Descubra três razões para investir em bolsa agora

O fantasma do mês de maio, novamente, assombra os investidores de bolsa de valores neste ano. Desde 2010, o mês de maio foi o único dos doze meses que se manteve de forma invicta como sempre negativo. Se nesta semana o índice não se valorizar os 2,5%, que perde no mês, o mês de maio completará uma década de resultados negativos.

A assombração do mês, associada aos riscos políticos internos, ao desaquecimento da economia e aos receios internacionais, provocados pela guerra comercial entre EUA e China, tem levado investidores a rever suas expectativas com relação ao mercado brasileiro.

Neste contexto, explico três razões para você manter alguma exposição ao mercado de ações brasileiro.

 

Crescimento dos lucros

O crescimento econômico brasileiro decepcionou bastante os investidores. Segundo o boletim Focus do Banco Central, a expectativa para o crescimento do PIB do país para o ano de 2019 era de 2,55% ao final de 2018. Na última segunda-feira, essa variação já tinha caído para 1,24%.
Este crescimento medíocre, se repetido este ano, completará uma sequência de três anos de taxa próxima de 1%. Ou seja, longe do desejado.

Embora este crescimento seja decepcionante, o mesmo não se pode falar dos lucros das empresas que formam o índice Ibovespa. Segundo dados da Bloomberg, o crescimento de lucros dos últimos doze meses tem estado superior a 20% desde 2017.

Crescimento médio dos lucros nos últimos 12 meses. Fonte: Bloomberg

A expectativa é que esse incremento positivo nos lucros persista apesar de a economia deixar a desejar. Isto é explicado pela reestruturação de custos que as grandes empresas conseguiram implementar nos anos mais desafiadores, entre 2015 e 2016, pelas taxas de juros mais baixas que proporcionam menores despesas financeiras e pela capacidade de capturar participação de mercado sobre pequenas empresas que não conseguiram sobreviver à recessão.

A manutenção do crescimento de mais de 20% dos lucros para os próximos anos, sustenta a elevação dos preços em magnitude similar.

 

Preços relativos atraentes

Uma forma, internacionalmente, utilizada para avaliar se um índice está caro ou barato é analisar a razão entre o preço (P) e o lucro (L), conhecida como P/L.

No caso do Ibovespa, segundo estimativas da Bloomberg, o múltiplo P/L estaria atualmente em 11,5.

Evolução do múltiplo Preço/ Lucro (P/ L) nos últimos anos. Fonte: Bloomberg.

Há três razões para acreditar que esse número poderia ser maior, ou seja, que o preço deveria subir. Em primeiro lugar, o múltiplo se encontra abaixo da média histórica recente de 12,3. Apenas para voltar para a média, já se justificaria uma alta de 7% do Ibovespa. Mas, há duas razões adicionais para este indicador estar acima da média.

O primeiro motivo é que a taxa de juros da economia se encontra em seu mínimo histórico. Portanto, o valor das empresas deveria ser maior já que este é explicado pelo valor presente dos resultados futuros. Assim, se a taxa de desconto que está no denominador para cálculo do valor presente é menor, o valor deve ser maior.

Por último, como apresentado anteriormente, o crescimento atual dos lucros está bem superior à média histórica. Portanto, deveríamos estar negociando com um prêmio, pois se os lucros continuarem crescendo 20% e o preço do índice permanecer estável, o múltiplo estará 20% menor no próximo ano, ou seja, em 9,6, que é próximo das mínimas.

 

Geração de caixa e Earnings Yield x CDI

A taxa de juros básica da economia é definida a cada 45 dias pelo Comitê de Política Monetária, conhecido como COPOM. Nesta reunião, é escolhida a taxa básica mencionada que é a Selic Meta. A Taxa Selic Diária que remunera os títulos públicos é ligeiramente inferior a esta meta. E o CDI é igual à Taxa Selic Diária.

O CDI está em sua mínima histórica e existe expectativa de cair ainda mais.

O inverso do múltiplo P/L é conhecido como Earnings Yield (em inglês, ganho dos lucros). Esta é uma métrica internacionalmente acompanhada. Se considerarmos que todo o lucro fosse distribuído em dividendos, ele representaria a rentabilidade do acionista em relação ao preço da ação.

Como a parcela dos lucros que não é distribuída em dividendos é reinvestida para produzir mais dividendos no futuro, podemos assumir que o lucro não distribuído voltará maior no futuro para o acionista.

Pelo gráfico abaixo, é possível verificar que pela primeira vez, em anos, o Earnings Yield é sustentavelmente superior ao CDI. Portanto, finalmente há um prêmio ou ganho em se comprar ações.

Evolução histórica do indicador Earnings Yield (inverso do múltiplo P/L) e do CDI. Fonte: Bloomberg.

Na mesma linha, a gestora Dahlia Capital em uma de suas cartas recentes aos investidores escreveu:

A geração de caixa (cash flow yield) sempre foi muito próxima da taxa de juros real de dez anos no Brasil. Ou seja, para correr o risco de aplicar em ações, o investidor não recebia prêmio algum, apenas apostava no crescimento de lucro das empresas, que até 2016 era inconsistente.

Porém, recentemente, esta relação mudou. Raras vezes a geração de caixa das empresas foi tão alta. Hoje, o investidor “recebe” 7% a mais de geração de caixa sobre a taxa de juro real de dez anos para correr o risco de bolsa, por conta da melhora de geração de caixa das empresas.

A relação entre o indicador de geração de caixa médio das empresas que formam o índice IBX100 e o CDI, que a gestora se refere, é apresentada no gráfico abaixo.

Evolução do spread entre o Cash Flow Yield e o juros real de 10 anos. Fonte: Dahlia Capital.

 

Embora o mês de maio te assuste, quem aplicou no Ibovespa no final de maio na última década, teve retorno positivo em 8 dos 10 anos. Aproveite o momento de queda e maior temor da média dos investidores do mercado para construir alguma exposição em bolsa.

Reforço que antes de investir, avalie seu perfil de investidor e invista sempre via bons fundos de investimentos, de forma a manter a melhor relação entre retorno e risco.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.