Como investir em renda fixa e obter retorno maior que no Tesouro Direto

A popularização da plataforma do Tesouro Direto proporcionou aos investidores um ganho de rentabilidade acima das aplicações tradicionais dos grandes bancos e sobre a decadente caderneta de poupança.

O desenvolvimento do mercado de renda fixa brasileiro deve resultar em um novo salto de rentabilidade, mas é preciso considerar com cuidado os riscos de cada investimento.

A plataforma do Tesouro Direto disponibiliza a negociação de títulos públicos de três tipos: referenciados à taxa Selic, prefixado e referenciado ao IPCA. As vantagens dessa plataforma são a possibilidade de se investir valores tão baixos quanto R$30, a liquidez para venda e o baixo risco de crédito dos títulos. Entretanto, essas vantagens têm um custo mínimo de 0,30% ao ano.

Com a taxa Selic em 6,4% ao ano, esse custo faz com que o título Tesouro Selic renda apenas 95,5% do CDI que está em 6,39% ao ano.

Existem fundos de renda fixa referenciados ao CDI, com baixo risco, liquidez e com aplicação inicial a partir de R$3 mil que rendem pelo menos 100% do CDI já líquidos de todos os custos. Alguns desses fundos chegaram a proporcionar retornos superiores a 105% do CDI nos últimos anos. No passado, eles estavam disponíveis apenas para clientes private, mas já podem ser adquiridos em diversas corretoras.

O retorno superior de pelo menos 0,3% ao ano pode parecer pequeno no curto prazo, mas resulta em uma diferença de quase 6% em 20 anos, ou de R$1,8 mil a mais se investiu R$10 mil pelo mesmo período.

Também há as alternativas de CRIs e CRAs de empresas de baixo risco de crédito que têm sido distribuídos a taxas líquidas de IR de 95% do CDI. Como esses títulos são isentos de IR e o título Tesouro Selic é tributado, a diferença é significativa. Um retorno de 95% do CDI líquido equivale a um retorno de um título sujeito a IR de no mínimo 111,7% do CDI, ou mais se o título tributado precisa ser vendido em menos de dois anos.

A vantagem deles sobre os títulos públicos é ainda mais significativa no longo prazo do que a descrita anteriormente. Entretanto, ela vem com um risco de crédito um pouco maior. Para mitigar esse risco, o investidor deve limitar o investimento por emissor em no máximo 2% a 3% de seu patrimônio.

No caso dos títulos prefixados e referenciados ao IPCA, o ganho dos títulos privados pode ser ainda maior.

Os CDBs de bancos médios com garantia do FGC, prefixados e referenciados ao IPCA são vendidos nas corretoras com rentabilidade 20% superior à dos títulos públicos de mesmo prazo.

Enquanto o aplicador obtém 9% ao ano de retorno no título Tesouro Prefixado de três anos, um CDB de banco médio, de prazo similar, apresenta rentabilidade próxima a 10,8% ao ano.

Se fosse possível conseguir as mesmas taxas por vinte anos, o CDB resultaria em rentabilidade de quase 50% superior à do título público devido ao poder dos juros compostos.

Nos títulos referenciados ao IPCA é possível se valer dos ganhos de isenção de IR nas debêntures incentivadas e nos CRIs e CRAs. Mesmo que o título isento tenha a mesma taxa do título público, a isenção de IR proporciona, anualmente, retorno real líquido 34% superior ao do título público, pois a inflação também é tributada e reduz o retorno real do título sujeito a IR.

Vale destacar que o ganho adicional dos títulos privados ocorre devido ao risco de crédito que possuem. Para mitigar esse risco de crédito o investidor pode se valer da garantia do FGC para as emissões bancárias e limitar a participação por emissor nos títulos que não possuem esse seguro como os CRIs, CRAs e debêntures.

Para aqueles investidores que desejam correr menor risco de crédito, os fundos de investimento em infraestrutura que aplicam em debêntures incentivadas são uma boa opção, pois o gestor do fundo faz a análise de risco e diversifica em vários ativos. Alguns desses fundos possuem investimento mínimo de R$1mil. Lembro que o investimento mínimo em uma debênture, CRI ou CRA é próximo a R$1 mil. Logo, os fundos permitem uma grande diversificação, ou seja, menor risco de crédito e com o mesmo valor.

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.