Quatro promessas que você não pode quebrar
A independência financeira é um dos principais objetivos almejados por todos. Quem não sonha em iniciar o ano vivendo apenas de renda sem se preocupar com a manutenção do emprego e a capacidade de honrar todas as obrigações?
Para que alcance sua liberdade financeira o mais rápido possível, quatro promessas de ano novo devem ser, disciplinadamente, mantidas. Explico abaixo quais são e a razão.
Cortar gastos
Muitos passam noites em claro sonhando com uma forma de ganhar mais. Elevar a receita mensal é um fator importante para chegar mais rápido à independência financeira. Um dos mais reconhecidos coachs do país, Paulo Vieira, em seu livro Fator de Enriquecimento, destaca esta como a primeira variável a atentar.
Portanto, é importante que continue buscando formas de aumentar os ganhos mensais. Mas, até que consiga elevá-los, outra atitude é mais simples e traz resultados mais rápidos. Você pode elevar o quanto sobra de recursos mensais, para o sossego financeiro, apenas cortando suas despesas.
Você provavelmente pensou, já no começo, que seu caso é diferente e que não consegue cortar nada. O segredo para conseguir reduzir as despesas é aprender a controlar.
Como exercício, veja quanto ganha e subtraia quanto tem conseguido poupar. Esta é sua despesa mensal efetiva. Em seguida, enumere todos os gastos que lembra. Vamos chamar a soma destes de despesa mensal estimada. Perceberá que, possivelmente, a estimativa é menor que o dispêndio efetivo. Ou seja, você não sabe com que gasta.
Esta diferença entre a despesa mensal efetiva e a estimada é seu primeiro foco de corte. Entretanto, também os gastos conhecidos podem ser reduzidos com a conscientização da real necessidade.
A promessa de redução dos gastos não pode ser quebrada, pois ela te deixará milionário.
Se você tem um custo mensal de R$5 mil e consegue cortar os gastos em 10%, acrescenta R$500 na sua capacidade de poupança mensal.
Se bem aplicados, com um retorno de 0,6% ao mês, que representa menos de 120% do CDI, atingirá um patrimônio de R$1 milhão em menos de 36 anos.
A tabela abaixo demonstra como seu corte de custo mensal, se investido com rentabilidade de 0,6%, será atingido em diversos prazos.
Poupar mais
A promessa de poupar mais é uma das primeiras a ser quebrada. A principal razão para não conseguir economizar é que se deixa essa atividade como a última do mês. Com o acúmulo das despesas ao longo do mês, provavelmente, muito pouco do salário sobrará para investir. Portanto, a dica é priorizar o investimento colocando-o na frente de outras despesas.
Investir é uma questão de hábito e este só é adquirido quando realizado com periodicidade e por um longo tempo. Isto pode ser feito de forma espontânea ou compulsória.
De forma espontânea e, assim que recebe o salário, você destinará uma pequena parcela de sua renda para uma aplicação. Fazendo uma analogia, quando se inicia um exercício na academia, se coloca pouco peso e, lentamente, aumenta-se essa carga. O mesmo deve ser feito com o investimento. Se tem dificuldade, inicie destinando uma parcela de apenas um por cento de sua renda mensal e vá aumentando, paulatinamente, este percentual. Depois de dois anos estará poupando mais de 20% de seu salário mas, o fato de ir, gradualmente, elevando permitiu que adaptasse suas despesas. Para avaliar o quanto reduziu de despesas e o montante a ser poupado é, imprescindível, que faça um orçamento de seus gastos.
Apesar de o ato de poupar, mensalmente, parecer simples, poucos conseguem manter esta disciplina espontaneamente. Assim, pode-se criar mecanismos para forçar o investimento. Você pode contratar um plano de previdência que debite, automaticamente, determinado valor de sua conta, na data em que seu salário é pago ou realizar o investimento programado em títulos públicos na plataforma do Tesouro Direto. Para escolher seu plano de previdência veja algumas dicas no artigo que escrevi anteriormente. Para a selecionar títulos públicos leia as orientações que apresento no link.
Não consumir a reserva construída
A independência financeira é atingida não pela sua capacidade de consumo hoje, mas pela sua habilidade de acumular ativos que vão permitir consumo futuro.
Logo, fuja das tentações de consumo que são erroneamente chamadas de formação de patrimônio como a aquisição de veículo ou de bens duráveis, os quais se depreciam, ou seja, perdem valor com o tempo.
Na maioria das vezes a aquisição destes bens é realizada em detrimento da dilapidação do seu real patrimônio, fazendo com que se distancie de seu objetivo financeiro.
Não se iluda, o consumo de R$80 mil, que representa o valor de um carro novo, pode atrasar em dez anos a meta de você se tornar milionário. Isso pode ser visualizado na tabela acima. Perceba que guardando R$500, mensalmente, será necessária uma década para chegar ao valor referido.
Evitar dívidas
Todos os anos vejo indivíduos se comprometendo a nunca mais fazer dívidas. Mas, acabam por rompê-lo em razão de desejos passageiros e pela falta de planejamento.
Empresas se endividam, pois precisam de recursos para investir em ativos que devem gerar retorno superior ao custo da dívida. Deste modo, o endividamento serve como alavancador dos ganhos.
O mesmo raciocínio não pode ser aplicado ao consumo de bens por indivíduos. Nenhum bem, como roupa, veículo, móveis ou eletrônicos geram renda para cobrir as despesas financeiras da dívida. Assim, nenhum destes deveria ser adquirido com dívida.
Aqueles que financiam seu consumo pessoal costumam pagar mais que o dobro pelo mesmo artigo.
Faço uma ressalva ao financiamento para aquisição de imóvel, pois esse é um ativo que se valoriza e equilibra a despesa de aluguel.
Se consumir sua poupança, atrasa o tempo para atingir seu alvo, se endividar, provoca um dano ainda maior. Portanto, este é mais um voto de ano novo que não deve ser quebrado.
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.