Três dicas do melhor gestor de “endowments” do mundo

Frequentemente me solicitam recomendação de livro sobre investimentos que agregue a experiência de profissionais e que vá além dos ensinamentos triviais. Com tradução para português, um excelente exemplo é: Desbravando a Gestão de Portfólios, uma abordagem não convencional para o investimento institucional, de David F. Swensen. Tive a oportunidade de participar da palestra de lançamento do livro no Brasil em abril de 2014 no Insper e conhecer o autor.

Desde 1985, Swensen é diretor de investimentos dos recursos da Universidade Yale. Ele é responsável pela gestão de um endwment com patrimônio de mais de 25 bilhões de dólares. Endowments representam fundos patrimoniais formados usualmente a partir de doações e com a finalidade de prover de forma perpétua recursos para custear entidades filantrópicas e educacionais.

Sua forma de gestão gerou excepcionais retornos para a universidade Yale e é seguida por diversos profissionais de mercado. No período de dez anos encerrado em junho de 2008, ele obteve uma rentabilidade de 17,8% ao ano, contra o principal índice de ações – S&P 500 – de 7,1% ao ano. No período de 20 anos, os resultados também refletem sua forma de gestão, alcançando um retorno de 15,6% ao ano, versus 10,8% ao ano para o S&P 500.

O fato de o livro ser destinado originalmente a investidores institucionais o torna ainda mais atrativo para o investidor individual que deseja conhecer com mais profundidade os desafios dos grandes investidores. Ao longo do livro, o autor conta casos de investimentos, enriquecendo seus ensinamentos com exemplos que vivenciou.

Adicionalmente, a estrutura que o autor gerencia possui um objetivo de investimento muito similar ao que nós pessoas físicas enfrentamos quando pensamos nos recursos para a aposentadoria. Portanto, muitas lições são perfeitamente aplicáveis ao investidor individual. Esse objetivo é dividido pelo autor em duas partes que segundo ele é um dos desafios que enfrenta:

“Os gestores de endowments perseguem dois objetivos conflitantes: preservar o poder de compra e fornecer fluxos consideráveis de recursos para o orçamento operacional”.

Três decisões de gestão
O gestor explica que o retorno de um investimento pode sex explicado por três decisões de investimento: alocação entre classes de ativos, market timing e seleção de ativos. Investidores menos experientes deveriam restringir sua atuação apenas à primeira delas, pois

“os altos custos do jogo da gestão ativa garantem que o participante ocasional irá fracassar”.

Alocação entre classes de ativos x seleção de ativos
De forma errada, muitos investidores focam na seleção de ativos para montagem de suas carteiras. Entretanto, como alerta Swensen, a alocação entre classes de ativos é a parte mais importante no desafio de investir é aquela, a qual, deve ser destinada maior atenção. É no processo de decisão de alocação que se define a proporção do portfólio em cada classe de ativos: renda fixa, ações nacionais, ações internacionais, ativos reais, e outras.

Conforme estudo de Roger Ibbotson e Paul Kaplan, e que está em linha com outras pesquisas como a de Brinson et al, a alocação de ativos responde por mais 90% dos retornos de um portfólio e muitas vezes por mais de 100% do retorno. Swensen destaca:

“Selecionar as classes de ativos para um portfólio constitui um conjunto de decisões de importância crítica, que contribui em larga medida para o sucesso ou o fracasso de um portfólio”.

Market timing
Você talvez se pergunte, como a alocação de ativos pode responder por mais de 100% dos retornos de um portfólio? Isso ocorre porque as decisões de seleção de ativos e de market timing, em média resultam em retornos negativos. O autor cita o reconhecido consultor de investimentos Charles Ellis:

“Não há evidências de nenhuma instituição de porte que tenha algo parecido com uma habilidade consistente de entrar quando o mercado está em baixa e sair quando o mercado está em alta. Tentativas de alternar entre ações e títulos, ou entre ações e caixa, em antecipação aos movimentos do mercado, foram malsucedidas muito mais vezes do que o número de sucessos”.

Esse pensamento vai ao encontro com investidores individuais que, com a intenção de encurtar o tempo para a aposentadoria, apostam em ações específicas, ou nos mercados de bolsa e câmbio por meio de derivativos, mas acabam perdendo rentabilidade e os distancia ainda mais de sua independência financeira.

As mais de 400 páginas do livro de Swensen aprofundam as poucas dicas abordadas aqui. Para aqueles que não tiverem oportunidade de ler, devido à dificuldade de encontrar o livro, abordarei novos ensinamentos desse renomado gestor em futuro próximo.

Desbravando a Gestão de Portfólios, uma abordagem não convencional para o investimento institucional, de David F. Swensen.