.

 

Por que os títulos e fundos de renda fixa se desvalorizam?

A confusão se inicia em entender o que faz o preço do título variar.

Não é a taxa de juros de curto prazo, ou seja, a Selic, que define o preço de títulos com vencimentos longos, mas a taxa de juros futura. E esta última é definida em negociações no mercado financeiro.

Para entender esta relação, imagine uma gangorra, que é um brinquedo infantil comum nos parques. Ao invés de haver uma criança, em cada lado da gangorra, há a taxa de juros futura de um lado e do outro o preço do título.

Efeito da alta da taxa de juros sobre o preço do título de renda fixa. Quando a taxa sobe, o preço cai.

 

Quando a taxa de juros futura sobe, o preço do título cai. Da mesma forma, quando a taxa de juros futura cai, o preço do título sobe.

 

Efeito da alta da taxa de juros sobre o preço do título de renda fixa. Quando a taxa cai, o preço sobe.

 

Por exemplo, a taxa de juros do título Tesouro IPCA+ 2035 subiu neste ano para 4,80%+IPCA e estava 3,38%+IPCA ao final de 2020. Esta alta fez com que o preço do título caísse para R$1.903 de R$2.128 há oito meses, ou seja, uma queda de mais de 10% no período.

Lembro que esta desvalorização ocorreu em um momento em que a inflação, medida pelo IPCA, teve um dos maiores saltos dos últimos anos. Não fosse a elevação do IPCA, o prejuízo teria sido ainda pior.

 

Qual a razão para ocorrerem estes prejuízos?

Para entender a razão dos prejuízos, é necessário relacionar o país a um devedor comum.

Considere uma pessoa comum que possui uma dívida. Se você, enquanto credor, acredita que esta pessoa vai se endividar ainda mais para poder pagar seus gastos correntes, provavelmente, cobrará uma taxa de juros maior para emprestar dinheiro a ela, certo? Esta elevação dos juros seria uma forma de você ser remunerado pelo risco de eventual inadimplência.

O mercado interpretou algumas atitudes e discursos do governo como um menor compromisso em controlar os gastos públicos, o que sugere a possibilidade de elevação da dívida pública. Assim, da mesma forma que você no exemplo anterior, os grandes investidores elevaram a taxa de juros média exigida para emprestar ao governo.

 

Quais títulos sofrem mais?

A elevação de juros não é igual para todos os prazos e não afeta os títulos de forma igual.

As taxas de juros para prazos mais curtos são menos afetadas que as dos mais longos. Isso ocorre, pois se imagina que um governo que não controle os gastos terá uma dívida cada vez maior no futuro. Logo, a capacidade de pagamento tenderia a piorar com o tempo.

O impacto da elevação da taxa também não é o mesmo para todos os vencimentos, mesmo que o movimento de elevação da taxa seja igual.

Quanto mais longo o título, maior é a sensibilidade dele a variações nas taxas de juros. Este efeito pode ser exemplificado, novamente, com a analogia da gangorra.

Nesta analogia, o prazo é a distância da barra do brinquedo.

 

Efeito da alta da taxa de juros sobre o preço do título de renda fixa. Quanto mais longo o vencimento do título, maior o impacto de uma variação da taxa de juros sobre, o preço do título.

 

Quanto mais longo o prazo do título, maior é o impacto pela variação na taxa de juros. Tanto para o lado negativo, quanto para o lado positivo.

Por isso, o título Tesouro IPCA+ 2045 perde quase o dobro do título com vencimento em 2035.

 

Lembro que se você não vender o título nesse momento menos favorável e esperar até o vencimento, então, receberá a rentabilidade contratada.

Neste momento de maior risco, recomenda-se que ao investir em títulos e fundos de renda fixa, dar preferência a títulos e fundos cujas carteiras de títulos tenham vencimento até cinco anos. Assim, você pode sofrer menos em caso de piora do cenário e ainda vai aproveitar as melhores taxas.

 

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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Entenda os impactos do projeto de reforma tributária para os investimentos de pessoas físicas https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/06/27/quais-os-impactos-do-projeto-de-reforma-tributaria-para-os-investimentos-de-pessoas-fisicas/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/06/27/quais-os-impactos-do-projeto-de-reforma-tributaria-para-os-investimentos-de-pessoas-fisicas/#respond Sun, 27 Jun 2021 05:30:40 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/08/Funcionário-da-Bolsa-de-Nova-Iorque-Michael-Nagle-Xinhua-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2645 A proposta de reforma tributária trouxe volatilidade aos mercados financeiros nesta sexta-feira. É importante ressaltar que esta é uma proposta do governo federal, que será amplamente discutida no congresso e ainda contará com sugestões de associações e entidades de classe.

Deve-se considerar o curto período para discussão e aprovação. Assumindo que julho e dezembro são meses de férias, o congresso terá apenas 4 meses para realizar todo o trâmite de forma que ela seja válida no próximo ano. Embora alguns pontos dela possuam forte apelo popular, parece um prazo curto para tamanha consequência.

Portanto, há uma probabilidade não desprezível que esta reforma seja aprovada apenas parcialmente, seja aprovada com mudanças, ou até mesmo seja postergada como outras no passado.

Discuto abaixo os efeitos que ela pode trazer aos ativos, caso ela seja aprovada tal qual foi proposta.

 

Qual o impacto para a Renda Fixa e fundos multimercados?

O projeto trouxe duas vantagens tributárias para a renda fixa e fundos multimercados.

O primeiro vem da simplificação com apenas uma alíquota independente do período de investimento. Anteriormente, quem ficasse mais tempo, pagava uma alíquota menor que chegava a 15% ao ano sobre os rendimentos.

Se a reforma passar, agora a alíquota será única de 15% ao ano tanto para títulos quanto para fundos de renda fixa, multimercados e cambiais.

A outra vantagem é a redução de duas para uma cobrança de “come cotas” por ano.

Foram prejudicados aqueles que possuíam fundos exclusivos. Estes que antes pagavam IR apenas no resgate e não possuíam “come cotas” perderão esta vantagem.

Neste caso, o melhor e único veículo, sem “come cotas”, para investimento de longo prazo e com menor alíquota de IR passará a ser a previdência privada.

 

Qual o impacto para ações?

Na parcela de ações, relativamente, os fundos de investimentos em ações saem beneficiados.

O investidor pessoa física passará a pagar 20% de IR sobre os dividendos e passa a apurar os ganhos e perdas apenas trimestralmente.

Apenas as pessoas físicas são tributadas nos dividendos. Os fundos de investimentos em ações continuam não sendo tributados sobre os dividendos recebidos. Assim, estes últimos têm duas vantagens.

A primeira delas é a possibilidade de reinvestir a totalidade dos dividendos e não somente o líquido como as pessoas físicas.

A segunda vantagem é que quando a pessoa física fizer qualquer resgate no fundo, ela só pagará 15% de IR. Ou seja, se uma ação paga dividendo e você resgata este mesmo valor do fundo, você pagaria apenas 15% de IR. Portanto, um IR menor que se ela investisse direto na ação. Enquanto, se o mesmo dividendo fosse recebido diretamente por você estaria sujeito a 20% de IR. Mas ainda não existe consenso se os dividendos recebidos pelos fundos serão ou não tributados.

O mercado de ações pode sofrer com a elevação da alíquota sobre os dividendos, mas ela só tem efeito para as pessoas físicas. Portanto, o impacto é mais reduzido. Adicionalmente, o IR no lucro para as empresas será reduzido, compensando parte da tributação dos dividendos. Também as empresas podem fazer suas distribuições por meio de recompras de ações, assim, reduzindo impacto de tributos.

Considerando estas compensações, que apenas as pessoas físicas serão tributadas e que estas representam apenas um terço do mercado, o impacto, com a reforma aprovada, não chegaria a 5% nos preços dos ativos. Os ativos já ajustaram parte desta queda na própria sexta-feira.

 

Qual o impacto para os fundos imobiliários?

A classe de fundos de investimentos imobiliários (FIIs) foi a mais duramente atingida, por isso, vou escrever mais sobre ela. A isenção sobre os dividendos para pessoas físicas deve acabar se a reforma passar.

Os dividendos dos FIIs para pessoas físicas devem ser tributados à alíquota de 15% a partir do próximo ano, caso a reforma passe como foi apresentada.

A perda deste benefício justifica uma queda nos preços. Entretanto, os FIIs já negociavam com um prêmio por este risco.

O gráfico abaixo mostra o desempenho dos FIIs e dos títulos públicos referenciados ao IPCA de longo prazo nos últimos seis anos. Perceba que desde o ano passado, os FIIs ficaram para trás. Sem dúvida, parte já é uma correção pelo risco de tributação que vem sendo mencionado.

Evolução do índice de fundos imobiliários da B3 (IFIX) e do índice de títulos públicos referenciados a o IPCA de longo prazo (IMA-B5+) nos últimos seis anos. Fonte e elaboração: Bloomberg

 

Enquanto alternativas de risco similar, como as bolsas brasileira e internacionais e os fundos imobiliários nos EUA sobem este ano, os FIIs acumulam perda média de 5% em 2021 e ficaram para trás no ano passado.

O gráfico abaixo apresenta a evolução do Ibovespa e dos FIIs nos últimos seis anos. Observe que desde 2015 até o final de 2020, foi possível ganhar nos fundos imobiliário o mesmo que o Ibovespa e com menos risco. A diferença entre os dois ocorreu nos últimos meses.

Evolução do índice de fundos imobiliários da B3 (IFIX) e do Ibovespa nos últimos seis anos. Fonte e elaboração: Bloomberg

 

Portanto, não se deve esperar queda acentuada, pois parte do risco já está precificado e o ativo já negocia com prêmio em relação aos comparáveis.

Apesar desta isenção ser um dos maiores benefícios dos FIIs, seu fim não descaracteriza o produto como veículo para diversificação dos investimentos por três razões.

Primeiro, é reconhecido o poder de proteção para inflação da classe de investimento imobiliária.

A segunda razão é o fato de a isenção dos dividendos não ser a única vantagem do veículo fundo imobiliário em relação a investir nos imóveis diretamente. Além de maior liquidez, menor risco e custo, adicionalmente, a taxa de retorno por aluguel dos FIIs é maior que a de imóveis comerciais e residenciais. O portal FipZap aponta uma taxa média de retorno por aluguel dos imóveis comerciais e residenciais em 5,47% e 4,66% ao ano, respectivamente, enquanto nos FIIs está em quase 8% ao ano.

Por último, o prêmio dos FIIs em relação à renda fixa e em relação às ações pagadoras de dividendos ainda justifica o investimento nesta classe. Lembro que títulos públicos possuem IR sobre rendimento em 15% ao ano e as ações pagadoras de dividendos serão tarifadas de forma similar aos FIIs.

O gráfico abaixo mostra que a taxa de dividendos média dos FIIs está hoje em 8% ao ano, enquanto títulos públicos de prazo médio de 10 anos e referenciados ao IPCA têm retorno de apenas 4% ao ano.

Evolução nos últimos seis anos da taxa de dividendo média do índice de fundos imobiliários da B3 (IFIX) e da taxa de juros de um título público referenciado ao IPCA de 10 anos. Fonte e elaboração: Bloomberg

 

Em relação ao dividendo médio do índice de ações pagadoras de dividendos da B3 (IDIV), os FIIs além de pagarem uma taxa de dividendos superior, também possuem menor risco, medido pela volatilidade.

Evolução nos últimos seis anos da taxa de dividendo média do índice de fundos imobiliários da B3 (IFIX) e da taxa de dividendos média do índice das empresas pagadoras de dividendos da B3 (IDIV). Fonte e elaboração: Bloomberg

 

Portanto, é esperada uma volatilidade no curto prazo pelo ajuste de carteiras dos investidores, mas o produto FII ainda guarda vantagens de diversificação no portfólio.

Considerando todas as mudanças, acredito que boa parte dos impactos já estão ajustados nos preços dos ativos, embora eles ainda possam sofrer volatilidade nos próximos meses à medida que novas informações surjam. Ou seja, podemos ver altas e baixas nos preços dos ativos, seguindo as alterações que serão discutidas pelo congresso.

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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Com a inflação em alta, veja duas aplicações que você deve evitar em seu portfólio https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/06/13/com-a-inflacao-em-alta-veja-duas-aplicacoes-que-voce-deve-evitar-em-seu-portfolio/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/06/13/com-a-inflacao-em-alta-veja-duas-aplicacoes-que-voce-deve-evitar-em-seu-portfolio/#respond Sun, 13 Jun 2021 05:30:19 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/Mark-Abramson-The-New-York-Times-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2616 A divulgação da inflação oficial para o mês de maio acendeu uma luz amarela no radar dos investidores. A variação de preços medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula uma alta de mais de 8% em doze meses.

A preocupação não é à toa. Observe no gráfico abaixo que, nos últimos 20 anos, em poucos momentos a inflação esteve tão elevada.

Evolução da variação de preços em 12 meses medida pelo IPCA. Fonte: Bloomberg.

Segundo dados da pesquisa entre economistas realizada pelo Banco Central (BC), a inflação deve cair, retornando para a meta de 3,50% ao ano até meados do próximo ano. Esta previsão pode ser vista no gráfico abaixo na linha vermelha.

Evolução do IPCA e da meta de inflação do BC. Fonte e elaboração: Banco Central.

Embora os economistas pareçam mais otimistas, o mercado financeiro não está pagando para ver.

Os juros futuros negociados na B3 já têm implícito uma possibilidade de elevação da Selic para 7% ao ano em janeiro de 2022 e superando 9% ao ano em 2024.

Lembre-se, você deve sempre investir considerando o que deve ocorrer em relação ao que o mercado já espera.

Uma alta de juros já está precificada. Assim, você deve considerar se esta alta é maior ou menor do que o que você espera que o BC realize.

Com esta incerteza sobre o movimento dos juros, duas aplicações têm recebido aportes dos investidores. Mas você deveria evitá-las no curto prazo.

A primeira aplicação que você deveria evitar é a caderneta de poupança.

Segundo dados do BC, só nos primeiros 7 dias de junho, investidores aplicaram mais de R$ 10 bilhões na poupança.

O volume aplicado na caderneta soma mais de R$ 1 trilhão. Para se ter uma noção da magnitude, isto representa mais de 17% do valor de mercado total de todas as empresas com ações na bolsa de valores brasileira (B3).

Embora a poupança tenha rendimento positivo, ela é com certeza inferior a outras aplicações de mesmo risco como CDBs. Se você precisa de alguma liquidez, prefira aplicar em CDBs de vencimentos curtos e referenciados ao IPCA.

Muitos investidores fogem para a poupança com receio da volatilidade nos ativos. No entanto, em CDB, você também não vai ter volatilidade e ainda vai terá rentabilidade muito superior à da poupança.

O segundo movimento que os investidores deveriam evitar é a aquisição de títulos referenciados ao IPCA ou prefixados com vencimento superior a seis anos, ou seja, de longo prazo.

O último balanço divulgado pela plataforma do Tesouro Direto mostra que os títulos referenciados ao IPCA com prazo superior a dez anos têm sido preferidos pelos investidores.

Os preços de títulos de longo prazo são mais afetados pelos movimentos de taxa de juros.

Caso a inflação persista e o BC tenha de elevar a taxa de juro mais do que o mercado já precifica, os títulos de longo prazo podem sofrer duras perdas.

Para se proteger da inflação, o mais recomendado são títulos ou fundos de investimentos de renda fixa referenciados ao IPCA, mas com vencimento de curto prazo, ou seja, com menos de seis anos.

 

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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Os bancos que se cuidem! Agora você também pode ganhar no que antes só eles podiam https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/05/16/os-bancos-que-se-cuidem-agora-voce-tambem-pode-ganhar-no-que-antes-so-eles-podiam/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/05/16/os-bancos-que-se-cuidem-agora-voce-tambem-pode-ganhar-no-que-antes-so-eles-podiam/#respond Sun, 16 May 2021 05:30:45 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/Gabriel-Cabral-Folhapress-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2575 Já é de pleno conhecimento que a rentabilidade dos grandes bancos no mercado de crédito é bastante atrativa. Este ganho é proporcionado principalmente pela falta de competição, tendo em vista a elevada concentração bancária.

O que talvez você não saiba é que alterações regulatórias nos últimos anos têm permitido que pequenas instituições, e até você, se aproveitem deste mercado.

Em 2018, por meio da resolução 4.656/18 e por determinação do Conselho Monetário Nacional (CMN), o Banco Central do Brasil instituiu a possibilidade de instituições, conhecidas como Fintechs, operarem no modelo conhecido como Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP). Este modelo, é mais conhecido pelo seu nome em inglês peer-to-peer lending (P2P).

A partir de então várias instituições surgiram proporcionando alternativas de investimentos com maior rentabilidade e menores custos de crédito para aqueles que precisam. No entanto, ressalta-se que a elevada rentabilidade para os investidores vem também com alto risco.

Fazendo uma analogia, da mesma forma que os aplicativos de transporte permitiram que pessoas tivessem melhores serviços de transporte e pagassem menos, as Fintechs vieram para ocupar este espaço no mercado de crédito e investimento.

Para entender mais sobre as possibilidades de investimentos e riscos envolvidos, conversei esta semana com minha ex-aluna, e agora empresária, Beatriz Antibero e seu sócio Gabriel Nascimento. Eles são os fundadores da Ulend, uma Fintech no segmento de crédito entre pessoas. Abaixo, transcrevo os principais pontos da entrevista.

 

Entrevista com Beatriz Antibero (à direita), Gabriel Nascimento (abaixo) e eu, Michael Viriato (à esquerda).

 

Como surgiu a ideia de montar a empresa?

Eu (Beatriz) e o Gabriel trabalhávamos juntos no Itaú BBA. Nós acompanhávamos diariamente o crescimento do mercado de crédito e a concentração bancária no Brasil. Na maioria dos mercados que possui uma concentração sempre existe um potencial de melhoria e inovação para o cliente, e o mercado de crédito não foi diferente.  Em 2018, veio a regulação das fintechs, que liberou o p2p lending no Brasil. Com o assunto 100% regularizado, entendemos que era o momento para iniciarmos o nosso projeto, começamos no final do ano e fizemos nossa primeira operação em março de 2019.

 

Como funciona o empréstimo direto?

A operação se inicia com a solicitação de crédito da empresa na nossa plataforma. Em seguida é feita uma rigorosa análise de crédito. Se ela for aprovada, é enviada uma proposta de crédito para a empresa de acordo com o seu “score” de crédito. Então, se a empresa concordar com nossa proposta de crédito, elaboramos um relatório sobre a empresa e a disponibilizamos para os investidores da plataforma, para que eles ter acesso ao histórico da empresa e o motivo de seu empréstimo. Com um cadastro simples, o investidor já pode investir. Ele visualiza todas as empresas que estão em captação no momento, acessa e analisa os relatórios de crédito e as condições de cada operação (valor, taxa, o rating, prazo, garantia, entre outros) e seleciona as empresas as quais ele fará seu investimento. Quando todos os investidores fizerem os aportes e aquela captação completar, nós emitimos uma cédula de crédito bancário para cada investidor e a empresa recebe o dinheiro. A partir daí, a companhia passa a ter uma dívida com os investidores, centralizada pela Ulend.

 

Qual o trabalho de uma Fintech, como a Ulend, na intermediação?

O papel da Fintech é de realizar a seleção rigorosa das empresas, fazer a análise de crédito para selecionar aquelas que possuem melhor capacidade de pagamento e condição financeira. Após a seleção das empresas, a Ulend, por exemplo, faz toda a intermediação entre credor e devedor e a formalização do contrato. Por último, mas não menos importante, fazemos toda a gestão do crédito e de suas garantias. Caso a empresa venha a ficar inadimplente, nós fazemos a cobrança em nome do investidor, tanto na esfera extrajudicial como judicial.

 

Qual o rendimento médio do investidor nestas operações?

O rendimento da carteira do investidor vai depender das empresas que cada um escolher para a sua carteira. A carteira total da Ulend, ou seja, todas as operações já realizadas, possui uma rentabilidade bruta de 22% ao ano. Descontada a inadimplência de 5,93% ao ano, o investidor fica com uma rentabilidade de 16,78% ao ano.

 

Qual o prazo de investimento? Há carência?

O prazo do investimento vai depender de cada operação que o investidor selecionar, nossa carteira tem operações de 4 a 30 meses, com recebimentos mensais de rendimento e amortização do principal.

 

Qual o mínimo a se investir nestas operações?

O valor mínimo a investir é de R$ 2 mil por empresa. Indicamos sempre ao investidor que ele diversifique sua carteira e invista inicialmente em pelo menos três operações diferentes. Assim, seu risco é diluído e sua rentabilidade pode aumentar porque não vai depender apenas da performance de uma única empresa.  Aqui também vale a famosa frase: ‘Não coloque todos os ovos na mesma cesta’.

 

A Ulend não é a única Fintech, o que o investidor precisa atentar na escolha dos intermediadores?

O investimento em crédito possui risco. O risco de inadimplência das operações é a possibilidade de não recebimento do empréstimo feito à empresa. Por isso é importante que o investidor conheça como é a atuação da fintech durante a cobrança dos inadimplentes e a seleção deles em relação à qual empresa colocar disponível em sua plataforma. Também é interessante saber se a fintech oferece algum tipo de garantia em relação ao recebimento do investimento feito. Nós, por exemplo, somos a fintech mais reconhecida em relação ao oferecimento de garantias. Buscar conhecer a taxa de inadimplência das plataformas e a maturidade de sua carteira é um bom começo.

 

Se o credor não pagar, o que ocorre com o recurso do investidor?

Se o devedor não pagar, o investidor corre o risco de perda parcial ou total do valor investido. Em uma possível inadimplência, a fazemos toda a cobrança em nome do investidor a fim de recuperar o valor investido e buscar a melhor rentabilidade.

 

Como as fintechs como a Ulend ajudam o desenvolvimento do país?

Em um mercado concentrado e restrito, poucas empresas possuem acesso à crédito e se possuem as condições não são justas e nem saudáveis para o seu negócio. Durante a pandemia nós vimos a corrida que tivemos pelo acesso à crédito e o quanto ele foi e é importante para a sobrevivência das empresas. Nós queremos participar da construção da nova economia, facilitando o acesso ao crédito e disponibilizando mais alternativas de investimento no mercado. Estamos conectando pessoas, gerando mais valor para os dois lados: Investidores ganham mais e os tomadores pagam menos.

 

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor

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Estas dicas podem evitar que você perca dinheiro em renda fixa https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/02/28/estas-dicas-podem-evitar-que-voce-perca-dinheiro-em-renda-fixa/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/02/28/estas-dicas-podem-evitar-que-voce-perca-dinheiro-em-renda-fixa/#respond Sun, 28 Feb 2021 05:30:18 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/Foto-do-site-do-Tesouro-Nacional-Rafael-Hupsel-Folhapress-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2492 A inflação tem surpreendido investidores e aplicações tradicionais e conservadoras estão rendendo menos da metade do índice oficial de preços, o IPCA. Na busca por maiores ganhos, mas ainda sem elevar o risco em ativos de renda variável, investidores se depararam com riscos que não estavam acostumados a lidar e acabaram tomando decisões erradas. Comento abaixo quais são estes riscos e como obter o máximo potencial da renda fixa neste novo ambiente.

Para ajudar a explicar os riscos e como navegar no cenário atual, entrevistei nesta última quarta-feira Pierre Jadoul, gestor de fundos de renda fixa da ARX Investimentos.

 

Quais os riscos ao se investir em renda fixa?

Conforme descrito por Pierre Jadoul, o investimento em renda fixa se refere à gestão de duas escolhas de fatores de risco: prazo e crédito.

A escolha destes fatores não é trivial e exige tanto análise macroeconômica, para entender o que deve ocorrer com a curva de taxa de juros, quanto análise microeconômica, de cada emissor individual, para ponderar a capacidade de pagamento deste.

É sobre estes dois riscos que abordarei a seguir.

 

É melhor título de curto prazo ou de longo prazo?

Segundo Pierre, muitos investidores têm tomado a decisão errada na escolha do prazo de vencimento dos títulos.

As taxas acima da inflação dos títulos referenciados ao IPCA de vencimento no curto prazo estão mais baixas que no passado. Assim, investidores são incentivados a vender seus títulos curtos e migrarem para os de longo prazo. Os títulos de longo prazo possuem taxas mais elevadas.

O gráfico abaixo ilustra esta diferença de taxas em relação a seus prazos.

Curva de taxas de juros reais de títulos referenciados ao IPCA. Fonte: Anbima

A escolha, erroneamente, parece óbvia. Afinal, você prefere um título que rende IPCA+2,5% ao ano ou um título que rende IPCA+4% ao ano?

No entanto, estamos vivendo um cenário de inflação mais alta que o esperado e que tem ocorrido elevação de prêmio de risco como o que ocorreu com a interferência do Governo em empresas estatais. Neste ambiente, as taxas de juros de longo prazo tendem a sofrer mais. Adicionalmente, os títulos longos alavancam a perda gerada por esta elevação de juros. Portanto, investidores podem ter perdas relevantes se o cenário se deteriorar.

Assim, o mais recomendado é ficar investido em títulos e fundos referenciados ao IPCA de curto prazo, ou seja, com menos de cinco anos de vencimento, recomenda Jadoul.

 

O prêmio de título privado está compensando?

Uma mensagem ficou clara em nossa entrevista. É preciso tomar cuidado com o crédito. Analisar a compra de títulos de crédito privado é mais complexa que muitos imaginam.

O spread de crédito é o prêmio que se ganha por correr o risco de crédito.

Como afirma Pierre, ganhar com crédito parece fácil à primeira vista. Basta baixar a régua de análise de crédito e é possível ganhar mais, mas a conta chega quando o mercado piora.

Enquanto não ocorre problema algum com a empresa, que emite o título ou com o cenário econômico, investir em empresas mais arriscadas pode parecer maravilhoso pelo ganho maior que nas empresas de menor risco.

Ele lembra que, quando o pior ocorre, as perdas em crédito podem ser significativas. Por isso, é necessário uma análise minuciosa e acompanhamento contínuo.

Da mesma forma que na escolha dos títulos curtos e longos, que falamos anteriormente, o mesmo raciocínio vale aqui.

Ver curva de spreads de crédito fornecidas pela Anbima no gráfico abaixo.

Curva de spreads de crédito. O spread de crédito é a taxa de juros adicional que um título de crédito remunera acima de um título público. Fonte: Anbima.

Pode parecer simples aplicar nos títulos mais longos e naqueles com pior classificação de risco de crédito, pois possuem spread de crédito maior.

Pierre alerta que não compensa baixar a régua de crédito se o prêmio não é significativo.

Em um cenário benigno, você pode até ganhar mais investindo em empresas de pior qualidade de crédito. No entanto, se o cenário piorar, as maiores perdas ocorrerão justamente nos títulos mais longos e com pior classificação.

O gestor da ARX também destaca que o prêmio de crédito dos títulos longos não compensa pelo risco, quando considerado o cenário atual.

 

Vale mais aplicar em fundo de crédito privado ou comprar títulos diretos?

Pierre pondera quatro vantagens em  investir em crédito privado, por meio de fundos ativos de renda fixa, em relação a comprar títulos diretos.

A primeira vantagem se relaciona à  capacidade de análise e acompanhamento do risco de crédito de cada emissor. Não basta ver a classificação de risco de crédito fornecida pelas agências de rating na emissão do título.

O trabalho envolve análise passada da empresa, visitas e conversas frequentes com os diretores, analisar as garantias, construir um fluxo de caixa para avaliar a capacidade de pagamento do emissor e simular este fluxo de caixa em diferentes cenários. Adicionalmente, deve-se acompanhar a divulgação de cada resultado da empresa e avaliar se este resultado foi de acordo com o que se esperava.

A segunda vantagem está relacionada aos custos de transação. Os gestores institucionais têm acesso a custos menores de compra e venda dos títulos no mercado secundário. Portanto, tanto o retorno dos títulos adquiridos é maior na aquisição, quanto o preço obtido na venda é mais vantajoso.

O terceiro benefício se relaciona à liquidez e acesso às emissões que o mercado de varejo não acessa. Assim, os gestores estão sempre com melhores escolhas que as pessoas físicas em geral. Pierre destaca que esta é uma assimetria que existe no mercado de renda fixa brasileiro.

A quarta vantagem se relaciona ao acompanhamento macroeconômico para entender os momentos certos de se estar posicionado nos títulos de curto ou de longo prazo.

Logo, quando se investe por meio de bons fundos, você tem uma equipe de especialistas que vai fazer todo este trabalho para você, trazendo maior resultado em relação ao risco corrido.

 

A entrevista pode ser vista na integra no link.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Três investimentos que não podem faltar em seu portfólio em 2021 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/12/27/tres-investimentos-que-nao-podem-faltar-em-seu-portfolio-em-2021/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/12/27/tres-investimentos-que-nao-podem-faltar-em-seu-portfolio-em-2021/#respond Sun, 27 Dec 2020 05:30:07 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/Michael-Nagle-Xinhua-operador-de-bolsa-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2430 A pandemia provocada pelo Covid-19 demandou dos governos estímulos fiscais e monetários. Em 2020 esta injeção de recursos trouxe duas consequências: taxas de juros de curto prazo mais baixas e inflação mais elevada. Estes reflexos devem se propagar por 2021 e definir três investimentos que você deve possuir para o próximo ano.

Você já deve ter notado os preços mais altos de bens e serviços nos últimos meses.

Segundo o boletim semanal Focus do Banco Central desta última segunda-feira (21/dez), economistas do mercado esperam que o IPCA em 2021 seja de 3,37% ao ano. Portanto, 2021 deve ser o segundo ano em que a Selic e o CDI perdem do IPCA, conforme expectativa destes economistas.

Neste ambiente, ativos conhecidos como ativos reais, ações e ativos financeiros referenciados ao IPCA devem se destacar. Vamos começar por estes últimos.

Títulos e fundos de renda fixa referenciados à inflação

Não é qualquer título público que deve ser comprado neste momento. Conforme pode ser visto no gráfico abaixo, da dívida pública federal de R$ 4,8 trilhões, a maior parcela é de títulos referenciados à Selic. Justamente estes são os títulos que mencionei acima que deveriam perder da inflação.

Distribuição da dívida pública federal nos indexadores. Fonte e elaboração: Tesouro Nacional

Para obter juros reais, acima da inflação, o foco devem ser os títulos e fundos referenciados ao IPCA (ou NTN-B), pois estes rendem uma taxa de juros real mais a variação da inflação. No gráfico acima, são os classificados como “Índice de Preços”.

Entretanto, é arriscado investir nos títulos de vencimento longo, ou seja, acima de seis anos para o vencimento. A variação destes vai ser muito mais influenciada pelos movimentos de taxa de juros. Se o Banco Central elevar as taxas de juros acima do esperado, os títulos de longo prazo podem sofrer negativamente e você não vai capturar os ganhos da inflação no curto prazo.

Prefira os títulos com vencimento de curto e médio prazos, com vencimento inferior a seis anos. Estes títulos devem sofrer muito pouco com eventuais aumentos de taxa de juros, favorecendo o ganho de curto prazo da inflação.

Para os títulos privados, você deve seguir esta mesma estratégia. No entanto, estes possuem uma vantagem adicional.

Os títulos privados possuem um prêmio em relação aos títulos públicos. Esse prêmio pode quase dobrar o juro real, ou seja, os juros acima da inflação obtidos.

Por exemplo, o título público Tesouro IPCA 2026 tem taxa de IPCA + 2,4% ao ano. No entanto, deve subtrair desta remuneração a taxa de custódia da CBLC. Assim, o retorno que deve receber, ainda bruto de IR, será de IPCA + 2,15% ao ano. Existem CDBs de mesmo prazo com retorno de IPCA + 4,0% ao ano. Portanto, quase o dobro de juros real.

Alternativamente, há fundos de renda referenciados ao IPCA isentos de IR. Estes além de promoverem o prêmio do título privado, também possuem o benefício da isenção de IR.

O cenário de juros de curto prazo menores e maior inflação deve promover uma migração por parte dos investidores. Este rebalanceamento dos portfólios já vem ocorrendo e deve se prolongar pelo próximo ano.

Esta migração deve favorecer ações e os chamados ativos reais como fundos imobiliários.

 

Fundos de ações nacionais e internacionais

Não há dúvidas de que o mercado de ações deve ser favorecido. No entanto, depois da alta recente observada no mercado brasileiro, o investimento direto em ações se torna ainda mais desafiador.

Adicionalmente, existem riscos não desprezíveis de o crescimento econômico brasileiro decepcionar, tendo em vista os riscos relativos à extensão da pandemia e a fragilidade de nossa dívida pública.

Neste sentido, é ainda mais recomendável o investimento por meio de fundos de ações com bons gestores para navegar neste ambiente.

Tabela contendo principais índices de ações internacionais, variação de preço e múltiplos PE (Preço/ Lucro) e Dividend Yield (taxa de dividendos). Fonte e elaboração: Bloomberg.

Também é recomendável a diversificação internacional. Pelo viés denominado home biased (viés doméstico), concentramos os investimentos em ativos braseiros. Por estarem mais próximos, temos a falsa impressão de que estes ativos são menos arriscados.

A figura acima mostra uma tabela com os múltiplos P/L (preço/ lucro) e Dividend Yield (taxa de dividendo). O P/L é internacionalmente usado como forma de padronização dos preços para comparação. Este múltiplo no caso brasileiro não é dos menores e os riscos inerentes a nossa economia sugerem atenção.

Ainda assim, nosso mercado deve ser favorecido pelo fluxo positivo para mercados emergentes e pelo rebalanceamento de carteiras dos investidores no Brasil.

 

Fundos imobiliários

Os fundos de investimentos imobiliários (FIIs) também são uma boa alternativa para proteção da inflação. Os aluguéis dos imóveis são corrigidos pela inflação.

Adicionalmente, quando comparamos os dividendos dos FIIs com a taxa de juros de títulos públicos referenciados de dez anos de vencimento, vemos que os dividendos estão quase em sua máxima histórica relativa (painel inferior da figura abaixo).

Evolução do ganho de dividendo dos fundos imobiliários e da taxa de títulos públicos referenciados a IPCA de 10 anos (painel superior) e a relação entre os dois (painel inferior). Fonte e elaboração: Bloomberg.

Os FIIs guardam uma vantagem em relação ao investimento em imóveis diretamente, pela diversificação, liquidez, isenção de IR e maior remuneração.

Os FIIs que investem em CRIs são uma alternativa interessante para os que desejam correr menos risco.

 

Destaco que estes não são as únicas aplicações que um investidor deve ter em carteira. Tampouco, que se deve acabar com investimentos de liquidez. Manter parte dos recursos em liquidez e baixo risco servem para capturar oportunidades com oscilações desfavoráveis do mercado.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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