Carteira de ações ou fundo de ações, qual a melhor alternativa?

Com a recente queda de 12% do mercado de ações e os baixos retornos de aplicações de curto prazo em renda fixa, investidores mais agressivos ponderam sobre elevar a exposição ao mercado de ações. Entretanto, ainda há dúvida de qual a melhor forma de elevar essa exposição, comprando diretamente ações ou investindo em fundos de ações?

Descrevo abaixo as vantagens e desvantagens de cada uma das alternativas. Discuto as características separando-as em seis fatores para mostrar qual seria a melhor decisão para seu investimento em ações.

 

Equipe e informação
A primeira questão que os investidores individuais se deparam quando se propõem a montar uma carteira de ações é: qual ou quais ações comprar?

Como não conhecem as empresas, normalmente os investidores se valem de quatro alternativas: concentrar nas empresas tradicionais e mais conhecidas, dicas de amigos, carteiras de corretoras, ou carteiras de empresas de pesquisa independente.

Das quatro alternativas, apenas as duas últimas podem trazer algum resultado satisfatório. As duas primeiras alternativas comprovadamente acabam levando a resultados medíocres ou desastrosos.

As boas instituições de gestão de fundos de ações contam com equipes formadas por experientes profissionais nos campos de análise econômica, financeira, risco e gestão. Estes muitas vezes possuem experiência de mais de vinte anos no mercado financeiro. Essa experiência é muito importante para que ele consiga de forma mais rápida analisar e decidir sobre fatos novos que afetam as empresas e o mercado.

Pela facilidade de contato que os gestores e analistas dos fundos possuem com os diretores de empresas e com outros profissionais de mercado, eles possuem acesso mais rápido e mais fácil a informações que o investidor sozinho, provavelmente, não conseguiria ou demoraria mais tempo para ter acesso.

Não há como uma pessoa sozinha substituir ou replicar os resultados que essa equipe pode produzir.

 

Rentabilidade
Normalmente, os adeptos de montar uma carteira de ações argumentam que a rentabilidade de se comprar ações diretamente é superior a investir em fundos de ações. Entretanto, essa justificativa não possui qualquer fundamento e normalmente é dada devido a falta de acompanhamento de retorno da primeira alternativa.

A grande maioria dos indivíduos que se propõem a comprar ações diretamente sequer possuem ferramentas ou guardam histórico de suas transações. Portanto, na maioria das vezes apenas acreditam que suas transações vão melhor ou por esquecerem dos prejuízos ou por não registrarem adequadamente os custos envolvidos.

A literatura acadêmica já produziu vários artigos argumentando que a média dos fundos de ações desempenham pior que os índices de marcado. Acredito que existem três fatores que explicam o desempenho dos fundos: pessoas, processos e produto. O processo de controle de risco é importantíssimo para reduzir perdas e um adequado processo de investimento é fundamental para permitir ao gestor a alavancagem de seus ganhos.

Entretanto, se a maioria dos gestores com equipes especializadas não consegue ir melhor que o mercado, como esperar que uma pessoa sozinha tenha um desempenho melhor? Apenas dois fatores explicam a melhor performance de pessoas sobre fundos: sorte ou risco. Como o investidor individual em geral possui poucas ações em seu portfólio, ele está sujeito a um maior risco e eventualmente, esse risco é compensado com um retorno maior no curto prazo. Mas pode levar a duras penas como vimos nas ações da Petrobrás neste mês de maio.

 

Risco
Normalmente, os fundos de investimento em ações no Brasil possuem entre 10 a 30 ações em seu portfólio. Esse número de ações não foi escolhido por acaso. A literatura sobre diversificação, afirma que para reduzir o risco específico de cada empresa a patamares mínimos são necessárias pelo menos quinze ações.

Daí vem uma grande vantagem dos fundos de ações: a gestão de risco eficiente. As empresas de gestão possuem áreas de risco e de análise que estão continuamente monitorando e informando ao gestor sobre o risco de seu portfólio para que ele possa tomar melhores decisões.

Para um investidor individual, o controle sobre uma carteira de mais de cinco ações se torna custoso em termos de tempo e dedicação. Portanto, o risco assumido pelos investidores individuais acaba sendo maior e não quantificado de forma adequada devido à ausência de ferramentas para cálculo.

 

Custo
Muitos investidores argumentam sobra a taxa de administração cobrada pelos fundos. Essa taxa normalmente é de 2 a 3% ao ano sobre o patrimônio líquido do fundo de ações.

A rentabilidade dos fundos apresentada nas lâminas que o investidor recebe já é líquida dessa taxa de administração e de outras que eventualmente existam como a taxa de performance.

Se você investe R$100 mil em um fundo de ações, estaria pagando em média cerca de R$200 por mês para ter a sua disposição toda uma equipe de analistas econômicos, financeiros, de risco e de gestores. Acho que R$200 por mês para cada R$100 mil investidos é um valor baixo para ter tudo isso a sua disposição.

Mudando a pergunta, quanto vale sua hora? Se você for administrar sua própria carteira vai dispender no mínimo uma hora por dia ou 20 horas no mês apenas para verificar desempenho e algumas notícias. Lembre-se que os grandes empresários sabem contratar funcionários para que sua hora seja melhor aproveitada. Aprenda a delegar e terá mais tempo para o que é mais relevante.

A taxa de performance alinha ainda mais o incentivo do gestor ao do investidor, pois quando o fundo desempenhar bem, toda equipe ganhará um bônus por desempenho. Portanto, isso fará com que a equipe fique se cobrando pelo desempenho continuamente.

 

Reinvestimento de dividendos
Um dos grandes ganhos do mercado de ações e que normalmente é relevado pelos pequenos investidores é o poder do reinvestimento dos dividendos. Utilizando dados da Economatica, nos últimos dez anos, se você investiu R$100 nas ações do Itaú e reinvestiu os dividendos, teria hoje R$276. Entretanto, se não reinvestiu os dividendos, teria apenas R$190. Ou seja, quase 46% a mais de retorno reinvestindo os dividendos.

Normalmente, os dividendos pagos pelas ações são valores pequenos para serem reinvestidos pelos investidores individuais. Na maioria das vezes esse tesouro acaba ficando parado na conta corrente e perde a sua grande vantagem. Pela escala dos fundos, eles conseguem com baixo custo reinvestir os dividendos.

 

Imposto de Renda
Nos fundos de investimentos em ações, você é tributado na alíquota de IR de 15% sobre os ganhos de capital quando do resgate. No entanto, esse IR no caso dos fundos só é cobrado no resgate ao contrário do investimento direto que deve ser pago no mês seguinte.

A postergação do IR traz uma grande vantagem para o investimento em fundos de ações, pois o gestor do fundo pode investir em mais ações com o IR que deveria ser pago e, assim, alavanca a rentabilidade ao longo dos anos.

Em contraposição, o investidor que aplica diretamente em ações tem uma vantagem fiscal. Os ganhos de capital não são tributados em vendas de ações limitadas a R$20 mil dentro de um mês. Essa é a grande vantagem para quem negocia ações individualmente, mas ela só é válida para os pequenos investidores.

Outra vantagem fiscal de se investir diretamente é o fato dos dividendos serem isentos de IR. Quando o provento é recebido dentro do fundo ele não possui essa vantagem. Entretanto, a vantagem no primeiro caso só é válida se o investidor comprar mais ações. Como normalmente isso não ocorre, a vantagem é reduzida.

Considerando estes seis fatores (equipe e informação, rentabilidade, risco, custo, reinvestimento de dividendos e imposto de renda), o investidor tem um bom critério para ponderar sobre qual a melhor forma quando for investir em ações.

Utilizando esses critérios, racionalmente, a balança é mais favorável para o investimento por meio de fundos de ações. A escolha por montar uma carteira diretamente só se sustenta pela emoção que a negociação direta pode causar ou por excesso de otimismo.

 

*Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.