De grão em grão https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br Como cuidar do seu dinheiro, poupar e planejar o futuro Sun, 05 Dec 2021 09:31:02 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Descubra se você é reflexivo ou impulsivo nas decisões de investimentos https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/12/05/descubra-se-voce-e-reflexivo-ou-impulsivo-nas-decisoes-de-investimentos/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/12/05/descubra-se-voce-e-reflexivo-ou-impulsivo-nas-decisoes-de-investimentos/#respond Sun, 05 Dec 2021 05:30:26 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/sem-cabeca-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2850 Quando o assunto é investimento, tendemos a achar que nossas decisões são muito bem refletidas. Mas será que isso é realmente o que ocorre?

A forma como você aborda tarefas pode explicar sua propensão a cair em armadilhas nos investimentos. Estas armadilhas ocorrem pelos vieses financeiros que, usualmente, tendemos a seguir. Complete o pequeno teste abaixo e explico em seguida o que ele representa.

Responda às três questões:

1- Uma bola e um bastão custam juntos R$1,10. O bastão custa R$1 a mais que a bola. Quanto custa a bola?
2- Numa corrida, se você passa o segundo colocado, em que lugar está?
3- Se 5 máquinas levam 5 minutos para produzirem 5 aparelhos, quanto tempo leva para 100 máquinas produzirem 100 aparelhos?

Esse teste é conhecido como Teste de Reflexo Cognitivo (TRC). Parece bem simples, mas este teste foi usado no trabalho de Shane Frederick, intitulado Cognitive reflection and decision making e publicado no Journal of Economic Perspectives em 2005.

De fato, a segunda questão foi extraída do trabalho de Maggie Toplak e outros de 2011. Usei esta questão, pois a achei mais interessante e seguindo a dica do Prêmio Nobel Daniel Kahneman, que foi o criador da primeira questão.

O teste parece simples, mas como descreve Frederick em seu artigo, seu resultado em avaliar o nível cognitivo dos respondentes é poderoso. Esse teste mede sua tendência ou habilidade de escapar de uma resposta intuitiva, mas errada, para se comprometer em refletir cuidadosamente sobre a resposta.

Muitas pessoas diante de decisões financeiras acabam por agir impulsivamente, acreditando que seguir a intuição é a melhor resposta. Entretanto, uma análise e reflexão apurada sobre o problema poderiam gerar uma resposta diferente e possivelmente com melhores resultados.

Vamos analisar as questões.

Na primeira questão, intuitivamente, a maioria tende a responder que a bola custa R$0,10. Mas neste caso, o bastão custaria R$1,10, pois ele custa R$1 a mais que a bola. Esta soma resulta em R$1,20 e não em R$1,10 como descreve o problema. A resposta correta seria dizer que a bola custa R$0,05, pois neste caso o bastão custaria R$1,05 e a soma estaria correta.

Para o segundo problema, a intuição te leva a responder que você estaria em primeiro. No entanto, se você passa o segundo, agora você passa a ocupar a colocação deste, ou seja, o segundo lugar.

O impulso nos leva a dizer que levariam 100 minutos para produzir os 100 aparelhos, mas perceba que cada máquina leva 5 minutos para fazer um aparelho. Portanto, se existem 100 máquinas, em 5 minutos, elas irão produzir os 100 aparelhos.

Não se sinta mal se não acertou as respostas. Na pesquisa de Frederick, vários estudantes das prestigiadas universidades Harvard, MIT e Princeton também alcançaram baixos níveis de acertos.

O importante é alertar se talvez você esteja se deixando levar por respostas fáceis quando enfrenta suas decisões e assim caindo nos reconhecidos vieses comportamentais.

O mais adequado nas decisões de investimentos é evitarmos o impulso da resposta intuitiva e pararmos para refletir cuidadosamente sobre cada cenário e potenciais vieses que podemos estar enfrentando.

 

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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Essa é uma das maiores ilusões de investidores iniciantes https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/04/04/essa-e-uma-das-maiores-ilusoes-de-investidores-iniciantes/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2021/04/04/essa-e-uma-das-maiores-ilusoes-de-investidores-iniciantes/#respond Sun, 04 Apr 2021 05:30:24 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/Michael-Nagle-Xinhua-operador-de-bolsa-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2530 Na última semana, eu e minha esposa discutimos fazer uma pequena renovação de cenário aqui em casa. Há um ano participando de conferências e reuniões online, decidimos por mudar o cenário nas paredes. Compramos alguns rolos de papel de parede e painel com paisagem.

A princípio, assisti a alguns vídeos no Youtube e logo conclui, eu posso fazer isso. Entretanto, decidimos por contratar um especialista para fazer a instalação.

Durante a aplicação, o instalador – Adilson – ainda me questionou. “Você não olhou o Youtube e tentou fazer”? Abri um sorriso surpreso e confessei que se não fosse pela minha esposa, teria eu mesmo feito.

Ao ver a instalação ao vivo e todo o material utilizado, entendi que se eu tivesse tentado, apenas por sorte, teria conseguido realizar o trabalho com a mesma qualidade, no mesmo tempo e com o mesmo material. Os rolos de papel foram a conta exata e tudo foi realizado em uma manhã sem desperdício ou acidente.

Muitos quando iniciam seus investimentos, fazem o mesmo. Assistem a alguns vídeos nas mídias sociais e, como eu com o papel de parede, logo concluem, eu posso fazer isso.

Muito antes de mim, dois pesquisadores já perceberam esta ilusão que carregamos. David Dunning e Justin Kruger concluíram que quanto menos sabemos, mais acreditamos que somos especialistas.

Conhecido como efeito Dunning-Kruger, o fenômeno foi publicado em 1999 no trabalho dos mesmos autores com o título “Unskilled and Unaware of It: How Difficulties in Recognizing One’s Own Incompetence Lead to Inflated Self-Assessments” (Inábil e inconsciente disso: como as dificuldades em reconhecer sua própria incompetência o levam a superestimar suas habilidades).

Curiosamente, o estudo teve como ponto de partida o fracassado roubo ao banco por McArthur Wheeler em 1995 nos EUA. Espantosamente, Wheeler não usou qualquer máscara para cobrir o rosto durante os dois assaltos que cometeu e foi preso uma hora depois. Ele estava incrédulo sobre como os investigadores chegaram até ele. Para ele, o fato de cobrir o rosto com suco de limão, o deixava invisível às câmeras.

Segundo Dunning e Kruger:
“…when people are incompetent in the strategies they adopt to achieve success and satisfaction, they suffer a dual burden: Not only do they reach erroneous conclusions and make unfortunate choices, but their incompetence robs them of the ability to realize it” (quando as pessoas são incompetentes nas estratégias que adotam para alcançar o sucesso e a satisfação, elas sofrem um duplo fardo: não apenas chegam a conclusões errôneas e fazem escolhas infelizes, mas sua incompetência lhes rouba a capacidade de realizá-lo).

Em investimentos, é comum ver pessoas que acabaram de iniciar os investimentos e já acreditam serem capazes de elas próprias fazerem a gestão de carteiras de investimentos com ações e derivativos. Vídeos nas mídias sociais os levam a acreditar que podem viver de renda apenas fazendo day trade ou swing trade com uma estratégia “infalível”.

Com certeza você já ouviu falar de estudos que mostram como a maioria dos gestores profissionais perdem de índices de referência como o Ibovespa ou o CDI. Muitos sabem destas estatísticas, mas ainda acreditam que eles próprios conseguem fazer o que equipes com mais informação e experiência têm dificuldade.

Comprar ações é muito simples. Acredito que é ainda mais simples que instalar papel de parede. No entanto, montar uma carteira com rentabilidade maior que o índice e com menor risco não é fácil.

Não quero dizer que você não possa escolher os ativos que vão compor sua carteira, mas cuidado para não ser mais uma estatística dos pesquisadores Dunning e Kruger.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Veja se você também está cometendo este erro https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/08/30/veja-se-voce-tambem-esta-cometendo-este-erro/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2020/08/30/veja-se-voce-tambem-esta-cometendo-este-erro/#respond Sun, 30 Aug 2020 05:30:39 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/gargula-bern-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=2291 Você já parou para refletir se escolhe seus investimentos da mesma forma que decide sobre seus hábitos de compra?

Neste fim de semana, enquanto estava passando pelos canais, parei no exato momento em que o programa de reformas de residências – Irmãos à Obra – mostrava a escolha de item de decoração por um casal. Percebi logo a relação da forma de decisão deles com um comportamento financeiro comum aos investidores.

Um dos irmãos mostrava alternativas de piso para a residência. Primeiro ele mostrou um tipo de revestimento e deu as seguintes características: o piso é mais barato, possui maior durabilidade, mais rápido para instalar e menor custo de manutenção.

Em seguida, ele mostrou a segunda alternativa e mencionou que aquela era a tradicional. No entanto, era mais cara, com menor durabilidade, maior trabalho para instalar e maior custo de manutenção.

Ainda para tentar trazer o casal para a razão, ele mencionou que a primeira opção possuía as mesmas características térmicas.

O casal segurou as duas alternativas em suas mãos e confirmou que a primeira opção era ótima. Para mim que estava assistindo, a decisão parecia clara. No entanto, me surpreendi com a decisão pela segunda alternativa.

O que você acha que o casal usou como argumento?

O casal falou: “a primeira alternativa é muito boa, mas nós somos conservadores e tradicionais. Portanto, vamos ficar com a segunda opção.”

Assistindo ao programa, talvez você também se surpreendesse, mas será que você também está usando o mesmo argumento nas suas decisões de investimentos?

Somos, constantemente, bombardeados com propagandas de investimentos desfavoráveis que acabam ganhando o estigma de tradicionais e conservadores, simplesmente, porque os conhecemos mais.
Por exemplo, ouvimos tanto falar em caderneta de poupança, que muitos acreditam que ele é o investimento mais seguro e que rende mais. Vários investidores acabam por decidir por ela seguindo o viés financeiro conhecido como viés da familiaridade.

Este foi o mesmo viés que fez o casal decidir pelo segundo piso.

Empresas usam esta estratégia conosco e poucos percebem. Elas fazem isso nos bombardeando com propagandas de seus produtos e marcas.

Ao vermos um produto ou marca por várias vezes, eles se tornam familiares. Quando vamos ao supermercado, acabamos optando pela marca estamos acostumados a ver na TV, mesmo que o preço seja mais caro e que o produto não tenha diferenciação.

Nos convencemos que é a melhor decisão, porém, de fato ela nos é apenas familiar.

Você, naturalmente, já pensou que investir por meio de seu banco é mais seguro, mesmo quando o investimento é no mesmo produto distribuído por outras corretoras. A proximidade, cultivada ao longo de vários anos e o fato de sermos expostos a várias propagandas, causa esta sensação.
Quantas vezes você já decidiu sobre um investimento porque ele parecia familiar? Por exemplo, quantas vezes pensou em comprar as ações da empresa na qual trabalha?

A proximidade por trabalharmos na empresa, nos faz perceber um menor risco em suas ações e costumamos superestimar o potencial de ganho com as ações da empresa na qual trabalhamos.

Racionalmente, ninguém deveria investir ativamente nas ações da empresa na qual trabalha.

Você já investe passivamente nestas ações um percentual relevante de seu patrimônio. Por exemplo, se você ganha R$ 100 mil por ano de salário e as ações da empresa que trabalha pagam uma taxa de dividendos (dividend yield, em inglês) de 3% ao ano, então seu emprego equivale a um comprometimento de mais de R$ 3,3 milhões (=100 mil/ 3%) nas ações desta empresa. Se você ganha bônus por participação nos resultados, então o investimento passivo pode ser ainda maior.

Vários empregados e pensionistas da Enron sentiram esse risco na pele. Quando a empresa quebrou, não só eles perderam seus empregos, como também seus investimentos.

Portanto, o benefício da diversificação nos recomenda não investir nas ações das empresas para a qual trabalhamos.

Um viés relacionado ao da familiaridade é o chamado home bias, ou seja, viés doméstico. Concentramos os investimentos de risco em nosso país.

A grande maioria dos brasileiros que envia recursos para o exterior investe em empresas brasileiras, seja em títulos de renda fixa ou em ações destas.

Somos, erroneamente, levados a acreditar que investimentos no exterior são mais arriscados. De fato, é o contrário. A diversificação internacional, seja em ações e em renda fixa, é a forma mais adequada de melhorar o balanço de retorno e risco de seu portfólio.

Da próxima vez que escolher um investimento, reflita se sua escolha está sendo influenciada pelo efeito da familiaridade. Assim, poderá tomar decisões, racionalmente, mais adequadas.

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Quatro motivos para não iniciar uma poupança para seu filho https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2019/05/05/quatro-motivos-para-nao-iniciar-uma-poupanca-para-seu-filho/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2019/05/05/quatro-motivos-para-nao-iniciar-uma-poupanca-para-seu-filho/#respond Sun, 05 May 2019 05:30:34 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/Para-passar-mais-tempo-com-os-filhos-é-preciso-repensar-valores-em-termos-coletivos-e-pessoais-Fotolia-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=1682 Você provavelmente já pensou em iniciar uma poupança para seus filhos ou sobrinhos. Dentre as razões para isso, está o fato de desejarmos separar esta aplicação da nossa individual e manter o controle dela. Embora pareça um comportamento coerente, explico abaixo por que você não deveria iniciá-lo.

O prêmio Nobel em economia, Richard Thaler, alerta sobre um viés comportamental que nos aflige, chamado de contabilidade mental. Este viés financeiro é um dos motivos que leva pais a iniciarem uma poupança para seus filhos.

O viés da contabilidade mental ocorre quando para facilitar e manter controle de decisões de consumo e investimentos, separamos estes em contas segregadas. Parece uma decisão racional se a avaliarmos separadamente, mas quando olhada de forma agregada, percebe-se a irracionalidade da decisão.

Antes de explicar os custos e ineficiências desta decisão, comento mais uma razão para fazermos a aplicação para as crianças. Também queremos fazer algo que não tivemos de nossos pais.

Acho que todos já devem ter feito a conta simples de juros compostos:

“Se meu pai tivesse poupado o equivalente a R$ 500 mensais, aplicando em investimentos que remuneram a taxa similar à do CDI, desde meu nascimento, quando eu tivesse completado 30 anos, eu teria mais de R$1 milhão, principalmente, pois os juros eram maiores no passado”.

Esse parece um argumento quase imbatível para você fazer pelo seu filho o que seu pai não fez por você. No entanto, esta é apenas uma desculpa para você adiar uma obrigação sua ainda maior.

 

Coloque a máscara primeiro em você, depois na criança ao seu lado.

Se você já viajou de avião, provavelmente, já ouviu a frase acima. Parece uma atitude egoísta, mas há uma razão para você tentar se salvar primeiro. Em caso de despressurização de uma aeronave, a falta de oxigênio poderia nos fazer desmaiar em alguns segundos. Se o adulto fosse tentar salvar a criança primeiro, ele poderia desmaiar e não conseguir completar seu objetivo.

Portanto, se o adulto estiver salvo, haverá maiores chances de a criança ser salva.

Analogamente, nos investimentos, primeiro você deveria completar seu objetivo financeiro.

Todos possuímos compromissos financeiros de curto, médio e longo prazo. A grande maioria das pessoas não consegue nem cumprir as obrigações de curto prazo e ainda estão endividadas com hipotecas, financiamentos de automóvel e viagem, dentre outros.

Desviar parte de sua renda para uma poupança para seu filho, pode comprometer a poupança para sua aposentadoria. A previdência é sua maior dívida de longo prazo. Sim ela é uma dívida e será cobrada com juros quando você chegar na maturidade. Postergamos seu pagamento, criando desculpas como tentar atingir metas que, em tese, parecem mais nobres, mas que na verdade, a razão é que são mais fáceis. Uma delas é poupar para os filhos.

Colocar o interesse de seu filho na frente do seu, parece uma atitude generosa. No entanto, essa é apenas uma desculpa, pois a poupança das crianças é mais fácil que a nossa, já que o valor a ser guardado é menor e não há uma obrigação como cobrir seu deficit previdenciário.

De fato, seria muito bom planejar o futuro financeiro de seu filho, mas este deveria estar integrado ao seu e vir como meta secundária, tendo as suas metas como alvo principal. Adiar sua meta, que é mais difícil, para cumprir a do seu filho é um péssimo exemplo a deixar para ele e abordarei isso mais a frente.

Se você se salvar primeiro, estará em muito melhor condição de salvar o futuro financeiro de seus filhos. Portanto, planeje seus objetivos monetários em primeiro lugar. Mas mesmo depois de os atingir, ainda assim há razões para não criar uma poupança separada para seu filho.

 

Ineficiência na diversificação das aplicações.

Quando iniciamos o projeto de investir, o montante não é suficiente para dividir em várias aplicações. Portanto, perdemos o benefício de melhorar o balanço entre retorno e risco.

Adicionalmente, quando o valor investido é baixo, temos menos acesso a alternativas de maior rentabilidade.

Portanto, quando criamos de forma segregada a poupança para as crianças, perdemos vantagens em redução de risco e elevação de retorno, logo o portfólio delas será ineficiente perante ao nosso.

Muitos preferem investir pior, para manter a conta apartada. Esse é o comportamento irracional que Thaler denominou de contabilidade mental e que abordamos anteriormente.

A solução seria unir o planejamento de seu sobrinho ou filho ao seu e considerar qual percentual de seu portfólio seria dele.

Também quando o valor em aplicações é baixo, acabamos com produtos de maior custo. Este é mais um motivo para não criar uma conta separada para seu filho ou sobrinho.

 

Custos de controle e tarifas mais elevadas.

A conta separada estará sujeita a produtos com maior custo e a tarifas bancárias que poderiam ser reduzidas ou eliminadas caso você investisse conjuntamente.

Mas há um custo ainda maior, o de controle. Lembre que uma conta adicional é mais um elemento que vai ter de dispor na declaração de imposto de renda e, periodicamente, monitorar e rebalancear.

O custo de controle parece desprezível quando iniciamos, pois estamos empolgados com o desejo de salvar o futuro financeiro dos pequenos entes queridos. Mas passada a empolgação, a rotina maçante de acompanhamento cobra seu preço e a conta deles é largada.

Na maioria das vezes quase não sobra tempo para acompanhar, estudar e tomar decisões sobre seu próprio portfólio. Adicionar um outro portfólio, que deve investir em produtos diferentes devido ao montante, é muito caro para seu reduzido tempo.

 

Você educa pelo exemplo.

Lembro que quando pequeno, meu pai criou uma poupança para mim e meus irmãos. Recordo que uma das razões era nos ensinar a poupar. Tinha grandes expectativas. Lógico que meus sonhos na época se resumiam a compra de brinquedos.

Confesso que anos depois, quando fomos sacar os recursos, foi uma decepção. O dinheiro não era suficiente nem para comprar o tão sonhado autorama. Se fosse tomar a experiência como educação financeira, eu provavelmente não atribuiria valor algum ao ato de poupar.

Mostre para seu filho que você vai alcançar sua independência financeira, pois criou um planejamento e tem cumprido disciplinadamente suas metas. Convide ele para abdicar de algum presente e investir junto com você, demonstrando que ele vai aplicar melhor se for em conjunto.

Se criar uma poupança para seu filho em uma conta separada dele, pode ter certeza, como ele não passou pelo aprendizado da dificuldade de abdicar do consumo imediato para investir, ele vai comprar um automóvel ou vai gastar todo o dinheiro assim que tiver idade suficiente para ter autonomia sobre a conta.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Estes quatro comportamentos financeiros podem te custar uma fortuna https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2019/04/28/estes-quatro-comportamentos-financeiros-podem-te-custar-uma-fortuna/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2019/04/28/estes-quatro-comportamentos-financeiros-podem-te-custar-uma-fortuna/#respond Sun, 28 Apr 2019 05:30:44 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/Foto-de-orcamento-Fotolia-320x213.jpg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=1675 Quase sem perceber, nos comportamos de forma irracional e isso pode gerar prejuízos ou comprometer ganhos, que acabam por custar uma fortuna se repetidos ao longo do tempo.

Estes comportamentos podem, de forma geral, ser subdivididos em dois tipos: emocionais e cognitivos. Neste texto falaremos apenas do último e abordaremos o anterior no futuro. Os vieses cognitivos estão relacionados a falhas estatísticas, de interpretação e de processamento das informações. Por isso, pesquisadores afirmam que são mais facilmente corrigidas.

Os vieses cognitivos podem ser segregados em duas categorias gerais. A primeira agrupa os vieses relacionados à perseverança de uma crença, ou seja, a tendência que muitos têm de se apegar a uma convicção pré concebida que é irracional ou ilógica.

A segunda categoria agrega os vieses relativos a falhas no processamento das informações, ou seja, como os investidores se utilizam de dados para tomar decisões financeiramente irracionais.

Abordaremos dois vieses da primeira categoria cognitiva e em seguida, dois do segundo tipo.

 

Viés da confirmação

Quando construímos nosso portfólio, levamos em consideração um cenário base. Esse portfólio deve ser constantemente monitorado, juntamente com o cenário, para avaliar se os dois ainda estão coerentes com as mudanças econômicas e corporativas.

O problema ocorre quando pré selecionamos as informações que acompanhamos em jornais, de forma a só ler aquelas que confirmam nosso cenário anterior, desconsiderando as demais que poderiam por em risco os ativos em carteira que pudessem gerar novas ideias de investimentos mas que não estão alinhadas com o pensamento inicial.

As consequências deste viés podem ser graves para a rentabilidade de seu portfólio.

Pessoas que caem na armadilha deste viés tendem a ter pouca diversificação, pois concentram em ativos alinhados à visão inicial e ignoram bons investimentos que não estão alinhados a ele, mas que poderiam ser rentáveis com as novas notícias que foram desconsideradas por não estarem em acordo com o pensamento anterior.

Pessoas que caem neste viés também tendem a ter o portfólio concentrado em ações da empresa em que trabalham. E costumam manter as ações mesmo quando novas informações apontam para perdas na empresa, pois desconsideram estes novos dados.

Vários funcionários da Enron perderam significativas parcelas de seu patrimônio, pois seguiram comprando as ações em sua derrocada. Desconfio que o mesmo ocorreu com funcionários e investidores de empresas brasileiras como Saraiva, Gafisa, PDG, BR Pharma, Eternit, Inepar, Lupatech, MMX, Oi, OGX, dentre outras.

 

Viés do retrospecto

Os investidores que são atraídos por este comportamento avaliam os eventos passados como mais facilmente previsíveis e razoáveis, ou seja, são resultados evidentes. Ou seja, depois que passado o fato, tendemos a superavaliar nossa capacidade de previsão e conhecimento quando avaliamos a decisão de investimento.

Por estarem confortáveis com sua capacidade de previsão, estes investidores têm uma falsa sensação de confiança e, portanto, concentram sua carteira em determinados ativos e acabam por subestimar os riscos destes.

Os analistas técnicos ou grafistas – aqueles que avaliam gráficos de ações para tomar decisão de compra e venda – habitualmente caem nesta armadilha, pois quando analisam o gráfico passado, costumam superestimar sua capacidade de previsão do momento passado.

 

Framing (ou enquadramento)

Neste viés os aplicadores tendem a tomar suas decisões de investimento de acordo com a forma como as informações são apresentadas.

Os pesquisadores comportamentais Amos Tversky e Daniel Kahneman avaliaram este viés e detectaram como as pessoas caem nesta armadilha. Um dos testes empregados por eles foi o abaixo. Escolha uma resposta nas duas decisões para um investimento.

Decisão 1 – Escolha entre as duas alternativas para uma aplicação que produz:

  • A – um ganho certo $250.
  • B – 25% de chance to ganhar $1000 e 75% de chance de não ganhar nada.

 

Decisão 2 – Escolha entre as duas alternativas para uma aplicação que produz:

  • C – uma perda certa de $750.
  • D – 75% chance de perder $1000 e 25% de chance não perder nada.

 

Em geral, a grande maioria das pessoas escolhe as alternativas A e D. O que contradiz, pois estaria se comportando diferentemente na perda e no ganho. O retorno esperado das alternativas na primeira decisão são os mesmos, mas a alternativa B tem mais risco. O mesmo ocorre na Decisão 2. Portanto, para um investidor avesso ao risco, a resposta adequada seria A e C.

O mesmo problema pode ocorrer quando alternativas de investimento podem ser apresentadas por instituições financeiras. Por exemplo, qual das duas alternativas abaixo parece mais atrativa?

  • A – Retorno esperado de 10%, mas com 95% de probabilidade de que o retorno esteja entre (-20% e +40%).
  • B – Retorno esperado de 10%, mas com 16% de desvio padrão.

 

Muitos aplicadores tendem a escolher a segunda opção. No entanto, a primeira deveria ser preferida. Seguindo uma distribuição Normal, um investimento com retorno esperado de 10% e 16% de desvio padrão, tem 95% de probabilidade de que o retorno esteja entre (-22% e +42%). Portanto, mais arriscado.

Uma séria consequência de não processar as informações adequadamente, caindo na armadilha do framing, é não identificar apropriadamente o perfil de risco das aplicações e adotar posições mais arriscadas em momentos que mais se perderia.

 

Viés da disponibilidade

Tendemos a atribuir uma probabilidade maior aos eventos que lembramos de forma mais fácil, ou seja, que estejam mais disponíveis. Assim, informações que vimos recentemente acabam ganhando maior chance em nossa escolha.

Assim, muitos investidores são levados pela propaganda na escolha de ativos e aplicações. Por exemplo, um gestor de fundo de investimento que faça muita propaganda ou esteja constantemente em mídias sociais pode ser preferido a outro que não o faça, mesmo que este último seja melhor e o primeiro não seja adequado em termos de risco ao investidor.

Um aplicador que não tenha tido experiências positivas com um tipo de investimento e tenha tido boa experiência com outro recentemente, pode preferir o último mesmo que ele não seja adequado em termos de risco e que o primeiro seja preferido considerando o cenário e as alternativas recentes.

Portanto, ao avaliar aplicações é necessário seguir um processo rigoroso que considere pesquisa extensa e tomar cuidado para não se levar por propagandas recentes.

 

A atenção a estes comportamentos na escolha de seus investimentos vai fazer com que construa portfólios com um melhor balanço de retorno e risco, evitando-se perdas desnecessárias.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Cinco alertas antes de contratar um robô trader https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2018/08/26/cinco-alertas-antes-de-contratar-um-robo-trader/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2018/08/26/cinco-alertas-antes-de-contratar-um-robo-trader/#respond Sun, 26 Aug 2018 15:04:40 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/Paulo-Whitaker-Reuters-320x213.jpeg https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=1289 O mercado financeiro sofreu grande transformação nas últimas duas décadas com o avanço da tecnologia. Além da popularização do acesso aos investidores, os custos de negociação ficaram mais baratos e a velocidade e quantidade de operações cresceram exponencialmente.

Qualquer pessoa com celular tem acesso a uma plataforma de negociação nos mercados de ações e de derivativos que antes só estavam disponíveis a operadores em grandes bancos. Adicionalmente, a evolução nos sistemas permite hoje que simples investidores programem regras de negociação que são realizadas de forma autônoma, ou seja, sem a necessidade de interferência humana.

Diariamente, somos expostos a elevado volume de decisões que causa forte pressão emocional e stress. Portanto, a promessa de que uma máquina poderia nos livrar das decisões financeiras e proporcionar lucros acima da média é irresistível.

Explico abaixo que essa promessa deve ser avaliada com cuidado para não se transformar em um grande prejuízo.

Cuidado com retornos passados atraentes

Todos já assistimos à vídeos surpreendentes em que uma pessoa faz arremesso a uma grande distância e acerta a cesta. Você é uma pessoa inteligente e sabe que para fazer aquele vídeo, foram realizadas inúmeras tentativas e somente a bem-sucedida é apresentada.

Não se engane, a mesma estratégia é empregada para atrair a atenção de investidores que buscam os robôs traders.

Se você testar diferentes metodologias de cálculo, vai encontrar uma que funcionou no passado com probabilidade alta. Basta mostrar alguns gráficos e a possibilidade de ganhos dessas estratégias para despertar o sentimento de ambição de qualquer investidor.

Os acadêmicos chamam esse viés, de “martelar” os dados até que eles “falem” o que queremos, de data snooping.

Para aferir a eficácia de um modelo, não basta verificar quantas vezes ele proporcionou operações com lucro em um determinado período, no passado. São necessários vários testes estatísticos em condições diferentes. Afinal, o futuro, provavelmente, não vai ser uma simples repetição do passado. E isso nos leva a atentar para os perigos de perda.

Risco

Os riscos destes robôs não podem ser relevados.

As propagandas destes sistemas focam apenas nos altos retornos e nas elevadas proporções de acerto, mas lembre-se de investigar com atenção as perdas.

O fato de uma metodologia ter acertado oitenta por cento do tempo no último ano, quer dizer que ela perdeu nos 20% em que determinados eventos ocorreram. Se no futuro, os padrões de preço que levaram a esta participação de perda se repetirem com mais frequência, seu prejuízo pode se acumular e drenar todo seu capital operacional.

Avalie com cuidado a intensidade de perda nos casos negativos e o controle de risco do modelo nos casos de ocorrência.

Atente para os custos

As negociações por meio de algoritmos, normalmente, geram volumes de operações bem acima da média para investidores comuns. Alguns sistemas podem executar mais de mil ordens em um único dia.

Fique atento, quando calcular as possibilidades de retorno, para incluir o correto custo de transação.

Lembre-se, também, de incluir o custo de programação e manutenção da plataforma de operação. As plataformas cobram mensalidades proporcionais à complexidade dos modelos entre R$100 a mais de R$1000.

Avaliação de terceiros

Além da capacidade de gerar lucros, um robô é tão bom quanto mais fiel ele é em executar os comandos programados. Falhas de execução ou interrupções podem produzir sérios prejuízos.

Portanto, é importante analisar as avaliações e reclamações de usuários. Busque nos sítios de reclamação por comentários de descontentamento.

Complexidade dos modelos

Não se iluda. Se apenas uma média móvel dos preços passados de um ativo fosse capaz de produzir ganhos consistentes, as gestoras de recursos demitiriam uma multidão de analistas e gestores. Esses profissionais representam o maior custo para os fundos de investimento. Se pudessem ser trocados por um simples computador, as instituições financeiras já o teriam feito.

De fato, estas instituições estão atentas à evolução tecnológica. Muitas dispendem fortunas na contratação de PhDs, para elaborar e testar complexos modelos, de especialistas em programação, para implementá-los, e em computadores e tecnologia de comunicação, necessários para executar as operações de forma mais rápida e segura. Todo este investimento é preciso, pois, como você, elas sabem que o mercado financeiro é um ambiente altamente competitivo e possibilidades de ganhos fáceis não existem. Adicionalmente, essas instituições, pelo tamanho, possuem acesso a custos de transação diferenciados de investidores comuns.

Não quero dizer que apenas modelos complexos seriam capazes de produzir lucro, mas não existe um modelo simples que vai funcionar para sempre e sem a necessidade de ajustes com frequência.

Cuidado para não cair na falácia do dinheiro fácil, sem esforço e sem risco.

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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O que as surpresas na Copa nos ensinam nos investimentos? https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2018/06/19/o-que-as-surpresas-na-copa-nos-ensinam-nos-investimentos/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2018/06/19/o-que-as-surpresas-na-copa-nos-ensinam-nos-investimentos/#respond Tue, 19 Jun 2018 09:00:29 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Graeme-Souness-do-Liverpool-disputa-a-bola-com-Uli-Stielike-do-Real-Madrid-na-final-em-Paris-em-1981-Dominique-Faget-AFP-320x213.jpg http://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=1158 Neste fim de semana tivemos resultados surpreendentes no Campeonato Mundial de Futebol e que podemos relacionar a comportamentos usuais de investidores quando realizam suas aplicações.
A Alemanha, campeã da última Copa, perdeu para o México. Países favoritos como Argentina e Brasil empataram em seus jogos de abertura. Esses eventos parecem surpreendentes, pois acreditamos que a probabilidade de ocorrerem seria muito baixa. No entanto, o cálculo dessa probabilidade levou em conta apenas eventos recentes, nos quais esses paises ganharam.
Analisando resultados recentes, atribuímos baixa probabilidade a eventos contrários a tendência. O campo de pesquisa de finanças comportamentais constata que estes mesmos torcedores, quando realizam seus investimentos, adotam o mesmo hábito.
Um exemplo desse viés em investimentos foi observado no mês de maio com a forte surpresa na queda de mais de 10% da bolsa de valores medida pelo Ibovespa.
Tendo em vista a recente tendência de alta do mercado de ações até abril de 2018, se perguntássemos a qualquer investidor qual probabilidade atribuiria a uma queda de mais de 5%, provavelmente a resposta seria um número muito baixo.
Da mesma forma, com a recente queda, os investidores começam a atribuir maior probabilidade de quedas nos meses subsequentes.
Responda você, qual probabilidade acredita que a bolsa teria de cair mais de 5% em um mês qualquer?
A) menos de 10%
B) próximo de 20%
C) mais de 25%
Uma forma de estimar essa probabilidade seria olhar para o histórico e contar quantos meses a bolsa caiu mais de 5% em um mês. Em seguida, dividir pelo número de meses total na amostra.
O gráfico abaixo apresenta esse resultado.

Distribuição de probabilidade acumulada dos retornos mensais do índice Ibovespa (Fonte: Quantum).

Somando os retornos mensais do Ibovespa desde janeiro de 1997, temos 257 meses. Desse total, em 46 meses, os retornos do Ibovespa foram piores que -5%. Dividindo 46 por 257, encontramos 17,9%. Portanto, poderíamos dizer que a probabilidade de a bolsa cair em um mês qualquer mais de 5% é de 17,9%, ou seja, a quase 1 em cada 5 meses a bolsa caiu mais de 5%.
Em maio, o Ibovespa caiu 10,87%. Pelo gráfico, podemos estimar que a probabilidade do Ibovespa cair mais de 10% seria de 9%. Para ler o gráfico, basta ver no eixo vertical a probabilidade de ocorrer um retorno mensal para o Ibovespa menor que a rentabilidade apresentada no eixo horizontal.
Devemos ter cuidado para que tendências recentes não nos levem a conclusões erradas sobre as probabilidades dos eventos futuros. Portanto, cuidado para não se contaminar com o negativismo provocado pelo desempenho no curto prazo dos diversos mercados.

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Saiba qual o melhor dia, semana e mês para negociar ações https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2018/04/18/saiba-qual-o-melhor-dia-semana-e-mes-para-negociar-acoes/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2018/04/18/saiba-qual-o-melhor-dia-semana-e-mes-para-negociar-acoes/#respond Wed, 18 Apr 2018 09:00:19 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=999 Segundo a bolsa de valores B3, em março, o número de investidores ativos em março subiu mais de 3% em relação ao mês anterior e mais de 12% em relação ao mesmo mês no ano de 2017. O interesse pelo investimento em bolsa tem crescido com as melhores perspectivas de crescimento econômico e com as baixas taxas de juros. Se você ainda não tem nenhuma exposição no mercado de ações, aposto que está esperando o melhor momento. Abaixo compartilho os resultados das pesquisas acadêmicas sobre o melhor dia da semana, a melhor semana do mês e o melhor mês do ano para entrar no mercado.

Melhor dia
Vamos iniciar com o dia da semana. Estudos apontam que o retorno entre o preço de fechamento da sexta-feira e a última cotação da segunda-feira é o pior dentre os dias da semana. Portanto, comprar no fechamento de sexta-feira e esperar até segunda-feira, em média não se mostra uma boa estratégia. Regularmente, os retornos apresentados na segunda-feira são os piores dentre os outros dias da semana.

A explicação para esse efeito é que surgem muitas notícias negativas durante o fim de semana e o ajuste é realizado em apenas um dia. O efeito segunda-feira foi inicialmente estudado em 1931 por Fields e divulgado na prestigiada Journal of Business. Em 1987, o prêmio Nobel em economia de 2017, Richard Thaler, levanta várias pesquisas que atestam esse efeito.

Vários trabalhos acadêmicos atestam que a segunda-feira é o único dia a apresentar retornos médios negativos. Já a sexta-feira, é aquele que apresenta os melhores retornos positivos. Logo, o primeiro dia útil da semana seria o melhor dia para comprar ações e a sexta-feira seria o melhor para vender.

Melhor semana
Outro efeito interessante é o efeito virada do mês. Em pesquisa com data de 2003 e cobrindo 19 países Kunkel et al encontraram que o período de quatro dias do início do mês responde em média por 87% do retorno do mês. Ou seja, a primeira semana do mês é a melhor para estar comprado em ações.

Em 1987, Ariel encontrou que, entre 1963 a 1981, se permanecesse investido em ações apenas nos primeiros nove dias úteis do mês e ficando fora do mercado no restante do mês, teria obtido um retorno de mais de 2.500%. Enquanto se ficasse investido em ações apenas nos últimos 9 dias úteis do mês, teria um resultado acumulado negativo de -0,25%.

Portanto, se vai comprar ações, prefira entrar logo antes de terminar o mês e se vai vender, opte por vender ao final da primeira semana. A razão para a existência dessa característica é o fluxo de recursos recebido e rebalanceamento de portfólio executado pelos investidores institucionais nesse período.

Melhor mês
Já o melhor mês para estar posicionado no mercado é o mês de janeiro. Thaler também revela essa conclusão em sua pesquisa. O resultado do mês de janeiro costuma ser melhor que os demais e esse efeito já foi até estudado como um barômetro para o restante do ano como já escrevi anteriormente. Também chamo a atenção para o efeito Halloween que escrevi anteriormente. Nesse efeito, os melhores meses para estar posicionado são aqueles entre novembro e abril.

Destaco que esses resultados não ocorrem em todos os períodos e as conclusões não são uma unanimidade no meio acadêmico. Adicionalmente, algumas pesquisas apontam que o efeito de impostos e custos de transação reduzem significativamente as diferenças existentes. Por fim, o fato de terem ocorrido no passado, também não garante que estes efeitos persistirão no futuro. Mas se vai negociar, não custa atentar para o que tem se mostrado mais vantajoso.

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Cuidado para não cair nessas duas armadilhas financeiras https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2018/03/18/cuidado-para-nao-cair-nessas-duas-armadilhas-financeiras/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2018/03/18/cuidado-para-nao-cair-nessas-duas-armadilhas-financeiras/#respond Sun, 18 Mar 2018 10:00:16 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/Dinheiro-Rafael-Neddermeyer-Fotos-Públicas-180x121.jpeg http://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=908 A maioria das pessoas acredita que quando toma decisões sobre onde investir suas economias age racionalmente. Entretanto, estudos sobre o comportamento financeiro mostram que a racionalidade não é tão comum quanto se imagina. Essas pesquisas resultaram em três prêmios Nobel nos últimos quinze anos: Daniel Kahneman, Robert Shiller e Richard Thaler. Destaco duas das armadilhas comuns que os investidores são atraídos quando decidem suas aplicações e que estão intimamente relacionadas.

A primeira armadilha é enfrentada comumente pelos investidores que se propõem por conta própria a comprar e vender ações e montar uma carteira. A maior parte desses investidores compra as ações das empresas mais conhecidas apenas pelo fato de que por serem grandes, conhecidas ou terem participações relevantes no índice Ibovespa são bons investimentos. Algumas dessas ações amargam duras perdas nos últimos oito anos e algumas até ainda passam por processo de recuperação judicial. Ao longo do tempo, quando as ações vinham caindo, vários desses investidores passaram ou ainda passam pela provação do viés do arrependimento.

O viés comportamental do arrependimento se refere à reação emocional das pessoas por terem cometido um erro de julgamento quando investiram em um ativo que se desvalorizou. Assim, aplicadores evitam vender ações ou mesmo encerrar a operação de um negócio próprio que apresentou resultados negativos para evitar o arrependimento de ter feito um mau investimento e o constrangimento da perda. Já ouvi até mesmo de investidores que carregaram posições acionárias com prejuízos de mais de 50% afirmar que não perderam dinheiro, pois ainda não venderam. Nesse caso apenas a conjugação do verbo está correta, pois ele continua perdendo.

Esse viés não afeta apenas os que perderam, mas também os que deixaram de ganhar. Muitos relutam em investir em ativos que apresentaram uma valorização recente, mesmo que esse continue a apresentar boas perspectivas. Nos dois casos, os investidores não agem pelo seu melhor interesse apenas para evitar de se arrependerem. Mas também eles podem agir de uma determinada forma,para evitar o arrependimento como explico a seguir.

O fato de muitos investidores pessoas físicas comprarem apenas as ações mais conhecidas é justificado, talvez inconscientemente, pelo viés do arrependimento. É mais fácil acompanhar a multidão e comprar ações populares, pois se elas não forem bem, é mais fácil justificar a falha, pois muitos erraram junto. Ou seja, ir contra a sabedoria convencional costuma ser mais difícil, uma vez que levanta a possibilidade do arrependimento se as decisões se revelarem incorretas.

Perceba que a todo momento, deve avaliar com cuidado se o fato de não vender um ativo ou se desfazer de um negócio seria simplesmente para evitar o arrependimento do primeiro ato. Também deve analisar se está decidindo por comprar um ativo apenas porque seria a decisão mais fácil já que muitos a estão praticando.

Outro viés que enfrentamos e que devemos atentar ainda mais nesse momento em que os mercados apresentaram alta expressiva, no passado recente, é o viés da ancoragem. Para ilustrar esse comportamento, responda a seguinte pergunta, qual a probabilidade você atribuía a aviões com terroristas atingirem prédios antes do acidente de 11/09 e quanto essa probabilidade subiu depois que houve o acidente? Tendemos a atribuir muito peso a experiências recentes e a extrapolar eventos e tendências que muitas vezes estão em desacordo com médias passadas ou cálculos de probabilidades.

Como consequência de se ponderar exageradamente os fatos recentes, os preços dos ativos tendem a cair demasiadamente com más notícias e a subirem exageradamente com boas notícias. Como já expliquei anteriormente (link), estudos mostram que a existência desse viés pode ser aproveitada por investidores para auferir ganhos.

Extrapolando tendências, os investidores se tornam mais otimistas quando o mercado sobe e mais pessimista quando o mercado cai. Por exemplo, acredito que a elevada valorização das moedas digitais, por exemplo, seria um efeito desse comportamento.

Embora ambos os vieses atinjam investidores pessoas físicas e profissionais, os primeiros são os mais suscetíveis pela falta de uma equipe especializada e de discussões entre as equipes que acabam por testar as convicções dos profissionais. Nesse sentido, como já escrevi anteriormente (link), recomendo o investimento utilizando fundos de investimento. Para reduzir o viés da ancoragem, delegue a decisão de investir em cada mercado para os gestores de fundos multimercados. Para evitar o viés do arrependimento, prefira os fundos de ações. Há uma série de vantagens no investimento acionário por meio de fundos (link) e não acredito que , na média, uma pessoa que administre de forma amadora uma carteira de ações tenha mais sucesso que um gestor que o realize de forma profissional com uma equipe especializada de suporte.

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O que o prêmio Nobel, Thaler, e outros pesquisadores nos ensinam sobre como ganhar dinheiro com ações https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2018/01/24/o-que-o-premio-nobel-thaler-e-outros-pesquisadores-nos-ensinam-sobre-como-ganhar-dinheiro-com-acoes/ https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/2018/01/24/o-que-o-premio-nobel-thaler-e-outros-pesquisadores-nos-ensinam-sobre-como-ganhar-dinheiro-com-acoes/#respond Wed, 24 Jan 2018 09:00:26 +0000 https://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/Bolsa-Spencer-Platt-AFP-180x120.jpeg http://degraoemgrao.blogfolha.uol.com.br/?p=778 O prêmio Nobel Richard Thaler, em conjunto com Werner De Bondt, realizou uma pesquisa em 1985 e 1987 encontrando um interessante viés comportamental do mercado que pode produzir ganhos para os investidores. Segundo os autores, esse comportamento seria observado apenas em horizontes de médio a longo prazo. No curto prazo, o trabalho é complementado pela pesquisa de dois outros autores que também encontraram uma estratégia em ações capaz de produzir ganhos. Abaixo descrevo essas duas estratégias e apresento os resultados da dissertação de mestrado de Thiago Alves para o mercado brasileiro.

Estratégia para o médio prazo
De Bondt e Thaler argumentam que o mercado tende a sobre reagir às notícias do mercado. Isso ocorreria porque os investidores tendem a dar maior probabilidade de recorrência às notícias recentes. Assim, quando são divulgados fatos positivos para uma empresa, os investidores acabam por extrapolar o benefício por mais tempo que o devido. Ao mesmo tempo, notícias negativas recentes também são ponderadas por mais tempo nas avaliações.

Esse comportamento provoca um efeito de pressão nos preços das ações para cima ou para baixo, conforme o humor das notícias recentes, e acabam provocando uma sobre reação nos preços das ações.

Para comprovar a validade de sua teoria, os autores testaram em ações americanas no período de 1926 a 1982. Os autores mostraram que a estratégia de comprar as ações perdedoras dos últimos três a cinco anos e vender as ações ganhadoras dos últimos três a cinco anos, se mostra vencedora nos três a cinco anos posteriores.

Essa estratégia considera que o otimismo ou pessimismo exagerado dos investidores no médio prazo (três a cinco anos) seria revertido nos anos seguintes. Portanto, a estratégia de seguir o contrário do mercado funcionaria no médio a longo prazo.

Estratégia para o curto prazo
Em períodos de três a doze meses, a estratégia vencedora seria  aproveitar o momento das ações, ou seja, comprar as vencedoras de curto prazo e vender as perdedoras recentes. Essa estratégia foi apresentada em 1993 pelos autores Jegadeesh e Titman que testaram com ações americanas no período de 1965 a 1989.

Segundo os autores a estratégia ótima seria comprar as ações ganhadoras dos últimos seis meses e vender as ações perdedoras dos últimos seis meses. Esse portfólio produziria esperados retornos positivos nos seis meses seguintes.

Resultados no Brasil
Thiago Alves estudou a estratégia de momento no Brasil em sua dissertação de mestrado. A defesa dessa dissertação ocorreu na última sexta-feira e fiz parte da banca examinadora junto com os professores Marco Lyrio do Insper e André Banks da gestora de recursos americana Franklin Templeton.

Apresentação da Dissertação de Mestrado Profissional em Economia de Thiago Alves sobre a estratégia de momento no mercado brasileiro.

Apesar de popularmente empregada por investidores, Alves não encontrou evidências significativas da validade da estratégia momento. Ele testou a estratégia no mercado brasileiro no período de 1995 a 2017. Pesquisadores brasileiros que também encontraram o mesmo resultado argumentam que as descontinuidades provocadas pelas crises prejudicam a análise

Ambas as estratégias acima continuam sendo extensamente estudadas e testadas em todos os mercados pelo mundo. Entretanto, os resultados encontrados para ambas ainda não são uma unanimidade. Logo, ressalta-se que são estratégias de risco e que podem não produzir o resultado desejado.

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