Gestor afirma que ações devem subir: saiba como ganhar com isso
Se você acha que a bolsa subiu muito nos últimos dois anos, vai se surpreender com o desempenho do fundo do qual Gustavo Vechiato Maziero faz parte da equipe de gestão. O fundo sob gestão da equipe da Neo Investimentos, conjuntamente com Maziero, se valorizou mais do que o dobro do Ibovespa nos últimos dois anos.
Mestre em Administração de Empresas pelo Insper e graduado em administração pela FGV, Maziero tem quase uma década de experiência de mercado. Atualmente, ele faz parte da equipe de gestão de uma das maiores gestoras independentes do país, a Neo Investimentos, mas também já atuou como estruturador de estratégias de Capital Protegido no Santander Asset Management. Na entrevista a seguir, ele compartilha algumas dicas de como os investidores podem aproveitar o momento mais otimista do mercado.
Como vê o cenário para investimento no Brasil em 2018?
Antes de entrar no cenário doméstico, vale olharmos um pouco para o cenário global. Nos últimos anos, as principais economias no mundo apresentaram concomitantemente bom crescimento (ao redor de 2% nos últimos 3 anos) com inflação baixa e controlada.
Esse cenário internacional é extremamente benigno para ativos de risco, mas não podemos esquecer que isso é fruto de uma política monetária não convencional (de juros negativos, recompra de ativos e expansão monetária), conduzida por muitos dirigentes de Bancos Centrais (BCs). As consequências desse ambiente é uma abundância de liquidez internacional a procura de retornos atrativos pelo mundo.
Entretanto, mesmo com o cenário global favorável, o Brasil esteve bastante fora do foco de investidores, pois sofreu com diversos eventos políticos que dominaram a cena local. Apesar dessas graves questões políticas, a partir de 2016, somente pelo fato de o Brasil implementar algum ajuste fiscal e flertar com reformas estruturais, um ajuste monetário foi viabilizado (juros começaram a cair). Com isso, além da busca natural dos investidores brasileiros pela rentabilidade de dois dígitos, boa parte dessa liquidez financeira global também veio para o nosso país para se aproveitar dos altos retornos, gerando uma boa rodada de otimismo para ativos de risco em nosso país.
Neste sentido, se tivermos um resultado eleitoral positivo (um presidente fora dos extremos, e com programa econômico mais favorável ao mercado de capitais), temos boas chances de surfar essa liquidez global, seja por meio de títulos pré-fixados que possuem algum “prêmio” (de aumento de juros), de títulos privados (CRA, CRI, debêntures) e do mercado de ações.
Quais os dois maiores riscos para esse cenário?
Como descrevi anteriormente, o maior risco é a eleição de 2018, ou seja, o risco de surgir um candidato com um programa que leve o país de volta à recessão econômica da qual estamos saindo.
O outro grande risco está em alguma reversão do cenário global, por exemplo, com as economias centrais (e.g. EUA, Europa) parando de crescer ou, principalmente, se a inflação fugir do controle dos dirigentes dos BCs. Os investidores internacionais não parecem ter receio deste primeiro ponto, pois sabem que a política monetária dos últimos anos já foi longe demais para voltar atrás. Isto é, se algo der errado, os BCs devem voltar a acionar a “bazuca de liquidez” (por exemplo, recompra de ativos). Agora, caso a inflação saia do controle, que é o menor dos riscos, o dano deve ser grande e difícil de se prever, principalmente pela falta de experiência histórica no que tem sido feito.
Como o pequeno investidor pode se proteger destes riscos?
Primeiramente, saber selecionar gestores que estejam de fato trabalhando para ele (pequeno investidor), ou seja, que monitorem constantemente o cenário global, buscando proteção e preservação do capital em cenários atipicamente adversos. Além disso, o investidor pode usar instrumentos de risco controlado, como por exemplo os COE’s (Certificados de Operações Estruturadas) que, no limite, entregam ao investidor o principal investido.
Depois da alta de dois anos seguidos, o Ibovespa ainda tem espaço para valorizar?
Sim. A forte valorização ocorrida nos últimos anos, foi liderada por empresas que souberam fazer o “dever de casa” quando a economia brasileira começou a sofrer desde o fim do 1º e começo do 2º governo Dilma.
Naquele momento, muitas companhias souberam cortar e adequar suas estruturas de custos, focar na estratégia e competência central, ganhando market share – participação de mercado – dos concorrentes e apresentando retorno aos acionistas, mesmo em um ambiente difícil. Com a queda da última presidente e com a economia mostrando sinais de recuperação, estas empresas usufruiram de sua alavancagem operacional e tiveram retorno muito acima da média. São casos como Itaú, Kroton, CVC e Localiza.
Este grupo de empresas deve continuar se destacando por serem players dominantes em seus setores, mas, há também, o grupo de algumas empresas que demoraram para fazer tais ajustes, mas que fazendo um bom trabalho, poderão capturar este cenário construtivo, caso da Petrobrás, IMC e Ânima Educação.
Há ainda aquelas empresas que vão se valorizar apenas pelo otimismo geral, mas que não possuem fundamento. Neste caso, o investidor precisa estar atento para não cair em armadilhas de aventureiros que fazem recomendações das mais malucas. Há inúmeros gestores bons e qualificados que podem ajudá-los nesta seleção de ativos e o investidor pode investir nos fundos sob sua gestão.
O que acha de diversificação internacional?
Acho bastante interessante, principalmente para fugir um pouco deste risco de eleição no Brasil, citado acima. É reconhecido o fato de que é bastante caro, tanto em termos financeiros quanto operacionais, o investidor viabilizar uma estrutura off shore para acessar mercados globais. Entretanto, há alguns bons gestores nacionais que fazem alocação fora do país e têm expertise tanto na escolha das classes de ativos internacionais, como também nos melhores instrumentos para capturar os movimentos. Outra alternativa para dar acesso global ao investidor são os investimentos por meio de COE`s.
Como vê o entusiasmo dos investidores com moedas digitais, por exemplo, o Bitcoin?
Não gosto. Aceito as opiniões daqueles que defendem as criptomoedas, porém não consigo acreditar na perpetuidade de uma moeda que permeia atividades excusas (terrorismo, financimento a crimes diversos e atividades não-legais). Além disso, o sistema se assemelha muito com as pirâmides financeiras (onde novos investidores financiam aqueles que estão saindo) – alguns dos criadores de criptomoedas já não detém mais seus ativos.
Convido os interessados a olharem o trabalho do Dr. Jean-Paul Rodrigue que criou um arquétipo dos estágios de uma bolha financeira e compararem com o gráfico do Bitcoin como exemplo.