Você sabe quais os riscos da renda fixa?

Michael Viriato

A figura acima apresenta na mesma escala quatro gráficos de retornos acumulados em 20 dias úteis – aproximadamente um mês – de ativos financeiros diferentes desde janeiro de 2014. Um deles é o gráfico de um título público federal de renda fixa vendido por meio da plataforma do Tesouro Direto. Você saberia dizer qual deles é o título de renda fixa?

Vou dar mais uma informação para ajudá-lo a responder. Dentre os gráficos acima, também há o do índice de fundos multimercados da Anbima (IHFA), do índice de ações pagadoras de dividendos da B3 (IDIV) e do índice de fundos de investimentos imobiliários da B3 (IFIX).

O nome renda fixa não quer dizer que não há possibilidade de perda, mas apenas que a forma de rendimento foi pré-definida antes da aquisição. O gráfico que apresenta o retorno em janelas de 20 dias úteis é interessante para ilustrar um dos riscos que estamos expostos ao investir também em renda fixa. Perceba que nos Gráficos 1 e 2, o investidor em vários momentos pode chegar a perder ou ganhar mais de 10% em períodos de um mês. O risco representado pela incerteza sobre o movimento dos preços dos ativos é o chamado risco de mercado.

Risco de mercado
A maioria dos investidores fica tentada a responder que o título de renda fixa estaria representado pelo Gráfico 4. Essa escolha é justificada, pois ele é o que apresenta a menor variabilidade de retornos. Entretanto, esse é o gráfico do IHFA.

A variabilidade dos retornos pode ser avaliada pela medida estatística chamada Desvio Padrão (DP). Ele representa a dispersão dos retornos do investimento em relação ao seu retorno médio. Dentre os quatro ativos, os dois que apresentam a maior dispersão dos retornos são o título de renda fixa chamado Tesouro IPCA 2035 Principal e o IDIV. Ambos possuem desvio padrão de 26% ao ano no período de 2014 a 2017. Portanto, é possível dizer que o risco de mercado desse título de renda fixa é similar ao do índice de ações IDIV, ou seja, para o horizonte de um mês, o investimento nesses dois ativos possui o mesmo risco de perda por variação nos preços. Já abordei como o desvio padrão pode ser útil para medir a perda máxima esperada em um artigo anterior.

Apenas os títulos de renda fixa prefixados, ou que possuem uma parcela prefixada no retorno como os títulos referenciados à inflação é que estão sujeitos à variabilidade dos retornos. Os títulos referenciados às taxas Selic e CDI não sofrem oscilação de preço como função de alterações de humor do mercado. Portanto, esses últimos possuem menor risco de mercado que os títulos prefixados.

Dentre os títulos prefixados com mesma característica, aqueles com maior prazo de vencimento são os que devem sofrer maior oscilação de preço como função de movimentos do mercado. Por isso, não se recomenda comprar títulos com vencimento superior ao da necessidade de utilização dos recursos, pois é possível que eles apresentem perdas antes do vencimento.

Agora que entendeu sobre o risco de mercado, já descobriu que o Gráfico 1 é o do título de renda fixa, o Gráfico 2 é o do IDIV e o Gráfico 3 é o do IFIX.

Além do risco de mercado, os investidores de títulos de renda fixa também estão sujeitos ao risco de não receber os juros e principal da dívida que lhes foi prometido. Esse é o chamado risco de crédito.

Risco de crédito
O risco de crédito é um importante fator a avaliar quando se investe em títulos de renda fixa de agentes privados. As instituições financeiras e empresas emitem títulos de renda fixa (créditos privados) como forma de financiar suas atividades.

Para mitigar o risco de crédito existente em emissões bancárias como CDBs, LCI e LCA, há o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) que cobre o investidor até o limite de R$250 mil por instituição e por CPF. Assim, quando estiver investindo em títulos emitidos por bancos, prefira limitar seu investimento ao valor coberto pela garantia mencionada.

A garantia do FGC não é para todos os títulos emitidos por bancos. Para esses outros títulos, o investidor deve ter o mesmo tratamento que quando investe em títulos de emissão de empresas como debêntures, CRIs e CRAs.

Para mitigar o risco de crédito de títulos sem a garantia do FGC, o aplicador deve limitar o investimento em títulos do mesmo emissor a no máximo 3% a 5% de seu patrimônio financeiro pessoal. Assim, se você levar um calote de um determinado emissor, a perda não comprometerá seu patrimônio e em até um ano deve ter sua perda recomposta pela rentabilidade do restante do portfólio.

Para investidores com patrimônio inferior a R$50 mil e que não queiram se preocupar com a avaliação do risco de crédito, uma forma de obter melhores rentabilidades que a dos títulos públicos é por meio dos fundos de renda fixa de crédito privado. Nesses fundos, o gestor faz todo o trabalho de seleção e diversificação dos títulos.

Lembre-se, investir é muito mais do que apenas poupar. Portanto, antes de investir defina seu objetivo. Assim, poderá adequar melhor os riscos de seu investimento e, diversificando seu portfólio, reduzir os riscos de mercado e de crédito.

Definições:
CDB – Certificado de Depósito Bancário
LCI – Letra de Crédito Imobiliário
LCA – Letra de Crédito do Agronegócio
CRI – Certificado de Recebível do Agronegócio
CRI – Certificado de Recebível Imobiliário