O que esperar para a bolsa no próximo ano?

Os cinquenta dias após a eleição do novo presidente podem ser comparados a um curso intensivo do que será o ano de 2019. Em um curto período vivemos um momento inicial de euforia, denúncias de corrupção no governo e incertezas, tanto sobre a aprovação de reformas, quanto sobre o desenrolar da guerra comercial entre EUA e China, e seus reflexos no crescimento mundial. No entanto, apesar disto tudo, o país seguirá a tendência de crescimento e o investimento em ativos de risco se mostrará compensador.

Aqueles que imaginam que o próximo ano será mais tranquilo, devem se decepcionar. Esses últimos dias já sinalizam a realidade. A volatilidade dos retornos do Ibovespa nestes quase dois meses foi superior à apresentada durante o governo Temer. O gráfico do Ibovespa (abaixo) desde a eleição ilustra este fato.

Evolução dos índices de bolsa brasileiro (Ibovespa) e americano (S&P500) e do CDI desde o final do segundo turno da eleição presidencial até 14/12/2018. Fonte: Quantum Axis

Expectativa e realidade

A Figura 1 está separada em quatro intervalos de tempo desde o final do segundo turno da eleição presidencial até a última sexta-feira (14/12/2018). É possível fazer a analogia destes períodos demarcados aos trimestres do próximo ano. O Ibovespa subiu (2%) mais que o dobro do CDI no período inteiro (0,82%), mas atingiu 6% de valorização logo no primeiro quarto de tempo com a expectativa positiva.

Os dados de confiança do consumidor e do empresariado têm atingido suas máximas desde 2014. Este otimismo se reflete nos resultados positivos de vendas da Black Friday de novembro. Isto deve se refletir no crescimento dos lucros e por consequência nos preços das ações.

Portanto, devemos ter um primeiro trimestre mais favorável para o mercado de ações. Essa valorização será permitida pelo recesso parlamentar. Como o carnaval de 2019 ocorrerá em março, não se espera grandes avanços do congresso antes disto.

A dura realidade para os mercados deve chegar ao final do primeiro trimestre. O presidente Bolsonaro deverá ter dificuldade de aprovação das reformas necessárias à sustentabilidade do crescimento econômico. Aliado a isso, sempre há o risco de denúncias de corrupção sobre integrantes do governo que adiciona volatilidade aos mercados.

Mas não é só o ambiente interno que ditará a trajetória da bolsa. Os retornos de nosso mercado apresentam uma correlação de quase 40% com a bolsa americana. A correlação indica o grau de interdependência entre duas variáveis.

 

Ambiente externo pode ser um vilão

Essa relação entre nossa bolsa e a americana está explícita na figura acima. Quando o índice de ações americanas (S&P 500) oscilou para cima e para baixo, o Ibovespa seguiu o movimento.

O ambiente econômico internacional permanece benigno, mas o cenário se mostra mais desafiador. Uma provável desaceleração deste crescimento global se avizinha e os investidores receiam da intensidade desta e seu impacto sobre os lucros das empresas.

Portanto, apesar de o crescimento esperado de lucros das empresas americanas sustentar mais valorização do índice, a volatilidade será maior que nos últimos anos. E esta volatilidade terá reflexos em nosso mercado.

Apesar dos receios, o crescimento de lucros das empresas brasileiras sustentado pela melhoria econômica e pelas baixas taxas de juros, deve sustentar uma valorização do Ibovespa em 2019. Se seu perfil de investidor permitir aplicações de maior risco, fundos de ações devem fazer parte de seu portfólio.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.