A paralisação das atividades do governo americano ultrapassa o vigésimo primeiro dia e atinge o recorde como a mais longa da história. O reflexo disto é que milhares de funcionários públicos federais estão sem receber seus salários e se veem em situação de não conseguirem saldar suas contas.

Justamente aqueles que se candidataram a uma vaga de emprego, na qual imaginavam ter segurança no recebimento do salário, estão agora tendo de vender bens para cobrir as despesas domésticas. No entanto, este aperto financeiro também é enfrentado por outros milhares quando são demitidos e têm de trocar de emprego.

O mais interessante é que já sabemos como nos preparar para estes momentos. Aprendemos esta lição quando o assunto é nosso carro, mas esquecemos quando se trata de nossas finanças.

Se você vai viajar de carro por uma longa estrada, sabe que precisa de gasolina no tanque. Entretanto, você sairia nesta estrada com combustível suficiente apenas para chegar ao próximo posto de gasolina? E quando chegasse a este posto, tentaria completar o tanque ou se preocuparia apenas em alcançar o posto seguinte? Você sabe que o mais razoável é sair com o tanque cheio, pois algum posto no meio do caminho pode fechar.

Seus recursos financeiros podem ser comparados ao tanque de gasolina. Alguns, preferem completar suas aplicações o suficiente para viajar por toda a estrada. Neste caso, eles conseguiram atingir a sonhada independência financeira.

A maioria, entretanto, viaja com recursos financeiros suficientes apenas para chegar ao próximo “posto de gasolina”, que representa o dia em que o salário é pago. Assim como no tanque de combustível, seus recursos financeiros possuem uma marca indicando a reserva. Sabemos que não devemos andar com o carro abaixo desta marca, pois corremos o risco de ficar sem gasolina. Portanto, quem anda com recursos abaixo da reserva financeira corre risco de esvaziar o tanque e ter problemas financeiros se o próximo salário não chegar.

Quanto deve ser a reserva de emergência?

O montante da reserva financeira depende de sua média de gastos mensais. Em geral, especialistas recomendam que todos deveriam ter pelo menos seis meses de despesas mensais como poupança de emergência. Assim, faça uma lista de seus gastos do mês e multiplique por seis. O resultado é o mínimo que deveria manter em aplicações financeiras como reserva de emergência.

Entretanto, esteja ciente que em momentos de alta taxa de desemprego como o atual, pode levar mais de um ano para conseguir uma recolocação. Portanto, ter a reserva não quer dizer que está livre de qualquer desgaste financeiro. Mas será suficiente para evitar situações temporárias de não recebimento de renda.

Como montar sua reserva?

A criação da reserva é o primeiro objetivo financeiro que todos deveriam perseguir. Para atingir esta meta é simples e a disciplina adquirida no caminho será importante para se alcançar sonhos de mais longo prazo como o da independência financeira.

Proponha-se a guardar pelo menos 10% de sua renda mensalmente. Se fizer isto, em menos de cinco anos, sua reserva financeira estará construída.

Onde investir?

A reserva financeira não precisa ser alocada integralmente em aplicações de liquidez diária. Se perder o emprego, não utilizará toda a reserva no primeiro mês. Portanto, divida os recursos em aplicações de liquidez diária e em aplicações que possam ser resgatadas em até um mês.

O risco das aplicações deve estar alinhado com o perfil do investidor, mas evite aplicações de alto risco, ou que possam sofrer grande variação de preços no curto prazo, pois pode ter de vender em momentos desfavoráveis.

Lembre-se que a reserva financeira deve ser utilizada apenas nos momentos de aperto financeiro por perda de emprego ou por atraso no recebimento de salário. Não cometa o erro de se endividar por meio da aquisição de bens, criando uma situação de restrição financeira diferente da anterior e que acabaria consumindo sua economia.

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.