Até ele está errando
Os mercados de risco estão dando trabalho aos gestores de fortunas em 2018. Depois de atingirem valorização de 10% e 17% até setembro de 2018, os índices de ações americanos S&P 500 e Nasdaq caem 7,7% e 5,4% no ano, respectivamente.
Se ilude quem acredita que estas variações são um prato cheio para grandes investidores ganharem dinheiro. A dificuldade deles se elevou no final do ano, junto com a elevação da volatilidade dos mercados.
O mais reconhecido investidor do mundo também não conseguiu relaxar neste último trimestre de 2018. Das quinze maiores participações da carteira de ações disponíveis à negociação de Warren Buffett, quatorze perderam do S&P500 no período. Estas quinze ações somam 88% do total de ativos de renda variável negociáveis de Buffett. A única ação a ganhar do índice amplo foi a da empresa Coca-Cola.
Abaixo listo as quinze principais participações de Buffett e suas rentabilidades no trimestre.
Dois pontos podem ser destacados desta listagem acima. Um relacionado à participação individual mais relevante e outro relativo ao setor com maior peso no total.
A principal ação de sua carteira é a Apple que representa quase 26% de seu portfólio de ações disponíveis a negociação. Lembro que este portfólio não considera as participações em empresas de capital fechado, que representam uma proporção relevante do total administrado pelo guru financeiro.
As ações da Apple são um dos destaques de queda no trimestre no S&P500. As ações se desvalorizam mais de 30% no quarto trimestre, enquanto o S&P500 caiu menos da metade no mesmo período.
Logo Buffett, que sempre foi averso a empresas de tecnologia, está sofrendo com a volatilidade das empresas deste setor.
Adicionalmente, das quinze maiores participações de Buffett, sete são do setor financeiro. Este setor tem uma participação de quase 40% no total da carteira do mega investidor. Dentre os dez setores do índice S&P500, o setor financeiro é o terceiro pior no ano, perdendo apenas para os setores relacionados a commodities de energia e materiais.
No Brasil, os gestores de fundos multimercados também enfrentam dificuldade similar. O índice de fundos multimercados calculado pela Anbima (IHFA) tem valorização muito próxima do CDI tanto no ano, quanto no trimestre. Normalmente, eles costumam se valorizar pelo menos 20% acima do índice de referência.
Apesar das dificuldades de curto prazo, Buffett já demonstrou que a receita para estes momentos é a paciência e aproveitar os momentos de queda para, lentamente, aumentar a participação nos ativos de risco, pois é quando todos vendem, que se deve comprar.
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.