De grão em grão https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br Como cuidar do seu dinheiro, poupar e planejar o futuro Sun, 05 Dec 2021 09:31:02 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Chegou o momento em que o mercado historicamente sobe mais https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/10/31/chegou-o-momento-em-que-o-mercado-historicamente-sobe-mais/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/10/31/chegou-o-momento-em-que-o-mercado-historicamente-sobe-mais/#respond Sun, 31 Oct 2021 05:30:48 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/08/Funcionário-da-Bolsa-de-Nova-Iorque-Michael-Nagle-Xinhua-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2800 Em 2021, o investimento em ações no Brasiltem sido desafiador, para não dizer angustiante. Depois de atingir as máximas históricas em junho, o índice caiu quase 21%, atingindo o nível de novembro do ano passado. Esta forte desvalorização abalou a confiança do investidor no mercado de ações brasileiro, mas será que este é o melhor momento para vender?

Os últimos dois meses foram os piores do ano. O Ibovespa caiu sequencialmente mais de 6% em setembro e outubro.

O que passamos nestes últimos dois meses não foi algo comum. Desvalorizações de mais de 6,5% não são frequentes. Desde 2000, ou seja, nos últimos 251 meses, em apenas 31 meses ocorreram perdas superiores a 6,5%.

No entanto, a história mostra que o mercado pode premiar aqueles que suportaram a desvalorização.

A tabela abaixo apresenta o mapa de calor dos retornos mensais do Ibovespa nos últimos 26 anos, desde 1996.

Mapa de calor dos retornos mensais do Ibovespa nos últimos 26 anos, desde 1996. Fonte e elaboração: Bloomberg.

A média de retorno mensal dos últimos 25 anos anteriores a 2021 está na primeira linha da tabela. Nela, é possível perceber que os dois últimos meses do ano são destacadamente os melhores.

A média de retorno destes dois meses é de aproximadamente 3,5% ao mês. O terceiro melhor mês do ano, janeiro tem uma média de retorno de 2,5%.

Esta sazonalidade positiva não é uma exclusividade no Brasil. Ela ocorre no mundo inteiro, mas no Brasil o retorno médio de novembro e dezembro são superiores.

Veja nas tabelas abaixo o mapa de calor do índice americano e em seguida do índice global, S&P500 e MSCI ACWI, respectivamente.

Mapa de calor dos retornos mensais do S&P500 nos últimos 26 anos, desde 1996. Fonte e elaboração: Bloomberg.

 

Mapa de calor dos retornos mensais do MSCI ACWI nos últimos 26 anos, desde 1996. Fonte e elaboração: Bloomberg.

Ressalto que as tabelas não representam uma garantia de retorno, mas indicam uma maior probabilidade de resultado positivo para o restante do ano.

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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Economistas começam a revisar suas projeções para 2022, mas o mercado sai na frente https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/10/24/economistas-comecam-a-revisar-suas-projecoes-para-2022-mas-o-mercado-sai-na-frente/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/10/24/economistas-comecam-a-revisar-suas-projecoes-para-2022-mas-o-mercado-sai-na-frente/#respond Sun, 24 Oct 2021 05:30:40 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/Mark-Abramson-The-New-York-Times-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2787 As novas sinalizações sobre a política fiscal do governo levaram economistas a iniciar revisões de suas projeções de crescimento econômico, inflação, juros e câmbio para o próximo ano. No entanto, o mercado, nesta semana, já ajustou os preços dos ativos para um cenário bem pior.

Semanalmente, o Banco Central (BC) agrega e divulga a expectativa média dos economistas com relação às principais variáveis econômicas. O relatório divulgado na última segunda-feira já representa um passado distante. Veja abaixo a média dessas expectativas.

Expectativa média dos economistas para 2022 sobre as principais variáveis econômicas. Fonte: Relatório Focus do Banco Central do Brasil.

Em relatório divulgado neste sábado pela corretora XP Investimentos, o economista Caio Megale revisou suas projeções sobre as mesmas variáveis. Veja abaixo que os números se distanciam do que foi a pesquisa do BC.

Revisão das projeções de Caio Megale sobre as principais variáveis econômicas para 2022. Fonte: Relatório da XP Investimentos.

De fato, a revisão de Megale não foi a única. Na sexta-feira, o Credit Suisse também revisou seus números e agora espera que o crescimento econômico no próximo ano seja de apenas 0,6%, que a inflação suba para 5,5% e que a Selic atinja 10,5% ao ano em 2022.

Mais revisões devem ocorrer nas próximas semanas e, provavelmente, o relatório Focus do BC não vai capturar todas as revisões tão logo. No entanto, os investidores já ajustaram nos preços dos ativos o novo cenário pior.

 

Quanto o mercado já precifica para Selic em 2022?

Com a alta na curva de juros que ocorreu esta semana, o mercado já precifica que a Selic alcançaria antes do fim de 2022 o patamar de 12% ao ano.

O quadro abaixo apresenta o que o mercado de juros futuro já tem implícito para aumentos da taxa Selic pelo Comitê de Política Monetária (COPOM). A primeira coluna são as datas das próximas reuniões do COPOM, a segunda coluna são os aumentos previstos e a terceira coluna qual o valor resultante para a taxa DI.

Expectativas de altas da taxa Selic pelo COPOM implícitas na curva de juros futuro. Fonte e elaboração: Bloomberg.

Portanto, o mercado já precifica que o COPOM deve elevar os juros mais do que os economistas esperam.

 

Qual a expectativa do mercado para o IPCA em 2022?

Considerando, as taxas negociadas para os títulos de renda fixa prefixados e as taxas reais dos títulos referenciados ao IPCA, é possível descobrir a inflação implícita pelo mercado.

Esta inflação implícita já está acima de 6% ao ano para os próximos anos. Logo, acima da projeção revisada pelas corretoras mencionadas.

 

O que o mercado já colocou no preço das ações para 2022?

O cenário de taxas de juros mais altas e de crescimento econômico menor se reflete nas empresas em menor crescimento de lucros.

O gráfico abaixo apresenta a evolução nos últimos 10 anos do índice de ações Ibovespa (linha branca) e da expectativa para o ano seguinte para o lucro médio ponderado das empresas que o formam (linha verde). Perceba que ambos andam em sincronia no longo prazo.

Evolução nos últimos 10 anos do índice de ações Ibovespa (linha branca) e da expectativa para o ano seguinte para o lucro médio ponderado das empresas que o formam (linha verde). Fonte e elaboração: Bloomberg.

O mercado espera que em 2021 o lucro médio ponderado do Ibovespa (EPS – Earnings Per Share, ou lucro por ação) seja equivalente a R$ 14,39 mil. Para 2022, esperava-se que este EPS fosse de R$13,3 mil. Logo, os analistas já tinham em suas projeções uma queda 7,5% para 2022 nos lucros.

No entanto, a queda dos preços das ações desta semana sugere que a expectativa para o lucro médio das empresas apresente queda adicional de 15% para 2022. Ou seja, que a queda dos lucros em 2022 superaria os 20%.

Uma queda de lucros de mais de 20% considera um crescimento econômico para o país pior que o esperado pelas corretoras mencionadas.

 

E o câmbio para 2022?

Já o câmbio tem seguido de perto a trajetória do risco país. O gráfico abaixo apresenta a evolução do risco país medido pelo Credit Default Swap (CDS) (linha laranja) e do câmbio R$/ USD$ (linha branca).

Evolução do risco país medido pelo Credit Default Swap (CDS) (linha laranja) e do câmbio R$/ USD$ (linha branca). Fonte e elaboração: Bloomberg.

Considerando o atual patamar do risco país e como o câmbio era negociado em momentos anteriores que o risco país atingiu este mesmo nível, é possível esperar mais desvalorizações para nossa moeda no futuro.

 

Como agir no portfólio?

Avaliando as expectativas dos economistas e do mercado, é possível tirar algumas conclusões.

Cuidado ao decidir sobre sua carteira considerando apenas as mudanças que estão sendo realizadas pelos economistas e analistas. Muitas destas mudanças já estão refletidas nos preços de mercado.

Assim, para tomar suas decisões, reflita sobre o que pode ocorrer aos preços em relação ao que o mercado já considera, como mencionado acima.

Também é muito importante atentar para seu perfil de investidor e considerar horizontes de investimentos mais longos quando se deseja se expor a risco em momentos de mercado mais volátil como o atual.

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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Brasileiros trocam Ibovespa por S&P500; será que este é um bom momento? https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/10/17/brasileiros-trocam-ibovespa-por-sp500-sera-que-este-e-um-bom-momento/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/10/17/brasileiros-trocam-ibovespa-por-sp500-sera-que-este-e-um-bom-momento/#respond Sun, 17 Oct 2021 05:30:11 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/Michael-Nagle-Xinhua-operador-de-bolsa-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2781 O desânimo em relação ao cenário econômico nacional tem incentivado brasileiros a investir nos mercados internacionais. O mercado preferido tem sido o americano dado o desempenho excepcional nos últimos três anos. Comento abaixo o que você deve ponderar antes de tomar esta decisão.

 

Investir agora no mercado americano é um bom momento?

A resposta a esta questão deve considerar seu horizonte de investimento e o quanto você deseja investir em proporção do seu portfólio.

Vamos iniciar por este último, ou seja, a intensidade do movimento.

Imagine que você faz de uma única vez a compra de supermercado de todo um ano. Concorda que você provavelmente vai perder oportunidades de preço com esta atitude? O mesmo ocorre no mercado de ações. O ideal é comprar aos poucos se este for o desejo.

Portanto, se deseja diversificar em ações americanas, evite realizar o movimento em apenas um único instante.

Esta atitude é ainda mais recomendável quando se considera o nível de preço deste mercado, aqui representado pelo seu principal índice o S&P500.

Assim, comento sobra a questão do horizonte de investimento. Se seu horizonte de investimento é de curto prazo, muito cuidado.

Lembro que no passado, os EUA eram praticamente os únicos líderes do crescimento econômico global. Ou seja, se a economia americana crescia, o mundo seguia crescendo. Caso a economia americana apresentasse frustração no crescimento, o mundo refletia este cenário.

Hoje esta liderança é dividida com a China. Por uma felicidade daqueles que projetam crescimento, a China vive um ciclo econômico adiantado dos EUA.

Evolução da taxa de crescimento do PIB da China (linha branca) e dos EUA (linha laranja). Fonte e elaboração: Bloomberg.

A figura acima apresenta, trimestralmente desde 2017, a taxa de crescimento do PIB da China (linha branca) e dos EUA (linha laranja). Perceba que a taxa de crescimento da China frustrou expectativas e caiu no segundo trimestre deste ano.

Apostaria que algo similar pode ocorrer com os EUA no quarto trimestre de 2021. Isso poderia levar a uma queda do mercado de ações americano, assim como ocorreu com o índice de ações chinês.

Adicionalmente, as ações americanas negociam com um múltiplo médio preço por lucro, o chamado P/L, bastante elevado.

Não digo que as ações estejam caras, mas para justificar novas altas no curto prazo, não pode haver frustração no crescimento.

Outra questão a se levantar é o movimento de preços de commodities. É reconhecido que quando se passa por momentos de alta destes preços, os países produtores destes itens básicos costumam ser mais beneficiados.

No último ciclo de alta dos preços, entre 2004 e 2008, os mercados emergentes andaram em linha com a alta das commodities.

Evolução do índice MSCI Mercados Emergentes (linha laranja) e do preço do petróleo (linha branca) entre 2004 e 2008. Fonte e elaboração: Bloomberg.

O gráfico acima apresenta o índice MSCI Mercados Emergentes, que representa a média dos mercados acionários de países emergentes, e o preço do petróleo. Perceba que os dois apresentam desempenho similar.

No entanto, podemos ver no gráfico abaixo que o S&P500 (linha branca) apresentou, no mesmo período, um desempenho mais de cinco vezes menor que os mercados emergentes (linha laranja).

Evolução do índice MSCI Mercados Emergentes (linha laranja) e S&P500 (linha branca) entre 2004 e 2008. Fonte e elaboração: Bloomberg.

Assim, neste momento, se deseja diversificar sua exposição às ações brasileiras, avalie se expor a outros mercados emergentes.

Por fim, nos últimos 100 anos, foi muito rara a ocorrência de mais de três anos de altas consecutivas do S&P500. O índice sobe 19% este ano, depois de se valorizar 28,9% e 16,3% em 2019 e 2020, respectivamente

Portanto, uma alta forte para o índice americano em 2022, ou seja, superior a 8%, não parece o mais provável.

Entretanto, se seu horizonte é de dez anos, ou seja, de longo prazo, o mercado americano continua sendo uma excelente fonte de diversificação dos investimentos.

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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Apenas um título a venda no Tesouro Direto tem rentabilidade positiva no ano https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/08/22/apenas-um-titulo-a-venda-no-tesouro-direto-tem-rentabilidade-positiva-no-ano/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/08/22/apenas-um-titulo-a-venda-no-tesouro-direto-tem-rentabilidade-positiva-no-ano/#respond Sun, 22 Aug 2021 05:30:15 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/Tesouro-Diretoret2-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2718 Quando comecei a investir, por volta de 1994, existiam poucas alternativas para aplicação. Minhas primeiras aplicações foram em fundos do Banco do Brasil, onde meu pai abriu conta quando eu ainda era universitário.

Naquela época não havia a plataforma do Tesouro Direto. Também aplicar diretamente em ações era difícil, pois não existiam as atuais plataformas de home broker.

No entanto, uma dúvida que eu tinha naquela época, muitos investidores ainda têm até hoje: como é que um título ou fundo de renda fixa apresenta rentabilidade negativa?

Eu entendia perfeitamente que o pequeno percentual que aplicava em fundos de ações poderia cair. Ainda mais naquele período, pois a bolsa oscilava ainda mais que hoje. Mas a parcela de renda fixa era a minha mesada e responsável pelas despesas do mês.

Gostaria de saber quem foi o gerente que atendeu minha ligação naquele momento de perda. Eu estava irritado e, infelizmente, a ligação caiu com alguém que não sabia explicar. Eu repetia constantemente: como é que um fundo de renda fixa apresenta rentabilidade negativa? Afinal, é renda fixa, ou seja, fixa.

Depois fui pesquisar, então entendi que não é bem assim. Neste ano de 2021, muitos investidores também estão aprendendo esta lição.

Dos 5 tipos de títulos disponíveis a venda neste mês na plataforma do Tesouro Direto, apenas um acumula rentabilidade positiva no ano.

Entretanto, o único que está positivo, o Tesouro Selic, ainda rende menos que o CDI e que a Selic que é seu indexador.

O pior retorno ficou com o título Tesouro IPCA+ 2045 que se desvalorizou 18,96% em 2021. Isto significa que se investiu R$10 mil neste título ao final de 2020, teria nesta última sexta-feira apenas R$ 8.104,00.

Muitos investidores se questionam por que um título que deveria render a inflação mais uma taxa de juros, na verdade perde valor.

Vou explicar esta dúvida a seguir usando como exemplo os títulos de renda fixa, mas ressalto que os fundos de renda fixa que não seguem o CDI possuem o mesmo efeito.

 

Por que os títulos e fundos de renda fixa se desvalorizam?

A confusão se inicia em entender o que faz o preço do título variar.

Não é a taxa de juros de curto prazo, ou seja, a Selic, que define o preço de títulos com vencimentos longos, mas a taxa de juros futura. E esta última é definida em negociações no mercado financeiro.

Para entender esta relação, imagine uma gangorra, que é um brinquedo infantil comum nos parques. Ao invés de haver uma criança, em cada lado da gangorra, há a taxa de juros futura de um lado e do outro o preço do título.

Efeito da alta da taxa de juros sobre o preço do título de renda fixa. Quando a taxa sobe, o preço cai.

 

Quando a taxa de juros futura sobe, o preço do título cai. Da mesma forma, quando a taxa de juros futura cai, o preço do título sobe.

 

Efeito da alta da taxa de juros sobre o preço do título de renda fixa. Quando a taxa cai, o preço sobe.

 

Por exemplo, a taxa de juros do título Tesouro IPCA+ 2035 subiu neste ano para 4,80%+IPCA e estava 3,38%+IPCA ao final de 2020. Esta alta fez com que o preço do título caísse para R$1.903 de R$2.128 há oito meses, ou seja, uma queda de mais de 10% no período.

Lembro que esta desvalorização ocorreu em um momento em que a inflação, medida pelo IPCA, teve um dos maiores saltos dos últimos anos. Não fosse a elevação do IPCA, o prejuízo teria sido ainda pior.

 

Qual a razão para ocorrerem estes prejuízos?

Para entender a razão dos prejuízos, é necessário relacionar o país a um devedor comum.

Considere uma pessoa comum que possui uma dívida. Se você, enquanto credor, acredita que esta pessoa vai se endividar ainda mais para poder pagar seus gastos correntes, provavelmente, cobrará uma taxa de juros maior para emprestar dinheiro a ela, certo? Esta elevação dos juros seria uma forma de você ser remunerado pelo risco de eventual inadimplência.

O mercado interpretou algumas atitudes e discursos do governo como um menor compromisso em controlar os gastos públicos, o que sugere a possibilidade de elevação da dívida pública. Assim, da mesma forma que você no exemplo anterior, os grandes investidores elevaram a taxa de juros média exigida para emprestar ao governo.

 

Quais títulos sofrem mais?

A elevação de juros não é igual para todos os prazos e não afeta os títulos de forma igual.

As taxas de juros para prazos mais curtos são menos afetadas que as dos mais longos. Isso ocorre, pois se imagina que um governo que não controle os gastos terá uma dívida cada vez maior no futuro. Logo, a capacidade de pagamento tenderia a piorar com o tempo.

O impacto da elevação da taxa também não é o mesmo para todos os vencimentos, mesmo que o movimento de elevação da taxa seja igual.

Quanto mais longo o título, maior é a sensibilidade dele a variações nas taxas de juros. Este efeito pode ser exemplificado, novamente, com a analogia da gangorra.

Nesta analogia, o prazo é a distância da barra do brinquedo.

 

Efeito da alta da taxa de juros sobre o preço do título de renda fixa. Quanto mais longo o vencimento do título, maior o impacto de uma variação da taxa de juros sobre, o preço do título.

 

Quanto mais longo o prazo do título, maior é o impacto pela variação na taxa de juros. Tanto para o lado negativo, quanto para o lado positivo.

Por isso, o título Tesouro IPCA+ 2045 perde quase o dobro do título com vencimento em 2035.

 

Lembro que se você não vender o título nesse momento menos favorável e esperar até o vencimento, então, receberá a rentabilidade contratada.

Neste momento de maior risco, recomenda-se que ao investir em títulos e fundos de renda fixa, dar preferência a títulos e fundos cujas carteiras de títulos tenham vencimento até cinco anos. Assim, você pode sofrer menos em caso de piora do cenário e ainda vai aproveitar as melhores taxas.

 

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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Saiba como os maiores gestores estão investindo, que riscos enxergam e quais seus resultados https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/08/08/saiba-como-os-maiores-gestores-estao-investindo-que-riscos-enxergam-e-quais-seus-resultados/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/08/08/saiba-como-os-maiores-gestores-estao-investindo-que-riscos-enxergam-e-quais-seus-resultados/#respond Sun, 08 Aug 2021 05:30:37 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/Verde-Asset-3-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2699 Se você acha que o ano está difícil para as aplicações financeiras, você não está sozinho. Os cinco maiores gestores independentes de recursos compartilham da mesma angústia.

Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Ibiuna, Kapitalo, Legacy, SPX e Verde estão entre cinco maiores gestoras de recursos do país.

Estes gestores acumulam de forma conjunta um patrimônio de mais de R$ 160 bilhões. Suas opiniões são acompanhadas da mesma forma como investidores seguem o que Buffett fala.

Sempre é importante escutar profissionais experientes e esta visão é fornecida gratuitamente para você em suas Cartas Mensais.

As cartas referentes ao mês de julho foram divulgadas nesta semana. Nelas, eles comentam sobre o desempenho e expectativas. Nos comentários, algo foi unânime, a frustração pelos resultados. A rentabilidade neste ano (quadro abaixo) não está brilhante como outrora.

Rentabilidade dos principais gestores independentes de fundos multimercados brasileiros e da média geral brasileira, representada pelo IHFA (índice da Anbima de fundos multimercados), no ano de 2021 até julho.

Luis Stuhlberger, gestor do fundo Verde, explicita esta frustração quando menciona:

“O mercado brasileiro vem sofrendo nos últimos dois meses, indo na direção contrária da nossa expectativa, que associava a aceleração da vacinação com reabertura econômica.”

Como sempre falei a meus alunos: a única coisa certa em investimentos é que em algum momento estaremos errados. Descobrir quando e onde é parte fundamental para o sucesso.

Mas descobrir onde está errado, não é tão simples quanto olhar para o resultado passado e observar onde você perdeu dinheiro. A SPX concorda e em sua carta explica que no processo de investimento o desafio é distinguir o que é sinal do que é ruído:

“Como investidores, devemos sempre nos questionar se a variação dos dados e dos preços de ativos decorre da aleatoriedade de sua distribuição probabilística ou de uma mudança em nosso cenário econômico base.”

Muitas vezes o mercado não corresponde imediatamente seguindo sua expectativa. Nestas horas, a experiência vale para decidir se é melhor manter a convicção ou se deve ser promovido algum ajuste no cenário e portfólio.

Assim, comento as principais visões destes gestores em relação aos três principais mercados: juros, câmbio e bolsa.

Com relação à inflação brasileira, é quase consenso a expectativa de elevação. A inflação implícita nos títulos de renda fixa está em 5% ao ano. Os gestores acreditam que há risco de esta inflação ser superada.

No entanto, também é consenso a visão sobre existência de prêmio nos juros reais em títulos de vencimentos mais curtos.

A visão para o câmbio não é consensual. No entanto, apenas a SPX aposta em alta do dólar contra o Real. Os outros quatro têm visão contrária.

Para o mercado de bolsa, há uma harmonia dentre eles de que tanto o mercado nacional, quanto o internacional têm potencial de valorização. O que varia entre os gestores é a intensidade da aposta.

Outra unanimidade é a percepção de maior risco nos ativos brasileiros. Os recentes ruídos políticos e o debate de elevação dos gastos do governo contribuem para esta visão.

“Por outro lado, a conjuntura econômica está mais favorável com crescimento acima do esperado, em linha com a boa performance do setor externo”, aponta a Kapitalo.

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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Antes de começar a operar com ações saiba responder a estas três questões https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/08/01/antes-de-comecar-a-operar-com-acoes-saiba-responder-a-estas-tres-questoes/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/08/01/antes-de-comecar-a-operar-com-acoes-saiba-responder-a-estas-tres-questoes/#respond Sun, 01 Aug 2021 05:30:10 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/Xinhua-Wang-Ying-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2694 Não importa se você já negocia ou apenas pretende negociar ações, existem três questões que em algum momento você vai se deparar. Portanto, o ideal é que já planeje uma solução para cada uma delas antes de as enfrentar.

Apesar do fraco desempenho do Ibovespa, que sobe apenas 2,3% no ano até a última sexta-feira, o número de investidores em ações não para de crescer.

Segundo dados da B3, o número de investidores pessoas físicas cresceu mais de 50% este ano em relação ao ano passado. O total de aplicadores se aproxima de 4 milhões.

Eles são atraídos por uma expectativa de que vão acertar exatamente qual ação vai ter um próximo salto. Alguns até acertam uma destas ações quando compram empresas em suas ofertas iniciais, o chamado IPO. Mas, logo ficam frustrados por não saberem responder às três dúvidas que mencionei.

Esta pode ser a principal razão pela qual aplicadores individuais percam dinheiro com ações ou percam do Ibovespa como mostra o estudo de Bruno Giovannetti da FGV.

Comento abaixo as três questões e por que não saber como responder pode te prejudicar.
 
O que comprar?

Todos somos atraídos pelo desejo de acertar a próxima ação que vai disparar. Mas construir uma carteira de ações vai além de procurar uma ou outra ação.

Por mais que você tenha feito um excelente investimento no passado. Você em algum momento vai se desfazer dele e trocar.

Ao contrário do que muitos imaginam, não se compra um ativo para carregar por toda a vida. Há momentos em que ou devido ao cenário econômico ou por oscilação de preço, o ativo pode não ser mais vantajoso ficar e você precisa trocar por outro.

A construção de uma carteira exige um processo contínuo de novas ideias de investimentos. Se você não tem um processo de geração de ideias, pode ficar preso a um investimento que eventualmente perde valor ou que tem potencial de valorização menor que o Ibovespa.

Gestores profissionais possuem equipes de analistas internos, além dos externos (das corretoras), que ficam pesquisando, filtrando e trazendo ideias de novos investimentos.

Assim, antes de iniciar, se questione qual processo você vai se utilizar para geração de novas ideias.

Se você não possui um processo, talvez seja melhor delegar seus recursos para quem possui uma estratégia.
 
Quanto comprar?

Quando o assunto é o quanto comprar de cada ação, existem três tipos básicos de investidores: os colecionadores, os Kamikazes e os estrategistas.

Os colecionadores são aqueles que vão comprando um pouquinho de cada ação. Estes acabam formando uma carteira com cinquenta ou mais ativos. Dificilmente ele sabe o objetivo de retorno ou razão de cada um.

Carteiras como estas na maioria das vezes desempenham pior que o Ibovespa além de trazerem dificuldade adicional de acompanhamento e reinvestimento de dividendos. Pela quantidade de ativos, o investidor dificilmente sabe quanto está rendendo.

O Investidor Kamikaze é aquele que concentra mais de 50% de sua carteira em um ou dois ativos. Quando tudo dá certo, este pode ter resultados mais expressivos. No entanto, dificilmente este resultado se perpetua.

Usualmente, estes investidores tiveram sorte no primeiro investimento e, em seguida, superestimam sua capacidade de escolha e subestimam o risco que enfrentam com a concentração.

Os estrategistas são aqueles que desenvolvem um modelo que orienta a diversificação entre setores e ações de forma a reduzir o risco da carteira e tirar o melhor de cada ativo.

Seja um estrategista. Antes de começar elabore um plano com um conjunto de regras e filtros de diversificação.
 
Quando vender?

Dificilmente você vai comprar uma ação e vai carregá-la para sempre.

Entenda que quando você ouve histórias de pessoas que ganharam muito quando mantiveram uma ação por uma década, você só ouviu a história exatamente daquela que deu certo. Estas são uma pequena minoria.

O bilionário Warren Buffett, conhecido por manter ativos por longo tempo, frequentemente se desfaz de suas ações. No ano passado, por exemplo, vendeu todas as ações do setor de aviação de sua carteira. Também se desfez de posições do setor financeiro.

Gestores profissionais estão a todo instante revisitando os casos de seus investimentos e reavaliando. Se as condições mudam, uma venda deve ocorrer.

Antes de iniciar qualquer investimento, você deve ter regras de quando deverá vender.

Ao contrário do conhecimento geral, não se vende uma ação apenas quando ela atinge seu potencial. Sua carteira deve ser sempre comparada com alternativas de investimento.

Quando se tem um processo de geração de ideias, a todo instante você está comparando seu investimento com outros. Se surge outro ativo com maior potencial, você deveria trocar ou pode ficar para trás do próprio Ibovespa que também é rebalanceado a cada quatro meses.
 

A construção e manutenção de uma carteira de investimento deve ser feita com uma estratégia.

Se você não tem uma estratégia definida que responda às três questões acima, reflita em delegar a administração dos recursos a um profissional. Assim, reduz o risco de ter seu portfólio rendendo menos que o Ibovespa.

 

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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A bolsa americana superou seu máximo histórico; descubra se ainda vale investir https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/07/11/a-bolsa-americana-superou-seu-maximo-historico-descubra-se-ainda-vale-investir/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/07/11/a-bolsa-americana-superou-seu-maximo-historico-descubra-se-ainda-vale-investir/#respond Sun, 11 Jul 2021 05:30:04 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/05/Michael-Nagle-Xinhua.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2674 Na semana passada expliquei por que investir internacionalmente com exposição cambial é a melhor alternativa. No entanto, vários leitores questionaram se a bolsa americana já não estaria em seus máximos. Portanto, respondo abaixo a dúvida: será que as ações nos EUA já teriam atingido seus máximos? Será que estamos presenciando uma bolha?

Nesta semana, a volatilidade apresentada no mercado de juros de longo prazo, levou vários investidores a recearem que o mercado poderia ter alcançado seu máximo.

O receio foi passageiro e os índices de bolsa já atingiram novas máximas na última sexta-feira. Conforme pode ser visto no gráfico abaixo, o índice S&P 500 se valorizou 45,7% nos últimos dois anos. Portanto, mais que o Ibovespa que se valoriza apenas 19,3% no mesmo período.

Mas será que com toda esta alta, a bolsa americana ainda teria potencial de valorização?

Evolução dos índices S&P500 (linha branca) e Ibovespa (linha amarela) nos últimos dois anos. Fonte e elaboração: Bloomberg.

O valor de qualquer ativo pode ser explicado pela perspectiva de dois fatores: lucros e taxa de juros. No caso dos EUA, estes dois elementos ainda apresentam perspectiva favorável.

Primeiro vou abordar a perspectiva sobre os lucros para as empresas no mercado americano.

No gráfico abaixo é possível ver a evolução dos lucros 12 meses a frente e do índice americano. O índice S&P500 tem seguido a evolução do lucro esperado.

Evolução do índice S&P500 (linha branca) e dos lucros médios (linha amarela) ponderados das empresas que formam o este índice nos últimos 10 anos. Fonte e elaboração: Bloomberg.

O S&P500 já se valorizou 16,3% neste ano de 2021 até a última sexta. No entanto, os lucros projetados de 12 meses a frente subiram mais de 20% desde o início do ano. Portanto, a alta do mercado apenas acompanhou a elevação dos lucros.

Mas será que os lucros das empresas podem crescer mais ainda?

A economia americana tem muito vento a favor para a impulsionar. Além dos gastos do governo programados nos programas de infraestrutura, o consumidor americano nunca esteve com tanta disponibilidade de recursos para gastar.

O gráfico abaixo apresenta a evolução do indicador de poupança dos americanos e do PIB. Este indicador de poupança é medido pela diferença entre a renda dos americanos e seu consumo.

O painel inferior no gráfico abaixo mostra a relação entre a poupança e o PIB. Perceba que este índice subiu a um patamar nunca antes visto no último século.

O painel superior apresenta a evolução do indicador de poupança dos americanos(Personal Savings, linha branca) e do PIB (linha amarela) nos últimos 100 anos. O painel inferior mostra a razão entre os dois índices. Fonte e elaboração: Bloomberg.

O distanciamento social, que reduz diversos gastos de lazer, aliado aos programas de renda promovidos pelo governo fizeram com que o cidadão americano acumulasse recursos como nunca antes.

Com a reabertura econômica boa parte desta poupança deve se transformar em consumo, portanto, impulsionando o crescimento econômico e lucros das empresas.

Atualmente, se espera que os lucros cresçam mais de 10% ao ano até 2024.

Crescimento de receita (barra laranja) e lucros (barra azul) para o S&P500 desde 2017 e esperados pelos analistas para os próximos 4 anos. Fonte e elaboração: Bloomberg.

É muito difícil para analistas estimarem crescimento de lucros tão forte. Daí o fato de os lucros estarem sendo continuamente revisados desde o início do ano e poderem subir mais do que esta estimativa acima.

Com relação às taxas de juros, ao contrário do cenário brasileiro, o Banco Central americano sinaliza que pelo menos até 2023 não deve promover elevação nas taxas de curto prazo. Adicionalmente, as taxas de longo prazo, se mantém em patamar inferior à inflação e menores do que estavam antes do início da pandemia.

As taxas mais baixas favorecem, além da disponibilidade de crédito, seu custo mais baixo para financiamento de investimentos futuros. Também eleva os lucros pelas menores despesas financeiras.

Adicionalmente, as taxas de juros mais baixas incentivam investidores a tomarem risco nos mercados financeiros.

Portanto, na ausência de algum evento extraordinário que interrompa este cenário, o mercado de ações americanos deve continuar atingindo novas máximas nos próximos meses.

No entanto, isto não quer dizer que não ocorram quedas no caminho, como as desvalorizações de 4% que ocorreram no meio dos meses de janeiro, fevereiro e maio deste ano de 2021.

 

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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Se você acha que o mercado de ações americano está caro, precisa ver isto https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/03/28/se-voce-acha-que-o-mercado-de-acoes-americano-esta-caro-precisa-ver-isto/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/03/28/se-voce-acha-que-o-mercado-de-acoes-americano-esta-caro-precisa-ver-isto/#respond Sun, 28 Mar 2021 05:30:33 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/Michael-Nagle-Xinhua-operador-de-bolsa-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2520 Notícias sobre bolha nas ações americanas surgiram a todos os momentos ao longo de todos os anos. No entanto, recentemente elas têm se tornado mais frequentes. Por acontecer todos os anos, os investidores não sabem se devem levar a sério os recentes alarmes. Explico em que se baseia a ideia de bolha no mercado e se há realmente uma bolha.

O primeiro sinal para mercado sobrevalorizado vem justamente da rentabilidade dos últimos doze meses do principal índice da bolsa americana, o S&P500. Este índice apresentou retorno de 54% nos últimos doze meses. A primeira questão que se coloca é: valorizações como esta costumam ocorrer com frequência?

Histograma de retornos de doze meses do S&P500 nos últimos 93 anos. Retorno de 54% como o que ocorreu nos últimos doze meses não ocorrem com frequência. Fonte: Economatica

 

O gráfico acima apresenta um histograma de frequência. Nele, é possível ver quantas vezes o S&P500 apresentou valorização similar nos últimos 93 anos.

O S&P500 só teve 17 janelas de doze meses com valorização igual ou superior a 54% desde 1927. Isso representa apenas 1,5% da amostra.

Portanto, como uma alta desta magnitude não é frequente, logo surge alerta de possível bolha. No entanto, a valorização pode ser explicada com lucros. Mas é exatamente esta uma outra fonte de alarme.

Evolução do múltiplo Schiller PE. Fonte: multpl.com/shiller-pe

 

O gráfico acima é calculado pelo economista e prêmio Nobel Robert Schiller, divulgado em seu próprio site e tem seu nome Schiller PE (Price/ Earnings, ou Preço/ Lucro). Ele apresenta a evolução do múltiplo Preço/ Lucro ao longo dos últimos 150 anos.

Perceba que o múltiplo de 35,75 é quase tão alto quanto ao da bolha da Nasdaq de 2001. Isto logo atrai a atenção dos alarmistas.

No entanto, três justificativas nos levam a acreditar que o atual alarme é falso e a bolsa americana ainda se mostra uma boa alternativa de diversificação de investimento

 

Crescimento econômico e dos lucros

Segundo estimativa produzida pela Bloomberg com economistas de mercado, a economia americana deve crescer 5,7%, neste ano, e mais 4% em 2022. Pela figura abaixo, é possível ver que crescimentos nesta magnitude não são frequentes.

Dados de crescimento econômico do EUA para cada ano. Fonte: Bloomberg

Com o forte crescimento econômico, também se espera um elevado incremento dos lucros para os próximos três anos. Segundo a estimativa média dos analistas, acompanhada pela Bloomberg, os lucros devem crescer, na média, 25%, 15% e 10%, respetivamente, entre 2021 e 2023.

É preciso lembrar que o múltiplo de Schiller é calculado com a média de lucros dos últimos 10 anos. Neste período, os lucros tiveram alta significativa. Ressalta-se que os preços atuais refletem os lucros futuros e a média do passado está desatualizada.

 

Taxa de juros

Quando se leva em consideração o patamar dos juros, a comparação com outros períodos não mostra sinais de bolha.

Para realizar esta comparação, se utiliza o indicador chamado Earnings Yield (EA). Esse indicador é calculado simplesmente invertendo o múltiplo P/L, ou seja, o Lucro/ Preço.

Ele representaria o retorno que o lucro produz em relação ao  Preço do ativo. Da mesma forma, se pensarmos num título de renda fixa, os Juros dividido pelo Preço resulta na taxa de juros.

Quando subtraímos o EA pela taxa de juros dos títulos públicos americanos de dez anos, podemos ter uma noção de quanto de prêmio se tem por investir em bolsa em relação a em um título público de longo prazo.

O gráfico abaixo mostra a evolução deste “prêmio” nos últimos 150 anos.

Evolução da diferença entre o Earnings Yield e as taxas de juros de 10 anos americanas. Fonte: multpl.com

Apesar de o prêmio não ser atrativo como no passado longínquo, ele não está negativo como estava nas crises de 2001 e 2008. Portanto, há prêmio a se capturar por se investir na bolsa.

 

Juros real

Alguém pode argumentar que lucro não, necessariamente, vai todo para o investidor, então vamos comparar o ganho de dividendo com as taxas de juros reais.

O ganho de dividendo, conhecido pelo seu nome em inglês, Dividend Yield é calculado pela divisão do dividendo recebido pelo preço pago por se comprar o ativo.

Embora o índice não pague dividendo, se considera a média ponderada dos dividendos pagos pelas ações que formam o índice.

O gráfico abaixo apresenta a evolução da diferença entre o ganho de dividendo e a taxa real de juros de dez anos americana.

Evolução da diferença entre o dividend yield e as taxa de juros reais de 10 anos americanas. Fonte: multpl.com

 

Por este gráfico, percebe-se que o prêmio recebido por se investir em ações em relação aos títulos de renda fixa é positivo e superior ao da crise de 2008.

Novamente, afastando a ideia de bolha nos mercados.

Adicionalmente, a expectativa média de valorização para o índice americano é de 9% em 2021, segundo os analistas acompanhados pela Bloomberg. No entanto, esta valorização pode ser revisada para cima quando consideramos que os números de crescimento têm sido mais fortes que o esperado, recentemente.

Mesmo com potencial de retorno, é muito importante alertar que toda aplicação em bolsa tem risco e o investidor deve considerar seu perfil para alocar com segurança.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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A maioria dos investidores investe errado na bolsa; descubra se você erra também https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/02/21/a-maioria-dos-investidores-investe-errado-na-bolsa-descubra-se-voce-erra-tambem/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/02/21/a-maioria-dos-investidores-investe-errado-na-bolsa-descubra-se-voce-erra-tambem/#respond Sun, 21 Feb 2021 05:30:34 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/Mark-Abramson-The-New-York-Times-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2489 A grande maioria dos investidores investe errado no mercado de ações e aqueles que não investem, muitas vezes não o fazem pela experiência equivocada que conhecidos tiveram. Explico cinco erros dos aplicadores e como tirar o melhor do mercado de ações correndo menos risco.

Quem nunca ouviu história de um amigo ou parente que perdeu alguma fortuna do mercado acionário? Talvez você mesmo tenha uma história para contar. Relatos como estes criam uma ideia errada sobre o risco de investir em bolsa e afastam investidores.

De fato, a razão da experiência negativa no mercado de ações para várias pessoas está na forma errada como o investimento foi realizado. E o primeiro erro é consequência do medo de ficar de fora.

Esse medo é responsável por vários equívocos em investimentos. Ele acaba ocorrendo quando ouvimos vários relatos de pessoas ganhando em um determinado ativo.

Você já pode imaginar sobre o que estou falando. Muitos esperam para entrar no mercado apenas depois de ele ter subido bastante. Neste instante, todas as mídias comunicam os recordes do mercado e vários de seus colegas contam o que ganharam. Diversos investidores com medo de ficar de fora, acabam tomando decisões precipitadas.

 

Momento de entrada

Justamente, no momento em que o investidor deveria ser mais cuidadoso é que ele acaba decidindo pelo investimento. Este momento é quando altas fortes ocorrem no curto prazo.

Este mesmo aplicador acaba fugindo, desesperado nas primeiras quedas, depois de ter entrado na máxima.

O período de cinco anos, encerrado em 2020, foi o melhor desde 2007. Neste intervalo, o mercado subiu uma média de 22,4% ao ano. No entanto, se perdeu-se os seis meses que o mercado subiu mais durante este período, seu retorno teria sido de apenas 6,20% ao ano.

A lição que se pode extrair é que algum investimento em ações deve ser permanente na sua carteira. Ou seja, no seu plano você deve ter uma faixa de exposição máxima e mínima.

Se você escolher o momento para entrar e decidir por aplicar após ver altas do mercado, é possível que tenha perdido a oportunidade.

Assim, entrando depois de altas recentes, ganhos de curto prazo ficam menos prováveis e é sobre este risco que vamos falar a seguir.

 

Prazo

Fiz uma pesquisa no meu perfil no Instagram (@michaelviriato) e o resultado é um reflexo de três falhas que investidores cometem. A primeira destas está relacionada ao prazo de investimento.

Na pesquisa, 80% dos investidores expressaram o medo de perda de principal quando estão investindo em bolsa.

O investimento em bolsa deve ter o horizonte de longo prazo. Acho que todos já ouviram falar sobre isso. No entanto, vários esquecem e, outros confundem, o que significa longo prazo.

Primeiro vamos definir os períodos de investimento. Quando se fala em curto prazo, deve-se considerar um prazo de até dois anos. Entre dois a cinco anos, significa médio prazo. Portanto, a expressão longo prazo considera período superior a cinco anos.

Tente responder a estes três testes.

1) Se o passado se repetir, qual a probabilidade de um investidor ter perda de principal, investindo no Ibovespa, com horizonte de 2 anos?

a) mais de 56%

b) 36%

c) 16%

d) 6%

e) menos de 1%

 

2) Se o passado se repetir, qual a probabilidade de um investidor ter perda de principal, investindo no Ibovespa, com horizonte de 5 anos?

a) mais de 56%

b) 36%

c) 16%

d) 6%

e) menos de 1%

 

3) Se o passado se repetir, qual a probabilidade de um investidor ter perda de principal, investindo no Ibovespa, com horizonte de 10 anos?

a) mais de 56%

b) 36%

c) 16%

d) 6%

e) menos de 1%

 

Você já pode imaginar que se investe com horizonte de longo prazo, a possibilidade de ter perda de principal é significativamente menor que se pensar no curto prazo.

Nos últimos vinte anos, considerando janelas de prazos em todos os dias, é possível verificar que a probabilidade de ter perda financeira, se ficar dez anos, é quase zero. Com prazo de cinco anos, a probabilidade de ter um retorno negativo sobe para 16%. Caso invista em prazo de dois anos, a probabilidade de perda sobe para 36%.

Portanto, se está investindo de forma diversificada, tenha paciência, que a maior probabilidade é que você não terá perdas no longo prazo. No entanto, isto só vale se você realmente está diversificado. É justamente sobre esta falha que discuto abaixo.

 

Diversificação nacional

Muitos investidores cometem a falha de seguir rumores em mídias sociais e comentários de uma ação que vai disparar ou vai reverter a queda, pois caiu demais.

Seguindo comentários, investidores acabam aplicando parte relevante do capital em uma ação que já superou muito seu valor justo. É preciso entender que existe uma grande diferença entre uma empresa boa e uma ação boa para se investir.

Outros, acompanhando gráficos, tentam comprar uma ação quando ela se desvaloriza em determinado percentual. Compreenda que o fato de uma ação ter caído 50% não significa que ela não possa cair mais 50% e mais 50% depois disso. Não é porque um ativo caiu 50% que você não possa perder 50% se entrar após a queda.

Por exemplo, imagine uma ação que tenha cotação de R$100. Se ela cair 50%, seu preço cai para R$50. Neste momento, a ação poderia cair mais 50% e seu preço se desvalorizaria para R$25.

A forma mais adequada em termo de retorno e risco é escolher bons gestores e investir nos fundos destes. Eles contam com equipes especializadas e suas chances são menores de perda. Mas, ainda há uma outra diversificação que reduz ainda mais suas chances de perda.

 

Diversificação internacional

A diversificação internacional traz um benefício significativo para que seu investimento em ações não resulte em perda financeira.

Este benefício ocorre pela descorrelação entre os mercados. Por exemplo, enquanto o mercado de ações brasileiro sofre influências políticas internas e aspectos de nossa economia, outro mercado, como o americano, em nada vai ser impactado por estes ruídos do Brasil.

No exemplo do investimento com prazo de cinco anos, vimos que se você investisse no Ibovespa, teria probabilidade de 16% de ter perda negativa neste período. No entanto, se o investimento tivesse sido realizado metade no Ibovespa e metade na bolsa americana – o S&P500, a probabilidade cairia para menos de 1%.

Esta probabilidade cairia ainda mais se seguir a próxima recomendação.

 

Concentração do investimento no tempo

A probabilidade de perda se reduz, significativamente, se dividir a aplicação em bolsa, realizando-as em intervalos de tempo espaçados ou periodicamente.

Fazendo investimentos de forma frequente, você vai aproveitar os momentos em que o mercado se mostra com melhores chances de sucesso.

Se você seguir estas recomendações, dificilmente, vai pensar que o mercado de ações pode te proporcionar risco de perda de principal.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Esta estratégia vai revolucionar o mercado de ações brasileiro https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/02/14/esta-estrategia-vai-revolucionar-o-mercado-de-acoes-brasileiro/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/02/14/esta-estrategia-vai-revolucionar-o-mercado-de-acoes-brasileiro/#respond Sun, 14 Feb 2021 05:30:01 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/Bolsa-Brendan-McDemid-Reuters-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2484 Quem não gostaria de investir em uma estratégia que se adapta aos cenários, que evita possíveis vieses comportamentais por parte dos gestores, com alto potencial de retorno e elevado controle de risco para minimizar perdas? Isto já é uma realidade. Esta estratégia é chamada de investimento sistemático baseado em fatores, internacionalmente conhecida como factor investing.

No mundo, esta forma de investimento tem crescido exponencialmente. Segundo a BlackRock, o volume de aplicações, seguindo esta estratégia, alcançou USD$ 2 trilhões em 2020 e a perspectiva é que atinja USD$ 3,4 trilhões até 2022.

No Brasil, esse tipo de investimento está apenas começando e uma nova gestora, a DAO Capital, se propõe a ser pioneira e inovadora nesse mercado, investindo em fatores de forma inteiramente sistemática.

Tive acesso às simulações da estratégia de investimentos do fundo que a DAO deve lançar em breve e os números são impressionantes.

O fundo teria apresentado, desde janeiro de 2008, um retorno médio anual de 18,5%. Ou seja, R$ 110 mil investidos nestes 13 anos teriam se transformado em R$ 1 milhão. Este retorno teria colocado o fundo como um dos mais rentáveis do país.

Lembro que o retorno médio anual do Ibovespa, no mesmo período, foi inferior a 5%, ou seja, o mesmo investimento de R$ 110 mil, no Ibovespa, resultaria hoje em apenas R$ 207 mil.

Adicionalmente, destaca-se o controle de risco. Enquanto, desde 2008, o Ibovespa apresentou em cinco anos retorno negativo, o fundo sempre teria apresentado retorno positivo, inclusive nas crises de 2008 e de 2020.

São poucos gestores brasileiros que teriam apresentado um resultado tão consistente ao longo dos anos, atravessando crises internas e externas.

Esta façanha é atribuída à forma como a estratégia é implementada. E para entender mais desta metodologia, entrevistei a equipe de gestão da DAO, formada por Fabio Motta, Caio Castro, Marco Lyrio e Lucas Pires.

Entrevista com equipe de investimentos da DAO.

 

MV: O que significa investir inteiramente de forma sistemática?

Significa ter aderência total ao modelo proposto. Nós dedicamos muito tempo e energia para identificar fatores, testá-los e definir como o fundo deve se expor a eles. Também desenvolvemos um método próprio de otimização para garantir que o fundo efetivamente tenha o menor risco possível para certo nível de retorno esperado. Se depois de tudo isso o gestor bate o olho no resultado e decide que não quer seguir o portfólio proposto, foi tudo por água abaixo. O método não serviu pra nada. Não existe 95% sistemático, ou você segue fielmente o modelo ou é um gestor discricionário.

 

MV: O que são fatores de investimento e por que seria melhor investir em fatores e não em empresas?

DAO: Fatores são a base de qualquer investimento, você estando ciente deles ou não. São como as características das empresas investidas, por exemplo, seu tamanho, rentabilidade, se estão caras ou baratas, etc. Ao identificar quanto o mercado paga por cada uma dessas características, é possível escolher as empresas que têm o melhor potencial de retorno.

Quando a análise é focada em fatores e não em empresas, você mitiga os riscos específicos e reduz o fator “sorte” na composição do portfólio. Além disso, todas as empresas precisam necessariamente passar pelo mesmo filtro objetivo de análise, evitando preferências e vieses pessoais na seleção de investimentos.

 

MV: O primeiro fundo de vocês deve ser lançado em breve. Como esse fundo teria se saído durante a crise do ano passado?

DAO: Nossos backtests indicam que o fundo teria sofrido muito menos do que a bolsa em momentos de crise aguda, como foi o caso de março passado. Isso se explica pelo fato de o fundo ser estruturalmente comprado em ações de qualidade (empresas mais rentáveis, menos endividadas, mais estáveis), mais baratas, com tendência positiva de preço e menos volatilidade. Além disso, nós temos uma abordagem de controle de risco e otimização de carteira que não são usuais na gestão de renda variável convencional. Com isso, é possível evitar quedas significativas da cota do fundo e preservar capital. O efeito do retorno composto é muito poderoso no longo prazo.

 

MV: Quando vocês se deram conta de que havia espaço no mercado brasileiro para esse tipo de investimento?

DAO: O mercado brasileiro tende a adotar as tendências de mercados mais desenvolvidos, com alguns anos de atraso. Fundos sistemáticos e baseados em fatores de risco já são muito difundidos nos EUA e Europa, e efetivamente esse é o segmento do mercado que mais cresce. Aqui no Brasil esse movimento mal começou. Já existem fundos que usam factor investing como parte do seu processo de seleção de ativos, mas o patrimônio agregado desses fundos ainda é muito pequeno se comparado ao total da indústria. Mas o interesse de investidores institucionais e family offices aumentou consideravelmente no último ano, o que sugere que a gente deve estar no começo de um movimento forte de adoção.

 

MV: As vantagens do investimento em fatores são conhecidas, mas quais são as suas principais desvantagens e desafios?

DAO: O maior desafio é ter disciplina e efetivamente seguir um modelo. Gestores ativos têm uma tendência natural de querer ter a última palavra, mesmo se apoiando em inputs de equipes de análise e ferramentas que auxiliem a decisão. Mas o gestor também é um ser humano e está sujeito a erros de julgamento, excesso de confiança, medo, apego a posições. Ao botar a experiência do gestor num algoritmo, acreditamos ser possível tratar esses vieses e entregar resultados superiores com bem menos risco.

Alguns diriam que a perda de liberdade do gestor seria uma desvantagem, mas a gente vê como virtude. Para a coisa funcionar, as mudanças no portfólio precisam de fato seguir o modelo. Outra questão importante é que factor investing sistemático é uma abordagem muito intensiva em dados, que têm custo relativamente alto e demandam tratamento. Mas nós acreditamos que isso tudo é muito mais do que compensado pelo ganho de escala, consistência e melhor gestão de risco.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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