O que é melhor, um título com ou sem pagamento de juros intermediário
O investidor em títulos de renda fixa, tanto de emissores privados, como de públicos, por meio da plataforma do tesouro direto, usualmente, se depara com a dúvida entre escolher os títulos com, ou sem, pagamento de juros intermediários. Existem vantagens e desvantagens em cada um, mas o atual momento sugere a escolha de um deles.
A aplicação em um título de renda fixa equivale a um empréstimo financeiro. O aplicador neste título recebe os juros remuneratórios e o principal que se refere ao valor inicialmente investido. No entanto, o momento em que ocorre estes dois pagamentos varia bastante entre os títulos.
Os títulos públicos usualmente pagam o principal no vencimento, e as datas de recebimento dos juros seguem um padrão e podem ser consultadas no seguinte link. Embora os títulos privados, usualmente, sigam o mesmo padrão do tesouro nacional, há formas de amortização do investimento e de pagamento dos juros bem diversas nestes. Por exemplo, existem títulos em que o investidor recebe mensalmente tanto juros, quanto principal.
Vantagem e desvantagens
Há quatro principais pontos a considerar na decisão de receber antes os pagamentos seja de juros ou de principal.
A primeira está relacionada ao conhecimento da rentabilidade no período de investimento. Quando há qualquer pagamento antes do vencimento, não sabemos hoje a que taxa iremos reinvestir. Esta incerteza pode não agradar aqueles mais conservadores. No entanto, pode ser uma excelente estratégia de gestão de riscos como explico a seguir.
O fato de você receber parte do pagamento antes é positivo para redução principalmente do risco de crédito em títulos privados. Em dívidas de empresas privadas, o maior risco é o de crédito, ou seja, do emissor não ter condições de pagamento da dívida. Se acumular juros e principal para receber apenas no recebimento, o risco se eleva, pois no vencimento em alguns anos à frente, a empresa pode estar passando por alguma dificuldade e você ter seu recebimento comprometido.
Adicionalmente, o recebimento de recursos antecipados pode ser uma vantagem como falo mais à frente dependendo do cenário da curva de juros.
Entretanto, receber antes tem duas desvantagens fiscais. Uma é o de não postergar o pagamento de imposto de renda (IR) e, assim, não ganhar os juros sobre esse valor. A segunda é a de pagar uma alíquota de IR maior nos primeiros dois anos.
Essas duas desvantagens produzem impacto no resultado final tanto menor, quanto mais curto for o vencimento do título e quanto menores forem as taxas de juros. Com uma taxa de juros de 9% ao ano e para um prazo de 20 anos, o título que paga juros intermediários vence com um valor 14% menor. Mas para 10 anos a diferença é de apenas 4% entre os valores finais.
Ressalto que estas duas desvantagens fiscais só ocorrem em títulos sujeitos a IR. Nos títulos isentos de IR como debêntures incentivadas, CRIs e CRAs, estas desvantagens não existem. Neles, o recebimento antecipado é uma vantagem em termos de risco de crédito e para aproveitar movimentos da curva de juros futura, como descrevo na próxima seção.
Resumindo, se o título é de crédito privado e isento de IR, melhor que ele pague juros intermediários, a não ser que as taxas de juros estejam em um momento que a maior probabilidade seja de queda.
Para títulos públicos, a vantagem de postergação do IR pode ser perdida como menciono a seguir.
Qual título preferir neste momento?
Veja no gráfico abaixo que a taxa de juros do título público de longo prazo brasileiro referenciado à inflação (linha na cor laranja) está na mínima histórica. No gráfico também há a representação do risco país pelo Credit Default Swap (CDS) brasileiro. Perceba que as taxas de juros caíram mais que o risco se comparado com momentos anteriores.
Quando compramos um título que não paga juros intermediários, travamos o ganho por toda a vida do título. Isso é muito bom quando as taxas de juros estão elevadas, pois aproveitamos essa taxa por mais tempo. Adicionalmente, podemos ter um ganho antecipado se as taxas no mercado caírem.
Entretanto, como as taxas de juros no mercado já caíram bastante, há pouco espaço para novas quedas que poderiam produzir valorização no curto prazo dos títulos. Os juros estão baixos devido ao otimismo com relação ao controle de inflação, que está na mínima histórica, e à aprovação de reformas para melhoria do déficit fiscal do país.
Assim, qualquer risco na aprovação da reforma da previdência ou elevação de inflação futura, pode fazer com que a curva de juros volte a subir.
Portanto, neste momento existe pouco espaço para os juros caírem, mas risco da taxa de juros subir. Logo, se deseja investir em um título longo, melhor que ele pague juros intermediários, pois é razoável a probabilidade que quando for reinvestir os juros futuros, você aplique com taxas mais elevadas.
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.