Estes quatro comportamentos financeiros podem te custar uma fortuna

Quase sem perceber, nos comportamos de forma irracional e isso pode gerar prejuízos ou comprometer ganhos, que acabam por custar uma fortuna se repetidos ao longo do tempo.

Estes comportamentos podem, de forma geral, ser subdivididos em dois tipos: emocionais e cognitivos. Neste texto falaremos apenas do último e abordaremos o anterior no futuro. Os vieses cognitivos estão relacionados a falhas estatísticas, de interpretação e de processamento das informações. Por isso, pesquisadores afirmam que são mais facilmente corrigidas.

Os vieses cognitivos podem ser segregados em duas categorias gerais. A primeira agrupa os vieses relacionados à perseverança de uma crença, ou seja, a tendência que muitos têm de se apegar a uma convicção pré concebida que é irracional ou ilógica.

A segunda categoria agrega os vieses relativos a falhas no processamento das informações, ou seja, como os investidores se utilizam de dados para tomar decisões financeiramente irracionais.

Abordaremos dois vieses da primeira categoria cognitiva e em seguida, dois do segundo tipo.

 

Viés da confirmação

Quando construímos nosso portfólio, levamos em consideração um cenário base. Esse portfólio deve ser constantemente monitorado, juntamente com o cenário, para avaliar se os dois ainda estão coerentes com as mudanças econômicas e corporativas.

O problema ocorre quando pré selecionamos as informações que acompanhamos em jornais, de forma a só ler aquelas que confirmam nosso cenário anterior, desconsiderando as demais que poderiam por em risco os ativos em carteira que pudessem gerar novas ideias de investimentos mas que não estão alinhadas com o pensamento inicial.

As consequências deste viés podem ser graves para a rentabilidade de seu portfólio.

Pessoas que caem na armadilha deste viés tendem a ter pouca diversificação, pois concentram em ativos alinhados à visão inicial e ignoram bons investimentos que não estão alinhados a ele, mas que poderiam ser rentáveis com as novas notícias que foram desconsideradas por não estarem em acordo com o pensamento anterior.

Pessoas que caem neste viés também tendem a ter o portfólio concentrado em ações da empresa em que trabalham. E costumam manter as ações mesmo quando novas informações apontam para perdas na empresa, pois desconsideram estes novos dados.

Vários funcionários da Enron perderam significativas parcelas de seu patrimônio, pois seguiram comprando as ações em sua derrocada. Desconfio que o mesmo ocorreu com funcionários e investidores de empresas brasileiras como Saraiva, Gafisa, PDG, BR Pharma, Eternit, Inepar, Lupatech, MMX, Oi, OGX, dentre outras.

 

Viés do retrospecto

Os investidores que são atraídos por este comportamento avaliam os eventos passados como mais facilmente previsíveis e razoáveis, ou seja, são resultados evidentes. Ou seja, depois que passado o fato, tendemos a superavaliar nossa capacidade de previsão e conhecimento quando avaliamos a decisão de investimento.

Por estarem confortáveis com sua capacidade de previsão, estes investidores têm uma falsa sensação de confiança e, portanto, concentram sua carteira em determinados ativos e acabam por subestimar os riscos destes.

Os analistas técnicos ou grafistas – aqueles que avaliam gráficos de ações para tomar decisão de compra e venda – habitualmente caem nesta armadilha, pois quando analisam o gráfico passado, costumam superestimar sua capacidade de previsão do momento passado.

 

Framing (ou enquadramento)

Neste viés os aplicadores tendem a tomar suas decisões de investimento de acordo com a forma como as informações são apresentadas.

Os pesquisadores comportamentais Amos Tversky e Daniel Kahneman avaliaram este viés e detectaram como as pessoas caem nesta armadilha. Um dos testes empregados por eles foi o abaixo. Escolha uma resposta nas duas decisões para um investimento.

Decisão 1 – Escolha entre as duas alternativas para uma aplicação que produz:

  • A – um ganho certo $250.
  • B – 25% de chance to ganhar $1000 e 75% de chance de não ganhar nada.

 

Decisão 2 – Escolha entre as duas alternativas para uma aplicação que produz:

  • C – uma perda certa de $750.
  • D – 75% chance de perder $1000 e 25% de chance não perder nada.

 

Em geral, a grande maioria das pessoas escolhe as alternativas A e D. O que contradiz, pois estaria se comportando diferentemente na perda e no ganho. O retorno esperado das alternativas na primeira decisão são os mesmos, mas a alternativa B tem mais risco. O mesmo ocorre na Decisão 2. Portanto, para um investidor avesso ao risco, a resposta adequada seria A e C.

O mesmo problema pode ocorrer quando alternativas de investimento podem ser apresentadas por instituições financeiras. Por exemplo, qual das duas alternativas abaixo parece mais atrativa?

  • A – Retorno esperado de 10%, mas com 95% de probabilidade de que o retorno esteja entre (-20% e +40%).
  • B – Retorno esperado de 10%, mas com 16% de desvio padrão.

 

Muitos aplicadores tendem a escolher a segunda opção. No entanto, a primeira deveria ser preferida. Seguindo uma distribuição Normal, um investimento com retorno esperado de 10% e 16% de desvio padrão, tem 95% de probabilidade de que o retorno esteja entre (-22% e +42%). Portanto, mais arriscado.

Uma séria consequência de não processar as informações adequadamente, caindo na armadilha do framing, é não identificar apropriadamente o perfil de risco das aplicações e adotar posições mais arriscadas em momentos que mais se perderia.

 

Viés da disponibilidade

Tendemos a atribuir uma probabilidade maior aos eventos que lembramos de forma mais fácil, ou seja, que estejam mais disponíveis. Assim, informações que vimos recentemente acabam ganhando maior chance em nossa escolha.

Assim, muitos investidores são levados pela propaganda na escolha de ativos e aplicações. Por exemplo, um gestor de fundo de investimento que faça muita propaganda ou esteja constantemente em mídias sociais pode ser preferido a outro que não o faça, mesmo que este último seja melhor e o primeiro não seja adequado em termos de risco ao investidor.

Um aplicador que não tenha tido experiências positivas com um tipo de investimento e tenha tido boa experiência com outro recentemente, pode preferir o último mesmo que ele não seja adequado em termos de risco e que o primeiro seja preferido considerando o cenário e as alternativas recentes.

Portanto, ao avaliar aplicações é necessário seguir um processo rigoroso que considere pesquisa extensa e tomar cuidado para não se levar por propagandas recentes.

 

A atenção a estes comportamentos na escolha de seus investimentos vai fazer com que construa portfólios com um melhor balanço de retorno e risco, evitando-se perdas desnecessárias.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.