Seu portfólio de investimentos precisa desse ativo antifrágil

Foi criticando a capacidade preditiva do mercado financeiro em eventos não esperados que o matemático libanês Nassim Nicholas Taleb ganhou notoriedade com seu livro A Lógica do Cisne Negro. Em 2012, ele lançou uma nova visão sobre como um portfólio ou ativo vencedor deveria se comportar, ele deveria ser antifrágil. Um veículo financeiro, acessível ao investidor comum, tem esta característica, mas sua incompreensão faz com que muitos aplicadores percam a oportunidade.

A definição para o que seria frágil é natural para todos. Algo que é frágil se prejudica com o caos ou com eventos bruscos. Por exemplo, um copo de cristal se quebra apenas com um leve tombamento.

O antifrágil é o contrário do frágil, ele cresce com os eventos bruscos. Pensando no mercado financeiro, ele melhora com a volatilidade. Um instrumento antifrágil têm estrutura de ganho diferente do tradicional.

Como Taleb afirma, para tornar seu portfólio antifrágil, você deve agregar ativos que possuam a estrutura convexa (representado na figura abaixo), pois estes ativos ganham com a volatilidade. Em seu livro, ele estimula que devemos evitar os instrumentos que produzam um resultado côncavo (ganho finito e perda ilimitada).

Estrutura de ganho convexa que está alinhada à recomendação de Taleb e que se caracteriza por ser antifrágil.

Os instrumentos que guardam a estrutura convexa, ou seja, produzem resultados infinitamente crescentes para o lado positivo e perda finita para o lado negativo, podem ser encontrados nos mercados derivativos de opções.

Adicionalmente, Taleb sugere que os investidores deveriam montar seu portfólio com estrutura similar a um peso de halteres (barbell em inglês). Ou seja, de um lado ter concentração em aplicações que te proporcionam segurança de retorno, embora baixos, e do outro lado, uma menor participação em investimentos com a característica convexa que mencionamos acima.

O ativo que reúne estas duas características em um só produto é o Certificado de Operações Estruturadas, popularmente conhecido pelas suas iniciais COE.

A vantagem do COE foi destacada pelo guru internacional Tonny Robbins em seu livro Dinheiro, Domine esse jogo:

O JP Morgan conta com uma obrigação estruturada de sete anos com 110% de proteção aos resultados negativos, o que significa que você nunca perderá seu investimento original, além de lhe garantir 90% dos ganhos positivos do S&P 500. Não é de admirar que os milionários geralmente usem essa ferramenta para investir.

O COE é um produto financeiro que engloba dois componentes: um de renda fixa e um de renda variável (derivativo). A parcela de renda variável pode estar relacionada ao retorno de índices de ações, ações específicas, moedas, commodities, taxas de juros, fundos de investimentos ou qualquer outro indexador. Daí uma de suas principais vantagens, adicionar diversificação ao portfólio.

Diversificação com baixo valor de investimento

Você já se imaginou investindo em produtos de renda fixa, multimercado e de ações na China, Europa, EUA e mercados emergentes? E se tudo isso pudesse ser feito com baixo valor de investimento inicial, sem burocracia de fechar câmbio e sem ter de se preocupar em fazer declarações a reguladores como Banco Central e Receita Federal por ter investimentos internacionais?

Com a estrutura de COE, os investidores comuns têm acesso a tudo isso.

Muitos produtos internacionais demandam investimentos inicias de até US$ 1 milhão. No entanto, por meio do COE, um investidor comum pode ter acesso a tudo isso com valores a partir de R$ 5 mil. Como Tony Robbins mencionou, os milionários já o usam, mas você também pode aproveitar mesmo com reduzido capital inicial.

João Simões, Head Sales de COE da XP Investimentos, sugere que o investidor deve buscar estruturas com assimetria positiva no balanço de retorno/ risco e classes de ativos que ele normalmente não teria acesso com investimentos tradicionais.

A grande vantagem é que, no mesmo produto, é possível agregar o ganho de renda fixa, ou inflação e um ganho atrelado a um índice internacional. Também pode ter capital protegido e alavancagem de ganho do índice internacional, ou seja, ganha múltiplos do retorno internacional. Assim, fica exatamente com a estrutura barbell e antifrágil recomendada por Taleb.

Custos

Com todas estas vantagens, você provavelmente se questionaria se há muitas taxas envolvidas no investimento em COE.

Algumas corretoras, como a XP já divulgam os custos dos COEs distribuídos no Documento de Informações Essenciais, que detalha as características do produto.

As taxas do produto variam de 0,5% a 2% ao ano. Portanto, são similares aos custos envolvidos na aplicação por meio de fundos de investimentos (FI). Entretanto, diferentemente dos FI, os COEs não possuem o famoso “come-cotas”, que é a antecipação semestral de IR.

Com todas estas vantagens você pode se questionar porque o produto é tão criticado.

Por que as pessoas não entendem?

Segundo a Head de Produtos Estruturados da XP Investimentos, Maria Katar:

O COE é um veículo de alocação, que pode dar exposição a retornos de diversos ativos, por meio das mais variadas estruturas. Dizer que um COE é bom ou ruim é generalizar demais. Vai depender do ativo ao qual ele é ligado, da estrutura do COE e do ponto de entrada.

Simões completa explicando que quem critica não entendeu o produto:

Dizer que COE não é um produto bom é similar a dizer que fundo de investimento não é um produto bom.

Assim como fundos de investimentos, o COE é apenas um veículo para ganhar exposição a alguma classe de ativo com vantagem no ganho de escala como mencionamos acima.

Assim como qualquer investimento, se você escolher a estratégia errada ou o momento errado ou a proporção inadequada de alocação na carteira, pode não ter o resultado desejado.

Se bem selecionado o COE é um excepcional veículo de diversificação para todos os tipos de investidores. No entanto, a grande variedade de produtos e estruturas, torna a escolha uma árdua tarefa para o investidor comum. Em um próximo artigo, explicarei como você pode montar uma carteira apenas com renda fixa e COEs.

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.