Você também caiu no viés do otimismo?

Michael Viriato

O especialista em finanças comportamentais, James Montier argumenta que os indivíduos tendem a acreditar que suas decisões serão melhores que a dos outros. Esse viés, em conjunto com o da ilusão do controle, leva vários investidores a acreditarem que se eles gerenciarem suas próprias carteiras de ações, eles vão desempenhar melhor que fundos de ações.

Dentre os principais argumentos que os investidores justificam sua preferência para gerenciarem sua própria carteira de ações se destacam: rentabilidade e custo. Abordarei essas justificativas e mais cinco outros fatores para mostrar qual deveria ser a melhor decisão para seu investimento em ações.

Risco
O primeiro fundo de ações do mundo, foi criado em 1924 e existe até hoje. Desde o início, esse fundo é gerido pela MFS Investment Management que possui atualmente um patrimônio de US$ 450 bilhões (cerca de 20% do PIB brasileiro). O fundo começou com um patrimônio de US$ 50 mil e possuía 45 ações no seu portfólio.

Normalmente, os fundos de investimento em ações no Brasil possuem entre 10 a 30 ações em seu portfólio. Esse número de ações não foi escolhido por acaso. A literatura sobre diversificação, afirma que para reduzir o risco específico a patamares mínimos são necessárias pelo menos quinze ações.

Daí vem a primeira vantagem dos fundos de ações que é a gestão de risco eficiente. As empresas de gestão possuem áreas de risco que estão continuamente monitorando e informando ao gestor sobre o risco de seu portfólio para que esse possa tomar as melhores decisões.

Para um investidor individual, o controle sobre uma carteira de mais de cinco ações se torna custoso em termos de tempo e dedicação. Portanto, o risco assumido pelos investidores individuais acaba sendo maior e não quantificado de forma adequada devido a ausência de ferramentas para o cálculo.

Rentabilidade
A literatura acadêmica já produziu vários artigos argumentando que a média dos fundos de ações desempenham pior que os índices de marcado. Acredito que existem três fatores que explicam o desempenho dos fundos: pessoas, processos e produto. O processo de controle de risco que mencionei acima é importantíssimo para reduzir perdas e um adequado processo de investimento é fundamental para permitir ao gestor a alavancagem de seus ganhos.

Entretanto, se a maioria dos gestores com equipes especializadas não consegue ir melhor que o mercado, como esperar que uma pessoa sozinha tenha um desempenho melhor? Apenas dois fatores explicam a melhor performance de pessoas sobre fundos: sorte ou risco. Como o investidor individual em geral possui poucas ações em seu portfólio, ele está sujeito a um maior risco e eventualmente, esse risco é compensado com um retorno maior.

Equipe
As boas empresas de investimentos contam com uma equipe formada por experientes profissionais nos campos de análise econômica, financeira, risco e na gestão. Estes muitas vezes possuem experiência de mais de vinte anos no mercado financeiro. Essa experiência é muito importante para que ele consiga de forma mais rápida analisar e decidir sobre fatos novos que afetam as empresas e o mercado.

Não há como uma pessoa sozinha substituir ou replicar os resultados que essa equipe pode produzir.

Informação
Pela facilidade de contato que os gestores e analistas possuem com os diretores de empresas e com outros profissionais de mercado, eles possuem acesso mais rápido e mais fácil a informações que o investidor sozinho, provavelmente, não conseguiria ou demoraria mais tempo para ter acesso.

Custo
Muitos investidores argumentam sobra a taxa de administração cobrada pelos fundos. Essa taxa normalmente é de 2 a 3% ao ano sobre o patrimônio líquido do fundo de ações. A rentabilidade dos fundos apresentada nas lâminas que o investidor recebe já é líquida dessa taxa de administração e de outras que eventualmente existam como a taxa de performance.

Se você investe R$100 mil em um fundo de ações, estaria pagando em média cerca de R$200 por mês para ter a sua disposição toda uma equipe de analistas econômicos, financeiros, de risco e de gestores. Acho que R$200 por mês para cada R$100 mil investidos é um valor baixo para ter tudo isso a sua disposição. Mudando a pergunta, quanto vale sua hora? Se você for administrar sua própria carteira vai dispender no mínimo uma hora por dia ou 20 horas no mês apenas para verificar desempenho e algumas notícias. Lembre-se que os grandes empresários sabem contratar funcionários para que sua hora seja melhor aproveitada. Aprenda a delegar e terá mais tempo para o que é mais relevante.

A taxa de performance alinha ainda mais o incentivo do gestor ao do investidor, pois quando o fundo desempenhar bem, toda equipe ganhará um bônus por desempenho. Portanto, isso fará com que a equipe fique se cobrando pelo desempenho continuamente.

Reinvestimento de dividendos
Um dos grandes ganhos do mercado de ações e que normalmente é relevado pelos pequenos investidores é o poder do reinvestimento dos dividendos. Utilizando dados da Economatica, nos últimos dez anos, se você investiu R$100 nas ações do Itaú e reinvestiu os dividendos, teria hoje R$276. Entretanto, se não reinvestiu os dividendos, teria apenas R$190. Ou seja, quase 46% a mais de retorno reinvestindo os dividendos.

Normalmente, os dividendos pagos pelas ações são valores pequenos para serem reinvestidos pelos investidores individuais. Na maioria das vezes esse tesouro acaba ficando parado na conta corrente e perde a sua grande vantagem. Pela escala dos fundos, eles conseguem com baixo custo reinvestir os dividendos.

Imposto de Renda
Nos fundos de investimentos em ações, você é tributado na alíquota de IR de 15% sobre os ganhos de capital quando do resgate. Entretanto, o investidor que aplica diretamente em ações tem uma vantagem. Os ganhos de capital não são tributados em vendas de ações limitadas a R$20 mil dentro de um mês. Essa é a grande vantagem para quem negocia ações individualmente.

Outra vantagem fiscal é o fato dos dividendos serem isentos de IR. Essa vantagem é capturada quando o investidor compra diretamente ações, mas quando o provento é recebido dentro do fundo, acaba sendo tributado.

Sem dúvida, não pagar IR é uma grande vantagem, mas deve-se ponderar o trabalho que terá na gestão do portfólio mencionado acima, com os ganhos fiscais que tenha vendendo menos de R$20 mil por mês de ações.

Considerando estes sete fatores (risco, rentabilidade, equipe, informação, custo, reinvestimento de dividendos e imposto de renda), o investidor tem um bom critério para ponderar sobre qual a melhor forma quando for investir em ações. Utilizando esses critérios, vai ficar mais fácil entender se estaria agindo sob o viés comportamental do otimismo quando construir sua própria carteira.