Cinco dicas para chegar mais rápido ao primeiro milhão, investindo com baixo risco

Dentre as metas financeiras, a de chegar ao primeiro milhão é a primeira que todos colocam em suas listas de desejos. O que poucos sabem é que há um conjunto de fatores que podem levar mais rápido a este objetivo.

Existem dois grandes desafios na implementação destes fatores. O primeiro é iniciar o processo. Somos procrastinadores por natureza. Adiamos o início de tudo que pode reduzir satisfações presentes em prol de benefícios futuros. Nos enganamos dizendo que no próximo mês começaremos e quando nos damos conta, já se passaram anos.

O segundo e maior desafio é a disciplina. Manter um compromisso contínuo é uma tarefa árdua. Quantos de nós já iniciamos um programa de exercícios, mas, na primeira gripe de cinco dias, paramos de nos exercitar por cinco meses?

O primeiro fator a seguir é a quebra de um paradigma. O desejo de ter liquidez maior que a necessária.

Evite investimentos de liquidez diária

Valorizamos muito a liquidez e, sabendo disto, o mercado cobra caro por ela. A liquidez é a capacidade de monetizar um ativo, ou seja, transformá-lo em dinheiro sem perda financeira. Quanto maior a liquidez, mais fácil e mais rápido vendemos um ativo e com menor redução de seu valor atual.

Empresas, instituições financeiras e o governo precisam de recursos para financiar suas atividades. No entanto eles usam o dinheiro captado para investimentos que só geram resultado no longo prazo. Portanto, eles precisam garantir que você não vai pedir o dinheiro no curto prazo e pagam mais por isso.

Tendemos a desejar que todos os nossos investimentos sejam líquidos e acabamos perdendo um grande ganho.

Aplicações com prazo de vencimento de um ano tendem a render até 10% a mais que similares com liquidez diária. Aquelas com vencimento superiores a 4 anos podem proporcionar retorno 20% superior a uma de mesmo risco mas de liquidez em todos os dias.

Considerando o rendimento de 0,52% ao mês do CDI atual que remunera as aplicações de alta liquidez, um acréscimo de 10% significa elevar o retorno psra 0,57% ao mês, e 20% a mais no CDI representa uma rentabilidade de 0,62% mensais.

Uma aplicação única de R$100 mil com rentabilidade de 100% do CDI leva 37 anos para chegar a R$1 milhão. Se a rentabilidade for de 110% do CDI (0,57% ao mês), você vai levar 34 anos para atingir seu objetivo. Já se o retorno for de 120% do CDI (0,62% ao mês), sua meta será alcançada em 31 anos.

Assim, se quer reduzir o tempo para alcançar sua meta, reduza o montante que mantém em liquidez, deixando apenas o que é necessário, ou seja, o que pode utilizar no mês seguinte.

Aproveite os prêmios de crédito privado

Você já entendeu pelo primeiro fator que a rentabilidade é importante. Assim, vou te dar mais uma dica de como elevar o retorno com baixo risco.

Muitos investidores se prendem aos títulos públicos, pois possuem mais segurança e por serem bastante populares pela simplicidade da plataforma do Tesouro Direto. No entanto, os títulos bancários podem produzir um retorno superior em até quase 15% em relação aos títulos similares de mesmo prazo emitido pelo governo. Mas não é qualquer título bancário.

Os CDBs de grande bancos não vão produzir este ganho. Precisa ser CDBs, LCI, LCA, ou LC de instituições financeiras de médio porte. Elas pagam esse prêmio e você tem a vantagem de contar com a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), se investir até R$ 250 mil por emissor.

Assim, além de elevar os ganhos aplicando por prazos maiores, pode adicionar uma valorização por aplicar em CDBs de bancos médios. Seu rendimento pode subir a 130% do CDI com essa estratégia.

Com um ganho de 130% do CDI, sua rentabilidade mensal será de 0,68%. Desta forma, nas mesmas condições do exemplo utilizado acima, você atingirá sua meta em 28 anos.

Você também pode distribuir em títulos privados emitidos por empresas como debêntures, CRIs e CRAs. No entanto, a análise de crédito aqui é mais relevante, pois você não tem o seguro do FGC. Portanto, nestes casos, é importante dividir bastante.

Assim, abordamos duas formas de elevara rentabilidade e encurtar caminho para sua meta, mas o verdadeiro atalho para seu objetivo ocorre pelo próximo fator.

Corte suas despesas e invista

Vimos que a rentabilidade é um fator fundamental para que sua fortuna cresça mais rápido. No entanto, no início do processo de investimento, sua capacidade de poupança é muito mais relevante.

Quando iniciamos nossa poupança, perdemos muito tempo buscando fórmulas mirabolantes para ter mais rentabilidade. Com o tempo, você vai descobrir que a imensa maioria não funciona. Não é a toa que especialistas com grandes equipes, gerindo fundos multimercados, penam para conseguir entregar rentabilidade e muitas vezes não conseguem.

Ou seja, gastamos tempo com algo que tem baixa probabilidade de trazer retornos. No entanto, há algo que pode trabalhar e que vai trazer grandes ganhos. É cortar suas despesas mensais.

Imagine que você tem um salário de R$ 5 mil mensais e que poupa 10% do que ganha, ou seja R$ 500. Poupando isso e ganhando 120% do CDI, você vai acumular ao final de um ano o valor de R$ 6,2 mil.

Quer saber como ter o dobro no final do ano?

Corte suas despesas mensais em 10% e guarde 20% de seu salário. Ao final de 12 meses, terá R$ 12,4 mil.

Portanto, no início de seu caminho para o primeiro milhão, gaste mais tempo buscando formas de elevar seu salário e de cortar custos, pois isso vai produzir mais resultado que uma das “mágicas” que são propagandeadas nas mídias sociais.

Como percebeu, não há milagres. Para manter um baixo risco e buscar a meta, vai demorar. Daí vem a relevância do próximo fator.

Paciência

Responda à seguinte pergunta. Se seus investimentos dobram a cada 7 anos e você iniciou suas aplicações hoje com R$ 62,5 mil, quanto você terá após 21 anos? E em 28 anos?

Um dos grandes empecilhos para não se conseguir atingir suas metas financeiras é a falta de paciência, pois demora muito para fazer o portfólio crescer.

Você vai demorar 21 anos para acumular metade do que alcançará após 28 anos. Logo, terá R$125 mil após os primeiros sete anos, R$ 250 mil depois de 14 anos, R$ 500 mil quando completar 21 anos de poupança e finalmente atingirá seu primeiro milhão com 28 anos de investimentos.

Perceba que demorou 28 anos para atingir o primeiro milhão, mas se você tem rendimentos que dobram o capital a cada sete anos, o segundo milhão será muito mais rápido. Com 35 anos, ou seja apenas sete anos depois do primeiro milhão, alcançará o segundo.

Evite ativos que não geram renda

Um comportamento comum entre investidores é adquirir bens que geram pouca ou nenhuma renda. Isso costuma ocorrer nos períodos em que os recursos guardados começam a alcançar montantes mais consideráveis, ou seja, após 7, 15 ou 20 anos de aplicações. Para aqueles que iniciaram poupança aos 20 anos de idade, isso ocorre quando eles chegam aos 30 ou 40 anos de idade.

Nesse momento, já acumularam bastante e estariam no caminho de alcançar o primeiro milhão como vimos anteriormente. Mas se desvirtuam da trilha e compram algum bem que não gera renda, mas apenas despesas como um automóvel ou um imóvel de veraneio.

Mesmo o imóvel residencial pode ser um atraso, pois muitas vezes usam o valor guardado para a entrada e financiam a maior parte, mas acabam por pagar dois apartamentos devido às taxas de juros do financiamento.

Assim, se sua meta é chegar ao primeiro milhão, evite a aquisição de bens geradores de despesas ou que rendem pouco.

Essas cinco dicas podem te levar com segurança e de forma mais rápida ao seu primeiro milhão.

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.