Qual o impacto da eleição para os investidores do Tesouro Direto?

Os investidores mais conservadores que optaram pela popular plataforma do Tesouro Direto têm sentido no bolso o custo da incerteza eleitoral. Sem compreender a dinâmica do mercado de juros, indagam como estão perdendo, mesmo sem o Banco Central estar elevando a taxa de juros.

Estes investidores foram levados pelas notícias de ganhos mais elevados que alguns títulos alcançaram na plataforma há três anos e alocaram boa parte de suas economias naqueles títulos que mais se valorizaram, como o Tesouro IPCA 2035.

Passada a euforia, pagam agora o custo da falta de diversificação e de planejamento dos investimentos.

A diversificação mitiga o risco de perda, pois o ganho em aplicações diferentes compensa parte do prejuízo. O adequado planejamento evita com que seja necessário realizar o prejuízo quando o mais indicado seria aproveitar os preços mais baixos.

Por que os títulos se desvalorizam mesmo quando o Banco Central não faz qualquer movimento?

A confusão se inicia aqui. Não é a taxa de juros de curto prazo que define o preço do título, mas a taxa de juros futura. E esta última é definida em negociações no mercado financeiro.

Para entender esta relação, imagine uma gangorra, que é um brinquedo infantil comum nos parques. E, ao invés de haver uma criança, em cada lado da gangorra, há a taxa de juros futura de um lado e do outro o preço do título.

Efeito da alta da taxa de juros sobre o preço do título de renda fixa. Quando a taxa sobe, o preço cai.

Quando a taxa de juros futura sobe, o preço do título cai. Da mesma forma, quando a taxa de juros futura cai, o preço do título sobe.

Efeito da queda da taxa de juros sobre o preço do título de renda fixa. Quando a taxa cai, o preço do título sobe.

Desde o final de abril a taxa de juros do título Tesouro IPCA 2035 subiu para 5,90%+IPCA e estava 5,30%+IPCA. Esta alta fez com que o preço do título caísse para R$1.188 de R$1.280 há cinco meses, ou seja, uma queda de mais de 5,3% no período.

Ressalta-se que esta desvalorização ocorreu em um momento em que a inflação, medida pelo IPCA, teve um dos maiores saltos dos últimos anos. Não fosse a elevação do IPCA, o prejuízo teria sido ainda pior.

Se não tivesse ocorrido a elevação da taxa, desde o final de abril, seu título teria se valorizado R$1.336, ou seja, 4,4% de alta até a última quinta-feira (20/09/2018). Portanto, seu título Tesouro IPCA 2035 está valendo hoje 11% a menos do que poderia estar valendo. E parte desse prejuízo é explicado pela incerteza eleitoral.

Por que a incerteza eleitoral está gerando estas perdas?

Para entender a razão de a eleição causar parte dos prejuízos, é necessário relacionar o país com um devedor comum.

Considere uma pessoa comum que possui uma dívida. Se você, enquanto credor, acredita que esta pessoa vai se endividar ainda mais para poder pagar seus gastos correntes, provavelmente, cobraria uma taxa de juros maior para emprestar dinheiro a ela. Esta elevação dos juros seria uma forma de você ser remunerado pelo risco de eventual inadimplência.

Alguns candidatos à eleição mostraram menor compromisso em controlar os gastos do governo, o que sugere a possibilidade de elevação da dívida pública. Assim, da mesma forma que você, no exemplo anterior, os grandes investidores elevaram a taxa de juros média exigida para emprestar ao governo no longo prazo.

Quais títulos sofrem mais?

Esta elevação de juros não é igual para todos os prazos.

As taxas de juros para prazos mais curtos são menos afetadas que as dos mais longos. Isso ocorre, pois se imagina que um governo que não controle os gastos terá uma dívida cada vez maior no futuro. Logo, a capacidade de pagamento tenderia a piorar com o tempo.

O impacto da elevação da taxa também não é o mesmo para todos os vencimentos, mesmo que o movimento de elevação da taxa seja igual.

Quanto mais longo o título, maior é a sensibilidade dele a variações nas taxas de juros. Este efeito pode ser exemplificado, novamente, com a analogia da gangorra.

Nesta analogia, o prazo é a distância da barra do brinquedo.

Efeito da alta da taxa de juros sobre o preço do título de renda fixa. Quanto mais longo o vencimento do título, maior o impacto de uma variação da taxa de juros sobre, o preço do título.

Quanto mais longo o prazo do título, maior é o impacto pela variação na taxa de juros. Tanto para o lado negativo, quanto para o lado positivo.

Por exemplo, desde o final de abril, os títulos Tesouro IPCA 2019 se valorizaram 2,6%. Ou seja, como seu prazo de vencimento é muito curto, praticamente não sofreram efeito algum.

Lembro que se o investidor não vender o título nesse momento menos favorável e esperar até o vencimento, ele receberá a rentabilidade contratada.

Portanto, quando for investir em renda fixa, divida em prazos de acordo com sua necessidade de fluxo de caixa para não precisar vender antes do vencimento.

Adicionalmente, diversifique entre indexadores e em títulos privados, que podem render mais que os títulos públicos.

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.