Descubra cinco passos para programar sua independência financeira
Todos nos imaginamos não precisando trabalhar em algum momento da vida e mesmo assim mantendo o padrão de vida atual. Esperar pela aposentadoria pública para aproveitar este instante é no mínimo ingenuidade. Portanto, descrevo abaixo os passos necessários para você programar sua independência financeira.
Não espere ficar idoso para entender que é importante ter um capital acumulado. Conforme descreve um dos maiores compositores americanos, Tennessee Williams:
É possível ser jovem sem dinheiro, mas não se pode ser velho sem ele.
Qualquer um pode alcançar a independência, mas poucos a planejam e menos pessoas ainda colocam em prática o plano que fizeram.
Como a maioria não consegue, culpa alguém ou algo, por exemplo, o governo, o mercado, os filhos, os pais, a esposa ou o azar.
Os passos são simples. O mais difícil é a disciplina para honrar o plano.
Definir o valor
O primeiro passo é definir o valor mensal de renda que te permitiria parar de trabalhar. Para este passo, chamo a atenção para dois pontos.
Se você é muito jovem, entenda que no futuro constituirá uma família e o valor necessário subirá. Assim, já considere esta elevação.
Também não coloque um valor irreal em relação à sua renda atual. Sem dúvida todos gostaríamos de ter uma renda de R$50 mil mensais. No entanto, se você já tem família e os ganhos desta são de R$10 mil por mês, estabelecer a meta de R$50 mil é impraticável.
Supondo que deseja sua independência seja alcançada com R$10 mil por mês. Logo, no ano, precisaria ganhar R$ 120 mil.
Conforme a regra dos 4% que já comentei em artigo anterior, você precisaria ter R$ 3 milhões a valores de hoje para usufruir da renda R$ 10 mil mensais.
Pare um instante agora e calcule sua meta.
A grande maioria das pessoas não consegue definir este primeiro passo. Portanto, se você já o fez, parabéns. Mas não comemore, pois os próximos serão mais desafiadores.
Programar o tempo
Agora precisa definir a partir de quando começará a usufruir do benefício da renda perpétua. Se você está lendo o artigo neste domingo, já sei que sua resposta é amanhã. Mas isto não será possível.
Quanto menor for o tempo para acumular o capital, maior deve ser o esforço ou a proporção investida em ativos de risco.
Você pode definir o prazo que deseja e passar para o próximo passo, mas se está indeciso, detalho uma dica que te ajudará.
Para um risco moderado da carteira, a regra para o prazo evolui aproximadamente com o montante a ser aplicado. Se pode guardar 10% da renda que deseja, ou seja, se pretende ter uma renda de R$10 mil e pode poupar mensalmente R$ 1 mil, seu prazo seria próximo de 50 anos.
A cada 10% adicionais que pode poupar, você diminui o prazo em aproximadamente 16%. Assim, poupando 20% da renda, o prazo cai para pouco mais de 40 anos. Obviamente esta conta não é precisa, mas serve para te orientar. O ideal é realizar o cálculo em uma planilha ou calculadora financeira.
Determinar a rentabilidade alvo
Lembre-se que a rentabilidade alvo a ser determinada deve ser real, ou seja, acima da inflação.
A inflação pode ser expressa como a variação do IPCA.
A taxa de retorno precisa ser acima da inflação, pois esta última apenas corrige a perda do poder de compra. Logo, a taxa real é a parcela que vai proporcionar o crescimento do portfólio.
Considerando as taxas de juros neste momento, você pode assumir um retorno de 4% ao ano acima da inflação se seu perfil é conservador, de 5% ao ano para um perfil moderado e de 6% ao ano para uma alocação agressiva.
Montar a carteira
Como este é um investimento de longo prazo, você deve evitar aplicar em ativos de elevada liquidez. Por exemplo, fundos referenciados na taxa DI, Tesouro Selic, LCIs e CDBs referenciados a taxa DI de até um ano de prazo devem ser desconsiderados no portfólio. Esses ativos são interessantes apenas para sua reserva de emergência.
Seu risco aqui não é o de flutuação de preço, mas de não alcançar a meta. Logo, mesmo que seja um investidor conservador não deveria aplicar nos títulos acima o capital que planeja para a independência.
Os títulos e fundos devem ter perfil de longo prazo e, atualmente, devem mirar o retorno composto de 9% ao ano para um perfil moderado.
Será necessário algum investimento de maior risco como um fundo de ações. E mesmo um investidor conservador pode ter uma proporção de cerca de 5% em fundos de ações pagadoras de dividendos.
O portfólio será dividido em fundos e títulos referenciados à inflação, fundos multimercados, fundos imobiliários e fundos de ações.
É muito importante entender que, devido ao perfil de longo prazo dos ativos, em alguns anos a rentabilidade da carteira será menor que a meta, mas em outros ela deve superar. Assim, a meta de retorno é uma média.
Revisar e monitorar
O quinto e último passo se resume em monitorar pelo menos anualmente e revisar todos os passos para conferir se o plano está seguindo como programado.
O maior inimigo para não alcançar sua meta é você mesmo. Por exemplo, alguns dirão “agora eu não consigo, pois …”. Mas isto é apenas uma desculpa. Lembre-se, quanto mais tempo demorar para iniciar, mas difícil fica.
Ao longo do caminho, surgirão vários motivos para você se desviar do caminho. Será necessária muita disciplina para persistir. O prêmio, experimentado por poucos, é extraordinário, mas por isso mesmo, o esforço para alcançar deve ser grande.
Comece neste domingo a planejar sua independência financeira.
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.