Você sabe qual o seu perfil de investidor?
Normalmente quando perguntado a qualquer brasileiro sobre seu perfil de investidor, com uma alta probabilidade ele se definirá como conservador. Em vários casos, sua percepção de conservadorismo deriva não de seu real perfil, mas de dois fatores: o desconhecimento dos verdadeiros riscos envolvidos nos produtos ou o resultado de uma atuação inconsequente ou não inteligente no passado.
Quando qualquer instituição financeira oferece produtos de investimento, ela solicita a realização de um questionário para definir o perfil de investidor. O erro começa aqui. Esse questionário no melhor dos casos tenta medir a habilidade do investidor lidar com risco. Entretanto, essa tarefa não é realizada de forma adequada, pois o aplicador nem sabe do que se trata o investimento. Responder que já compou algo, ou se o possui, não significa que deveria, ou que poderia comprar mais. A atitude passada pode ter sido realizada de forma errada. Ao mesmo tempo, se não possui um produto, também não quer dizer que não deveria comprá-lo.
Outro ponto de atenção nos perfis de investidor é que depois que lhe é atribuído um perfil, muitas instituições podem não oferecer, desincentivar ou inibir o investimento em produtos que fariam sentido em determinada proporção. Por exemplo, embora fundos de ações seja um produto agressivo, um investidor com patrimônio superior a R$300 mil poderia ter R$10 mil investidos em fundos de ações e isso não alteraria seu perfil de investidor e seria justificado no atual momento. Entretanto, algumas instituições inibem isso pela restrição do perfil.
Como determinado por Benjamin Graham (mentor do bilionário Warren Buffet), a agressividade da sua carteira está mais relacionada à sua forma de atuação como investidor do que dos tipos de investimento que você possui. Ele argumenta que um investidor inteligente deve atuar seguindo uma de duas formas:
- Ativamente, dispendendo bastante tempo na realização de pesquisa, seleção e monitoramento dos investimentos, ou
- Defensivamente, seguindo uma alocação alvo distribuída em classes de ativos.
No entanto, não importando o que investidor é, ainda precisa determinar seu perfil para estabelecer alocações estratégivas alvo em cada classe de ativo – renda fixa, renda variável, investimentos alternativos e outros. Para isso, deve avaliar duas características: sua capacidade de correr riscos e sua habilidade.
Capacidade de correr risco
Sua capacidade de correr riscos está associada a fatores como estágio do ciclo de vida, condições familiares e financeiras. Quanto mais novo você é, em geral maior sua capacidade de correr risco. Entretanto, a idade não é o único critério para restringir risco. Também devem ser consideradas caracaterísticas familiares, de renda e patrimônio.
Por exemplo, um jovem, que está perto de casar e comprar imóvel, tem despesas previsíveis e de curto prazo. Portanto, deve limitar o risco de seu portfólio. Já um idoso com netos e com uma fortuna capaz de suprir sua renda até a aposentadoria, não há razão para manter um portfólio conservador, já que boa parte do patrimônio será deixado para os netos.
De forma geral, quanto mais compromissos financeiros de curto prazo possui, menor sua capacidade de correr riscos. Ou seja, não é sua idade, mas o prazo e proporção de suas obrigações financeiras que delimita sua capacidade de correr risco.
Entretanto, além dos compromissos financeiros, também deve ser avaliado quanto consegue atender aos compromissos com sua renda e quão certa é a renda. Quanto mais estável e capaz de suprir todas suas obrigações for sua renda, mais pode correr risco em seu portfólio de investimento. Mas mesmo que possa correr risco, você precisa entender se suporta.
Habilidade de correr risco
A habilidade de correr riscos está associada a forma como lida com a volatilidade dos preços de mercado. Alguns Investidores não suportam ver seu portfólio variando ao longo do tempo.
Vários aplicadores que se dizem conservadores, o fazem por uma experiência negativa no passado. Na maioria das vezes isso ocorre logo após uma alta do mercado. A empolgação de uma alta do mercado leva investidores a extrapolar a alta e esquecer que momentos desfavoráveis sempre seguem as altas. Entretanto, não suportando a queda do mercado logo após a aplicação, resgatam com prejuízo e carregam essa decepção por sua vida financeira.
Essa atitude é ilustrada pelo provérbio turco:
“Depois de queimar a boca com leite quente, assopra-se até iogurte”.
Mesmo com reduzida tolerância a risco, o investidor pode alocar parte de seus recursos em produtos agressivos caso possua capacidade para tal. Basta que a proporção de alocação nos produtos agressivos seja baixa. Essa alocação mesmo que pequena se torna ainda mais justificada no atual momento de taxas de juros mais baixas.
Antes de investir, pare um tempo para refletir sobre sua capacidade e habilidade de correr risco. O adequado planejamento de uma estratégia de alocação poderá trazer grandes benefícios para o retorno de seu portfólio, pois como alerta o reconhecido gestor David Swensen, a maior parcela dos retornos será explicada por ela. E a definição do perfil de investidor é chave para isso. Outro fator fundamental para a adequada de definição do perfil é o estudo dos produtos financeiros, suas perspectivas de retorno e riscos, pois quanto mais entender, melhor poderá planejar os reflexos no seu portfólio.