De grão em grão https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br Como cuidar do seu dinheiro, poupar e planejar o futuro Sun, 05 Dec 2021 09:31:02 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Com taxas prefixadas e inflação mais elevadas, entenda qual renda fixa é melhor https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/11/07/com-taxas-prefixadas-e-inflacao-mais-elevadas-entenda-qual-renda-fixa-e-melhor/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/11/07/com-taxas-prefixadas-e-inflacao-mais-elevadas-entenda-qual-renda-fixa-e-melhor/#respond Sun, 07 Nov 2021 05:30:53 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/sem-cabeca-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2809 A alta da inflação acima do esperado e o ruído político promoveram uma forte elevação da curva de juros. Com isso, as taxas de juros de títulos de renda fixa prefixados parecem bem interessantes quando comparadas com as taxas disponíveis no início de 2021. No entanto, a inflação ainda preocupa e investidores se questionam se vale a pena correr o risco das taxas prefixadas, ou é melhor a segurança dos títulos referenciados ao IPCA. Explico abaixo o que precisa avaliar para decidir.

A curva de juros  futura, negociada na B3 e que é utilizada para precificação dos títulos de renda fixa já sugere que a Selic pode superar 13% ao ano em meados 2022.

A tabela abaixo apresenta na segunda coluna a estimativa do mercado para as variações da Selic nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (COPOM) e, na última coluna a expectativa da taxa DI após a elevação dos juros. Para entender os números na tabela, 100 pontos base de variação da Selic equivalem a uma alta de 1%.

A tabela acima apresenta as datas das próximas reuniões do COPOM, as estimativas do mercado para as altas em cada reunião e a taxa DI resultante após a reunião. Fonte e elaboração: Bloomberg.

Perceba que as taxas negociadas no mercado já consideram que a taxa Selic pode alcançar 13,5% ao ano em junho de 2022.

Desde o final de 2017, brasileiros não têm disponível taxas de retorno acima de 10% ao ano em títulos de renda fixa. Este retorno parece tentador, mas para decidir entre o indexador prefixado ou referenciado ao IPCA, é preciso fazer uma difícil aposta. Antes de explicar qual é a aposta, apresento alguns detalhes que você também deve considerar.

O primeiro ponto a entender é que quando for comparar títulos de renda fixa de remuneração diferente, deve considerar o mesmo emissor. Obviamente, um título público que rende a Selic vai render menos que um título pós-fixado emitido por um banco médio.

Por exemplo, o título Tesouro Selic, devido à taxa de custódia cobrada pela CBLC de 0,25%, deve render próximo de 90% do CDI. Já um CDB de banco médio, pode render mais de 130% do CDI. Essa diferença de rentabilidade ocorre pelo risco de crédito do banco. Quem investe menos de R$250 mil por emissor, conta com a garantia do FGC. Portanto, para estes casos, o risco é mitigado e o CDB de banco médio é imbatível em relação ao Tesouro Selic.

O mesmo raciocínio se aplica quando compara um CDB de banco médio prefixado ou referenciado ao IPCA e o título do Tesouro de mesma remuneração. Para o mesmo prazo, o CDB provavelmente terá maior rentabilidade

Entretanto, meu objetivo é explicar como você pode decidir entre a remuneração prefixada e IPCA. Portanto, usarei os títulos públicos do Tesouro Nacional para a comparação, considerando, assim, o mesmo risco de crédito.

A decisão entre os títulos não deve considerar apenas o retorno que é apresentado hoje, mas o que deve ocorrer com os movimentos do COPOM e da inflação, nos próximos anos. Entenda, que um título prefixado pode parecer mais vantajoso hoje, mas pode perder para a Selic, dependendo das alterações de taxa de juros que o COPOM deve praticar até o vencimento do título.

Vamos nos restringir, no entanto, à decisão apenas às duas remunerações: IPCA e prefixada. O processo de escolha é simples, mas, como mencionei, vai exigir que você faça uma aposta em relação ao que há implícito nas curvas de juros em cada momento até o vencimento do título. O site da Anbima te ajuda neste cálculo.

A Anbima atualiza, diariamente, a tabela abaixo, disponível no link. Nesta tabela encontrará a taxa equivalente para o Tesouro IPCA e Tesouro prefixado para cada prazo.

Estrutura a termo de taxas de juros (ETTJ) calculada pela Anbima. Taxas equivalentes aos títulos públicos referenciados a IPCA e prefixado para os vários anos de vencimento. Fonte: Anbima

Na última coluna desta tabela, há a taxa de inflação implícita no título prefixado que faz ele ser equivalente ao referenciado ao IPCA, de mesmo vencimento. A deliberação entre IPCA ou prefixado reside em como sua perspectiva diverge desta inflação implícita.

Vamos usar os títulos com vencimento em cinco anos (2026) para ilustrar. Se você acredita que a inflação de hoje até cinco anos a frente será superior 6,33% ao ano, você deve preferir o título referenciado à inflação. Mas, se você acha que a inflação, nos próximos cinco anos, será inferior a 6,33% ao ano, deve preferir o título prefixado.

A rentabilidade do título prefixado é a composição da taxa do Tesouro IPCA e da inflação implícita. Por exemplo, com o título do quinto ano: 11,97% = (1 + 0,0530) * (1 + 0,0633) – 1.

Logo, se acredita que a inflação nos próximos cinco anos será de 4% ao ano, se comprar o título referenciado à inflação, vai ganhar 9,51% = (1 + 0,0530) * (1 + 0,04) – 1. Portanto, menos que a remuneração do título prefixado para o mesmo período que hoje é de 11,97% ao ano.

De outra forma, caso suspeite que a inflação nos próximo cinco anos, será de apenas 7% ao ano, melhor comprar o título referenciado ao IPCA. Isso ocorre, pois o título referenciado ao IPCA vai render 12,67% = (1 + 0,0530) * (1 + 0,07) – 1. Logo, mais que o título prefixado.

Como vimos, o processo de escolha é simples, mas para se chegar à decisão correta, você precisa ter uma boa previsão sobre a inflação nos próximos anos. Na dúvida, prefira a segurança dos títulos referenciados ao IPCA, se for investir com prazo superior a três anos de vencimento.

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

]]>
0
Aplicações financeiras, apólice de seguro ou imóvel; o que é melhor deixar como herança? https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/09/26/aplicacoes-financeiras-apolice-de-seguro-ou-imovel-o-que-e-melhor-deixar-como-heranca/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/09/26/aplicacoes-financeiras-apolice-de-seguro-ou-imovel-o-que-e-melhor-deixar-como-heranca/#respond Sun, 26 Sep 2021 05:30:52 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/hernca-personare-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2757 Quem não deseja garantir a tranquilidade financeira de seus entes queridos? Este anseio, se planejado, pode ser mais simples do que se imagina.

Como mencionei na semana passada, para a finalidade de sucessão, ou seja, deixar um patrimônio para a segurança da família, existem três alternativas usuais: imóvel, apólice de seguro e aplicações financeiras.

Avaliamos na semana passada o imóvel em relação a uma apólice de seguros. Nesta comparação, percebemos que a apólice de seguros é melhor que o imóvel. Expliquei que esta vantagem do seguro é ressaltada no quesito rentabilidade quando o imóvel é adquirido de forma financiada.

Sabendo que o seguro é melhor que o imóvel, vem a próxima dúvida.

 

Será que aplicações financeiras conseguem superar uma apólice de seguro?

Recordo que quando se fala em sucessão, há quatro princípios que caracterizam a adequação do produto. O bem deve:

  • Ser perfeitamente divisível;
  • Possuir baixa despesa para transferência;
  • Permitir rápida transferência aos beneficiários;
  • Proporcionar flexibilidade ao beneficiário em como decidir usar melhor o benefício.

Assim como uma apólice de seguro, investimentos financeiros também atendem aos quatro critérios.

No entanto, quando se fala em aplicações financeiras com o intuito de sucessão, não podemos generalizar.

O produto adequado de aplicação financeira com o intuito de sucessão deve ser um produto de previdência VGBL ou PGBL. A escolha entre os dois depende da forma como faz a declaração de IR.

Os produtos de previdência também atendem aos quatro critérios de adequação. São perfeitamente divisíveis, possuem baixo custo de transmissão, são de rápido recebimento, pois não passam por inventário e permitem que o beneficiário tenha flexibilidade em como melhor empregar.

Como o seguro já garante o pagamento do capital desde a primeira parcela, eles são imbatíveis no curto prazo.

No longo prazo, para períodos de quase 20 anos, o resultado pode se inverter.

Considerando uma aplicação em previdência que produza um retorno equivalente a um juro real, ou seja, acima da inflação, de 4,0% ao ano, o produto de previdência seria mais vantajoso que a apólice de seguro após 19 anos. Neste exemplo, comparamos a mesma contribuição mensal usada para o seguro, que simulei na semana passada.

A maior desvantagem da previdência em relação ao seguro é a facilidade em se interromper as contribuições ou de utilizar os recursos e distorcer a finalidade inicialmente planejada.

 

Qual a melhor estratégia?

Claramente o imóvel é a pior alternativa como veículo de sucessão.

A melhor estratégia é fazer um balanceamento com uma apólice de seguros e um produto de previdência.

A apólice de seguros deve ser calculada de forma a ser suficiente para cobrir sua falta no curto prazo. O produto de previdência deve atender a visão de longo prazo.

A parte mais difícil é manter a disciplina de não usar os valores poupados para atender um desejo seu de comprar um imóvel.

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

]]>
0
Mercado, economistas e BC divergem sobre inflação. Quem está certo e o que fazer? https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/09/12/mercado-economistas-e-bc-divergem-sobre-inflacao-quem-esta-certo-e-o-que-fazer/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/09/12/mercado-economistas-e-bc-divergem-sobre-inflacao-quem-esta-certo-e-o-que-fazer/#respond Sun, 12 Sep 2021 05:30:33 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/Banco-Central-em-Brasília-Amanda-Perobelli-Reuters-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2740 Nos momentos de maior volatilidade do mercado, a incerteza sobre a evolução das variáveis econômicas é maior e ocorrem as maiores divergências sobre as expectativas entre os agentes. Nestes instantes, o risco é maior, mas surgem oportunidades. Comento abaixo as divergências que existem sobre as expectativas de inflação e como você deve investir em renda fixa neste cenário.

A meta de inflação do Comitê de Política Monetária (COPOM), medida pelo IPCA, está em 3,75%, 3,5%, 3,25 e 3% ao ano para 2021, 2022, 2023 e 2024, respectivamente. Estes dados representam o centro da meta, mas o Banco Central do Brasil (BC) tem um intervalo de tolerância para esta meta. O intervalo de tolerância é de 1,5% para cima e para baixo.

Caso o BC não consiga cumprir a meta e a inflação fique no ano fora do intervalo de tolerância, o BC deve “divulgar publicamente as razões do descumprimento, por meio de carta aberta ao Ministro da Fazenda, presidente do CMN, contendo descrição detalhada das causas do descumprimento, as providências para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos e o prazo no qual se espera que as providências produzam efeito”, como descrito em suas normas.

Como pode ser visto no gráfico abaixo, o BC já teve que se desculpar algumas vezes nos últimos anos e deve repetir neste ano.

Evolução do IPCA, expectativas de mercado (Focus) e meta para a inflação. Fonte e elaboração: Banco Central do Brasil.

A média das expectativas dos economistas, representada pela linha vermelha no gráfico acima, indica que a inflação deve ceder e voltar para dentro da faixa de tolerância do BC antes do fim do próximo ano.

Segundo o relatório Focus, divulgado semanalmente pelo BC, a expectativa média dos economistas é que o IPCA seja de 3,98%, 3,25% e 3% em 2022, 2023 e 2024, respectivamente.

No entanto, os investidores não estão tão confiantes quantos os economistas de que o BC conseguirá honrar seu dever.

A expectativa dos investidores de mercado pode ser extraída da diferença entre a taxa dos títulos públicos prefixados e referenciados ao IPCA. Essa diferença entre as taxas prefixadas e referenciadas ao IPCA é conhecida como inflação implícita nos títulos públicos.

O gráfico abaixo mostra a inflação implícita para os próximos nove anos.

Evolução da inflação implícita nos títulos públicos prefixados e referenciados ao IPCA ao longo dos próximos nove anos. Fonte: Anbima

Perceba que não só os investidores não acreditam que a inflação reverta e ceda para dentro da faixa de tolerância do BC, mas apostam que ela deve se manter elevada e superar 6% ao ano nos próximos anos.

 

O que isso significa e o que você deve fazer?

Como mencionei, a inflação implícita é extraída da diferença entre as taxas dos títulos públicos prefixados e referenciados ao IPCA.

Quando a inflação implícita é muito alta a taxa real de juros fica esmagada entre a taxa prefixada e a inflação implícita. Atualmente, isso ocorre nos títulos referenciados ao IPCA com vencimento acima de 5 anos.

A decisão entre comprar um título prefixado e referenciado ao IPCA deve considerar sua crença para o IPCA em relação a esta inflação implícita.

Se você acredita que o IPCA será maior que esta inflação implícita, você deve preferir o título referenciado ao IPCA.

Caso contrário, se você acredita que o IPCA será menor que esta inflação implícita, você deve preferir o título prefixado.

Assim, atualmente, não compensa investir em títulos referenciados ao IPCA com prazo longo, ou seja, de vencimento superior a cinco anos. Isso ocorre, pois a inflação implícita já está muito elevada.

Se os economistas estiverem certos e o mercado errado, os investidores de títulos prefixados devem rir a toa e os aplicadores de títulos referenciados ao IPCA de vencimento longo podem amargar prejuízo ou terem ganhos magros.

Entretanto, aplicar em títulos prefixados de longo prazo representa um risco devido às incertezas que o cenário eleitoral nos traz.

Portanto, no cenário atual, a melhor alternativa para investir em renda fixa é ter um balanço entre títulos e fundos pós-fixados, referenciados ao IPCA até 5 anos e prefixados até 3 anos. De preferência, se puder manter o título até o vencimento, aproveite os prêmios existentes nos títulos privados.

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

]]>
0
Onde investir para se proteger da inflação? https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/09/05/onde-investir-para-se-proteger-da-inflacao/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/09/05/onde-investir-para-se-proteger-da-inflacao/#respond Sun, 05 Sep 2021 05:30:49 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/planejamento-é-o-caminho-para-a-independencia-financeira-Unsplash-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2733 A divulgação do IPCA 15, na semana passada, de 0,89% em agosto elevou o receio com relação ao fantasma da inflação. Esta medida é uma prévia da inflação oficial, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Se confirmado, o IPCA deve acumular em doze meses encerrados em agosto o patamar de 9,7%.

Parece natural a decisão de ter parte do portfólio protegido pela inflação. No entanto, o retorno dos ativos neste ano confunde os investidores sobre qual deles pode ser utilizado como proteção.

A tabela abaixo apresenta a rentabilidade em 2021 até a última sexta-feira (3/setembro) dos 10 principais investimentos brasileiros e do IPCA no ano acumulado até julho.

Rentabilidade em 2021 até a última sexta-feira (3/setembro) dos 10 principais investimentos brasileiros e do IPCA no ano acumulado até julho. Fonte: Economatica

Perceba que nenhum ativo neste ano obteve rentabilidade suficiente para alcançar metade do retorno da inflação.

De fato, 60% deles apresentam variação negativa. Até mesmo ativos referenciados ao IPCA como os populares Tesouro IPCA apresentam retorno abaixo.

O pior de todos eles inclusive são os títulos públicos do Tesouro com vencimento superior a cinco anos. O título Tesouro IPCA+ 2045, por exemplo, perde mais de 21% no ano.

Qual o melhor investimento para evitar esta perda de poder de compra?

Antes de apontar quais investimentos podem ser considerados para proteção da inflação, é importante ressaltar que a expectativa não é que a variação do IPCA permaneça elevada como no último ano.

Segundo o boletim semanal Focus do Banco Central desta última segunda-feira, economistas do mercado esperam que o IPCA em 2022 caia para menos de 4%.

Explico abaixo quatro instrumentos que podem ser considerados para proteção contra inflação. No entanto, esta proteção deve ser avaliada em um horizonte de médio prazo, ou seja, de mais de dois anos.

No curto prazo, como observamos na tabela acima, a volatilidade da marcação a mercado pode prejudicar o reflexo da proteção.

 

Títulos públicos

Não é qualquer título público que deve ser comprado neste momento e não basta que ele seja referenciados ao IPCA.

Neste momento de instabilidade política, é arriscado investir nos títulos de vencimento longo. A variação destes vai ser muito mais influenciada pelos movimentos de taxa de juros causados pelo ruído político e fiscal.

Prefira os títulos com vencimento de curto a médio prazo. Estes títulos devem sofrer muito pouco com eventuais aumentos de taxa de juros, favorecendo o ganho de curto prazo da inflação.

 

Títulos privados

Para os títulos privados, você deve seguir a mesma estratégia dos títulos públicos. No entanto, estes possuem uma vantagem adicional.

Os títulos privados possuem um prêmio em relação aos títulos públicos. Esse prêmio pode elevar em 30% o juro real, ou seja, os juros acima da inflação que ganha quando comparado aos títulos públicos.

Por exemplo, o Tesouro IPCA 2026 tem taxa de IPCA + 4,5% ao ano. No entanto, deve subtrair desta remuneração a taxa de custódia da CBLC. Assim, o retorno que deve receber, ainda bruto de IR, será de IPCA + 4,25% ao ano. Existem CDBs de mesmo prazo com retorno de IPCA + 5,6% ao ano. Logo, uma taxa de rendimento acima da inflação 31% maior.

Uma vantagem extraordinária dos CDBs em cima dos títulos públicos é o fato de eles não serem marcados a mercado. Assim, o investidor percebe mais facilmente o efeito de proteção para a inflação.

 

Fundos de investimentos

Os fundos referenciados ao IPCA cujo prazo médio dos títulos seja até 6 anos também podem ser utilizados.

Procure os fundos que possuem como índice de referência (ou benchmark) o IMA-B5. A carteira deste índice é composta pelos títulos públicos referenciados ao IPCA com vencimento até 5 anos.

Cuidado para não se confundir com o IMA-B 5+. Este é formado pelos títulos de longo prazo.

O prazo médio dos títulos no IMA-B 5 é de dois anos e meio. Esta é a vantagem dos fundos que perseguem este benchmark. Você investe em uma carteira de títulos e não em um título fixo.

Se investir em fundos de crédito privado, pode ter a mesma vantagem em rentabilidade para estes títulos citados acima. Também, para alguns fundos pode ter a isenção de IR.

Os títulos e fundos referenciados ao IMA-B5 sempre ganharam do IPCA no longo prazo. Veja pelo gráfico abaixo que nos últimos 18 anos o IMA-B5 rendeu mais de 4 vezes a variação do IPCA. Um investimento de R$ 10.000,00 no IMA-B5 em 2003, se valorizou para R$90.111,3 atualmente. O mesmo investimento em um ativo que se valoriza apenas o IPCA atingiria R$ 26.430,3 no mesmo período. Como comparação, neste período o CDI apesar de ganhar do IPCA, rendeu 36% menos que o IMA-B5.

A dificuldade para avaliar o benefício ocorre apenas quando se avalia em intervalos curtos, como neste ano.

Evolução de um investimento de R$100 no IMA-B5 e no IPCA nos últimos 18 anos. Fonte e elaboração: Bloomberg.

Fundos imobiliários

Os fundos de investimentos imobiliários (FIIs) também podem ser uma boa alternativa para proteção da inflação. Os aluguéis são corrigidos pela inflação. Portanto, os dividendos dos FIIs devem subir com o tempo.

Eles guardam uma vantagem em relação aos imóveis diretamente, pela diversificação, liquidez, isenção de IR e maior remuneração.

Os FIIs que investem em CRIs são uma alternativa interessante para os que desejam correr menos risco.

 

A paciência para esperar passar o período de maior turbulência será recompensada com maior remuneração no futuro.

Lembre-se de manter parte dos recursos em liquidez. Esta é uma boa estratégia para capturar oportunidades com uma eventual alta de taxas de juros mais forte que o esperado.

 

Michael Viriato é sócio e fundador da Casa do Investidor.

]]>
0
Apenas um título a venda no Tesouro Direto tem rentabilidade positiva no ano https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/08/22/apenas-um-titulo-a-venda-no-tesouro-direto-tem-rentabilidade-positiva-no-ano/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/08/22/apenas-um-titulo-a-venda-no-tesouro-direto-tem-rentabilidade-positiva-no-ano/#respond Sun, 22 Aug 2021 05:30:15 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/Tesouro-Diretoret2-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2718 Quando comecei a investir, por volta de 1994, existiam poucas alternativas para aplicação. Minhas primeiras aplicações foram em fundos do Banco do Brasil, onde meu pai abriu conta quando eu ainda era universitário.

Naquela época não havia a plataforma do Tesouro Direto. Também aplicar diretamente em ações era difícil, pois não existiam as atuais plataformas de home broker.

No entanto, uma dúvida que eu tinha naquela época, muitos investidores ainda têm até hoje: como é que um título ou fundo de renda fixa apresenta rentabilidade negativa?

Eu entendia perfeitamente que o pequeno percentual que aplicava em fundos de ações poderia cair. Ainda mais naquele período, pois a bolsa oscilava ainda mais que hoje. Mas a parcela de renda fixa era a minha mesada e responsável pelas despesas do mês.

Gostaria de saber quem foi o gerente que atendeu minha ligação naquele momento de perda. Eu estava irritado e, infelizmente, a ligação caiu com alguém que não sabia explicar. Eu repetia constantemente: como é que um fundo de renda fixa apresenta rentabilidade negativa? Afinal, é renda fixa, ou seja, fixa.

Depois fui pesquisar, então entendi que não é bem assim. Neste ano de 2021, muitos investidores também estão aprendendo esta lição.

Dos 5 tipos de títulos disponíveis a venda neste mês na plataforma do Tesouro Direto, apenas um acumula rentabilidade positiva no ano.

Entretanto, o único que está positivo, o Tesouro Selic, ainda rende menos que o CDI e que a Selic que é seu indexador.

O pior retorno ficou com o título Tesouro IPCA+ 2045 que se desvalorizou 18,96% em 2021. Isto significa que se investiu R$10 mil neste título ao final de 2020, teria nesta última sexta-feira apenas R$ 8.104,00.

Muitos investidores se questionam por que um título que deveria render a inflação mais uma taxa de juros, na verdade perde valor.

Vou explicar esta dúvida a seguir usando como exemplo os títulos de renda fixa, mas ressalto que os fundos de renda fixa que não seguem o CDI possuem o mesmo efeito.

 

Por que os títulos e fundos de renda fixa se desvalorizam?

A confusão se inicia em entender o que faz o preço do título variar.

Não é a taxa de juros de curto prazo, ou seja, a Selic, que define o preço de títulos com vencimentos longos, mas a taxa de juros futura. E esta última é definida em negociações no mercado financeiro.

Para entender esta relação, imagine uma gangorra, que é um brinquedo infantil comum nos parques. Ao invés de haver uma criança, em cada lado da gangorra, há a taxa de juros futura de um lado e do outro o preço do título.

Efeito da alta da taxa de juros sobre o preço do título de renda fixa. Quando a taxa sobe, o preço cai.

 

Quando a taxa de juros futura sobe, o preço do título cai. Da mesma forma, quando a taxa de juros futura cai, o preço do título sobe.

 

Efeito da alta da taxa de juros sobre o preço do título de renda fixa. Quando a taxa cai, o preço sobe.

 

Por exemplo, a taxa de juros do título Tesouro IPCA+ 2035 subiu neste ano para 4,80%+IPCA e estava 3,38%+IPCA ao final de 2020. Esta alta fez com que o preço do título caísse para R$1.903 de R$2.128 há oito meses, ou seja, uma queda de mais de 10% no período.

Lembro que esta desvalorização ocorreu em um momento em que a inflação, medida pelo IPCA, teve um dos maiores saltos dos últimos anos. Não fosse a elevação do IPCA, o prejuízo teria sido ainda pior.

 

Qual a razão para ocorrerem estes prejuízos?

Para entender a razão dos prejuízos, é necessário relacionar o país a um devedor comum.

Considere uma pessoa comum que possui uma dívida. Se você, enquanto credor, acredita que esta pessoa vai se endividar ainda mais para poder pagar seus gastos correntes, provavelmente, cobrará uma taxa de juros maior para emprestar dinheiro a ela, certo? Esta elevação dos juros seria uma forma de você ser remunerado pelo risco de eventual inadimplência.

O mercado interpretou algumas atitudes e discursos do governo como um menor compromisso em controlar os gastos públicos, o que sugere a possibilidade de elevação da dívida pública. Assim, da mesma forma que você no exemplo anterior, os grandes investidores elevaram a taxa de juros média exigida para emprestar ao governo.

 

Quais títulos sofrem mais?

A elevação de juros não é igual para todos os prazos e não afeta os títulos de forma igual.

As taxas de juros para prazos mais curtos são menos afetadas que as dos mais longos. Isso ocorre, pois se imagina que um governo que não controle os gastos terá uma dívida cada vez maior no futuro. Logo, a capacidade de pagamento tenderia a piorar com o tempo.

O impacto da elevação da taxa também não é o mesmo para todos os vencimentos, mesmo que o movimento de elevação da taxa seja igual.

Quanto mais longo o título, maior é a sensibilidade dele a variações nas taxas de juros. Este efeito pode ser exemplificado, novamente, com a analogia da gangorra.

Nesta analogia, o prazo é a distância da barra do brinquedo.

 

Efeito da alta da taxa de juros sobre o preço do título de renda fixa. Quanto mais longo o vencimento do título, maior o impacto de uma variação da taxa de juros sobre, o preço do título.

 

Quanto mais longo o prazo do título, maior é o impacto pela variação na taxa de juros. Tanto para o lado negativo, quanto para o lado positivo.

Por isso, o título Tesouro IPCA+ 2045 perde quase o dobro do título com vencimento em 2035.

 

Lembro que se você não vender o título nesse momento menos favorável e esperar até o vencimento, então, receberá a rentabilidade contratada.

Neste momento de maior risco, recomenda-se que ao investir em títulos e fundos de renda fixa, dar preferência a títulos e fundos cujas carteiras de títulos tenham vencimento até cinco anos. Assim, você pode sofrer menos em caso de piora do cenário e ainda vai aproveitar as melhores taxas.

 

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

]]>
0
Está na hora de vender os fundos imobiliários? https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/08/15/esta-na-hora-de-vender-os-fundos-imobiliarios/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/08/15/esta-na-hora-de-vender-os-fundos-imobiliarios/#respond Sun, 15 Aug 2021 05:30:20 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/NYpredios-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2710 Depois de uma alta de 36% em 2019, quando os fundos imobiliários (FIIs) conquistaram a atenção dos investidores, eles têm desapontado neste ano e em 2020. Vendo o desempenho recente, muitos investidores refletem sobre a venda deles. Discuto abaixo alguns pontos que você deve considerar nesta decisão.

Ao enfrentarmos uma perda, nossa ação natural é querer nos afastar daquilo que traz o sentimento ruim. Assim, queremos vender ativos que apresentam desempenho passado ruim e aplicar naqueles que apresentam bom retorno.

Quando se trata de investimentos, essa pode ser a pior decisão. Aquelas aplicações que tiveram performance ruim, podem estar justamente baratas e serem uma oportunidade. Já os que subiram, podem apresentar pouco potencial de repetir a alta anterior.

Para avaliar, devemos olhar para frente e ver qual retorno podemos ter de cada ativo, considerando um cenário. Também devemos sempre comparar o retorno com alternativas livres de risco para entender se o balanço de retorno e risco está adequado.

Também é preciso entender que uma alternativa livre de risco não significa livre de perdas no curto prazo. Por exemplo, o melhor ativo para comparar com os FIIs são os títulos públicos referenciados ao IPCA, popularmente conhecidos como Tesouro IPCA.

No entanto, o retorno médio dos títulos públicos referenciados ao IPCA com vencimento superior a 5 anos (IMAB5+) é negativo em -6,5% em 2021. Portanto, a melhor alternativa comparável aos FIIs também pode sofrer com as oscilações de mercado.

Evolução da volatilidade do IFIX (linha amarela) e dos títulos públicos com vencimento superior a 5 anos (IMAB5+, linha branca). Fonte: Bloomberg.

Quando comparamos a volatilidade do IMAB5+ com a dos FIIs (IFIX), observamos que a volatilidade dos títulos públicos de vencimento superior a 5 anos (linha branca) é superior à dos FIIs (linha amarela).

Vamos comparar os retornos potenciais.

Investindo em um título público referenciado ao IPCA podemos ganhar um retorno médio de IPCA+4,5% ao ano. Mas, este retorno é bruto de IR.

O IR em um título público incide tanto sobre a inflação quanto sobre a taxa real. Assim, o retorno líquido de IR cai para aproximadamente IPCA + 3,1%, se considerarmos investimento por mais de 2 anos (alíquota de 15%) e uma inflação média de 5% ao ano.

Escolhi dois FIIs para comparar o retorno que você pode obter com o do título público. Um é um fundo conhecido como fundo de papel que é aquele que compra apenas títulos de renda fixa conhecidos como Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs). O outro é um fundo de tijolo que aplica em imóveis.

O FII de papel selecionado para avaliar foi o chamado FII Barigui Rendimentos Imobiliários (BARI11). A carteira do fundo é formada por CRIs, dos quais mais de 39% com rendimento médio de IPCA+6,45% ao ano e mais de 34% com retorno de IGPM + 9,45%. Apresento a tabela abaixo retirada do relatório gerencial do fundo. Lembrar que este rendimento é isento de IR.

A tabela abaixo apresenta a média dos retornos dos títulos para cada indexador no BARI11.

Tabela com a taxa média dos títulos por indexado, sua proporção na carteira e prazo médio de vencimento (duration) para o FII BARI11. Fonte: relatório gerencial BARI11.

Vamos comparar com algo que estamos acostumados. O rendimento do CDI deve subir para 8% ao ano ao final de 2021, mas este retorno é bruto de IR. Considerando o IR e a inflação, o CDI deve render menos de 1,8% ao ano de juros real líquido de IR.

Assim, é importante refletir bem antes de trocar um retorno potencial como o do FII acima pelo CDI, apenas para fugir da volatilidade do FII.

Também o retorno por rendimentos deste FII supera o de títulos públicos referenciados ao IPCA como o apresentado acima.

Os fundos de tijolo que investem em imóveis do segmento logístico também apresentaram desvalorização. Este segmento de imóveis foi pouco afetado com vacância durante a pandemia, pois galpões logísticos foram mais demandados para fazer frente a expansão de centros de distribuição devido às vendas online.

Um fundo como o XP Log FII (XPLG11) conta com mais de uma dezena de galpões com uma concentração no estado de São Paulo e uma vacância financeira de menos de 2%.

Gráficos com locatários dos galpões do XPLG11 e os indexadores de correção dos aluguéis. Fonte: relatório gerencial do XPLG11.

O dividendo pago atualmente pelo fundo corresponde a um ganho em relação a sua cota de 7,2% ao ano líquido de IR. Este retorno é obtido dividindo o valor recebido em aluguéis pela cota do FII. Ressalto que os aluguéis que proporcionam este retorno são reajustados anualmente pelo IPCA.

Esta rentabilidade é bem superior à alcançada em aluguéis de imóveis. Segundo o portal FipZap, a taxa de retorno bruta de IR e de custos de aluguel de imóveis comerciais é de 5,47% ao ano.

O cálculo deste retorno segue a mesma forma da apresentada para o FII acima, mas este retorno do FipZap não considera uma série de custos e no caso do FII já é líquido no seu bolso.

Todos acompanhamos que o custo do material de construção tem subido muito forte. Desta forma, a construção de novos galpões tem um custo mais elevado. Portanto, é possível que quando ocorrerem vencimentos dos atuais contratos de locação, estes possam ser revisados para cima.

Portanto, também nestes casos é importante considerar com cuidado se deseja vender simplesmente pela queda recente. No entanto, é sempre importante avaliar se a alocação está adequada ao seu perfil de investidor.

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

]]>
0
Vale a pena pagar o INSS? https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/06/06/vale-a-pena-pagar-o-inss/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/06/06/vale-a-pena-pagar-o-inss/#respond Sun, 06 Jun 2021 05:30:16 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/Unidade-de-previdência-social-no-Jabaquara-na-zona-sul-de-São-Paulo-Rivaldo-Gomes-Folhapress-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2609 Com as incertezas levantadas pela reforma da previdência de 2019 e a elevação da dívida pública depois da pandemia, muitos começaram a se questionar sobre a validade em se pagar o chamado Carnê do INSS.

Apesar desta contribuição ser facultativa apenas aos profissionais liberais e autônomos, a discussão é válida para que todos entendam o tamanho do benefício que os contribuintes possuem.

Não me prenderei a todos os detalhes para tentar focar no entendimento do que é mais provável que o beneficiário se utilize.

Quando se fala em INSS, muitos pensam apenas em aposentadoria por tempo de contribuição ou idade. No entanto, os benefícios vão além destes: aposentadoria por invalidez, auxílio-doença, pensão por morte, salário-maternidade, dentre outros.

Como mencionei, vou restringir a análise e me fixar apenas nos benefícios de aposentadoria por idade e por invalidez.

Farei todos os cálculos com base no salário-mínimo atual de R$ 1.100,00, mas o mesmo raciocínio vale para as faixas superiores bastando fazer a proporção.

Imagine um profissional autônomo que esteja em dúvida sobre a validade do pagamento. Considere que ele possua 35 anos de idade e por ser do sexo masculino, deva se aposentar por idade aos 65 anos.

Neste caso, ele pagará mensalmente, por 30 anos, a chamada Guia da Previdência Social (GPS). O valor da contribuição é de 20% do salário. Portanto, ele tem de pagar R$ 220 mensais ao INSS.

Primeiro avaliarei em que condição os R$ 220,00 por mês seriam suficientes para uma renda de R$ 1.100,00 ao se aposentar, se este valor fosse direcionado para uma aplicação financeira.

Assim, considere que o contribuinte decida por guardar o mesmo valor em uma aplicação que renda acima da inflação o equivalente a 3% ao ano líquido de IR. Esta é a rentabilidade atual de um título público federal referenciado ao IPCA de 30 anos.

Ao final dos 30 anos de investimento, este autônomo teria acumulado o total de R$ 127,3 mil a valores de hoje. Lembrar que o cálculo está sendo feito apenas com o juro real.

A grande questão é: Com este montante, por quantos anos ele conseguiria ter uma renda equivalente ao salário-mínimo?

Considerando o mesmo rendimento líquido e real de 3% ao ano, um montante de R$ 127,3 mil seria suficiente para cobrir menos de 12 anos de uma renda de R$ 1,1 mil.

Portanto, considerando apenas a aposentadoria por idade, o INSS parece ser interessante.

Mas também deve ser considerada a questão da aposentadoria por invalidez. Neste caso, considere o mesmo indivíduo do exemplo.

Assuma que ele deseja fazer um seguro de invalidez por acidente e invalidez funcional por doença. Considere que a partir do acionamento do seguro ele deseje ter a renda de um salário-mínimo por 40 anos.

Neste caso, ele deveria pagar um seguro que custa aproximadamente R$ 40 por mês.

Perceba que dentro do valor do INSS já está incluso este benefício.

Assim, se você considerasse apenas este benefício, o valor que sobraria como contribuição para sua aposentadoria privada seria ainda mais reduzido.

Portanto, respondendo à pergunta central, vale a pena pagar o INSS. E perceba que só considerei dois dos benefícios.

Entretanto, agora se chega a outra questão fundamental.

Se o INSS tem tantas vantagens, como é que a conta fecha?

Claramente este modelo não é sustentável e precisará ser revisto novamente no futuro. Então a incerteza reside sobre qual modelo você estará sujeito quando se aposentar.

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

]]>
0
Se minha carteira rende menos que a inflação em 2021, devo mudar? https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/05/09/se-minha-carteira-rende-menos-que-a-inflacao-em-2021-devo-mudar/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/05/09/se-minha-carteira-rende-menos-que-a-inflacao-em-2021-devo-mudar/#respond Sun, 09 May 2021 05:30:35 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/08/Funcionário-da-Bolsa-de-Nova-Iorque-Michael-Nagle-Xinhua-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2561 Nos últimos 20 anos, quem investiu em ativos que rendiam a Selic, ganhou em média mais de 5% acima do IPCA ao ano. Mas esta situação se inverteu desde meados do ano passado. O investidor brasileiro vai ter de se acostumar com algo que o investidor internacional já está habituado há muitos anos.

Conforme pode ser visto no gráfico abaixo, a taxa Selic sempre rendeu acima do IPCA, até o ano passado. O investidor brasileiro se acostumou mal em ser “conservador”. Foram duas décadas que levaram o brasileiro a se educar de forma errada em como avaliar o desempenho de seus investimentos.

O gráfico acima apresenta no painel superior a evolução da taxa Selic (linha branca) e do IPC-A de 12 meses (linha amarela). No painel inferior há a evolução da diferença entre a Selic e o UPC-A. Fonte: Bloomberg.

No passado, não era necessário correr qualquer risco ou mesmo abdicar de liquidez. Era possível ter um ganho certo, acima da inflação praticamente todos os meses, com ativo de liquidez diária e sem risco.

As duas primeiras décadas do século foram o “paraíso dos rentistas”, parafraseando nosso Ministro da Economia. Como diz o provérbio: “não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe”. E acabou.

Só há dois caminhos para se ganhar da inflação atualmente. Alocar parte da carteira em risco ou abdicar de liquidez em investimentos com maior prazo.

No entanto, estas duas alternativas também estão frustrando investidores brasileiros em 2021.

Retornos das principais classes de ativos brasileiros em 2021 (até 06/maio/2021). Fonte: Economatica.

Conforme pode ser observado na tabela acima, a inflação medida pelo IPC-A ganha de todas as aplicações.

Mesmo quem fugiu para os populares títulos Tesouro IPCA, para se proteger da inflação, amarga perdas este ano. As perdas dos títulos públicos atingem 17% em 2021 para quem, por exemplo, investiu no TESOURO IPCA+ 2045.

Passados pouco mais de quatro meses, alguns investidores começam a se questionar.

Mas o que os investidores deveriam fazer?

Se você tem apenas ativos referenciados ao CDI ou à taxa Selic, conscientize-se que o “paraíso dos rentistas” acabou. Agora é necessário diversificar.

Ainda assim, alguns se questionam se realmente fizeram bom negócio em sair da Selic. Um investidor que tivesse diversificado sua carteira entre as nove classes de ativos estaria perdendo 0,9% neste ano, ponderando igualmente todos os investimentos.

Será que vale a pena sair da Selic ou CDI, já que, apesar de perder da inflação, pelo menos o ganho é positivo?

De forma geral, o problema não é a diversificação, mas a forma de análise. Não é razoável analisar, no curto prazo, o desempenho de ativos que possuem horizonte de longo prazo.

Mesmo os títulos referenciados ao IPC-A, podem perder da inflação no curto prazo. Os títulos Tesouro IPC-A rendem uma taxa real de juros mais o IPC-A.

Hoje eles rendem em média IPC-A + 3% ao ano. Entretanto, este retorno acima do IPC-A só é garantido no horizonte de investimento que é, em média, de sete anos para todos os títulos públicos emitidos.

O que justifica eles perderem do IPC-A no curto prazo é a marcação a mercado. A taxa real acima do IPC-A flutua no mercado e esta flutuação acaba sendo mais representativa no retorno no curto prazo.

A única forma de você ter garantido o retorno mensal acima do IPC-A é se investir em CDBs referenciados ao IPC-A que são marcados na curva. Assim, eles não sofrem com a variação diária do mercado.

No entanto, para ter ganhos de 3% acima do IPC-A, estes CDBs devem ter prazo médio de pelo menos três anos. E você não poderia resgatá-los até o vencimento, ou teria perdas como os títulos marcados a mercado.

Portanto, se sua carteira está dividida em investimentos com horizonte de médio prazo, por exemplo de três a cinco anos, este deve ser o prazo de análise.

A alteração da carteira deve ter como justificativa a mudança da expectativa sobre o cenário econômico futuro e seus reflexos nos investimentos para frente e não o desempenho passado de curto prazo. Se alterar sua carteira baseando-se apenas no desempenho passado de curto prazo, corre o risco de vender, quando deveria estar comprando, e de comprar, quando deveria estar vendendo.

 

Michael Viriato é assessor financeiro e sócio fundador da Casa do Investidor.

]]>
0
Se você tem previdência há mais de cinco anos está na hora de revê-la – Parte II https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/05/02/se-voce-tem-previdencia-ha-mais-de-cinco-anos-esta-na-hora-de-reve-la-parte-ii/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/05/02/se-voce-tem-previdencia-ha-mais-de-cinco-anos-esta-na-hora-de-reve-la-parte-ii/#respond Sun, 02 May 2021 05:30:02 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/05/Warren-Buffett-ensina-em-sua-reunião-anual-Rick-Wilking-Reuters.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2555 Na semana passada, expliquei duas razões pelas quais você deveria revisar o produto de previdência se você aplica há mais de cinco anos. Mas, quando se fala em previdência, não se pode pensar apenas no produto. Há mais três pontos que você precisa revisar em seu plano.

Conforme descrevi na semana passada, há cinco anos, a taxa básica de juros da economia era de 14,25% ao ano.

Em 2016, a taxa real de juros para títulos públicos de dez anos de vencimento era de 6% ao ano. A taxa real de juros de um título de vencimento de mesmo prazo agora está em 3,9% ao ano.

O gráfico abaixo apresenta a evolução da taxa real de juros de um título com vencimento de dez anos a frente. Perceba que a taxa esteve na média menor que 3,5% ao ano desde o final de 2019.

Evolução da taxa real de juros de um título com vencimento de dez anos a frente. Fonte: Bloomberg

A taxa de juros de títulos públicos define o patamar base de retorno para todo o mercado. O retorno esperado dos investimentos financeiros é calculado acrescentando-se um prêmio sobre esta taxa.

Assim, se ela cai, isso quer dizer que todas as aplicações de forma esperada devem render menos no horizonte futuro.

Dessa forma, se seu objetivo final com a previdência não se alterou, você deve revisar os aportes mensais ou revisar o risco de sua carteira.

 

Revisar o aporte

Por exemplo, em 2016, quando a taxa real de juros era de 6% ao ano, um investidor conservador, poderia estimar que com R$ 1.539,23 seria capaz de em trinta anos atingir o patrimônio de R$ 1,5 milhões em termos reais.

É mais adequado calcular em termos reais, pois em trinta anos, se você não ajustar pela inflação, não vai conseguir viver com R$ 1,5 milhões da mesma forma que se vive hoje. Por isso, se utiliza a taxa de juros acima da inflação para o cálculo.

Com a taxa de juros agora a 3,9% ao ano, alguém que planeja ter em trinta anos R$ 1,5 milhões a valores de hoje, deve agora investir mensalmente R$ 2.226,72.

Portanto, você deveria fazer um esforço de poupança de quase 50% a mais.

 

Revisar o risco

Caso não consiga realizar esta aplicação mensal adicional e deseja manter o objetivo inicial, pode revisar o risco de sua carteira a fim de chegar ao retorno médio de IPCA+6% que tinha antes.

Isso quer dizer que deve adicionar produtos com mais risco como fundos de previdência com investimentos em ações nacionais e internacionais.

 

Objetivo

Periodicamente também deve revisar o objetivo que tem com a previdência.

A maioria dos investidores aplica em planos de previdência, mas o fazem sem traçar um objetivo.

Sem esta meta, fica inviável para o investidor entender se o que tem feito de aportes e diversificação de produtos é suficiente para satisfazer suas necessidades no futuro.

Portanto, esta meta é fundamental. Depois de fixada a meta, ela também precisa ser revista periodicamente, pois suas necessidades podem se alterar com o tempo.

Por exemplo, há cinco anos, você poderia acreditar que uma renda de R$ 5 mil por mês seria suficiente para você. Desta forma, o objetivo de chegar em um patrimônio de R$ 1,5 milhões a valores de hoje seria muito adequado.

No entanto, se você revisou seus gastos e percebeu que agora seria necessária uma renda de R$ 10 mil mensais, seu objetivo final também precisa ser revisado o quanto antes.

Quanto mais cedo revisar seu objetivo melhor, pois precisará ajustar os aportes ou o risco em menor intensidade.

Revisar o plano de previdência pode ser comparado a ir ao dentista ou ao médico para tratar de sua saúde. Se você demorar para fazer check-ups, o dano na sua saúde financeira pode ser pior.

 

Michael Viriato é sócio fundador da Casa do Investidor.

]]>
0
Três investimentos que não podem faltar em seu portfólio em 2021 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/12/27/tres-investimentos-que-nao-podem-faltar-em-seu-portfolio-em-2021/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/12/27/tres-investimentos-que-nao-podem-faltar-em-seu-portfolio-em-2021/#respond Sun, 27 Dec 2020 05:30:07 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/Michael-Nagle-Xinhua-operador-de-bolsa-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2430 A pandemia provocada pelo Covid-19 demandou dos governos estímulos fiscais e monetários. Em 2020 esta injeção de recursos trouxe duas consequências: taxas de juros de curto prazo mais baixas e inflação mais elevada. Estes reflexos devem se propagar por 2021 e definir três investimentos que você deve possuir para o próximo ano.

Você já deve ter notado os preços mais altos de bens e serviços nos últimos meses.

Segundo o boletim semanal Focus do Banco Central desta última segunda-feira (21/dez), economistas do mercado esperam que o IPCA em 2021 seja de 3,37% ao ano. Portanto, 2021 deve ser o segundo ano em que a Selic e o CDI perdem do IPCA, conforme expectativa destes economistas.

Neste ambiente, ativos conhecidos como ativos reais, ações e ativos financeiros referenciados ao IPCA devem se destacar. Vamos começar por estes últimos.

Títulos e fundos de renda fixa referenciados à inflação

Não é qualquer título público que deve ser comprado neste momento. Conforme pode ser visto no gráfico abaixo, da dívida pública federal de R$ 4,8 trilhões, a maior parcela é de títulos referenciados à Selic. Justamente estes são os títulos que mencionei acima que deveriam perder da inflação.

Distribuição da dívida pública federal nos indexadores. Fonte e elaboração: Tesouro Nacional

Para obter juros reais, acima da inflação, o foco devem ser os títulos e fundos referenciados ao IPCA (ou NTN-B), pois estes rendem uma taxa de juros real mais a variação da inflação. No gráfico acima, são os classificados como “Índice de Preços”.

Entretanto, é arriscado investir nos títulos de vencimento longo, ou seja, acima de seis anos para o vencimento. A variação destes vai ser muito mais influenciada pelos movimentos de taxa de juros. Se o Banco Central elevar as taxas de juros acima do esperado, os títulos de longo prazo podem sofrer negativamente e você não vai capturar os ganhos da inflação no curto prazo.

Prefira os títulos com vencimento de curto e médio prazos, com vencimento inferior a seis anos. Estes títulos devem sofrer muito pouco com eventuais aumentos de taxa de juros, favorecendo o ganho de curto prazo da inflação.

Para os títulos privados, você deve seguir esta mesma estratégia. No entanto, estes possuem uma vantagem adicional.

Os títulos privados possuem um prêmio em relação aos títulos públicos. Esse prêmio pode quase dobrar o juro real, ou seja, os juros acima da inflação obtidos.

Por exemplo, o título público Tesouro IPCA 2026 tem taxa de IPCA + 2,4% ao ano. No entanto, deve subtrair desta remuneração a taxa de custódia da CBLC. Assim, o retorno que deve receber, ainda bruto de IR, será de IPCA + 2,15% ao ano. Existem CDBs de mesmo prazo com retorno de IPCA + 4,0% ao ano. Portanto, quase o dobro de juros real.

Alternativamente, há fundos de renda referenciados ao IPCA isentos de IR. Estes além de promoverem o prêmio do título privado, também possuem o benefício da isenção de IR.

O cenário de juros de curto prazo menores e maior inflação deve promover uma migração por parte dos investidores. Este rebalanceamento dos portfólios já vem ocorrendo e deve se prolongar pelo próximo ano.

Esta migração deve favorecer ações e os chamados ativos reais como fundos imobiliários.

 

Fundos de ações nacionais e internacionais

Não há dúvidas de que o mercado de ações deve ser favorecido. No entanto, depois da alta recente observada no mercado brasileiro, o investimento direto em ações se torna ainda mais desafiador.

Adicionalmente, existem riscos não desprezíveis de o crescimento econômico brasileiro decepcionar, tendo em vista os riscos relativos à extensão da pandemia e a fragilidade de nossa dívida pública.

Neste sentido, é ainda mais recomendável o investimento por meio de fundos de ações com bons gestores para navegar neste ambiente.

Tabela contendo principais índices de ações internacionais, variação de preço e múltiplos PE (Preço/ Lucro) e Dividend Yield (taxa de dividendos). Fonte e elaboração: Bloomberg.

Também é recomendável a diversificação internacional. Pelo viés denominado home biased (viés doméstico), concentramos os investimentos em ativos braseiros. Por estarem mais próximos, temos a falsa impressão de que estes ativos são menos arriscados.

A figura acima mostra uma tabela com os múltiplos P/L (preço/ lucro) e Dividend Yield (taxa de dividendo). O P/L é internacionalmente usado como forma de padronização dos preços para comparação. Este múltiplo no caso brasileiro não é dos menores e os riscos inerentes a nossa economia sugerem atenção.

Ainda assim, nosso mercado deve ser favorecido pelo fluxo positivo para mercados emergentes e pelo rebalanceamento de carteiras dos investidores no Brasil.

 

Fundos imobiliários

Os fundos de investimentos imobiliários (FIIs) também são uma boa alternativa para proteção da inflação. Os aluguéis dos imóveis são corrigidos pela inflação.

Adicionalmente, quando comparamos os dividendos dos FIIs com a taxa de juros de títulos públicos referenciados de dez anos de vencimento, vemos que os dividendos estão quase em sua máxima histórica relativa (painel inferior da figura abaixo).

Evolução do ganho de dividendo dos fundos imobiliários e da taxa de títulos públicos referenciados a IPCA de 10 anos (painel superior) e a relação entre os dois (painel inferior). Fonte e elaboração: Bloomberg.

Os FIIs guardam uma vantagem em relação ao investimento em imóveis diretamente, pela diversificação, liquidez, isenção de IR e maior remuneração.

Os FIIs que investem em CRIs são uma alternativa interessante para os que desejam correr menos risco.

 

Destaco que estes não são as únicas aplicações que um investidor deve ter em carteira. Tampouco, que se deve acabar com investimentos de liquidez. Manter parte dos recursos em liquidez e baixo risco servem para capturar oportunidades com oscilações desfavoráveis do mercado.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

]]>
0