De grão em grão https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br Como cuidar do seu dinheiro, poupar e planejar o futuro Sun, 05 Dec 2021 09:31:02 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Se minha carteira rende menos que a inflação em 2021, devo mudar? https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/05/09/se-minha-carteira-rende-menos-que-a-inflacao-em-2021-devo-mudar/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/05/09/se-minha-carteira-rende-menos-que-a-inflacao-em-2021-devo-mudar/#respond Sun, 09 May 2021 05:30:35 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/08/Funcionário-da-Bolsa-de-Nova-Iorque-Michael-Nagle-Xinhua-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2561 Nos últimos 20 anos, quem investiu em ativos que rendiam a Selic, ganhou em média mais de 5% acima do IPCA ao ano. Mas esta situação se inverteu desde meados do ano passado. O investidor brasileiro vai ter de se acostumar com algo que o investidor internacional já está habituado há muitos anos.

Conforme pode ser visto no gráfico abaixo, a taxa Selic sempre rendeu acima do IPCA, até o ano passado. O investidor brasileiro se acostumou mal em ser “conservador”. Foram duas décadas que levaram o brasileiro a se educar de forma errada em como avaliar o desempenho de seus investimentos.

O gráfico acima apresenta no painel superior a evolução da taxa Selic (linha branca) e do IPC-A de 12 meses (linha amarela). No painel inferior há a evolução da diferença entre a Selic e o UPC-A. Fonte: Bloomberg.

No passado, não era necessário correr qualquer risco ou mesmo abdicar de liquidez. Era possível ter um ganho certo, acima da inflação praticamente todos os meses, com ativo de liquidez diária e sem risco.

As duas primeiras décadas do século foram o “paraíso dos rentistas”, parafraseando nosso Ministro da Economia. Como diz o provérbio: “não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe”. E acabou.

Só há dois caminhos para se ganhar da inflação atualmente. Alocar parte da carteira em risco ou abdicar de liquidez em investimentos com maior prazo.

No entanto, estas duas alternativas também estão frustrando investidores brasileiros em 2021.

Retornos das principais classes de ativos brasileiros em 2021 (até 06/maio/2021). Fonte: Economatica.

Conforme pode ser observado na tabela acima, a inflação medida pelo IPC-A ganha de todas as aplicações.

Mesmo quem fugiu para os populares títulos Tesouro IPCA, para se proteger da inflação, amarga perdas este ano. As perdas dos títulos públicos atingem 17% em 2021 para quem, por exemplo, investiu no TESOURO IPCA+ 2045.

Passados pouco mais de quatro meses, alguns investidores começam a se questionar.

Mas o que os investidores deveriam fazer?

Se você tem apenas ativos referenciados ao CDI ou à taxa Selic, conscientize-se que o “paraíso dos rentistas” acabou. Agora é necessário diversificar.

Ainda assim, alguns se questionam se realmente fizeram bom negócio em sair da Selic. Um investidor que tivesse diversificado sua carteira entre as nove classes de ativos estaria perdendo 0,9% neste ano, ponderando igualmente todos os investimentos.

Será que vale a pena sair da Selic ou CDI, já que, apesar de perder da inflação, pelo menos o ganho é positivo?

De forma geral, o problema não é a diversificação, mas a forma de análise. Não é razoável analisar, no curto prazo, o desempenho de ativos que possuem horizonte de longo prazo.

Mesmo os títulos referenciados ao IPC-A, podem perder da inflação no curto prazo. Os títulos Tesouro IPC-A rendem uma taxa real de juros mais o IPC-A.

Hoje eles rendem em média IPC-A + 3% ao ano. Entretanto, este retorno acima do IPC-A só é garantido no horizonte de investimento que é, em média, de sete anos para todos os títulos públicos emitidos.

O que justifica eles perderem do IPC-A no curto prazo é a marcação a mercado. A taxa real acima do IPC-A flutua no mercado e esta flutuação acaba sendo mais representativa no retorno no curto prazo.

A única forma de você ter garantido o retorno mensal acima do IPC-A é se investir em CDBs referenciados ao IPC-A que são marcados na curva. Assim, eles não sofrem com a variação diária do mercado.

No entanto, para ter ganhos de 3% acima do IPC-A, estes CDBs devem ter prazo médio de pelo menos três anos. E você não poderia resgatá-los até o vencimento, ou teria perdas como os títulos marcados a mercado.

Portanto, se sua carteira está dividida em investimentos com horizonte de médio prazo, por exemplo de três a cinco anos, este deve ser o prazo de análise.

A alteração da carteira deve ter como justificativa a mudança da expectativa sobre o cenário econômico futuro e seus reflexos nos investimentos para frente e não o desempenho passado de curto prazo. Se alterar sua carteira baseando-se apenas no desempenho passado de curto prazo, corre o risco de vender, quando deveria estar comprando, e de comprar, quando deveria estar vendendo.

 

Michael Viriato é assessor financeiro e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Descubra quais são os riscos em renda fixa atualmente https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/10/18/descubra-quais-sao-os-riscos-em-renda-fixa-atualmente/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/10/18/descubra-quais-sao-os-riscos-em-renda-fixa-atualmente/#respond Sun, 18 Oct 2020 05:30:20 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/Xinhua-Wang-Ying-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2352 Com a queda da taxa Selic para 2% ao ano (0,17% ao mês), investidores estão correndo para balancear suas carteiras buscando maiores retornos. A velocidade da queda dos juros surpreendeu muitos investidores e vários ainda não conseguiram adequar seus portfólios à nova realidade de rendimentos. Aponto alguns riscos que você precisa atentar para melhorar a rentabilidade, mas manter a segurança.

No passado, o investidor não precisava fazer nenhum planejamento, pois a remuneração de aplicações com liquidez diária já era suficientemente boa.

A liquidez dos investimentos é a capacidade de transformar os recursos investidos em dinheiro sem sofrer com as condições de mercado. Algumas aplicações que possuem maior carência ou maior prazo de vencimento são premiadas com uma maior taxa de retorno em relação ao CDI. Entretanto, não basta investir em títulos com maior retorno. É preciso avaliar os riscos de movimento da curva de juros e o que o mercado já precifica nesta curva.

Um risco no cenário econômico emerge e o investidor deve considerar de forma mais cuidadosa os efeitos que podem ser produzidos na Selic e na curva de juros.

Nos últimos vinte anos, apenas em um momento tivemos a inflação superando o CDI em quatro meses seguidos como estamos passando agora. Observe na tabela abaixo que, assim como atualmente, o IPCA também esteve maior que o CDI entre novembro de 2012 e fevereiro de 2013.

 

A tabela indica o IPCA, o CDI e a diferença entre ambos nos últimos quatro meses e em 2013. Nestes dois períodos, o IPCA superou o CDI por quatro meses seguidos.

Uma característica marca os dois momentos. Assim como em 2013, a Selic hoje também se encontra no seu mínimo histórico.

Sem dúvida, o cenário de ociosidade econômica e de desemprego atuais são diferentes daqueles encontrados em 2013. No entanto, a dívida pública líquida como percentual do PIB nunca esteve tão alta como agora.

Evolução da dívida líquida pública em relação ao PIB desde 2011. Fonte: Bloomberg.

Talvez você se pergunte, mas e daí? Qual o risco? Afinal, os economistas esperam que a Selic permaneça baixa.

Para decidir as taxas de juros de curto prazo, a taxa Selic, o Banco Central (BC) persegue o regime de metas de inflação. Nesse regime, ele acompanha as expectativas dos agentes. E essa expectativa pode mudar rapidamente se a confiança for abalada.

Em 2013, logo depois de a inflação superar o CDI por quatro meses seguidos o BC iniciou um processo de elevação das taxas de juros como forma de administrar essa expectativa.

Sinais de que a confiança do mercado começa a ser abalada já estão sendo precificados nas taxas de juros. Isso ocorre não só pela elevação das taxas mais longas, mas também no prêmio que investidores estão cobrando acima da taxa Selic.

Nos últimos trinta dias os títulos referenciados à taxa Selic (Tesouro Selic) apresentaram forte queda como pode ser visto no gráfico abaixo. Esta queda impactou os fundos de liquidez e fundos multimercados que compram esses títulos em suas carteiras. Ou seja, manter os investimentos em ativos de liquidez pode não te garantir retorno positivo no curto prazo.

Evolução do índice de títulos públicos federais referenciados à taxa Selic (IMA-S). Fonte: Bloomberg.

Embora os economistas não prevejam elevação da taxa Selic no curto prazo, os agentes de mercado já precificam na curva de juros a possibilidade de a Selic se elevar já em 2020.

A figura abaixo mostra a taxa de juros prefixada negociada no mercado para cada prazo. A curva verde inferior indica as taxas negociadas no mercado em julho de 2020 e a curva laranja superior as taxas negociadas no mercado na última sexta-feira.

Curva de juros atual e há três meses. Fonte: Bloomberg.

O ambiente de investimento de renda fixa se torna agora ainda mais desafiador, tendo em vista o atual patamar da taxa Selic e do CDI. O aplicador precisa realizar além de um adequado planejamento de sua liquidez e de fluxo de caixa, também ter o entendimento do cenário econômico e da curva de juros de forma a evitar perdas com os movimentos de mercado.

 

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Você sabe quais têm sido os melhores e piores investimentos? https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/09/20/voce-sabe-quais-tem-sido-os-melhores-e-piores-investimentos/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/09/20/voce-sabe-quais-tem-sido-os-melhores-e-piores-investimentos/#respond Sun, 20 Sep 2020 05:30:53 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/Mark-Abramson-The-New-York-Times-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2314 A volatilidade diária dos ativos e as notícias acabam confundindo os investidores e estes, usualmente, perdem a noção dos retornos das diversas classes de ativos. Isto acaba atrapalhando as decisões, pois perdemos a sensibilidade de quais são as tendências dos ativos e acabamos focando no ruído diário. Vamos testar se você está se deixando levar pelo ruído ou está ciente das tendências de maior prazo?

Pergunta 1 – Dentre as dez classes de ativos abaixo, você seria capaz de dizer quais foram as três melhores e as três piores neste mês de setembro até o dia 18 (sexta-feira)?

  1. CDI
  2. Títulos públicos prefixados
  3. Títulos públicos referenciados à inflação
  4. Fundos Multimercados
  5. Fundos Imobiliários
  6. Dólar
  7. Ouro
  8. Ibovespa
  9. S&P500
  10. Nasdaq

 

Pergunta 2 – Dentre as dez classes de ativos abaixo, você seria capaz de dizer quais foram as três melhores e as três piores em 2020, até 18/setembro/2020?

  1. CDI
  2. Títulos públicos prefixados
  3. Títulos públicos referenciados à inflação
  4. Fundos Multimercados
  5. Fundos Imobiliários
  6. Dólar
  7. Ouro
  8. Ibovespa
  9. S&P500
  10. Nasdaq

 

Pergunta 3 – Dentre as dez classes de ativos abaixo, você seria capaz de dizer quais foram as três melhores e as três piores nos últimos três anos, ou seja, desde 2017 até 18/setembro/2020?

  1. CDI
  2. Títulos públicos prefixados
  3. Títulos públicos referenciados à inflação
  4. Fundos Multimercados
  5. Fundos Imobiliários
  6. Dólar
  7. Ouro
  8. Ibovespa
  9. S&P500
  10. Nasdaq

 

Pergunta 4 – Dentre as dez classes de ativos abaixo, você seria capaz de dizer quais foram as três melhores e as três piores nos últimos cinco anos, ou seja, desde 2015 até 18/setembro/2020?

  1. CDI
  2. Títulos públicos prefixados
  3. Títulos públicos referenciados à inflação
  4. Fundos Multimercados
  5. Fundos Imobiliários
  6. Dólar
  7. Ouro
  8. Ibovespa
  9. S&P500
  10. Nasdaq

 

Pergunta 5 – Dentre as dez classes de ativos abaixo, você seria capaz de dizer quais foram as três melhores e as três piores nos últimos dez anos, ou seja, desde 2010 até 18/setembro/2020?

  1. CDI
  2. Títulos públicos prefixados
  3. Títulos públicos referenciados à inflação
  4. Fundos Multimercados
  5. Fundos Imobiliários
  6. Dólar
  7. Ouro
  8. Ibovespa
  9. S&P500
  10. Nasdaq

 

As respostas estão nos gráficos abaixo. O primeiro gráfico responde à primeira pergunta e assim por diante.

Em geral, investidores costumam estar cientes sobre o que está ocorrendo no curto prazo. Se você acertou a pelo menos 3 está de parabéns.

Entretanto, o importante com este teste não é somente entender quais são as tendências de médio e longo prazo entre os ativos, mas principalmente entender a relevância da diversificação dos investimentos.

Perceba que em cada período há sempre um investimento que está despontando, porém fica em uma posição pior em um momento diferente. Portanto, com uma adequada diversificação, você sempre vai aproveitar o melhor de cada uma das classes de ativos.

Pergunta 1

Rentabilidade das classes de ativos no mês de setembro, até o dia 18. Fonte: Economatica.

Pergunta 2

Rentabilidade das classes de ativos no ano de 2020, de 31/12/2019 a 18 de setembro/2020. Fonte: Economatica.

Pergunta 3

Rentabilidade das classes de ativos nos últimos três anos, de 31/12/2017 a 18 de setembro/2020. Fonte: Economatica.

Pergunta 4

Rentabilidade das classes de ativos nos últimos cinco anos, de 31/12/2015 a 18 de setembro/2020. Fonte: Economatica.

Pergunta 5

Rentabilidade das classes de ativos nos últimos dez anos, de 31/12/2010 a 18 de setembro/2020. Fonte: Economatica.

Obs: Para o cálculo da rentabilidade dos Títulos públicos prefixados, Títulos públicos referenciados à inflação, Fundos Multimercados e Fundos Imobiliários foram utilizadas as variações dos índices IRF-M, IMA-B, IHFA e IFIX, respectivamente.

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Descubra se você está errando como a maioria dos brasileiros https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/07/05/descubra-se-voce-esta-errando-como-a-maioria-dos-brasileiros/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/07/05/descubra-se-voce-esta-errando-como-a-maioria-dos-brasileiros/#respond Sun, 05 Jul 2020 05:30:24 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/Foto-de-orcamento-Fotolia-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2209 Estudos empíricos atestam que a decisão de alocação estratégica entre as classes de ativos é crucial no retorno de longo prazo. Quando se fala em longo prazo, deve-se imaginar um horizonte de investimento de 10 anos ou mais. É justamente nesta parcela de longo prazo que a média dos brasileiros está errando.

Antes de avaliar como os brasileiros investem, vamos entender quem provavelmente tem acesso à melhor orientação sobre investimentos.

As instituições financeiras segregam investidores, quando pessoas físicas, em três segmentos básicos: varejo, varejo de alta renda e private. A segmentação está relacionada ao volume de investimentos.

Usualmente, o private é formado por aplicadores com mais de R$ 5 milhões, equivalente a US$1 milhão em aplicações financeiras líquidas. O varejo de alta renda costuma ser constituído por aqueles com mais de R$ 100 mil reais. Por fim, aqueles com investimentos menores que R$100 mil constituem o varejo.

Dos três segmentos, qual você acredita que, na média, tem mais acesso à informação e orientação financeira?

Concordamos que por serem uma parcela menor e que concentram mais recursos, investidores do segmento private, costumam ter acesso à  melhor orientação financeira. Que tal entender como eles estão alocando seus portfólios?

As três figuras a seguir são distribuições de alocação de recursos em fundos de investimento para cada um dos três segmentos, com dados da Anbima. Seu desafio é atribuir cada gráfico a seu segmento. Qual seria a distribuição de alocação dos investidores private?

Distribuição de fundos de investimentos entre classes de ativos para os segmentos varejo, varejo de alta renda e private. Cada letra representa um segmento. Fonte: Anbima.
Distribuição de fundos de investimentos entre classes de ativos para os segmentos varejo, varejo de alta renda e private. Cada letra representa um segmento. Fonte: Anbima.
Distribuição de fundos de investimentos entre classes de ativos para os segmentos varejo, varejo de alta renda e private. Cada letra representa um segmento. Fonte: Anbima.

Em qualquer dos segmentos, existem investidores conservadores, moderados e agressivos. É razoável estimar que a média de todos os investidores resulta em um perfil moderado. Portanto, podemos afirmar que os gráficos seriam atribuídos aos investidores moderados.

Se você disse que a distribuição do varejo é aquela com letra C e o private é aquela com letra A, você acertou. Perceba, que o percentual em fundos de renda fixa alocado para o private está em apenas 20%. Enquanto, no varejo, este percentual supera 80%.

A alocação em fundos de ações, para o varejo, é a menor entre todos os segmentos.

Apenas uma pequena parcela dos brasileiros se enquadra na categoria private. Portanto, a grande maioria dos brasileiros deve estar com alocação em ações menor do que deveria. Com a queda das taxas de juros a patamares, historicamente baixos, esta reduzida alocação em ações pode ter um reflexo considerável no potencial de retorno de longo prazo para estes investidores.

Entretanto, esta ainda não é a maior falha entre os investidores. Quando se avalia os recursos totais em previdência privada, o problema pode ser ainda maior.

Os recursos investidos em previdência privada são usualmente aqueles de perfil de longo prazo. Este horizonte de investimento é justificado pela finalidade da aplicação que costuma ser para aposentadoria ou sucessão.

Os dados da Anbima mostram que o volume total alocado em previdência privada aberta alcança R$ 928 bilhões. No entanto, os fundos de previdência qualificados como de renda fixa somam R$ 818 bilhões. Ou seja, quase 90% dos recursos de brasileiros em previdência são mais conservadores que a distribuição em fundos de investimentos.

Menos de 3% dos fundos de previdência dos brasileiros estão alocados em fundos de ações. Este número demonstra uma grande incoerência na alocação para aposentadoria.

Como os recursos em previdência têm perfil de mais longo prazo que fundos abertos, eles deveriam ser a parcela mais agressiva dos investidores. Seria de se esperar que a alocação em ações média, em previdência, superasse aquela apresentada pelos investidores private em fundos abertos.

O reflexo da remuneração mais baixa recente das taxas de juros certamente vai promover esta movimentação, mas não espere os outros fazerem primeiro, pois pode ser tarde para você salvar sua aposentadoria.

 

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Descubra quão próximo está de sua independência financeira https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/06/28/descubra-quao-proximo-esta-de-sua-independencia-financeira/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/06/28/descubra-quao-proximo-esta-de-sua-independencia-financeira/#respond Sun, 28 Jun 2020 05:30:09 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2019/01/Planejamento-Fotolia-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2202 Com a queda do CDI para seu mínimo histórico de 0,18% ao mês, muitos reconsideram a possibilidade de atingir a independência financeira por meio de aplicações financeiras. Comento abaixo como isso ainda é possível, quanto tempo levaria para atingir e o que deve fazer.

 

O que é independência financeira?

Independência financeira é muitas vezes confundida com aposentadoria. No entanto, são conceitos distintos.

Como define o guru Tony Robbins em seu livro “Dinheiro, domine esse jogo”, você atinge a independência financeira quando seu patrimônio financeiro é capaz de gerar rendimentos suficientes para manter seu estilo de vida atual.

Se seu custo de vida é de R$60 mil anuais, ou R$ 5 mil mensais, você precisa ter um patrimônio com potencial de gerar este retorno anual.

Não quer dizer que você irá parar de trabalhar, ou seja se aposentar, mas que pode procurar um trabalho que eleve seu bem-estar.

 

Como calcular?

A forma correta de calcular o patrimônio necessário para esta renda deve considerar apenas o retorno acima da inflação.

Internacionalmente, a taxa usualmente utilizada é de 4% ao ano. Esta prática é conhecida como “regra dos 4%”. Para o caso brasileiro, esta taxa é ainda mais razoável. Explico a razão abaixo.

Voltando ao nosso exemplo, se você tem um custo de vida de R$ 60 mil anual, deve colocar como objetivo ter um patrimônio de R$ 1,5 milhões. Se a renda almejada é de R$ 10 mil, suas aplicações financeiras devem ser pelo menos o dobro, ou seja, R$ 3 milhões.

Para chegar a este valor, basta dividir a renda anual almejada por 0,04, ou seja, 4%.

 

Onde investir?

A regra dos 4% foi criada pelo assessor financeiro William Bengen em 1994. O autor denominou esta regra como Safemax rule, mas o nome não ganhou tanta repercussão quanto o citado anteriormente.

Bengen sugere que o portfólio para seguir esta regra não deve ter menos de 50% alocado em ativos ações e o restante alocado em títulos de renda fixa de prazo intermediário. Avalie toda a pesquisa de Bengen que deu origem a esta regra no link.

Conforme definido pelo portal Investopedia, títulos de médio prazo são aqueles com vencimento entre 2 a 10 anos. Um título só é definido como de longo prazo, se ele tiver vencimento superior a dez anos.

Perceba nisto uma lição muito importante. Vai ser muito mais difícil alcançar sua independência financeira se você investir em caderneta de poupança ou em títulos que rendem apenas o CDI. Estas são aplicações de curto prazo.

Você vai precisar sair da falsa zona de conforto da baixa volatilidade.

Para o Brasil, como ainda há disponível títulos públicos e privados com retorno superior a 4% ao ano acima da inflação, sua meta pode ser atingida mais fácil e rápido que internacionalmente.

No entanto, isso não quer dizer que não precisa ter investimentos de renda variável, mas que pode ter uma proporção menor e ainda assim obter retornos mais elevados que os do estudo de Bengen. Portanto, possibilitando que sua meta seja alcançada de forma mais rápida.

 

Quanto tempo?

O tempo para se alcançar sua independência financeira depende de quatro variáveis: o valor atual de suas aplicações, a meta que deseja alcançar, quanto pode aportar mensalmente e da taxa média de retorno de seu portfólio no horizonte de investimento.

Considerando o exemplo acima em que se deseja ter uma renda mensal de R$ 5 mil. Assim, se seu patrimônio inicial é de R$ 100 mil, se pode investir mensalmente R$ 1 mil e você tem um portfólio de perfil moderado que rende 6% ao ano real (acima da inflação), levariam 29,5 anos para chegar na sua independência financeira.

Considerando a mesma rentabilidade real de 6% ao ano, a tabela abaixo simula outras situações de patrimônio inicial e de aporte mensal. Os números que estão com fundo verde representam o prazo para atingir sua independência financeira.

A tabela apresenta o número de anos para se atingir a independência financeira, considerando uma taxa real equivalente a 6% ao ano, um patrimônio objetivo de R$ 1,5 milhões e as diferentes possibilidades de patrimônio inicial e aplicação mensal.

Para realizar cálculo com valores diferentes, você pode usar a função NPER(taxa de juros mensal; aportes mensais; patrimônio hoje; – meta de patrimônio final) no Excel. Basta substituir os quatro parâmetros.

O caminho para a independência financeira pode ser comparado a uma jornada. O primeiro passo é definir uma meta atingível. Entretanto, se não iniciar a jornada e se não mantiver a disciplina no caminho, é uma ilusão esperar que se chegue ao destino.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Pagar aluguel é jogar dinheiro fora? https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/06/07/pagar-aluguel-e-jogar-dinheiro-fora/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/06/07/pagar-aluguel-e-jogar-dinheiro-fora/#respond Sun, 07 Jun 2020 05:30:06 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/NYpredios-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2185 É comum se ouvir pessoas afirmando que “pagar aluguel é jogar dinheiro fora”, quando perguntadas qual razão as levaria a adquirir um imóvel. Mas será que isso é verdade?

A recente desaceleração econômica, conjugada às baixas taxas de juros e à decepção de investidores nos mercados de risco tem levado muitos a avaliarem o investimento imobiliário e fugir do aluguel.

Mas será que o aluguel é um dinheiro jogado no vaso? Para se chegar a esta resposta é necessário entender o que representa o valor do aluguel. Ou seja, como este valor pode ser dividido.

Para discutir este ponto, vamos avaliar a decisão de compra de imóvel apenas sob a ótica de moradia como forma de não alugar.

A taxa de aluguel que você paga pode ser dividida em duas partes: custo de financiamento e depreciação. O custo do financiamento existe, pois alguém teve de comprar o imóvel que você usa. Portanto, é como se você estivesse usando o dinheiro do proprietário para morar no seu imóvel. Vamos primeiro falar deste custo do dinheiro e comparar com a taxa de aluguel.

 

Qual a taxa média de aluguel no Brasil?

Conforme pode ser visto na figura abaixo retirada do relatório produzido pelo FipeZap, divulgado em meados de abril, a taxa média de aluguel no Brasil é de 4,81% ao ano. Isso quer dizer que uma pessoa, usualmente, pagaria 0,40% do valor de mercado do imóvel ao mês como aluguel.

Evolução da taxa de aluguel média no Brasil e do CDI. Fonte e elaboração: https://fipezap.zapimoveis.com.br/

Comparando com títulos públicos

Perceba que esta taxa caiu seguindo a redução das taxas de juros. Embora o portal relacione esta taxa com o CDI, esta comparação é equivocada. A taxa a qual se deve comparar é a taxa de um título público referenciado a IPCA de longo prazo. Isso ocorre, pois ambos – aluguel e o título de renda fixa – são corrigidos pela inflação.

Quando em 2015 a taxa de aluguel atingiu 9% ao ano, a taxa do título referenciado a IPCA de 30 anos chegou a 7,5%+IPCA ao ano. Em abril de 2020, a taxa deste título estava em 4,5% + IPCA ao ano.

Logo, se você tivesse o valor integral para comprar o imóvel poderia pensar que estaria indiferente entre pagar o aluguel ou receber os juros do governo, pois as duas taxas são muito próximas.

No entanto, o imóvel é um investimento de risco e o título público não tem risco. Assim, seria esperado que o retorno do primeiro fosse superior. Embora, usualmente o preço dos imóveis suba no longo prazo, se esta alta for inferior à inflação, o título público pode ganhar em retorno.

 

Os imóveis se valorizaram mais que a inflação nos últimos oito anos?

Segundo o portal FipeZap de 2011 a 2019 o preço médio dos imóveis subiu 38,74%. Entretanto, a inflação acumulada pelo IPCA foi de 56,33% no mesmo período. Logo, em oito anos o preço médio dos imóveis no Brasil não foi capaz de valorizar a inflação.

 

O que ninguém considera quando paga o aluguel?

Recordo que mencionei que o valor do aluguel pode ser dividido em duas partes. A primeira, discutimos acima e se refere ao custo do dinheiro e sua relação com aplicações financeiras e o risco envolvido. A segunda parte quase ninguém considera na avaliação.

Um imóvel é um bem que possui vida útil. Dizer que um imóvel dura um século é meia verdade. De fato, sua estrutura básica pode durar muito tempo.

No entanto, a cada vinte anos precisa realizar uma série de investimentos. Por exemplo, pode ter de trocar o piso, armários, podem surgir problemas de encanamento e eletricidade. O imóvel também pode ficar com sua arquitetura ultrapassada e demandar reformas.

Esse é o chamado custo de depreciação. Se você compra um imóvel, você é o responsável por realizar investimentos periódicos. O mesmo ocorre no condomínio onde o imóvel está inserido. Lembre que o locatário só deve pagar a taxa de condomínio básica e não eventuais reformas nele.

Quando se aluga, você fica livre de diversos investimentos estruturais e não carrega o peso da depreciação. De fato, esta “taxa de depreciação” deveria estar embutida no preço do aluguel, mas muitas vezes não está.

De quanto seria esta taxa de depreciação?

É possível considerar que a cada vinte anos é necessário gastar 30% do valor do imóvel em troca de diversos elementos dele como os mencionados anteriormente. Portanto, isso equivale a considerar um custo adicional de 1,5% do valor do imóvel ao ano (= 30%/ 20 anos).

Assim, se você aluga e paga 4,8% de taxa de aluguel, essa taxa poderia ser dividida em 1,5% de custo de depreciação e apenas 3,3% de custo do dinheiro. Como você pode ganhar mais de 4%+IPCA ao ano em um título público, alugar pode sair bem mais vantajoso.

 

Você deseja ter um imóvel ou quer morar em um imóvel que deseja?

O sentimento de posse é algo natural. Queremos ter nosso próprio carro, nossa casa, nossa casa de praia, nosso sítio.

Avalie com cuidado se seu desejo é de ter um imóvel maior ou de se mudar para um imóvel maior. Seu desejo é de passar alguns finais de semana na praia ou ter uma casa de praia.

Dados mostram que as pessoas trocam de casa a cada dez anos. Esse número se eleva quando a idade da pessoa é inferior a 40 anos. Portanto, comprar imóvel se tem menos de quarenta anos porque achou que esse era o imóvel ideal, pode ser uma decisão inadequada.

Reflita sobre a real necessidade de passar por dificuldades de financiamento, ou corrosão e imobilização de seu patrimônio concentrando em um único ativo.

Como a compra envolve um grande valor e é uma decisão que custa caro quando alterada em pouco tempo, antes de comprar, alugue o imóvel que deseja morar e avalie se você realmente precisa possuir e se ele realmente é o que desejava. Lembre-se, alugar pode ser a melhor decisão de investimento.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

 

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Está na hora de investir em dólar? https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/04/26/esta-na-hora-de-investir-em-dolar/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/04/26/esta-na-hora-de-investir-em-dolar/#respond Sun, 26 Apr 2020 05:30:51 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/Dolar-Marcello-Casal-Jr-ABr.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2148 A moeda brasileira se desvalorizou 27,8% neste ano (até 24/04) e tem provocado grande ansiedade entre os investidores. Quando se depara com uma variação tão relevante, investidores se questionam se deveriam rebalancear seus portfólios para investir na moeda americana.

O gráfico abaixo apresenta duas características. Primeira, praticamente todas as moedas de mercados emergentes se desvalorizaram contra o dólar, ou seja, o movimento não foi pontual para o mercado brasileiro. Segunda, o Real foi a moeda que mais se desvalorizou dentre todos os pares.

Variação das moedas de mercados emergentes contra o dólar em 2020. Fonte: Bloomberg.

Depois de passar por tamanha desvalorização, somos tentados a acreditar que o dólar sempre foi uma das melhores alternativas de investimento. Assim, vamos testar seus conhecimentos.

Você saberia dizer qual foi a desvalorização aproximada do Real nos últimos 20 anos?

a) 100%

b) 209%

c) 232%

d) 965%

 

Você saberia dizer qual foi a inflação medida pelo IPCA nos últimos 20 anos?

a) 100%

b) 209%

c) 232%

d) 965%

 

Você saberia dizer quanto rendeu o CDI nos últimos 20 anos?

a) 100%

b) 209%

c) 232%

d) 965%

 

Se fosse oferecida a você, em 31/12/2015, uma aplicação referenciada ao dólar ou outra ao CDI, qual você preferiria?

O gráfico abaixo mostra o desempenho do CDI e da moeda americana desde 2015. Perceba que o investimento em CDI (linha laranja) foi superior ao do dólar (linha preta) e sem sofrer variações, ou seja, com menor risco. Note que até o início de 2020, a moeda americana estava praticamente no mesmo valor de 2015.

Evolução de um investimento referenciado ao CDI (linha laranja) e ao dólar (linha preta) desde 31/12/2015. Fonte: Bloomberg.

Para aqueles que desejam se proteger da variação cambial no longo prazo, uma alternativa são ativos referenciados à inflação. Uma teoria desenvolvida pelo economista sueco Gustav Cassel diz que, no longo prazo, a desvalorização da moeda de um país é proporcional ao aumento relativo dos preços.

Essa teoria é empregada, usualmente, com bens similares entre os países como o famoso sanduiche Big Mac e, recentemente, como as figurinhas da copa (veja essa comparação no link).

Observe o gráfico abaixo da variação do IPCA e do dólar nos últimos vinte anos. Enquanto uma aplicação que rendia apenas a inflação subiu 232%, uma atrelada ao dólar se valorizou apenas 209% no período. Assim, as primeiras duas perguntas acima foram respondidas. O CDI no mesmo período rendeu 965%. Portanto, muito acima da desvalorização cambial.

Evolução de um investimento referenciado ao IPCA (linha laranja) e ao dólar (linha preta) nos últimos 20 anos. Fonte: Bloomberg.

A busca de pequenos investidores em adivinhar a trajetória do câmbio pode ser comparada a tentar pegar a tampa da pasta de dente quando esta cai na pia. Quando a tampinha cai na pia tentamos alcançá-la, mas na maioria das vezes sem sucesso. Entretanto, sabemos onde ela vai terminar seu caminho, ou seja, no ralo. O mesmo ocorre com o dólar. A desvalorização, se permanente, vai afetar a inflação. Por isso o melhor é ir direto aos ativos referenciados à inflação.

Lembre-se que os produtos referenciados à inflação rendem juros adicionais ao IPCA. Logo, esses investimentos proporcionaram desempenho muito superior à variação cambial.

Com essas formas de proteção para longo prazo, não há motivos para ansiedade com a oscilação do câmbio no curto prazo a não ser que tenha viagem ou pagamentos nesta moeda.

Ter investimentos atrelados a outra moeda são um elemento de diversificação do portfólio, mas deve ponderar o momento para fazer esta aplicação. Não parece adequado aplicar em um ativo, quando ele sofre valorização significativa como a ocorrida com a moeda americana.

Se deseja ter investimentos em dólar para diversificação do portfólio, avalie aplicar em fundos que proporcionem além da valorização cambial ganhos de juros ou bolsa como os fundos de renda fixa ou de renda variável atrelados à moeda.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

 

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O que fazer com os fundos imobiliários nesta crise? https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/04/19/o-que-fazer-com-os-fundos-imobiliarios-nesta-crise/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/04/19/o-que-fazer-com-os-fundos-imobiliarios-nesta-crise/#respond Sun, 19 Apr 2020 05:30:48 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/Chicago-trump-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2135 De forma similar às crises passadas, os ativos de risco apresentaram forte desvalorização neste ano. No entanto, esta queda não foi justificada porque os preços estavam caros, mas devido ao receio de redução de receitas promovida pelo fechamento mandatório das atividades de empresas pela pandemia do Coronavírus. Alguns ativos devem perder mais receita que outros e alguns possuem custo fixo elevado, logo, serão muito mais prejudicados. Todavia, uma classe de investimentos não deveria ter sido tão afetada.

Nos últimos cinco anos, encerrados em 2019, os Fundos de Investimentos Imobiliários (FIIs) se valorizaram uma média de 18,8% ao ano. Segundo o portal FipeZap, neste intervalo de tempo, tanto o preço de imóveis comerciais como os aluguéis médios destes apresentaram queda. Então o que teria justificado a alta?

O gráfico abaixo descreve a evolução do índice de títulos públicos referenciados a IPCA com vencimento superior a cinco anos (IMAB5+) e do índice de FIIs (IFIX).

Evolução do Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários (IFIX) e do índice de títulos públicos referenciados a IPCA e com vencimento superior a cinco anos (IMAB5+) com base 100 em 26/12/2014. Fonte: Economatica.

Os títulos referenciados a IPCA remuneram uma taxa de juros prefixada que incide sobre o principal e este é reajustado pela inflação. Os FIIs possuem estrutura similar. Eles pagam um dividendo que é proveniente dos aluguéis dos imóveis e este aluguel normalmente é reajustado pela inflação. Portanto, é razoável dizer que ambos remuneram uma taxa fixa acrescida da inflação. Por isso, no gráfico ambos os índices parecem evoluir de forma similar.

Desde 2016, a taxa básica da economia, conhecida como Selic, caiu de 14,25% ao ano para os atuais 3,75% a ano. Essa queda impulsionou os títulos referenciados a IPCA e, consequentemente, também os FIIs. Esta efeito pode ser observado no gráfico acima.

Entretanto, perceba que durante o mês de março de 2020 os FIIs sofreram de forma muito mais acentuada. Enquanto o IMAB5+ caiu apenas 5,9% no ano até o dia 17/04, o IFIX se desvalorizou 19,2%.

É possível atribuir a queda mais acentuada ao maior risco dos FIIs em relação aos títulos públicos. No entanto, esta desvalorização foi além do esperado e foi provocada pela aversão ao risco mais elevada dos investidores neste momento.

A figura a seguir mostra a evolução da volatilidade anual dos retornos dos índices Ibovespa, IFIX e IMAB5+. Perceba que a volatilidade do IFIX foi inferior à do IMAB5+ desde 2015. Somente em março a volatilidade do IFIX superou a do IMAB5+. E esse risco está próximo do risco do Ibovespa. Portanto, investidores estão colocando no preço atual um risco superior ao natural desta classe.

Evolução da volatilidade (risco) anualizada dos índices: Ibovespa, IMAB5+ e IFIX. Fonte: Economatica.

Outro risco dos FIIs, neste momento, seria o não recebimento dos aluguéis por inadimplência dos locatários. No entanto, mesmo se considerarmos o caso extremo em que 100% dos aluguéis de todos os FIIs não sejam pagos pelos próximos seis meses, a queda não deveria ter sido desta magnitude.

A perda de metade do aluguel de um ano em toda a vida de um imóvel representaria uma perda de valor de no máximo 5%. Sabemos que apenas alguns FIIs vão ser mais afetados e não será por seis meses e nem a perda de todo o aluguel. Logo, também não justificaria a queda do IFIX de quase 15% acima do IMAB5+.

Observando o gráfico abaixo, é possível ver que a relação entre o dividendo mensal dos FIIs e o CDI está próxima da máxima dos últimos seis anos. O ganho por dividendo mensal médio dos FIIs representa quase o dobro da remuneração do CDI.

Evolução da razão entre os dividendos médios dos FIIs e o CDI mensal. Fonte: Economatica.

Esta crise ainda não acabou e mais volatilidade pode ocorrer nos mercados. Portanto, não é possível afirmar que os FIIs não possam apresentar novas desvalorizações. Entretanto, para o longo prazo, a queda já representa um bom ponto de entrada.

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Quatro mitos do investimento em ouro https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/03/08/quatro-mitos-do-investimento-em-ouro/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/03/08/quatro-mitos-do-investimento-em-ouro/#respond Sun, 08 Mar 2020 05:30:32 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/ouro-1-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2104 Com o acirramento de crises econômicas vem sempre à mente dos investidores a aplicação em ouro. Neste momento em que o mercado financeiro está assustado com a epidemia do Coronavírus, esta alternativa tem sido amplamente discutida. E a atenção ficou ainda maior quando seu preço superou os máximos dos últimos sete anos nesta semana. Discuto abaixo quatro mitos no investimento neste metal precioso.

 

Evolução do preço do ouro desde sua última alta histórica em 2011. Fonte: Bloomberg

Na idade média a cidade de Troyes na França era um importante centro de negociação de ouro. Os mercadores de lá usaram a medida de peso romana chamada de uncia que era baseada na divisão de barras de bronze em doze partes, cujo peso era de 31,1 gramas. Daí o nome onça troy.

Em meio à desvalorização das bolsas pelo mundo, o ouro se destaca com uma alta de mais de 10%. Esta alta tem atraído a atenção de muitos e rumores sobre características deste investimento acabam sendo exacerbadas.

 

Ouro é um investimento de baixo risco

Existem várias definições para risco. Uma usualmente empregada é “incerteza sobre retornos futuros”. Neste sentido, o risco pode ser estimado pela dispersão dos resultados passados. A forma geral de cálculo de dispersão é o desvio padrão, conhecido no mercado como volatilidade.

Logo, um investimento de baixo risco é aquele que apresenta baixa dispersão dos resultados, pois assim os retornos estão mais próximos de seu retorno médio. Ou seja, ele deveria ter baixa volatilidade.

Títulos referenciados ao CDI costumam ter baixa volatilidade, daí a característica de baixo risco deste. Sabemos com grande probabilidade seu retorno em um dia e um mês.

Mas será que o ouro tem baixa volatilidade? E como ela se compara a um investimento em um índice de ações?

A volatilidade do ouro nos últimos dez anos foi de 16% ao ano. No mesmo período, a volatilidade do principal índice de ações americano (S&P500) foi de 12,6% ao ano. O Ibovespa apresentou volatilidade de 19,7% ao ano.

Portanto, é um mito dizer que ouro possui baixo risco. Seu risco estaria próximo ao de um investimento em bolsa de valores.

 

Ouro protege contra a inflação

Para analisar esta afirmação é preciso segregar o preço do ouro de seu ganho cambial para quem compra no Brasil.

Desta forma, analisamos se o preço em dólar ganha da inflação americana.

Quem comprou ouro no início da década de 1980 teve de esperar mais de 30 anos para ter de volta , apenas a inflação americana, em seu investimento.

O investidor que aplicou na última alta de setembro de 2011, até hoje não recuperou nem seu valor investido, muito menos a inflação.

Outra forma de avaliar esta afirmação é medir a correlação do ouro em dólar com a inflação americana. O resultado é que a correlação entre os dois nos últimos vinte anos é praticamente zero.

Portanto, também é um mito a afirmação que ouro protege contra a inflação

 

Ouro sobe em crises

Na crise financeira de 2008, o ouro caiu junto com o mercado no mês mais crítico para o mercado que foi o mês de outubro. Naquele mês, o ouro caiu 17%.

No mesmo ano, o metal se valorizou apenas 5%. Outros investimentos como títulos de renda fixa americanos de dez anos tiveram valorização mais significativa.

Assim, também não é uma verdade absoluta que o ouro sobe em crises.

 

Joias de ouro é um bom investimento

Em uma joia você pode pagar muito mais pelo design do que o peso do metal. Este design pode perder valor com mudanças de tendência de moda.

Adicionalmente, em muitos casos a joia é feita com uma liga de metal que não possui pureza do ouro de barras. Portanto, o material da joia também pode valer menos que moedas ou barras de ouro puro.

Logo, esse também é uma falácia de vendedores.

 

Ouro é descorrelacionado com o mercado

O ouro como uma commodity é correlacionado com outras commodities como pode ser visto no gráfico abaixo. A figura apresenta a evolução dos preços do ouro e do índice CRB que é formado por outras commodities como as de energia, agrícolas e metais.

Perceba que apenas mais recentemente esta evolução conjunta se distanciou um pouco mais.

 

Evolução dos preços do ouro (linha de cor preta) e do índice CRB de commodity (linha de cor laranja). Fonte: Bolomberg

Esta é a melhor justificativa para investimento em ouro.

Ele é uma alternativa com baixa correlação com o mercado. Assim, pode suavizar a volatilidade dos retornos de seu portfólio.

No entanto, cuidado para não comprar na máxima, pois o passado mostra que pode demorar muitos anos para recuperar seu investimento.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Descubra se você está comprando o investimento errado neste momento https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/02/16/descubra-se-voce-esta-comprando-o-investimento-errado-neste-momento/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/02/16/descubra-se-voce-esta-comprando-o-investimento-errado-neste-momento/#respond Sun, 16 Feb 2020 05:00:42 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/Caminho-Lugano-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2079 O ciclo de vida médio de um produto é similar ao ciclo de nossa renda. Esta similaridade determina qual portfólio seria mais adequado para cada estágio. A maior parte dos investidores falha em reconhecer o momento em que estão e quais ativos deveriam compor a carteira nos respectivos instantes.

Um produto passa durante sua existência por quatro estágios: introdução, crescimento, maturidade e declínio. Sua renda segue ciclo análogo. No início, sua renda é constituída pelos proventos de seu trabalho e ao fim pelos resultados de seus investimentos e segue a forma apresentada na figura abaixo.

Estágios do ciclo de um produto são análogos ao ciclo de nossa renda.

No início da carreira, seu salário é baixo e, para muitos, guardar o mínimo de 10% é um desafio. Vamos assumir que você se esforçou e consegue poupar pelo menos este mínimo. Como ainda está aprendendo sobre investimentos, a maior parte aplica em produtos conservadores como poupança, títulos de renda fixa referenciados ao CDI ou à Selic e de curto prazo de vencimento.

Este é o instante em que seu horizonte de investimento é o maior, superior a trinta anos. Logo, grande parte do portfólio, deveria estar alocado em ativos de maior risco ou de renda variável, como fundos de ações. Como seu portfólio ainda está em formação, nos primeiros anos, seu portfólio cresce basicamente devido aos aportes adicionais.

Deixe em renda fixa apenas o que pode precisar para despesas correntes e eventuais. Aproveite que o valor aplicado é baixo para aprender a suportar a volatilidade dos mercados de renda variável.

Investidores que não adquirem a habilidade de tolerar a volatilidade de seu portfólio no início da carteira, costumam tomar decisões inadequadas quando mais velhos, por exemplo, vendendo quando os ativos caem de preço.

Evite investir em imóvel neste período, ou seja, até os 35 anos de idade. Como provavelmente não desenvolveu família e tem grande probabilidade de mudança de endereço por mudança de emprego, o imóvel adquirido neste momento não será adequado para você em poucos anos.

Se você está no estágio da maturidade ou declínio e tem um filho no período inicial de carreira, pelo mesmo motivo, também evite investir em um imóvel para ele.

O segundo estágio, costuma ocorrer entre os 35 e 50 anos. Neste intervalo, seus rendimentos mensais costumam ter forte aceleração. Seu horizonte de investimento também é muito elevado.

Entretanto, diferente do período anterior, agora você terá constituído família. Suas despesas são mais elevadas, pelas obrigações com filhos, financiamento imobiliário e outros. Assim, uma reserva de emergência maior é fundamental. Mesmo assim, como ainda está no período de aceleração da renda, seu portfólio ainda deve ter risco menor que o do estágio anterior, mas ainda elevado.

Após os 50 anos, sua renda atinge a maturidade. Neste período ela deve crescer de forma mais moderada. Isto significa que o risco de sua carteira também deveria ser reduzido. No entanto, ainda deve manter exposição a ativos de renda variável, pois seu horizonte de investimento é em média de trinta anos segundo o IBGE.

Se investiu de forma adequada e disciplinada, sua renda do trabalho se iguala à proveniente dos investimentos nesse intervalo de tempo.

No estágio final, o de declínio, após 65 anos de idade, seu portfólio deve estar preparado para dois efeitos: produção de renda e sucessão. Com esta idade, seus filhos já deixaram sua casa. Imóveis são mais custosos em processos de inventário e como não são divisíveis, podem se tornar motivo de briga familiar. Portanto, você deveria vender seu imóvel para se aproveitar da renda proveniente dos investimentos e permitir uma sucessão mais barata e amigável.

Lembre-se que produtos de previdência são excelentes veículos de sucessão. Se não os adotou ao longo da vida como forma de planejamento fiscal, ou seja, redução de impostos, esta é a hora.

Não é porque atingiu o estágio de declínio de renda que não pode ter produtos de renda variável. Conforme o IBGE, indivíduos com 80 anos ainda possuem uma expectativa de vida de mais dez anos. Logo, é tempo suficiente para ter uma pequena exposição a risco.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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