Ganhe dinheiro como uma seguradora

Uma seguradora aufere ganhos coletando prêmios de seguros de forma que esses prêmios compensem as perdas geradas pelos sinistros. Esse processo pode ser replicado no mercado de ações e é realizado por uma série de investidores como alternativa de obtenção de renda mensal, mas com um menor risco que o normalmente atribuído ao mercado acionário. Se bem implementada, pode resultar em rendimentos superiores a três vezes o retorno do CDI.

Quando se fala em obter uma renda no mercado de ações, pensa-se imediatamente nos dividendos distribuídos pelas empresas. Entretanto essa não é a única forma e nem a que possui menor risco. Outra estratégia empregada por investidores institucionais e individuais é a chamada “Covered Call” (call coberta). No Brasil, essa estratégia também é chamada de financiamento com opções de compra ou lançamento coberto.

Para montar a operação, utiliza-se o derivativo chamado opção de compra (call). Uma call é um direito de comprar um ativo, por um determinado preço, chamado de preço de exercício, e em um momento no futuro. O nome call coberta vem pela forma como a operação é estruturada.

Como montar a estratégia
A estratégia é formada pela compra de uma ação e a venda de uma opção de compra sobre a mesma ação. Ou seja, vende-se o direito para que outro investidor possa comprar sua ação por um preço determinado, denominado de preço de exercício, em um momento no futuro.

A venda do direito proporciona o ganho de um prêmio ao vendedor. Esse prêmio se assemelha ao prêmio que se paga a uma seguradora pelo seguro de um carro. Fazendo a analogia ao seguro do carro, o sinistro seria o preço da ação cair e nesse caso, o prêmio recebido pode não ser suficiente para cobrir a perda com a ação que possui.

Por exemplo, vamos montar a operação com a ação preferencial da Petrobrás (código: PETR4) que teve um preço de fechamento nessa sexta-feira de R$21,26 por ação e a opção de compra (código: PETRE21) sobre a mesma ação com vencimento em 21/05/2018, preço de exercício de R$21,00, a qual encerrou nessa sexta-feira ao preço R$1,23. O preço de exercício é o preço ao qual o comprador terá direito de pagar pela sua ação na data de vencimento.

Se o investidor apenas comprasse a ação, ele teria um gráfico de lucro no vencimento que se assemelharia ao Gráfico 1. Se a ação estiver acima de R$21,26 no dia do vencimento da opção, ele teria um lucro.

Gráfico 1: Lucro pela compra da ação preferencial da Petrobras (PETR4) por R$21,26.

A venda da opção de compra tem um lucro conforme o apresentado no Gráfico 2. Quando se vende a opção, aufere-se o prêmio de R$1,23. Caso a ação esteja abaixo do preço de exercício de R$21,00 no dia 21/05, a contraparte que comprou a opção não exerce seu direito de comprar sua ação a esse preço, e o vendedor da opção terá um lucro de R$1,23. Entretanto, se a ação subir acima do preço de exercício, o vendedor da opção deverá vender a ação ao preço combinado de R$21,00. Logo, terá um prejuízo caso a ação suba a um preço superior a R$22,23 (= 21 + 1,23).

Gráfico 2: Lucro na venda da opção de compra da Petrobras (PETRE21) por R$1,23.

A junção dos Gráficos 1 e 2 define o lucro da estratégia. Desconsiderando os custos de transação, caso a ação suba e esteja acima de R$20,03 (=21,26 – 1,23) no dia 21/05/2018 – dia do vencimento da opção – o investidor teria algum lucro. Caso contrário, teria prejuízo.

Gráfico 3: Lucro da estratégia de comprar a ação PETR4 e vender a opção PETRE21.

Observamos que o prêmio recebido na venda da opção representa um rendimento de 4,56% (=(21 + 1,23 – 21,26) / 21,26) no período de 30 dias úteis, quase um mês e meio. Esse é um ganho bem acima do CDI no mesmo intervalo de tempo, que seria de 0,74%. No entanto, existe um risco de a ação cair, o que chamaríamos de sinistro na linguagem da seguradora e o investidor poderia ter um prejuízo.

Perceba que existem algumas condições ideais para se montar a estratégia que abordarei em seguida.

Quando montar a estratégia
Uma seguradora pode ajustar o prêmio recebido quando o risco de sinistro se eleva. Por exemplo, o seguro de carro para um jovem é mais caro que para um casal de meia idade. Entretanto, nessa estratégia, você não consegue ajustar o preço do prêmio recebido pela sua expectativa de sinistro.

Logo, você só deve montar essa estratégia se acredita que a ação vai seguir subindo, ou pelo menos não vai cair, pois, assim, aufere o prêmio na venda da opção. Portanto, o momento ideal para montar a operação é quando a ação já caiu muito e você acredita que ela não deveria cair mais. Seria equivalente a uma seguradora só vender o seguro para pessoas que ela acredita que não vão bater o carro.

Caso não esteja tão confiante na alta da ação, prefira vender uma opção com preço de exercício menor. Por exemplo, a opção com preço de exercício de R$20,25 (PETRE202) tinha prêmio de R$1,51 na sexta-feira. Esse prêmio resulta em uma rentabilidade de 2,35% (=(20,25 + 1,51 -21,26) / 21,26) no período. Esse ganho é menor que o anterior, mas proporciona uma maior segurança, pois o lucro ocorre quando a ação está acima de R$19,75 (=21,26 – 1,51), contra o preço de R$20,03 anterior. Ou seja, a ação precisaria cair 8,42% para começar a ter prejuízo, versus 5,79% de queda para ter prejuízo no exemplo anterior. Essa rentabilidade de 2,35%, se anualizada, equivaleria a 21,5% ao ano, ou seja, bem superior ao CDI de 6,39% ao ano.

Os gráficos abaixo ilustram esses cenários descritos e demonstram as possibilidades de ganhos e perdas.

Quais as possibilidades de ganhos e perdas
O máximo de ganho que a estratégia pode proporcionar mensalmente é equivalente ao prêmio da opção, no caso de o preço de exercício da opção ser igual ao preço da ação no momento. Essa rentabilidade é bem superior ao CDI, mas carrega um elevado risco se a ação utilizada para a estratégia se desvalorizar.

No Brasil, não existem fundos que realizam exclusivamente essa estratégia. Portanto, o investidor que deseja aplicar nela, precisa ter todo o trabalho operacional de montar e realizar as renovações mensais. No exterior, existem vários fundos que a realizam. Um exemplo é o ETF (fundo negociado em bolsa) denominado PowerShares S&P 500 BuyWrite ETF (PBP). Utilizando apenas ETFs americanos para ilustração, veja no Gráfico 4 que a estratégia representada pelo ETF rende mais que os títulos públicos em momento favorável do mercado, mas obviamente rende menos que comprar ações (índice S&P500) diretamente.

Gráfico 4: Evolução de um investimento de R$100 nos últimos cinco anos, nos três ETFs americanos: S&P500, Covered Call, Títulos de renda fixa de 10 anos (Fonte: YahooFinance).

Ao contrário do que alguns falam, a estratégia Covered Call pode proporcionar severas perdas ao investidor no caso de o mercado apresentar desvalorização. Essa perda pode ser observada no Gráfico 5. Veja que durante a crise de 2008, a estratégia chegou a apresentar perda de quase 40%. Embora a queda tenha sido menor que a do próprio índice S&P500, foi uma acentuada desvalorização.

Gráfico 5: Evolução de um investimento de R$100 entre 2007 e 2012, nos três ETFs americanos: S&P500, Covered Call, Títulos de renda fixa de 10 anos (Fonte: YahooFinance).

Essa estratégia não possui risco similar ao da renda fixa. Portanto, para o investidor conservador, ela não é adequada. Para aqueles que possuem uma carteira de ações, a realização dessa estratégia é uma boa forma de ter rendimentos com as ações adicionais aos dividendos recebidos pela empresa.