Três dicas para escolher um fundo multimercado

Os pioneiros da indústria de fundos multimercados no Brasil são os extintos fundos de commodities, criados no início da década de 1990. Atualmente, os fundos multimercados representam 20% do patrimônio dos fundos de investimentos brasileiros com R$770 bilhões de recursos sob gestão, segundo dados da Anbima.

A figura apresenta o patrimônio dos fundos de investimento existentes em julho/2017 segmentados por classe Anbima. Fonte: Anbima.

Embora representem um quinto dos recursos em fundos, o número total de 7800 fundos multimercados representa quase 50% do total de fundos. Portanto, a escolha de qual investir não é tarefa fácil.

A figura apresenta o número de fundos (FI e FIC) existentes em julho/2017 segmentados por classe Anbima. Fonte: Anbima.

Como alertado pela colunista Márcia Dessen olhar a rentabilidade passada nem sempre é a melhor alternativa. Entretanto, vou ensinar abaixo como retirar informação também da rentabilidade passada.

Para classificação e seleção dos melhores fundos multimercados, os profissionais de alocação de carteiras de alta renda, realizam um extenso trabalho de análise que envolve critérios quantitativos e qualitativos. O pequeno investidor normalmente não tem acesso ou ferramentas para realizar essas análises, mas vou apesentar três dicas que você pode adotar e que já são suficientes para realizar um bom filtro.

Experiência dos gestores
A informação sobre a experiência da equipe de gestão pode ser encontrada no próprio site da gestora no documento chamado Formulário de Referência. Nesse documento pode encontrar a experiência prévia dos sócios.

Prefira gestoras nas quais os principais responsáveis possuem mais de 10 anos de experiência no mercado financeiro. Embora experiência não signifique habilidade, ela indica a maturidade da equipe que já deve ter passado por cenários econômicos e situações de mercado adversos. Essa experiência passada será muito útil na tomada de decisão nos momentos de elevação da volatilidade do mercado.

Taxa de acerto
Um indicador quantitativo fácil de avaliar é taxa de acerto do gestor. Essa taxa de acerto pode ser avaliada pela proporção de meses que o fundo ganhou do índice de referência em relação ao número total de meses do fundo. Em geral os fundos possuem um índice de referência pelo qual ele é avaliado e que costuma ser a taxa do índice conhecida no mercado como CDI.

Por exemplo, se o fundo tem 50 meses de existência e em 32 desses meses sua rentabilidade superou o CDI, ele tem uma taxa de acerto de 64% ( 32/50 = 0,64 ). Portanto, em 64% dos meses o fundo superou sua meta de retorno. Lembro que as rentabilidades apresentadas já costumam ser líquidas de taxas. Assim, em 64% dos meses o fundo teria entregado uma boa rentabilidade para você.

Evite fundos com taxas de acerto inferior a 60%. Essa taxa pode parecer pequena, mas por experiência própria, posso dizer que é difícil ser mantida e vários fundos não a atingem.

Normalmente o número de meses que o fundo superou o CDI é apresentado no documento chamado Material de Divulgação, que pode ser encontrado no site da gestora.

Consistência na rentabilidade
Outro fator importante a avaliar é a consistência dos resultados. Ao olhar o retorno passado, não analise apenas o retorno apresentado no curto prazo, pois ele pode ser enganoso.

Considere os dois fundos apresentados na tabela abaixo.

Qual dos dois fundos você classificaria como melhor?

Se avaliar apenas o resultado recente, vai preferir o fundo B. A maior parte dos investidores considera apenas o retorno dos últimos 12 meses para classificar e comete o erro mencionado acima. Lembre-se, um relógio quebrado vai marcar a hora certa duas vezes no dia.

Como abordado no artigo de Danielle Brant, considere um período de pelo menos três anos e se possível de cinco anos. Nesse sentido, o gestor do fundo A apresenta maior consistência de resultados, a consistência dos resultados normalmente é fruto de um processo de investimento estruturado e de um rigoroso controle de risco.

Os retornos históricos podem ser obtidos no site da gestora no documento chamado Material de Divulgação.

Essas três dicas são simples e não são as únicas técnicas para seleção, mas já são suficientes para filtrar os piores e evitar que cometa erros.