Dólar, bolsa e juros; Saiba o que fazer
O primeiro quadrimestre apresentou grandes oportunidades como a alta de mais de 13% na bolsa (Ibovespa), valorização de mais de 6% do câmbio (dólar) e queda dos juros que promoveu ganhos nos títulos prefixados e referenciados a IPCA. No entanto, se ao olhar para o passado o início do ano pareceu fácil rentabilizar sua carteira, o mesmo não é possível falar para o futuro.
O cenário para o restante do ano se apresenta bastante desafiador. Internamente, temos uma das eleições presidenciais com maior incerteza quando comparada ao passado recente. No exterior, riscos de guerra comercial e de aumento de taxas de juros colocam em cheque a continuidade do ambiente benigno de crescimento econômico com baixa volatilidade nos ativos dos últimos anos.
Neste momento, muitos investidores começam a perceber que os elevados juros de curto prazo já não existem e se questionam para onde levar suas economias. Com esta difícil tarefa de traçar perspectivas e orientar o investidor, conversei com a equipe de uma das mais tradicionais gestoras de recursos do mercado, a Neo Investimentos.
A Neo Investimentos é uma gestora de recursos independente (não ligada aos grandes bancos) fundada em 2003. Conversei com três de seus gestores: Marcelo Navarro, Mario Schalch e Gustavo Mazieiro. Navarro e Schalch são, desde a fundação da gestora há quinze anos, os responsáveis pelo fundo Neo Multi Estratégia. Desde 2003, o Neo Multi Estratégia valorizou 544%, equivalente a mais de 120% do CDI, e apresentou resultado positivo em momentos delicados de mercado como na crise de 2008 e em maio de 2017.
O que esperar do cenário de investimentos no Brasil esse ano?
A taxa básica de juros brasileiras caiu para o patamar mínimo histórico e o CDI que é o indicador que usualmente esse investidor acompanha, rende apenas 6,39% ao ano. Esse baixo retorno, vai incentivá-lo a buscar alternativas. Entretanto, o longo período de taxas mais altas fez com que o investidor brasileiro se tornasse acomodado e não procurasse educação financeira. A alocação em ativos de risco não é algo simples e a consequência, se não for bem estudada e implementada, pode ser um efeito contrário ao desejado, ou seja, em vez de elevar a rentabilidade, pode apenas perder dinheiro. Além disso, o momento de maior volatilidade e de preços dos ativos mais justos pelas valorizações recentes, torna a tarefa ainda mais desafiadora. Nesse sentido, acreditamos que o melhor veículo para o investidor que está acostumado com produtos de menor risco é o investimento em um fundo multimercado. Ao aplicar em fundo o investidor conta com uma equipe especializada que poderá trazer mais agilidade em momentos como o atual e alocar em risco de forma ótima.
Quais fatores olhar na seleção de fundos multimercados?
Existem muitas alternativas para o investidor escolher e este processo de seleção deve ser cuidadoso. Um primeiro fator é a longevidade da equipe e do fundo. Um fundo com uma equipe com longo histórico já passou por vários momentos de stress no mercado, aprendeu e provou que consegue superá-los. O cenário de maior liquidez internacional levou vários ativos a estarem negociando com um preço sem sentido. Para o pequeno investidor, identificar esses ativos não é trivial.
Como o Warren Buffet fala: “você só descobre quem está nadando pelado quando a maré baixa”, ou seja, momentos de stress vão se repetir e equipes que já passaram por estes adquiriram experiência e melhores controles para contornar.
Um segundo fator é a utilização de estratégias diferenciadas. O investimento de risco tradicional (bolsa, câmbio e juros) acaba expondo o investidor a uma relação retorno/ risco ruim em vários momentos como o atual. Gostamos de utilizar em nosso fundo estruturas com derivativos que produzem resultados positivos tanto em momentos de stress como nos de euforia. Essas estruturas reduzem a correlação do produto com outros e melhora a diversificação dos clientes.
Um terceiro fator é a experiência dos gestores em investimentos internacionais. Com a queda dos juros no Brasil é importante buscar alternativas pelo mundo e em fundos multimercado como o nosso, o investidor pode ter acesso a essa opção.
Falando em diversificação internacional, o que esperar para o dólar?
A situação econômica atual do país é bem diferente de quando o câmbio atingiu R$4/dólar. O déficit em conta corrente que registra as entradas e saídas devidas ao comércio de bens e serviços internacionais, bem como pagamentos de transferências, se mostra significativamente melhor agora. Isso pode ser visualizado no gráfico abaixo.
Perceba que quando tínhamos uma situação de deficit como o atual, o câmbio se manteve em patamar igual ou inferior ao atual. Estimamos que se o resultado da eleição for por um candidato reformista, o Real tem espaço para se valorizar para o patamar anterior de R$3,2/ dólar. Portanto, potencialmente, nossa moeda poderia voltar a se apreciar até o final do ano.
A bolsa é uma boa alternativa no momento?
No início do ano, indicamos que ainda havia espaço para valorização (ver link) e o Ibovespa subiu em menos de quatro meses mais que duas vezes o retorno do CDI do ano. Com a alta recente e os riscos do momento, não vislumbramos uma relação retorno/ risco favorável para a bolsa. Portanto, aqueles que estavam fora, devem planejar com cuidado a elevação de exposição a renda variável.
Entretanto, vislumbramos um bom potencial de ganho nos preços relativos de empresas negociadas na bolsa. E é isso que estamos fazendo em nosso fundo. Identificamos empresas que estão relativamente mais baratas. Compramos as ações das empresas mais baratas e vendemos a descoberto as ações das empresas mais caras (ver link). Nesse sentido, o fundo aufere o ganho do diferencial de preço entre as duas ações não importando para qual direção vai o mercado. Para um indivíduo realizar análise de diversas empresas e identificar aquelas que relativamente estão mais baratas não é trivial e exige uma equipe de analistas investigando. Atualmente, esse é o maior potencial de ganho do mercado acionário não só no Brasil como internacionalmente.
Quais aplicações em títulos de renda fixa estão mais interessantes?
As taxas caíram bastante e o risco de repiques inflacionários não está afastado. A inflação caiu como reflexo da queda do preço de alimentos e do período recessivo por que passamos. No entanto, o Brasil não fez o dever de casa e se a economia retomar o crescimento ou surgir pressões nos preços de commodities, podemos voltar pontualmente a ter alguma inflação superior ao atual patamar. Portanto, acreditamos que as taxas pré-fixadas de curto prazo não estão atrativas quando considerado o balanço retorno/ risco. Entretanto a taxa de juros real de longo prazo (5% ao ano mais IPCA) presente nos títulos públicos ainda se mostra interessante. Para o investidor que deseja economizar para a aposentadoria, os títulos públicos referenciados a IPCA de longo prazo permanecem atrativos.