Planeje sua Black Friday do próximo ano
As vendas da Black Friday de 2018 foram 23% superiores às do ano passado, segundo reportagem aqui da Folha de São Paulo. Embora esse número nos sinalize positivamente sobre a retomada confiança do consumidor e do crescimento da economia, pode representar uma dor de cabeça para os consumidores no futuro quando tiverem de pagar pelo que compraram.
Segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o percentual de famílias endividadas se encontra exatamente em sua média desde 2010, representada pela linha horizontal vermelha do gráfico abaixo. Em outubro de 2018, 60,7% das famílias se encontram endividadas.
O número poderia não parecer assustador se este financiamento fosse concentrado em hipotecas com baixos juros. No entanto, esta não é a realidade.
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da CNC mostra que, dentre os tipos de dívida, 77,4% são em cartão de crédito. E, conforme relatório do Banco Central de outubro, este tipo de financiamento tinha juros de até 292% ao ano.
Uma taxa de juros de 292% ao ano significa pagar cerca de 12% ao mês. Caso esta dívida seja parcelada em 12 parcelas mensais com estes juros, o investidor pagará o dobro do valor adquirido. Portanto, perde-se qualquer vantagem de pagar mais barato.
Outro dado da PEIC preocupa. Do total de famílias endividadas 38,1% estão com dívidas em atraso e, aquelas que estão com parcelas atrasadas, 44% não possuem capacidade de honrar seus compromissos.
Surpreendentemente, estes são um dos piores percentuais desde 2010 conforme se observa no gráfico abaixo.
Planejar para comprar mais
Para não entrar no círculo vicioso do endividamento, o caminho é simples e pode permitir você comprar ainda mais. Basta planejar as aquisições.
Já sabemos o calendário de compras de presentes do ano. Os principais são dia das mães em maio, dia dos namorados em junho, dia dos pais em agosto, dia das crianças em outubro, a Black Friday em novembro, o Natal em dezembro e os aniversários em outros meses.
Se não planejar, poderá se afundar em dívidas ao comprar presentes para todas estas datas.
Em vez de fazer uma aquisição e se apertar no orçamento para pagar, o ideal é planejar com um ano de antecedência.
Por exemplo, programe o que deseja adquirir ou um valor que pode gastar em regalos em novembro de 2019. Caso seja uma TV de R$ 2 mil, basta poupar 12 parcelas de R$ 162 em uma aplicação que rende próxima do CDI como o Tesouro Selic. Assim, em vez de pagar o dobro com as taxas de cartão de crédito, pagará menos que o valor do bem.
Se poupar uma reserva de presentes dentro de seu orçamento mensal, terá sempre um valor máximo que poderá dispender com benesses e evitará as dívidas.
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.