Cuidado para não cair nessas duas armadilhas financeiras
A maioria das pessoas acredita que quando toma decisões sobre onde investir suas economias age racionalmente. Entretanto, estudos sobre o comportamento financeiro mostram que a racionalidade não é tão comum quanto se imagina. Essas pesquisas resultaram em três prêmios Nobel nos últimos quinze anos: Daniel Kahneman, Robert Shiller e Richard Thaler. Destaco duas das armadilhas comuns que os investidores são atraídos quando decidem suas aplicações e que estão intimamente relacionadas.
A primeira armadilha é enfrentada comumente pelos investidores que se propõem por conta própria a comprar e vender ações e montar uma carteira. A maior parte desses investidores compra as ações das empresas mais conhecidas apenas pelo fato de que por serem grandes, conhecidas ou terem participações relevantes no índice Ibovespa são bons investimentos. Algumas dessas ações amargam duras perdas nos últimos oito anos e algumas até ainda passam por processo de recuperação judicial. Ao longo do tempo, quando as ações vinham caindo, vários desses investidores passaram ou ainda passam pela provação do viés do arrependimento.
O viés comportamental do arrependimento se refere à reação emocional das pessoas por terem cometido um erro de julgamento quando investiram em um ativo que se desvalorizou. Assim, aplicadores evitam vender ações ou mesmo encerrar a operação de um negócio próprio que apresentou resultados negativos para evitar o arrependimento de ter feito um mau investimento e o constrangimento da perda. Já ouvi até mesmo de investidores que carregaram posições acionárias com prejuízos de mais de 50% afirmar que não perderam dinheiro, pois ainda não venderam. Nesse caso apenas a conjugação do verbo está correta, pois ele continua perdendo.
Esse viés não afeta apenas os que perderam, mas também os que deixaram de ganhar. Muitos relutam em investir em ativos que apresentaram uma valorização recente, mesmo que esse continue a apresentar boas perspectivas. Nos dois casos, os investidores não agem pelo seu melhor interesse apenas para evitar de se arrependerem. Mas também eles podem agir de uma determinada forma,para evitar o arrependimento como explico a seguir.
O fato de muitos investidores pessoas físicas comprarem apenas as ações mais conhecidas é justificado, talvez inconscientemente, pelo viés do arrependimento. É mais fácil acompanhar a multidão e comprar ações populares, pois se elas não forem bem, é mais fácil justificar a falha, pois muitos erraram junto. Ou seja, ir contra a sabedoria convencional costuma ser mais difícil, uma vez que levanta a possibilidade do arrependimento se as decisões se revelarem incorretas.
Perceba que a todo momento, deve avaliar com cuidado se o fato de não vender um ativo ou se desfazer de um negócio seria simplesmente para evitar o arrependimento do primeiro ato. Também deve analisar se está decidindo por comprar um ativo apenas porque seria a decisão mais fácil já que muitos a estão praticando.
Outro viés que enfrentamos e que devemos atentar ainda mais nesse momento em que os mercados apresentaram alta expressiva, no passado recente, é o viés da ancoragem. Para ilustrar esse comportamento, responda a seguinte pergunta, qual a probabilidade você atribuía a aviões com terroristas atingirem prédios antes do acidente de 11/09 e quanto essa probabilidade subiu depois que houve o acidente? Tendemos a atribuir muito peso a experiências recentes e a extrapolar eventos e tendências que muitas vezes estão em desacordo com médias passadas ou cálculos de probabilidades.
Como consequência de se ponderar exageradamente os fatos recentes, os preços dos ativos tendem a cair demasiadamente com más notícias e a subirem exageradamente com boas notícias. Como já expliquei anteriormente (link), estudos mostram que a existência desse viés pode ser aproveitada por investidores para auferir ganhos.
Extrapolando tendências, os investidores se tornam mais otimistas quando o mercado sobe e mais pessimista quando o mercado cai. Por exemplo, acredito que a elevada valorização das moedas digitais, por exemplo, seria um efeito desse comportamento.
Embora ambos os vieses atinjam investidores pessoas físicas e profissionais, os primeiros são os mais suscetíveis pela falta de uma equipe especializada e de discussões entre as equipes que acabam por testar as convicções dos profissionais. Nesse sentido, como já escrevi anteriormente (link), recomendo o investimento utilizando fundos de investimento. Para reduzir o viés da ancoragem, delegue a decisão de investir em cada mercado para os gestores de fundos multimercados. Para evitar o viés do arrependimento, prefira os fundos de ações. Há uma série de vantagens no investimento acionário por meio de fundos (link) e não acredito que , na média, uma pessoa que administre de forma amadora uma carteira de ações tenha mais sucesso que um gestor que o realize de forma profissional com uma equipe especializada de suporte.