Marcação de títulos a mercado ou na curva; como isso afeta seu portfólio?

Michael Viriato

Investidores que possuíam títulos referenciados a IPCA marcados na curva, observaram em 2017, um retorno pior que aqueles marcados a mercado. Esse fato, faz com que se imagine que a marcação a mercado dos títulos sempre produza uma rentabilidade maior. Entretanto, a vantagem no curto prazo que a marcação a mercado teve foi apenas uma antecipação do resultado futuro, ou seja, será compensada por menores retornos no futuro.

Por exemplo, os investidores que compraram o título público Tesouro IPCA com vencimento em 15/05/2019 tiveram um retorno de 13,33% em 2017. A taxa de retorno na aquisição desse título no final de 2016 foi de IPCA+5,86% ao ano. Esse mesmo título quando marcado na curva teve rentabilidade de 8,95% no mesmo período. A seguir, explico o que são essas duas formas de apropriar os ganhos e o que deve esperar de retorno até o vencimento nas duas alternativas.

O que é a marcação a mercado?
Quando um título é marcado a mercado seu preço reflete a taxa de juros que ele deve auferir a partir do instante atual até o vencimento.

Por exemplo, o título mencionado acima encerrou 2017 com uma taxa de juros de IPCA+2,64% ao ano. Logo, para calcular o valor dele, você deve trazer a valor presente os fluxos futuros a essa taxa. Como mostrado na ilustração abaixo.

Ilustração do cálculo do preço de um título na data de 29/12/2017 quando usada a marcação a mercado.

Portanto, não importa se você comprou esse título no final de 2017 ou no final de 2016, só vai ganhar do final de 2017 ao vencimento, a taxa de 2,64% ao ano + IPCA. A diferença de 3,22% ao ano até o vencimento já foi incorporada ao preço do título na valorização adicional que ele teve conforme pode ver no gráfico abaixo na linha azul, ou seja, você já recebeu essa valorização.

Evolução do preço do mesmo título referenciado ao IPCA comprado no final de 2016 na taxa de 5,86% ao ano + IPCA quando marcado a mercado (linha azul) e marcado na curva (linha vermelha). O ponto marcado pelo círculo foi a volatilidade provocada no dia 18/05/2017 pela delação dos controladores da JBS.

O que é a marcação na curva?
O termo marcação na curva é utilizado quando o preço atual do título é calculado por meio da correção do valor de aquisição pela taxa de juros do momento de aquisição como mostrado na ilustração abaixo.

Ilustração do cálculo do preço de um título na data de 29/12/2017 quando usada a marcação na curva de juros de aquisição.

Quando o título é marcado na curva, ele não sofre variações provocadas por movimentos das taxas de juros. Assim, o título não deve sofrer volatilidade. Veja a diferença da volatilidade no dia 18/05/2017 quando ocorreram as delações dos controladores da JBS. O título a mercado na linha azul do gráfico acima apresentou forte queda, mas o título marcado na curva representado na linha vermelha não sofre.

Apesar de o título marcado na curva ter apresentado menor resultado em 2017, ele apresentará maior retorno até o vencimento. Se considerarmos uma inflação de 4,5% ao ano até o vencimento, o título marcado a mercado deve render 7,26% ao ano e o título marcado na curva deve se valorizar 10,62% ao ano até o vencimento.

As duas formas são apenas maneiras diferentes de apropriar os ganhos, pois nos dois casos o preço final será o mesmo, como refletido no gráfico acima. A vantagem da marcação a mercado é refletir melhor o real preço do título caso ele fosse vendido imediatamente. O benefício da marcação na curva é a ausência de volatilidade até o vencimento.

Os títulos públicos adquiridos na plataforma do Tesouro Direto e os títulos mantidos nas carteiras dos fundos são marcados a mercado. Por isso, eles apresentam maior volatilidade, mas refletem melhor o real valor. Já os CDBs, LCAs, LCIs e Debêntures adquiridos em bancos e corretoras são usualmente marcados na curva. Portanto, não exibem volatilidade.