O que esperar para a bolsa de valores com o segundo turno das eleições
Cientistas políticos e analistas qualificam esta eleição presidenciável como uma das mais polarizadas da história recente. Um dos candidatos, devido a sua possível equipe econômica, tem a simpatia do mercado financeiro, enquanto o outro provoca fortes receios nos grandes investidores.
Considerando esta dualidade e o empate declarado em pesquisas para o segundo turno, seria de se imaginar que o risco refletido no mercado financeiro estivesse maior que a média das últimas quatro eleições.
Uma medida estatística usualmente utilizada para medir o risco de ativos financeiros é a dispersão que os retornos apresentam em relação a sua média. Para entender melhor, imagine os dois ativos abaixo.
Na Tabela 1, é possível ver que os dois ativos possuem a mesma média de 5% para os retornos apresentados. Entretanto, claramente o Ativo II é aquele que possui a maior dispersão dos retornos em relação a esta média.
Para medir esta dispersão calculamos a estatística chamada desvio padrão. Esta estatística é comumente denominada no mercado financeiro como volatilidade. A volatilidade do Ativo I é de apenas 0,4%, enquanto do Ativo II é de 8,5%.
Considerando que os retorno destes ativos possuem uma distribuição Normal, seria possível afirmar que com 95% de probabilidade o retorno do próximo período para o Ativo I estaria no intervalo entre – 2 vezes a volatilidade mais a média (-2*0,4%+5% = 4,2%), e 2 vezes a volatilidade mais a média (2*0,4%+5% = 5,8%). No caso do Ativo II, com a mesma probabilidade, a rentabilidade no próximo instante estaria entre -12% (= -2*8,5%+5%) e 22% (= 2*8,5%+5%).
Portanto, o Ativo II possuiria mais risco, pois haveria uma maior incerteza na previsão sobre o retorno no próximo período.
Voltando à eleição, vamos analisar o que poderíamos esperar para a volatilidade (risco) do Ibovespa, no período entre o primeiro e segundo turno, com base nos quatro pleitos anteriores. Adicionalmente, iremos comparar como foi o risco neste primeiro turno com o passado.
Avaliando os dados de volatilidade diária (anualizada) do Ibovespa entre agosto e outubro, apresentados na Tabela 2, verifica-se que o risco de 23,8% ao ano em 2018 é similar ao de 2014 e menor que a média passada de 25% ao ano. Ou seja, a percepção de que o risco estaria maior neste ano não se verifica.
Outro dado curioso a se observar é que, tanto em 2014 quanto em 2002, a volatilidade no segundo turno foi significativamente maior que antes da primeira votação. Reforço que a eleição atual é muito mais comparável a estes dois anos, que aos de 2006 e 2010.
Logo, se acha que o mercado está volátil e difícil de prever com esta eleição, há grandes chances desta incerteza (risco) se elevar ainda mais a partir desta segunda-feira com o início do segundo turno das eleições.
Desta forma, recomenda-se cautela com o otimismo que a bolsa apresentou nesta última semana.
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.