Ela é inevitável, mas ainda assim esquecemos de nos preparar
O mês de outubro é em geral lembrado pelo dia das crianças e pelo incentivo à prevenção contra o câncer de mama (Outubro Rosa).
No entanto, uma data igualmente importante é desprezada. O fato de menosprezarmos essa dia reflete nosso comportamento para com a preparação deste momento da vida.
Criado em 1991 pela ONU, o dia do idoso é comemorado em 1 de outubro. A data foi criada com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para as questões do envelhecimento.
Segundo o site do Ministério da Saúde, o Brasil possui a quinta maior população de idosos do mundo e em 2030, o número de brasileiros com mais de 60 anos, será maior que o de crianças de até 14 anos de idade. Portanto, devemos nos planejar financeiramente para este momento.
Neste intuito, há duas importantes questões que devem ser organizadas, desde cedo, para que ao chegar na terceira idade se tenha qualidade de vida.
Previdência
No último levantamento do IBGE, em 2016, a expectativa média de vida dos brasileiros subiu para 76 anos e de cada 100 pessoas, 50% viveriam mais de 80 anos.
Atualmente, a expectativa média de vida para quem chega aos 65 anos de idade é de 20 anos, ou seja, quem chega aos 65 anos, deve esperar viver até os 85 anos, podendo facilmente ultrapassá-los
Isto quer dizer que ao chegar aos 60 anos, você deve estar preparado para ter um patrimônio suficiente para proporcionar renda por pelo menos trinta anos.
Para entender qual patrimônio deveria ter, uma regra simples e, internacionalmente, aceita é a regra dos 4%. Por esta regra, o valor anual que você retiraria no primeiro ano de aposentadoria deveria ser de 4% do patrimônio. E este valor seria corrigido pela inflação nos próximos anos.
Segundo Bengen, que elaborou essa regra, este plano seria suficiente para proporcionar uma aposentadoria segura por pelo menos trinta anos.
Anote num papel o valor que deseja ter de renda mensal durante a aposentadoria. Multiplique esta renda por doze para descobrir o valor anual. Em seguida divida este montante por 0,04.
Por exemplo, considere que deseja ter uma renda mensal de R$ 5 mil. Multiplicando-se por 12, chega-se a R$ 60 mil. Dividindo este último por 0,04, encontra-se o patrimônio necessário, na aposentadoria, que seria neste caso de R$ 1,5 milhões.
Se pretende se aposentar com 65 anos, deveria ter este patrimônio a valores de hoje. Para chegar lá, apresento abaixo uma simulação de quanto deveria ter em cada idade, considerando que aplica, de forma simples, apenas em títulos públicos com retorno de 5,5% ao ano e referenciados à inflação.
Pela tabela é possível perceber que quanto antes começar, menor deve ser o esforço. Se iniciar aos 25 anos precisaria poupar, apenas, R$ 892,76 ao mês para ter uma renda de R$ 5 mil, a valores de hoje, na aposentadoria. Se postergar sua poupança e, iniciar aos 50 anos, precisará economizar R$ 5.442,33 ao mês para ter a mesma renda.
Essa tabela foi construída com aplicações conservadoras. Você pode ter uma rentabilidade maior que nos títulos públicos, em aplicações tão seguras quanto eles, como CDBs com garantia do FGC. Com um retorno maior, será necessário menos esforço de poupança.
Para acompanhar se já atingiu a meta, basta olhar se seu patrimônio já alcançou o valor, da terceira coluna, de acordo com sua idade. Por exemplo, se você tem 40 anos e seu patrimônio financeiro é de R$ 393.350,56, parabéns, você não precisaria mais contribuir com nada e, provavelmente, alcançará seu objetivo.
Saúde
Sabemos que o envelhecimento demanda maior utilização de serviços de saúde e medicamentos. Os custos destes, dificilmente, serão mais baratos e simples no futuro como vemos em filmes.
Embora a despesa com saúde faça parte de seu orçamento e deva estar considerada no plano de aposentadoria que construiu acima, normalmente ela é subestimada.
Portanto, assim como para a renda na aposentadoria, é importante planejar uma poupança para pagamento da despesa com seu seguro saúde, após os 60 anos de idade. Se você paga hoje R$ 300 por um plano de saúde, prepare-se para pagar, pelo menos seis vezes mais (R$ 1.800), depois de se aposentar.
Isto quer dizer que se planejava ter uma renda de R$ 5 mil, a despesa com saúde, poderá ser 40% dos rendimentos mensais. Ou seja, a renda planejada se tornaria insuficiente.
Faça a mesma conta, que realizamos com a aposentadoria, mas aplicada ao pagamento de despesa de saúde. Por exemplo, se considera que sua despesa com saúde será de R$ 2 mil por mês, basta multiplicar todos os valores, na tabela acima, por 40% e terá os valores respectivos para financiar essa despesa.
Outra dica importante para economizar com saúde, no futuro, é adotar hábitos saudáveis desde cedo.
A prática de esportes e uma alimentação balanceada reduzirão seus custos futuros e seu esforço com poupança para financiá-los.
As plataformas das principais seguradoras dão dicas adicionais sobre como atingir seus objetivos financeiros para ter uma vida melhor na terceira idade.
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.