Descubra quais os três principais riscos de um investidor conservador

Com a queda das taxas de juros, ser um investidor conservador deixou de ser uma tarefa simples. Atualmente, três riscos devem ser bem controlados por estes investidores.

Existe uma razão porque esses riscos não precisavam ser acompanhados no passado.

Nos últimos 20 anos encerrados em março de 2018, o rendimento médio de aplicações que remuneravam o CDI foi de 14,6% ao ano. Isso representou uma rentabilidade média de 1,14% ao mês.

Portanto, durante estas duas décadas foi fácil e confortável ser um investidor conservador. O alto nível das taxas de juros de aplicações conservadoras, desincentivava aplicadores mais avessos a risco em diversificar e, assim, não era necessário se preocupar com os riscos que agora devem enfrentar.

Desde março de 2018, uma aplicação que rende o CDI remunera apenas 6,4% ao ano, ou seja 0,52% ao mês.

Conforme expectativa do mercado, divulgada na última semana no relatório Focus, esta rentabilidade deve cair para 5,4% ao ano ao final de 2019. Mensalmente, o investidor ganhará apenas 0,44% ao mês a partir de 2020.

Para quem estava acostumado a mais de 1% ao mês sem qualquer esforço, será um grande desafio administrar os riscos envolvidos neste novo cenário. Comento abaixo quais os três principais riscos e como melhor administrá-los.

 

Risco de crédito

O investidor conservador possui grande parte de seu portfólio em títulos de renda fixa. Estes títulos podem ser de emitidos pelo Tesouro Nacional e, assim, o investidor não precisa se preocupar com o risco de não pagamento.

No entanto, o fato de não haver risco de crédito, faz com que sua remuneração seja também mais baixa. Portanto, para elevar a rentabilidade, os investidores têm buscado títulos de crédito privado.

Segundo dados da Anbima, o volume de emissões de crédito privado como Debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) mais que dobraram nos últimos anos.

Muitas destas emissões são adquiridas por investidores pessoas físicas que buscam remuneração superior. No entanto, é preciso considerar o risco de crédito que ocorre por eventual problema financeiro do emissor.

O problema surge porque o investidor comum não tem capacidade de avaliar o fluxo de caixa das empresas emissoras para entender a capacidade de pagamento destas.

Para mitigar o risco de crédito, há duas alternativas que podem ser perseguidas. A primeira é dividir a carteira em títulos de renda fixa de  diferentes empresas. O ideal é que nenhum emissor represente mais que 3% do seu portfólio financeiro.

Outra forma de reduzir o risco de crédito e aproveitar a maior rentabilidade dos títulos de crédito privados é investir por meio de fundos de investimento. Nesta alternativa, o investidor conta com muitas vantagens que podem mais do que compensar a taxa de administração dos fundos.

Por exemplo, contar com uma equipe de especialistas para avaliar quais as melhores emissões e quanto alocar em cada uma. Também, por negociarem em maior quantidade, conseguem acesso a melhores condições em taxas de retorno nas compras e vendas de títulos.

Adicionalmente, os fundos de investimentos têm acesso à negociação em mercado secundário mais facilmente que pessoas físicas. Portanto, podem mais rapidamente sair de algum título de empresa que apresente problema financeiro.

 

Risco de mercado

Com a queda dos juros os investidores devem sair de aplicações de renda fixa de curto prazo e referenciadas ao CDI, para prazos mais longos e referenciadas ao IPCA e prefixadas.

Adicionalmente, os investidores brasileiros vão ter de se adaptar como os investidores internacionais já o fizeram no passado, ou seja, diversificando mais a carteira.

Estas alterações vão fazer com que o portfólio não tenha mais uma rentabilidade estável e constante todos os meses. Isto é, o retorno da carteira vai variar mais entre os meses. Esta variação pode ser acompanhada pela medida estatística chamada de desvio padrão e conhecida como volatilidade.

Para mitigar o risco de mercado, a volatilidade média da carteira para um investidor conservador não deve ser maior que 2% ao ano. Considerando que os retornos do portfólio tenham uma distribuição conhecida como Normal, a maior probabilidade é que o retorno da carteira com essa volatilidade não será negativa em um ano, mesmo em cenários mais adversos.

De forma mais simples, o investidor conservador deve limitar o investimento em fundos de ações, fundos imobiliários ou fundos multimercados a no máximo 10% da carteira.

 

Risco de não cumprir os objetivos

Um dos maiores riscos que os investidores conservadores agora enfrentam é de não conseguir atingir seus objetivos financeiros como aposentadoria ou compra de imóvel.

Conforme mencionado, com as taxas mais altas do passado, era mais fácil ser conservador e assim mesmo ter um ganho suficiente para que os investimentos proporcionassem uma renda durante e até atingir a aposentadoria.

As menores taxas de juros tornam esta tarefa mais árdua. Com as taxas do passado, seu patrimônio dobrava a cada cinco anos. Agora o dinheiro aplicado em investimentos mais simples dobram a cada 13 anos.

Portanto, os aplicadores conservadores devem refazer suas contas para atingir os objetivos. Existem duas alternativas para repor a menor rentabilidade. A primeira é elevar os aportes mensais, ou seja, o investidor deverá rever o orçamento, cortar gastos e poupar mais.

Alternativamente, deverá considerar a poupança por prazo mais longo antes de atingir o objetivo. Assim, se pretendia se aposentar em 15 anos, talvez tenha de adiar seu desejo mais cinco a dez anos para que seja capaz de atingir a meta anterior.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.