Como comprar parcelado sem se endividar?

Michael Viriato

Quando se fala em parcelar a aquisição de bens, imediatamente se pensa em financiamento, mas as altas taxas de juros têm provocado uma mudança de hábito. Com mais de meio século de existência, outra forma de compra parcelada tem tomado a frente do tradicional financiamento. Segundo dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC), duas em cada três motocicletas são adquiridas por meio de consórcio.

Para explicar um pouco mais sobre o segmento de consórcios, conversei com o presidente do conselho nacional da ABAC, Vitor Cesar Bonvino (na foto acima). Advogado com especialização em Direito, Bonvino atua nesse segmento a mais de 45 anos, tendo exercido a função de diretor jurídico de uma das maiores administradoras de consórcio do país.

O que é consócio?
Segundo a ABAC, consórcio é uma “modalidade de compra baseada na união de pessoas – físicas ou jurídicas – em grupos, com a finalidade de formar poupança para a aquisição de bens móveis, imóveis ou serviços”.

Na visão de Bonvino, o consórcio é uma forma de compra programada em que a administradora de consórcio é a empresa responsável por organizar um grupo de pessoas que possuem o mesmo objetivo. Esse objetivo pode ser a aquisição de um bem ou de um serviço. Ele chega a compará-lo a uma forma indireta de investimento em um bem, por exemplo, em um imóvel. Entretanto, destaca-se que não necessariamente a cota do consórcio vai subir com a valorização do bem e não rende juros, mas, usualmente, apenas corrige a inflação.

Consórcio x Financiamento
Embora comumente comparado com alternativas de financiamentos, essa comparação foi criticada por Bonvino que não qualifica o consórcio como um financiamento, mas como uma compra planejada. De fato, apenas no primeiro é possível ter o bem de forma imediata. No consórcio a possibilidade de aquisição é postergada para um momento futuro quando se for sorteado.

Nas figuras abaixo, é possível verificar que o consórcio como modalidade de compra parcelada, sai mais barato que o financiamento. Entretanto, essa comparação só é justa se desconsiderarmos os custos de não ter a posse imediata do bem no consórcio, por exemplo, o aluguel do imóvel até a compra.

Comparação entre as prestações pagas para aquisição de um veículo por meio de um consórcio e de um financiamento. Calculadas por Luiz Antonio Barbagallo (Assessor Financeiro da ABAC).

 

Comparação entre as prestações pagas na aquisição de um imóvel por meio de um consórcio e de um financiamento. Calculadas por Luiz Antonio Barbagallo (Assessor Financeiro da ABAC).

 

Como calcular a prestação de um consórcio?
Segundo Bonvino, a prestação que se paga no consócio é formada por quatro elementos: fundo comum, taxa de administração, fundo de reserva e seguro. A cobrança do último só é realizada se prevista no contrato e serve para proteger todo o grupo no caso de uma eventualidade como perda de emprego ou morte.

Para entender o cálculo, considere um bem com custo de R$40 mil, e um consórcio de 60 meses com taxa de administração de 12% e fundo de reserva de 1,8%. A primeira parte da prestação, o fundo comum é calculado simplesmente dividindo o valor do bem pelo total de prestações. Assim, a parcela referente ao fundo comum é de R$ 666,67 (=R$40 mil/ 60).

Para calcular a parcela da prestação referente às duas taxas, basta dividí-las pelo número de parcelas e multiplicar pelo valor do bem. Portanto, será cobrado 0,20% ao mês (12%/60) de taxa de administração e 0,03% ao mês (1,8%/60) de fundo reserva. E o montante referente à taxa de administração será de R$80 (R$40 mil * 0,20%) e ao Fundo de reserva, de R$12 (R$40 mil * 0,03%).

Logo, a prestação inicial de R$758,67 é dividida da seguinte forma: Fundo comum =R$666,67 + Taxa de administração = R$80 + Fundo de reserva = R$12.

Como escolher um consórcio?
Como na contratação de qualquer serviço, Bonvino destaca que o consumidor deve pesquisar antes de contratar um consórcio. Segundo ele, os pontos que se deve atentar na seleção são: prazo, serviço, idoneidade da administradora, taxas e custo efetivo. Atualmente, a comparação pode ser facilmente realizada na internet.

Antes da aquisição, o consumidor deve verificar qual prazo cabe melhor em seu orçamento e no plano de aquisição do bem. Para averiguar a qualidade do serviço e idoneidade da administradora, é importante consultar o Procon e sites de reclamação, além de indicação de amigos. Também pode ser verificado no site do Banco Central se a administradora está autorizada a operar, as taxas médias de administração e o ranking de reclamações das administradoras de consórcios. Apesar da competição entre as empresas, é importante comparar todas as taxas envolvidas e o custo efetivo total, pois há diferenças de mais de 50% entre as taxas cobradas.

Com disciplina, sai ainda mais barato
Embora o consórcio seja uma forma de parcelar a aquisição mais barata que os financiamentos tradicionais, planejar a compra por meio de investimentos periódicos pode sair ainda mais barato. Isso ocorre porque além de não se pagar as taxas envolvidas, no investimento periódico para aquisição de algum bem ainda se ganha juros nas aplicações.

Entretanto, no investimento programado somente é possível comprar o bem ao final do período, quando se acumula todo o valor do produto desejado. No consórcio, a aquisição pode ocorrer já no primeiro mês caso seja sorteado.

Adicionalmente, o investidor precisa ter muita disciplina para aplicar periodicamente. Sabe-se que é mais fácil manter um compromisso quando se é cobrado do que aplicar por vontade própria. No entanto, quando se opta pelo investimento programado, a desistência da compra não acarreta prejuízos, ao contrário de um consórcio.

Cada metodologia para compra tem suas vantagens e desvantagens, mas está claro que planejar e adiar a compra costuma trazer benefícios financeiros.