O que as surpresas na Copa nos ensinam nos investimentos?

Neste fim de semana tivemos resultados surpreendentes no Campeonato Mundial de Futebol e que podemos relacionar a comportamentos usuais de investidores quando realizam suas aplicações.
A Alemanha, campeã da última Copa, perdeu para o México. Países favoritos como Argentina e Brasil empataram em seus jogos de abertura. Esses eventos parecem surpreendentes, pois acreditamos que a probabilidade de ocorrerem seria muito baixa. No entanto, o cálculo dessa probabilidade levou em conta apenas eventos recentes, nos quais esses paises ganharam.
Analisando resultados recentes, atribuímos baixa probabilidade a eventos contrários a tendência. O campo de pesquisa de finanças comportamentais constata que estes mesmos torcedores, quando realizam seus investimentos, adotam o mesmo hábito.
Um exemplo desse viés em investimentos foi observado no mês de maio com a forte surpresa na queda de mais de 10% da bolsa de valores medida pelo Ibovespa.
Tendo em vista a recente tendência de alta do mercado de ações até abril de 2018, se perguntássemos a qualquer investidor qual probabilidade atribuiria a uma queda de mais de 5%, provavelmente a resposta seria um número muito baixo.
Da mesma forma, com a recente queda, os investidores começam a atribuir maior probabilidade de quedas nos meses subsequentes.
Responda você, qual probabilidade acredita que a bolsa teria de cair mais de 5% em um mês qualquer?
A) menos de 10%
B) próximo de 20%
C) mais de 25%
Uma forma de estimar essa probabilidade seria olhar para o histórico e contar quantos meses a bolsa caiu mais de 5% em um mês. Em seguida, dividir pelo número de meses total na amostra.
O gráfico abaixo apresenta esse resultado.

Distribuição de probabilidade acumulada dos retornos mensais do índice Ibovespa (Fonte: Quantum).

Somando os retornos mensais do Ibovespa desde janeiro de 1997, temos 257 meses. Desse total, em 46 meses, os retornos do Ibovespa foram piores que -5%. Dividindo 46 por 257, encontramos 17,9%. Portanto, poderíamos dizer que a probabilidade de a bolsa cair em um mês qualquer mais de 5% é de 17,9%, ou seja, a quase 1 em cada 5 meses a bolsa caiu mais de 5%.
Em maio, o Ibovespa caiu 10,87%. Pelo gráfico, podemos estimar que a probabilidade do Ibovespa cair mais de 10% seria de 9%. Para ler o gráfico, basta ver no eixo vertical a probabilidade de ocorrer um retorno mensal para o Ibovespa menor que a rentabilidade apresentada no eixo horizontal.
Devemos ter cuidado para que tendências recentes não nos levem a conclusões erradas sobre as probabilidades dos eventos futuros. Portanto, cuidado para não se contaminar com o negativismo provocado pelo desempenho no curto prazo dos diversos mercados.

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.