De grão em grão https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br Como cuidar do seu dinheiro, poupar e planejar o futuro Sun, 05 Dec 2021 09:31:02 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Qual o custo de se investir como Warren Buffett? https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/08/29/qual-o-custo-de-se-investir-como-warren-buffett/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/08/29/qual-o-custo-de-se-investir-como-warren-buffett/#respond Sun, 29 Aug 2021 05:30:28 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/Nicholas-Kamm-5.jun_.2012-AFP-320x213.jpeg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2726 O retorno passado que Warren Buffett – maior investidor do mundo – obteve é impressionante. Nos últimos 33 anos, sua empresa Berkshire se valorizou 9.586%. Se em julho de 1988 você tivesse investido o equivalente a R$ 10.400,00, hoje teria mais de R$ 1 milhão.

Aposto que a maioria dos leitores gostaria de ter esse retorno. Mas o que significa investir como Buffett, ou seja, o que você teria enfrentado?

Depois que percorremos um caminho, ou ao analisarmos uma trajetória passada, o trajeto parece ser sempre mais palatável. Como sabemos o que ocorreu e o que obteríamos se tivéssemos paciência, usualmente relativizamos a dificuldade ou acreditamos que teríamos maior capacidade de suportar os percalços.

Esse comportamento é comum a todos. Por exemplo, quando me perguntam se é fácil fazer um doutorado trabalhando no mercado financeiro e ainda dando aula à noite, eu digo que é tranquilo.

No entanto, quando olho para trás, sei que por vários momentos pensei em desistir pela exaustão que as três atividades juntas exigiram. Entretanto, avaliando ex-post, a perseverança e o fato de manter a visão no horizonte me fizeram continuar.

Nos investimentos é semelhante. Se você deseja ter retornos em excesso, vai passar por momentos em que tudo parece que vai dar errado. Warren Buffett sabe bem disso.

Vamos ver se você entende o desafio que Buffett passou. Para isso, responda os dois desafios a seguir:

1 – Nos 396 meses dos últimos 33 anos, em quantos meses você acha que Buffett teve retorno negativo?

a) 10% dos meses

b) 20% dos meses

c) 30% dos meses

d) 40% dos meses

e) 50% dos meses

 

2 – Nos últimos 33 anos, qual o pior retorno em um período de cinco anos Buffett enfrentou? Ou seja, em janelas de cinco anos, qual o resultado na pior janela de 5 anos nesses 396 meses?

a) -17% no período 5 anos

b) -10% no período de 5 anos

c) -3% no período de 5 anos

d) +4% no período de 5 anos

e) +11% no período de 5 anos

 

Antes de responder a estas perguntas vamos relativizar o retorno de Buffett.

Se você tivesse investido no S&P500, o principal índice de ações americano, você teria obtido um retorno de 1.516%, no mesmo período de 33 anos.

Assim, os mesmos R$ 10.400,00 teriam se transformado em apenas R$ 168 mil se tivesse escolhido o índice americano. Lembra quanto teria obtido se tivesse investido de forma ativa com um gestor especialista como Buffett?

O retorno foi menor no S&P500, mas o risco também foi 25% menor neste que na ação de Buffett. Buffett apresentou um resultado muito superior, mas correu mais risco, medido pela volatilidade dos retornos.

Também o S&P500 apresentou menos meses negativos que Buffett.

Incentivados pelo bom retorno do índice S&P500 nos últimos anos e popularização de ETFs e investimentos passivos, vejo muitos investidores aplicarem neste sem considerar os riscos. Assim, eu coloco esta pergunta para você refletir.

3 – Nos últimos 33 anos, qual o pior retorno em um período de cinco anos você teria enfrentado se investisse no S&P500?

a) -36% no período 5 anos

b) -26% no período de 5 anos

c) -16% no período de 5 anos

d) -6% no período de 5 anos

e) +6% no período de 5 anos

Enquanto o S&P500 sobe, a maioria dos investidores não entende o que é o risco. Só se entende o que é “risco” quando se perde. Assim como somente quando se perde é que você conhece qual sua habilidade em suportar risco.

Vamos às respostas.

Nos últimos 33 anos, Buffett apresentou retorno negativo em 40% dos meses. Isso significa que na média, dos 12 meses de um ano qualquer, ele enfrentou praticamente cinco meses negativos. Em alguns anos, 8 dos 12 meses foram negativos.

No pior período de cinco anos, Buffett teve resultado negativo de 17%. Isso significa que se tivesse investido R$100, passados cinco anos neste pior período, você teria apenas R$83.

Você seria capaz de suportar cinco anos perdendo e ainda assim manter a perspectiva positiva?

O investimento no S&P500 não é tão mais seguro quando se avalia na ótica de possibilidade de perda em período de cinco anos.

O pior período de 5 anos do índice americano apresentou resultado negativo de -36%. Ou seja, se investiu R$100, teria R$64 depois de cinco anos na pior janela de cinco anos do S&P500 nas últimas três décadas.

Essa pior janela ocorreu no período de cinco anos que se encerrou em fevereiro de 2009.

Assim, cuidado ao analisar o passado e avaliar seu resultado médio. Existe prêmio por se correr risco. No entanto, este cobra um custo.

Existem vários gestores brasileiros que possuem médias de retornos similares aos de Buffett. No entanto, é preciso investir no longo prazo e passar pelos altos e baixos para capturar este retorno médio.

Reflita se você tem habilidade em suportar meses negativos e períodos prolongados de baixos retornos. Assim, poderá alocar em risco a proporção do capital adequada ao seu perfil de investidor.

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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Antes de começar a operar com ações saiba responder a estas três questões https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/08/01/antes-de-comecar-a-operar-com-acoes-saiba-responder-a-estas-tres-questoes/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/08/01/antes-de-comecar-a-operar-com-acoes-saiba-responder-a-estas-tres-questoes/#respond Sun, 01 Aug 2021 05:30:10 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/Xinhua-Wang-Ying-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2694 Não importa se você já negocia ou apenas pretende negociar ações, existem três questões que em algum momento você vai se deparar. Portanto, o ideal é que já planeje uma solução para cada uma delas antes de as enfrentar.

Apesar do fraco desempenho do Ibovespa, que sobe apenas 2,3% no ano até a última sexta-feira, o número de investidores em ações não para de crescer.

Segundo dados da B3, o número de investidores pessoas físicas cresceu mais de 50% este ano em relação ao ano passado. O total de aplicadores se aproxima de 4 milhões.

Eles são atraídos por uma expectativa de que vão acertar exatamente qual ação vai ter um próximo salto. Alguns até acertam uma destas ações quando compram empresas em suas ofertas iniciais, o chamado IPO. Mas, logo ficam frustrados por não saberem responder às três dúvidas que mencionei.

Esta pode ser a principal razão pela qual aplicadores individuais percam dinheiro com ações ou percam do Ibovespa como mostra o estudo de Bruno Giovannetti da FGV.

Comento abaixo as três questões e por que não saber como responder pode te prejudicar.
 
O que comprar?

Todos somos atraídos pelo desejo de acertar a próxima ação que vai disparar. Mas construir uma carteira de ações vai além de procurar uma ou outra ação.

Por mais que você tenha feito um excelente investimento no passado. Você em algum momento vai se desfazer dele e trocar.

Ao contrário do que muitos imaginam, não se compra um ativo para carregar por toda a vida. Há momentos em que ou devido ao cenário econômico ou por oscilação de preço, o ativo pode não ser mais vantajoso ficar e você precisa trocar por outro.

A construção de uma carteira exige um processo contínuo de novas ideias de investimentos. Se você não tem um processo de geração de ideias, pode ficar preso a um investimento que eventualmente perde valor ou que tem potencial de valorização menor que o Ibovespa.

Gestores profissionais possuem equipes de analistas internos, além dos externos (das corretoras), que ficam pesquisando, filtrando e trazendo ideias de novos investimentos.

Assim, antes de iniciar, se questione qual processo você vai se utilizar para geração de novas ideias.

Se você não possui um processo, talvez seja melhor delegar seus recursos para quem possui uma estratégia.
 
Quanto comprar?

Quando o assunto é o quanto comprar de cada ação, existem três tipos básicos de investidores: os colecionadores, os Kamikazes e os estrategistas.

Os colecionadores são aqueles que vão comprando um pouquinho de cada ação. Estes acabam formando uma carteira com cinquenta ou mais ativos. Dificilmente ele sabe o objetivo de retorno ou razão de cada um.

Carteiras como estas na maioria das vezes desempenham pior que o Ibovespa além de trazerem dificuldade adicional de acompanhamento e reinvestimento de dividendos. Pela quantidade de ativos, o investidor dificilmente sabe quanto está rendendo.

O Investidor Kamikaze é aquele que concentra mais de 50% de sua carteira em um ou dois ativos. Quando tudo dá certo, este pode ter resultados mais expressivos. No entanto, dificilmente este resultado se perpetua.

Usualmente, estes investidores tiveram sorte no primeiro investimento e, em seguida, superestimam sua capacidade de escolha e subestimam o risco que enfrentam com a concentração.

Os estrategistas são aqueles que desenvolvem um modelo que orienta a diversificação entre setores e ações de forma a reduzir o risco da carteira e tirar o melhor de cada ativo.

Seja um estrategista. Antes de começar elabore um plano com um conjunto de regras e filtros de diversificação.
 
Quando vender?

Dificilmente você vai comprar uma ação e vai carregá-la para sempre.

Entenda que quando você ouve histórias de pessoas que ganharam muito quando mantiveram uma ação por uma década, você só ouviu a história exatamente daquela que deu certo. Estas são uma pequena minoria.

O bilionário Warren Buffett, conhecido por manter ativos por longo tempo, frequentemente se desfaz de suas ações. No ano passado, por exemplo, vendeu todas as ações do setor de aviação de sua carteira. Também se desfez de posições do setor financeiro.

Gestores profissionais estão a todo instante revisitando os casos de seus investimentos e reavaliando. Se as condições mudam, uma venda deve ocorrer.

Antes de iniciar qualquer investimento, você deve ter regras de quando deverá vender.

Ao contrário do conhecimento geral, não se vende uma ação apenas quando ela atinge seu potencial. Sua carteira deve ser sempre comparada com alternativas de investimento.

Quando se tem um processo de geração de ideias, a todo instante você está comparando seu investimento com outros. Se surge outro ativo com maior potencial, você deveria trocar ou pode ficar para trás do próprio Ibovespa que também é rebalanceado a cada quatro meses.
 

A construção e manutenção de uma carteira de investimento deve ser feita com uma estratégia.

Se você não tem uma estratégia definida que responda às três questões acima, reflita em delegar a administração dos recursos a um profissional. Assim, reduz o risco de ter seu portfólio rendendo menos que o Ibovespa.

 

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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Descubra como gestores profissionais investem hoje https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/07/18/descubra-como-gestores-profissionais-investem-hoje/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/07/18/descubra-como-gestores-profissionais-investem-hoje/#respond Sun, 18 Jul 2021 05:30:02 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/05/Warren-Buffett-ensina-em-sua-reunião-anual-Rick-Wilking-Reuters.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2686 A maioria dos investidores individuais que aplicam diretamente em ações cometem a mesma falha na execução. Este alerta parte de Andrew Berkin e Larry Swedroe em seu livro “Your Complete Guide to Factor-Based Investing – The way smart money invest today”.

O mais interessante do livro de Berkin e Swedroe é que reúne a pesquisa de mais de uma centena de artigos acadêmicos sobre os segredos de renomados investidores.

Quando se pensa em investimentos bem-sucedidos em ações, o primeiro nome que vem à cabeça de todos é o de Warren Buffett. Como já abordei em artigo passado, os investidores, erroneamente, costumam atribuir o segredo do retorno de Buffett a sua habilidade em selecionar ativos.

Partindo da premissa errada, estes mesmos investidores tentam replicar o que não é o segredo de Buffett. Obviamente, é perfeitamente explicado por que poucos conseguem chegar ao sucesso dele.

Já escrevi nesta coluna sobre o segredo de Buffett e este mesmo também é explicado por Berkin e Swedroe. O segredo de Buffett está em seguir uma estratégia baseada em alguns fatores.

Mas o que seria um fator?

Como descrevem os autores, “um fator é uma forma quantitativa de expressar um aspecto qualitativo” inerente a um conjunto de ativos.

Eles abordam os principais fatores de investimento, alguns dos quais comentei nesta coluna no ano passado, mas eles trazem no livro várias evidências robustas sobre o sucesso de cada estratégia.

Os autores apresentam, dentre os principais fatores, aqueles que tiveram mais sucesso nos últimos anos e o que deveria ser levado em consideração para construção de uma carteira de ações para seguir cada um.

Dando um spoiler, a estratégia mais bem sucedida nos últimos três e dez anos foi a que seguiu o fator momento. Este também foi o que apresentou o maior retorno por unidade de risco dentre todos os fatores.

Para aqueles que pretendem se aventurar na gestão de carteira de ações, este livro é um bom ponto de partida para entender como gestores profissionais estão conduzindo seus investimentos.

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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Você é capaz de dizer qual foi o melhor portfólio? https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/12/13/voce-e-capaz-de-dizer-qual-foi-o-melhor-portfolio/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/12/13/voce-e-capaz-de-dizer-qual-foi-o-melhor-portfolio/#respond Sun, 13 Dec 2020 05:30:24 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/alto-risco-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2414 O senso comum diz que quanto maior o risco, maior o retorno. Entretanto, será que isso é verdade? Existe uma interessante anomalia no mercado de ações que foi identificada não só no Brasil, como também internacionalmente. Ela foi apresentada pelos pesquisadores Malcolm Baker, Brendan Bradley e Jeffrey Wurgler em 2011, mas para me ajudar a explicá-la conversei com Lucas Sanches, pesquisador do Insper.

Antes de definir o que é uma anomalia e de qual estou comentando, vou primeiro colocar você à prova. Então, vamos explicar seu teste.

Sanches levantou os retornos de 50 ações que fazem parte do Ibovespa atual e que tiveram cotações na última década encerrada em 2019.

A partir destes retornos, foi calculado o risco de cada ação medido tanto pela sua volatilidade, ou desvio padrão, assim como pelo seu beta. A volatilidade representa a dispersão dos resultados em relação ao seu retorno médio. Quanto mais volátil, maior o risco do ativo, pois maior é a incerteza sobre o retorno do ativo.

A volatilidade mede o risco total de um ativo e o beta, seu risco sistemático, ou seja, àquele relacionado ao mercado. O beta representa a sensibilidade do retorno do ativo ao retorno do mercado. Um ativo com beta elevado, por exemplo, maior que 1, responderia com maior retorno que o mercado, quando este último se valoriza.

Após calculado o risco de cada ação, elas foram classificadas do maior para o menor risco e separadas em cinco grupos. Cada grupo de dez ações formou uma carteira. Vamos analisar os resultados das duas carteiras de dez ações nos extremos, ou seja, aquela com maior e a com menor risco.

A mesma classificação e separação foi realizada tanto para o risco total, quanto para o risco sistemático.

Com relação ao risco medido pela volatilidade, apresento as duas carteiras nos extremos. Aquela formada pelas ações com maior e as com menor volatilidade.

Se você acompanha o mercado financeiro, provavelmente, sabe qual foi a valorização e risco destas ações ao longo da última década. Então, te desafio a dizer qual dentre estes dois grupos abaixo teve o maior retorno e qual teve o maior risco no período entre 2010 e 2019?

Carteiras formadas pelas ações com maior e com menor risco medido pela volatilidade na década encerrada em 2019. Elaboração: Lucas Sanches.

 

Agora apresento os dois grupos formados pelas ações com maior e as com menor beta. E proponho o mesmo desafio. Qual destes dois grupos abaixo obteve o maior retorno e qual teve o maior risco sistemático (beta) no período de 2010 a 2019?

Carteiras formadas pelas ações com maior e com menor risco medido pelo beta na década encerrada em 2019. Elaboração: Lucas Sanches.
Lucas Sanches (esquerda) apresenta seu trabalho para Michael Viriato (direita).

Em finanças, uma anomalia ocorre quando um resultado contraria o que seria esperado por um modelo. Por exemplo, espera-se que ações com maior risco sistemático, medido pelo seu beta, apresentem maior retorno.

Embora a teoria de finanças não expresse que a mesma relação seja válida para a volatilidade, pois há o risco específico, ela também costuma ser esperada pelos investidores.

Baker verificou que esta relação de maior retorno para maior risco não foi observada nos EUA entre 1968 e 2008. Sanches atestou que para o mercado brasileiro não é diferente.

Respondendo às duas perguntas, as carteiras formadas pelas ações do Grupo I apresentaram maior risco e menor retorno. E a carteira representada pelo Grupo II teve o maior retorno, apesar de ter o menor risco no período.

Observe na figura abaixo que o retorno acumulado da carteira do Grupo II com menor risco medido pela volatilidade, foi muito superior ao Ibovespa e à carteira do Grupo I que possuía maior risco.

Retorno acumulado da carteira de ações do Grupo II que teve menor risco (volatilidade) e maior retorno, do Ibovespa e da carteira do Grupo I, que teve maior risco (volatilidade) e menor retorno. Elaboração: Lucas Sanches.

Portanto, contrariando o senso comum, as ações com menor risco tiveram desempenho muito superior às de maior risco. Perceba que a carteira de maior risco não conseguiu nem ter retorno positivo em uma década.

O mesmo efeito ocorreu quando foi considerada a classificação pelo risco sistemático. O gráfico abaixo mostra que a carteira formada pelo Grupo II também foi significativamente melhor que a carteira de maior risco.

Retorno acumulado da carteira de ações do Grupo II que teve menor risco (beta) e maior retorno, do Ibovespa e da carteira do Grupo I, que teve maior risco (beta) e menor retorno. Elaboração: Lucas Sanches.

Se você avaliar as duas carteiras, vai perceber que as empresas mais populares são as do Grupo I. Isto levanta a questão sobre o risco do investidor comum, que não possui ferramentas e que não realiza uma análise profunda para selecionar suas ações, quando monta sua carteira de ações individualmente.

Usualmente, estes investidores selecionam as empresas mais conhecidas para montar suas carteiras de ações. Como vimos, este processo não necessariamente proporciona as melhores escolhas como vimos acima.

Por esse e outros motivos, recomendo sempre aos investidores delegarem para uma equipe especializada, ou seja, bons gestores de fundos de ações fazerem o trabalho de gerir sua carteira de ações.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

 

Referência:

Malcolm Baker, Brendan Bradley & Jeffrey Wurgler (2011) Benchmarks as Limits to Arbitrage: Understanding the Low-Volatility Anomaly, Financial Analysts Journal, 67:1, 40-54

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Descubra as cinco leis de ouro do homem mais rico da Babilônia https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/11/22/descubra-as-cinco-leis-de-ouro-do-homem-mais-rico-da-babilonia/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/11/22/descubra-as-cinco-leis-de-ouro-do-homem-mais-rico-da-babilonia/#respond Sun, 22 Nov 2020 05:30:39 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/Foto-de-orcamento-Fotolia-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2390 A grande maioria das pessoas é capaz de atingir sua independência financeira. No entanto, apenas uma pequena minoria alcança este objetivo. Para atingi-la existe um conjunto de leis apresentadas por George Clason há quase um século. Elas já foram lidas por milhões de leitores, mas, apesar de simples, poucos se dispuseram a segui-las.

Clason lançou em 1926 um conjunto de artigos com ensinamentos de finanças pessoais distribuídos, naquela época nos Estados Unidos, por instituições financeiras. O sucesso destes ensinamentos, que seguiam a forma de parábolas, transformou parte deles no livro O Homem mais rico da Babilônia.

Engana-se quem imagina que apenas quem possui renda mensal elevada consegue atingir a independência financeira. Conforme descreve Clason, vários indivíduos com alta renda vivem endividados e escravos de seu trabalho.

Os ensinamentos de Clason podem ser encontrados nas palavras de Warren Buffett e de escritores e gurus consagrados da atualidade como Paulo Vieira, Tony Robbins, dentre outros.

Seguindo o conselho de Dan Ariely em seu livro A mais pura verdade sobre a desonestidade, primeiro vou te desafiar a citar quais seriam as leis Clason. Vou deixar um espaço abaixo para você escrever.

1- _________________

2- _________________

3- _________________

4- _________________

5- _________________

 

As lições de Clason são ensinadas no livro pelo homem mais rico da Babilônia. Abaixo descrevo estas cinco leis de ouro. Nestas lições, quando ler a palavra ouro, entenda como prosperidade financeira, riqueza, ou independência financeira, pois o metal era o dinheiro daquela época.

 

Lei I

O ouro vem para aquele que investe não menos de 10% de sua renda com a finalidade de criar uma carteira para seu futuro e de sua família.

Acho que todos já leram que para atingir a independência financeira é necessário poupar pelo menos 10% de sua renda. De fato, se está começando mais tarde, essa proporção precisa ser maior.

Guardar parte do salário não é fácil. Somos influenciados pelo consumo e acabamos nos endividando e comprometendo inclusive salários futuros. Nesse momento de Black friday fica ainda mais difícil.

Há duas dicas para tornar esta tarefa mais fácil. A primeira é aplicar em algum investimento que você não possa resgatar imediatamente e logo que receber o salário. A segunda é criar um orçamento para te ajudar a analisar o que pode ser cortado, reservar nele uma parte para consumo não necessário e respeitar o plano.

 

Lei II

O ouro trabalha disciplinada e satisfatoriamente para o investidor prudente, multiplicando-se como árvores em uma floresta.

Esta lei descreve o benefício que as aplicações financeiras podem proporcionar no longo prazo. Quando investimos para o longo prazo, os juros compostos trabalham a nosso favor.

Uma aplicação que rende 10% ao ano vai dobrar o valor investido a cada sete anos. Isso quer dizer que em 25 anos o valor que investiu será mais de dez vezes o valor inicial.

 

Lei III

O ouro busca a proteção do aplicador cauteloso que segue os sábios conselhos em seus investimentos

Clason recomenda que o investidor seja cauteloso com suas aplicações e busque conselhos de pessoas experientes e que já tenham alcançado o objetivo que você procura, pois estes sabem o cuidado para preservar os recursos.

O investidor deve priorizar a diversificação de suas aplicações e evitar investimentos que possam promover a perda de principal com probabilidade elevada.

 

Lei IV

O ouro foge daqueles que o emprega em propósitos dos quais não está familiarizado ou que não contam com a aprovação dos mais experientes.

Novamente, Clason alerta para que o investidor aprenda a ponderar adequadamente o retorno esperado e o risco dos investimentos. Assim, deve evitar aplicações que não esteja familiarizado ou que não foi recomendado por especialistas.

Se você não é um profissional do mercado de ações e não analisa empresas com profundidade, prefira o investimento acionário por meio de fundos de ações. Investindo em fundos, pode contar com um gestor e uma equipe especializada que saberá escolher melhor um portfólio com maiores probabilidades de sucesso.

 

Lei V

O ouro se esvai daqueles que o força a ganhos impossíveis, dos que escutam falsas promessas e daqueles que confiam em sua inexperiência e desejos românticos na hora de o investir.

Você provavelmente já se deparou com propagandas de esquemas fraudulentos ou promessas de ganhos fáceis em operações de alto risco como day trades (operação de compra e venda de ações ou derivativos no mesmo dia). Você sabe que eles não são verdadeiros, pois provavelmente se pergunta como eles são possíveis.

Promessas de ganho rápido e fácil atraem muitos para armadilhas que acabam fazendo com que se perca todo o trabalho árduo de poupar.

 

 

Perceba que das cinco lições, duas estão relacionadas à criação de disciplina de poupar e reinvestir os rendimentos para auferir os benefícios dos juros compostos. As outras três são reservadas para alertar o investidor sobre o cuidado de aplicar com cautela e segurança.

Não é à toa a insistência com o cuidado na realização de aplicações. Muitos perdem suas poupanças ou fazendo aplicações com baixo rendimento ou caindo em armadilhas financeiras.

Respeitando estes cinco princípios do homem mais rico da Babilônia, é só uma questão de tempo para que se alcance a independência financeira.

 

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Três ações que você precisa tomar para se tornar um bilionário https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/07/26/tres-acoes-que-precisa-tomar-para-se-tornar-um-bilionario/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/07/26/tres-acoes-que-precisa-tomar-para-se-tornar-um-bilionario/#respond Sun, 26 Jul 2020 05:30:00 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/João-Wainer-29.nov_.10-Folhapress-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2247 Quando se fala em bilionários, uma lista de referência emerge, a lista levantada pela publicação Forbes. Todos desejamos ser parte desta lista, mas poucos têm coragem de fazer o necessário. Em geral, procuramos por atalhos. Discuto abaixo as ações comuns que proporcionaram fortuna ao seleto grupo.

Quantos bilionários você acha que existem no mundo?

a) menos de mil indivíduos;

b) entre dois mil e três mil pessoas;

c) entre cinco e sete mil indivíduos;

d) mais de oito mil pessoas.

Lembre-se, somos quase 8 bilhões de pessoas no mundo.

Menos 0,00003% da população faz parte do grupo de pessoas com fortuna superior a US$ 1 bilhão. Segundo a amostra levantada pela Forbes, encerrada em 18 de março de 2020, existiam cerca de dois mil bilionários no mundo.

A crise também afetou este grupo de indivíduos. Devido a ela, 58 pessoas deixaram de ser bilionárias em relação ao ano anterior e 51% ficaram menos ricas.

O patrimônio deste grupo caiu US$700 bilhões neste ano em relação a 2019, para US$ 8 trilhões. Para se colocar em perspectiva, o PIB brasileiro é de cerca de R$ 7 trilhões. Portanto, estas duas mil pessoas, no mundo, possuem riqueza equivalente a mais de cinco vezes a soma de todos os bens e serviços finais produzidos no Brasil em um ano.

A possibilidade de se tornar um bilionário é baixa, mas o caminho, passa antes, por ser milionário. Portanto, entender a trajetória destas pessoas é relevante para você planejar sua trilha em direção à liberdade financeira.

Excluindo aqueles que herdaram suas fortunas, três características são comuns aos bilionários.

Empreendedorismo

Não há nada de errado em trabalhar oito a doze horas por dia para outra pessoa. No entanto, como o número de horas que você pode vender é limitado, dificilmente o valor desta hora será significativo o suficiente para torná-lo rico.

Ao contrário do que muitos imaginam, menos de 10% dos bilionários são apenas investidores como o renomado Warren Buffett.

Normalmente, os bilionários são empreendedores fundadores ou se tornaram sócios de empreendimentos que prosperaram.

Empreender não é tarefa fácil e, por isso, quando bem sucedida resulta em grandes ganhos.

 

Tempo

Interessante notar que menos de 15% dos bilionários são indivíduos com menos de 50 anos. Apenas alguns empreendedores de negócios disruptivos como Facebook, Snapchat e jogos onlines conseguiram gerar fortuna em poucos anos.

A maioria dos jovens bilionários herdou sua fortuna.

Empresas levam tempo para maturar. O processo é similar ao efeito dos juros compostos nos investimentos. Leva muito tempo e, no início, parece que o patrimônio não cresce.

Mesmo um investidor como Buffett, começou a carreira com um patrimônio de apenas US$ 20 mil nos seus vinte anos de idade. E seu patrimônio foi resultante não só de rentabilidade, mas também de novos aportes.

Se considerarmos somente o rendimento de sua empresa de 20,3% ao ano, o patrimônio inicial se transformaria em apenas US$ 549 milhões ao fim de 2019. Portanto, para chegar a seu patrimônio bilionário foram necessários mais investimentos ao longo do tempo.

Com um retorno de 20,3% ao ano, o patrimônio dobra em pouco menos de 4 anos. Isso quer dizer que se começar hoje, como Buffett, com R$20 mil e, tiver este retorno anual, vai demorar 30 anos para chegar a R$5,1 milhões. Cerca de 10 anos depois já vai ter R$32,5 milhões e, se esperar mais cinco anos, supera os R$80 milhões.

Portanto, leva tempo para se construir fortuna.

 

Risco

Ninguém jamais construiu fortuna sem correr riscos.

Quando olhamos a foto dos bilionários atuais vemos apenas sorriso e glamour. Entretanto, no caminho houve pouco disto, mas muito mais de suor e lágrimas.

De fato, a grande maioria dos empreendedores falha e perde todo o investimento. O risco é a incerteza sobre a rentabilidade futura. Esse retorno, muitas vezes, chega a ser a perda de todo o capital investido, quando se trata de empreendimento.

Mesmo investidores mais diversificados como Buffett, Jim Simons e Ray Dalio fizeram diversos negócios fracassados dentre aqueles bem sucedidos.

Neste primeiro semestre, por exemplo, Buffett amargou prejuízos bilionários, vendendo, com desvalorização de mais de 50%, participações em empresas aéreas que adquiriu anteriormente.

Ao longo de sua carreira, as perdas não se resumiram a apenas uma pequena parcela de seu patrimônio. Em vários anos o retorno no ano calendário foi negativo. Em um deles a perda total chegou a quase 50% de todo o patrimônio. Isso ocorreu dez anos depois de iniciar suas atividades. Naquele ano, vários investidores perderam a esperança e se retiraram. Não tiveram paciência.

Você estaria disposto a perder 50% de seu patrimônio, sem ter a certeza de que vai recuperar e ainda assim perseverar?

Ninguém constrói fortuna com retornos de 2% ao ano como os existentes nos títulos referenciados à Selic ou na poupança, que rende menos ainda.

Assim, se não está disposto a arriscar, a aceitar que, em alguns momentos, algumas aplicações não serão bem sucedidas e a ter paciência para esperar a maturação destes investimentos, a conquista de fortuna dificilmente é atingida.

No entanto, é preciso ter muito cuidado com o risco que corre. Não procure fórmulas milagrosas no Youtube. Perceba que mesmo o investidor mais bem sucedido do mundo, não foi capaz de ganhar uma média de mais de 1,55% ao mês. Se alguém prometer retornos maiores e sem risco, desconfie.

Acima de tudo, deve respeitar seu perfil de investidor para que não se desespere e realize perdas, quando deveria estar investindo mais.

Você encontrará mais curiosidades sobre estes bilionários e suas bibliografias no site da Forbes.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Esqueça dividendo, o foco deve ser qualidade https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/05/24/esqueca-dividendo-o-foco-deve-ser-qualidade/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/05/24/esqueca-dividendo-o-foco-deve-ser-qualidade/#respond Sun, 24 May 2020 05:30:41 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/05/Michael-Nagle-Xinhua.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2177 O investimento baseado em fatores tem ganhado adeptos pelo mundo. No passado, investidores focavam em poucas características como tamanho da empresa – large caps ou small caps (grandes ou pequenas empresas) e dividendos para concentrar suas aplicações. Desde 2010, outro fator surge como melhor alternativa.

Como escrevi na semana passada, o investimento focado em dividendo sempre foi reconhecido por apresentar estabilidade de resultados e melhor balanço de retorno por risco, normalmente medido pelo índice chamado de Sharpe. Mostrei que esta não era uma verdade absoluta e outras estratégias apresentavam melhor desempenho e menor risco.

Outra estratégia comumente perseguida por gestores de portfólio apresenta melhores resultados. Ela é conhecida como qualidade.

Qualidade é um dos fatores que Frazzini, et al usam em sua pesquisa, Buffett’s Alpha, para descobrir como Warren Buffett alcançou resultados melhores que o mercado no longo prazo. De fato, o próprio Buffett já se pronunciou contra o foco no investimento em empresas pagadoras de dividendos.

Usando os índices globais da MSCI, para entender os resultados relativos dos fatores dividendo e qualidade, é possível constatar a superioridade do último.

Tabela com retornos, risco e retorno ajustado ao risco (índice Sharpe) dos índices MSCI citados. O retorno no período Pandemia é de 17/02 a 15/05. Fonte: www.msci.com

Além de apresentar resultado superior no curto e no longo prazo, o fator qualidade também teve menor risco. Portanto, esta estratégia possui maior índice Sharpe, que mede o retorno ajustado ao risco.

Conforme descrito no trabalho de Hsu, et al, entitulado What Is Quality?, o principal indicador para o fator qualidade são as métricas de lucratividade, avaliadas por índices como ROE, ROA e ROIC.

O índice MSCI Quality considera além do ROE, a estabilidade dos lucros ao longo dos anos e a baixa alavancagem. O índice MSCI ACWI Quality é composto por 494 empresas selecionadas entre 23 países desenvolvidos e 26 países emergentes.

No gráfico, apresento a evolução dos preços dos índices MSCI globais de qualidade (linha azul) e dividendos (linha vermelha) nos últimos dez anos.

Evolução nos últimos dez anos de um investimento com base 100 nos índices MSCI ACWI High Dividend Yield Index (linha vermelha) e MSCI ACWI Quality Index (linha azul). Fonte: Bloomberg.

Em relação à estratégia momento, que comentei na semana passada, o enfoque em qualidade se destaca pela mais fácil implementação e menor custo. A alta taxa de troca de ações na estratégia momento provoca um custo de transação elevado. Por este motivo, gestores de fundos de investimentos preferem a adoção da estratégia qualidade, já que ambas possuem índice Sharpe próximos.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Valor, dividendo, momento; qual é a melhor estratégia? https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/05/17/valor-dividendo-momento-qual-e-a-melhor-estrategia/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/05/17/valor-dividendo-momento-qual-e-a-melhor-estrategia/#respond Sun, 17 May 2020 05:30:14 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/Ibovespa-Marcelo-Ximenez-Folhapress-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2167 Se perguntado a qualquer investidor de ações qual pessoa ele se espelharia em seus investimentos, possivelmente, vai ouvir o nome de Warren Buffett pela estratégia de valor que lhe rendeu elevado retorno nos seus 55 anos de gestor.

De fato, os pioneiros da estratégia de investimento chamada de Value Investing (investimento de valor, em inglês) foram Benjamin Graham e David Dodd. O primeiro inclusive é reconhecido por Buffett como seu mentor.

Entretanto, será que essa estratégia atribuída a Buffett foi a melhor de forma geral? Como alerta a pesquisadora Frazzini é preciso tomar cuidado para não generalizar um caso isolado e transformá-lo como fato.

Alguns pesquisadores fazem uma analogia com os efeitos de fumar para a saúde. Será que o fato de um dos homens mais velhos do mundo, Fredie Blom, com 114 anos, ainda fumar mostra que este hábito não faz mal à saúde? Ou seja, será que o fato de Buffett ser o investidor mais bem sucedido, faz da estratégia de Value Investing a mais bem sucedida?

Outra estratégia comumente reconhecida é a de Dividendos. Amantes deste enfoque dizem que, no longo prazo, ela pode até não atingir os melhores resultados, mas as oscilações seriam menores, ou seja, menor risco. Desta forma, alguns adeptos dizem que ela produziria o melhor balanço de retorno por risco, normalmente medido pelo índice chamado de Sharpe. Será que isso ocorreu na última década?

Uma terceira estratégia usualmente perseguida é a chamada Momento. Adeptos do Value Investing criticam o enfoque em momento por argumentarem que se paga mais caro que o razoável e que todo o ganho que eventualmente produzam, seria perdido nos períodos de baixa do mercado. Portanto, ela teria mais risco e a pior relação de retorno por risco dentre as três citadas.

Será que todas estas estratégias desempenham bem apenas em curtos períodos e um índice diversificado se sobrepõe a todas em prazos mais longos?

Vamos testar se você acerta estes questionamentos que são estruturados nas perguntas abaixo.

Questão 1. Qual das estratégias de investimentos em ações foi melhor nos últimos 30 anos?

a) Valor

b) Dividendo

c) Momento

d) Índice Diversificado

Questão 2. Qual das estratégias de investimentos em ações foi melhor nos últimos 10 anos?

a) Valor

b) Dividendo

c) Momento

d) Índice Diversificado

Questão 3. Qual das estratégias de investimentos em ações apresentou o menor risco em 10 anos, medido pela volatilidade?

a) Valor

b) Dividendo

c) Momento

d) Índice Diversificado

Questão 4. Qual das estratégias de investimentos em ações apresentou a melhor relação de retorno por unidade de risco na última década, medida pelo índice Sharpe?

a) Valor

b) Dividendo

c) Momento

d) Índice Diversificado

Retorno

Para ilustrar as questões acima, vamos utilizar os índices produzidos pela MSCI no mundo. Escolhemos um índice que tenha espectro global para evitar alguma concentração em país cujo mercado esteja focado em empresas de alguma das estratégias.

Os quatro índices da MSCI utilizados são compostos de empresas de 23 países desenvolvidos. Cada índice é focado em uma estratégia. O MSCI World Index é um índice diversificado que engloba 1640 empresas. O MSCI World High Dividend Yield Index é composto por 327 empresas pagadoras de dividendos. O MSCI World Momentum Index é constituído por 347 empresas que possuem a característica de momento. Por fim, o MSCI World Value Index é formado por 939 empresas.

O gráfico abaixo mostra a evolução de um investimento de cem unidades monetárias ao longo de trinta anos nestes quatro índices.

Evolução nos últimos trinta anos de um investimento com base 100 nos índices MSCI World Momentum Index (linha verde), MSCI World Index (linha azul), MSCI World High Dividend Yield Index (linha laranja) e MSCI World Value Index (linha vermelha). Fonte: Bloomberg

O melhor desempenho neste período foi do MSCI World Momentum Index. O investimento de R$100 reais nele se transformou em R$1.282,43, ou seja, 1.182,4% de retorno. O pior índice foi o baseado em valor que se valorizou cinco vezes menos que o baseado em momento. O índice de dividendos também perdeu do índice diversificado e se valorizou apenas 285,6% nas três décadas.

Quando avaliamos os últimos dez anos, esta classificação não muda e isso pode ser visto no gráfico abaixo.

Evolução nos últimos dez anos de um investimento com base 100 nos índices MSCI World Momentum Index (linha verde), MSCI World Index (linha azul), MSCI World High Dividend Yield Index (linha laranja) e MSCI World Value Index (linha vermelha). Fonte: Bloomberg

A ordem dos retornos também não muda quando se utilizam os índices produzidos pela MSCI e que englobam além dos 23 países desenvolvidos, mais 26 países emergentes.

A tabela abaixo mostra que nos últimos dez anos a estratégia Momento se sobressaiu.

Tabela com retornos anualizados, risco e retorno ajustado ao risco (índice Sharpe) dos índices citados. Fonte: www.msci.com

Risco

O risco pode ser observado de duas formas. A primeira é pela volatilidade ou dispersão dos retornos ocorridos no passado. Outra forma de entender qual estratégia apresentou maior risco é avaliar o comportamento nas crises.

Na tabela acima podemos verificar estas duas formas.

A estratégia que apresentou a pior volatilidade, ou seja, o maior risco em dez anos foi a estratégia Valor. A estratégia Dividendos não foi a que apresentou o menor risco. Esse acabou ficando com a estratégia Momento.

No caso da queda em crises, a estratégia Valor também foi aquela que apresentou a maior desvalorização no período da Pandemia quando se avalia desde 17 de fevereiro até o dia 08 de maio.

Retorno ajustado ao risco

Um investimento pode apresentar um excelente resultado. No entanto, se este resultado foi alcançado ao custo de um risco muito elevado, o investimento pode se mostrar desfavorável a outros quando se considera este risco.

O índice Sharpe mede a razão do retorno por unidade de risco. Este é um dos principais índices para realizar classificação de desempenho ajustado ao risco.

Quando se considera o índice Sharpe, a melhor estratégia foi a Momento. Ao contrário do pensamento comum, a estratégia Dividendos foi a que apresentou a pior relação de retorno por risco na última década.

O objetivo aqui não é provar que alguma estratégia é melhor que a outra, mas apenas dois pontos. Primeiro, esclarecer mitos com relação a determinadas estratégias terem melhor resultado ou menor risco. Segundo, reforçar o ensinamento de Graham em seu livro – Investidor Inteligente – sobre a importância da diversificação, pois, mesmo com a mais profunda avaliação, existe possibilidade de desapontamento de performance no futuro.

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Buffett surpreende e alerta investidores em sua reunião anual https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/05/03/buffett-surpreende-e-alerta-investidores-em-sua-reuniao-anual/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/05/03/buffett-surpreende-e-alerta-investidores-em-sua-reuniao-anual/#respond Sun, 03 May 2020 05:30:46 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/05/Warren-Buffett-ensina-em-sua-reunião-anual-Rick-Wilking-Reuters.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2157 Uma tradição de décadas foi quebrada neste ano. Investidores chegam a comprar pelo menos uma ação da empresa Berkshire Hathaway para poderem participar da reunião anual presidida por Warren Buffett que ocorre presencialmente na cidade de Omaha nos EUA. A reunião de quatro horas de duração ocorreu apenas de forma online neste sábado pela noite. Comento alguns pontos desta aula de um dos mais bem sucedidos investidores do mundo.

Mensagem

Em seu discurso inicial, Buffett dispendeu grande parte do tempo para dar duas mensagens. Uma delas ele frisou por duas vezes, em seus poucos slides utilizados na apresentação, e foi repetida nas entrelinhas durantes suas respostas às perguntas:

“Never, ever, bet against America” (“Nunca, nunca, aposte contra os EUA”).

Para defender esta afirmação, o mega investidor de 89 anos descreveu os percalços que o país passou ao longo de sua história e como o país se ajustou para superá-los.

Acreditando em uma adaptação a este período de pandemia é que Buffett faz a segunda afirmação. Segundo ele, o período atual é um excelente momento para comprar ações e que estas devem desempenhar melhor que os títulos do governo americano. No entanto, ele não recomenda que investidores comprem diretamente as ações pelo risco envolvido.

Alerta

Apesar de seu aparente otimismo, suas operações recentes e resposta a algumas perguntas demonstram uma cautela que deve ser considerada pelos investidores.

Demonstrando esta cautela ele destaca que sua visão positiva no investimento em ações deve considerar um prazo de vinte anos. Por meio de uma analogia, Buffett ensina que se deve investir em ações da mesma forma que se investiria em uma fazenda. Ou seja, não se deve olhar para o preço da terra no curto prazo, mas apenas o que esta terra vai gerar nos anos futuros.

Segundo ele, não é possível saber o que vai ocorrer com o mercado no próximo mês ou ano, mas sua convicção positiva reside apenas no longo prazo.

Dois fatos adicionais do portfólio da Berkshire refletem sua precaução. Primeiro, seu portfólio se encontra com o valor máximo histórico em caixa. Buffett argumenta que esta posição sempre foi grande para poder aproveitar oportunidades de aquisição a preços baixos.

No entanto, em vez de comprar mais ativos quando o mercado atingiu sua mínima nestes dois meses, ele vendeu.

No final do ano, ele tinha uma posição de quase US$10 bilhões em quatro empresas aéreas americanas. Pelas consequências da crise, estas ações caíram mais de 50% e foi no pior momento que Buffett se desfez de sua participação.

A justificativa para esta atitude foi que ele acredita que pessoas e empresas irão mudar seus comportamentos de viagem e isto se refletirá negativamente para o setor. Embora pareça uma atitude impensada, é uma importante lição para aqueles que fazem investimentos diretos em ações.

Não se deve segurar um investimento com prejuízo torcendo que ele volte para o preço inicial, se a perspectiva mudar para negativa. Avalie o que você poderia fazer melhor com o recurso e recupere o valor perdido com este novo investimento.

Críticas ao Desempenho

Acionistas não se intimidaram em criticar o desempenho recente de Buffett.

Apesar do histórico excelente ao longo de 55 anos na gestão dos recursos por meio da Berkshire, recentemente, o desempenho não tem correspondidos às expectativas. O retorno de 10% acima do S&P500 alcançado ao longo de toda a história poderia ser maior, não fosse os últimos anos.

O retorno acumulado da Berkshire nos últimos cinco anos, encerrados na última sexta-feira, perde do índice da bolsa americana S&P500. O próprio Buffett recomenda o investimento neste índice como uma das melhores formas de investimento de longo prazo.

Buffett argumenta a dificuldade para bater no curto prazo um índice diversificado como o S&P500. Segundo ele, o tamanho de seu portfólio, que é de mais de meio trilhão de dólares de ativos dificulta esta tarefa.
Estes são dois importantes ensinamentos. Primeiro, mesmo excelentes gestores podem ir mal em períodos mais curtos de tempo. Segundo, o tamanho do portfólio é uma característica que pode prejudicar o retorno. Por isso, muitos gestores fecham seus fundos para captação.

No ano de 2020, as ações da Berkshire se desvalorizam 19,3% contra uma perda de apenas 12,3% do S&P500. Abaixo mostro o desempenho das principais ações de sua carteira de ativos negociados em bolsa. Esta carteira representa cerca de um terço do total de ativos da Berkshire.

Carteira com as principais participações em ações negociadas em bolsa da Berkshire Hathaway. As ações grifadas em amarelo foram vendidas em abril. Fonte: CNBC e Bloomberg.

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Carta de Warren Buffett surpreende investidores, descubra https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/02/23/carta-de-warren-buffett-surpreende-investidores-descubra/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/02/23/carta-de-warren-buffett-surpreende-investidores-descubra/#respond Sun, 23 Feb 2020 05:30:00 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/buffet-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2085 Os movimentos e ensinamentos de Warren Buffett são acompanhados por investidores pelo mundo. Essa tietagem é justificada. Ele foi capaz de transformar o investimento de USD$ 1 mil em USD$ 27,4 milhões, enquanto o mesmo investimento no principal índice americano se transformou em apenas USD$ 198,8 mil. Você pode ter acesso exclusivo à carta divulgada neste sábado no link, mas comento abaixo três pontos extraídos dela.

O poder dos lucros retidos

Quem acha que Buffett é um adorador dos dividendos se engana. Ele não valoriza o pagamento como muitos. Sua empresa, por exemplo, não paga dividendos.

Para justificar essa visão ele dedicou boa parte de sua carta, divulgada ontem. Com esse objetivo, ele citou o livro “Common Stocks as Long Term Investments” e seu autor Edgar Lawrence Smith.

Smith descreve no livro a superioridade do desempenho de ações em relação aos títulos de renda fixa e compara os lucros retidos pelas empresas e reinvestidos aos juros compostos que se obtém nas aplicações de renda fixa.

Ao contrário dos aficionados em dividendos, Buffett acredita que os investidores podem alavancar seus retornos se a empresa investir seus lucros na expansão dos negócios, na melhoria da eficiência ou, se for o caso, na recompra de ações.

Ainda há espaço para comprar ações?

Depois de vários anos de alta, muitos investidores que não aproveitaram a valorização do mercado se debatem com a dúvida se ainda há espaço para entrarem. Os que já ganharam, também perdem o sono com o receio se não deveriam realizar seus lucros.

Para ambos investidores, Buffett expressa sua opinião:

“Anything can happen to stock prices tomorrow. Occasionally, there will be major drops in the market, perhaps of 50% magnitude or even greater. But the combination of The American Tailwind, about which I wrote last year, and the compounding wonders described by Mr. Smith, will make equities the much better long-term choice for the individual who does not use borrowed money and who can control his or her emotions.”

(“Tudo pode acontecer com os preços das ações amanhã. Ocasionalmente, haverá grandes quedas no mercado, talvez com magnitude de 50% ou até maior. Mas a combinação do vento americano a favor, sobre a qual escrevi no ano passado, e as maravilhas dos juros compostos descritas pelo Sr. Smith, tornará o mercado acionário a melhor escolha a longo prazo para o indivíduo que não usa dinheiro emprestado e que controla suas emoções.”)

Avaliação do desempenho de Buffett

Se separarmos como as ações da empresa de Buffett, a Berkshire, se comportou ao longo dos anos, podemos refletir sobre uma importante conclusão de alguns estudos acadêmicos.

O resultado anual das ações da Berkshire e do principal índice de ações americano é apresentado na primeira página de sua carta.

Apresento a diferença média de retorno anual entre estes dois abaixo.

Ganho médio anual das ações da Berkshire acima do principal índice de ações americano (S&P500). Fonte: Carta da Berkshire

Nos 54 anos de existência, a Berkshire apresentou desempenho médio de 14,72% ao ano acima do S&P500. No entanto, claramente, esse resultado superior foi impulsionado nos primeiros 25 anos.

Nos últimos trinta anos, a média de retorno em excesso anual ao S&P500 foi de apenas 6,91%. No entanto, na última década o resultado superou o índice amplo em apenas 2,17% ao ano.

A redução do desempenho levanta questionamentos sobre a capacidade de obter bons resultados com o tamanho do patrimônio administrado. Estudos acadêmicos apontam que gestores pioram seus resultados quando crescem, devido à redução de velocidade de movimentar recursos e a incapacidade de encontrar oportunidades que promovam ganhos representativos.

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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