O maior fundo de renda fixa, que você aplica, vai render mais, mas continua caro

Segundo dados da Anbima, o total sob gestão de fundos de investimento atingiu R$ 5 trilhões ao final de junho de 2019. Deste montante, quase 50% estavam representados por fundos de renda fixa. No entanto, nesta estatística, não está incluso o maior fundo de renda fixa do país. Vou explicar as cinco dúvidas que você tem sobre sua aplicação.

O maior fundo de renda fixa brasileiro é o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, conhecido por sua sigla FGTS. A gestão deste fundo é realizada pela Caixa Econômica Federal (CEF).

Conforme o último demonstrativo financeiro, disponível em agosto de 2018, o FGTS possuía 88 milhões de aplicadores e um ativo total investido de aproximadamente R$ 500 bilhões. Para se ter uma ideia de tamanho, este fundo é 40% maior que todos os outros fundos da CEF somados. O montante é mais de 12 vezes superior ao maior fundo de renda fixa nacional.

Mensalmente, você aplica no fundo o equivalente a 8% de seu salário, mas quem faz esta aplicação por você é seu empregador.

Recentemente, duas mudanças foram anunciadas que levantam uma série de dúvidas nos investidores. As duas mudanças são relativas à possibilidade de saque parcial e à elevação de rentabilidade.

 

Onde você está aplicando?

O FGTS aplica seus recursos prioritariamente para financiamento dos setores de habitação popular, saneamento e infraestrutura. Dos recursos aplicados em créditos nestes segmentos, aproximadamente 90% estão direcionados ao primeiro.

Estes recursos operacionais representam pouco mais de 75% do fundo e quase 25% estão aplicados em títulos públicos similares aos vendidos na plataforma do Tesouro Direto.

 

Quanto rendeu o fundo nos últimos anos?

As operações de crédito mencionadas acima possuem perfil de longo prazo e nos últimos cinco anos a taxa média de juros foi no máximo de 5,16% ao ano.

No último relatório disponível, com o fechamento de 2017, a taxa média dos créditos foi de 5,1% ao ano e o prazo médio dos créditos era de 19 anos.

Vale lembrar que naquele ano, o CDI, com liquidez diária, teve variação de 9,9% ao ano. No mesmo ano, os títulos públicos referenciados a IPCA (Tesouro IPCA) de vencimento de 2035 tiveram retorno próximo a 8% ao ano.

Mesmo com créditos com baixa rentabilidade, o retorno do investidor em 2016 foi de 7,14%. Isto ocorreu, pois pela primeira vez foi compartilhado com o aplicador 50% do lucro do FGTS de 2016. Esta distribuição fez o retorno tradicional de TR+3% subir pouco mais de 2%.

Em 2017, a rentabilidade do aplicador foi de aproximadamente 5,3%. Este percentual foi maior que a remuneração base do FGTS devido à distribuição de lucro que representou um acréscimo de 1,7%. Em 2017 a TR foi de apenas 0,6%.

O retorno para o aplicador foi muito aquém do desejado por qualquer investidor do mercado financeiro, principalmente considerando o alto risco dos créditos e a baixa liquidez para resgate.

Parte da explicação para esta baixa rentabilidade são as altas taxas cobradas.

 

Qual a taxa de administração cobrada pela CEF?

A Caixa cobra uma taxa de 1% ao ano para fazer a gestão do FGTS. Acrescido desta taxa, também é pago uma taxa de até 1,5% aos agentes financeiros (bancos) por acompanhamento das operações de financiamento a pessoas físicas.

Assim, o aplicador do FGTS está sujeito a uma taxa de 2,5% ao ano.

Ambas as taxas parecem estar acima do esperado para o atual momento.

A própria CEF distribui em sua rede de agência fundos de renda fixa com taxa de 0,05% ao ano e disponíveis a aplicadores com R$500 mil.

Quando grande aplicadores, que possuem mais de R$ 1 bilhão, contratam os bancos para fazer a gestão de renda fixa, a taxa de administração não é maior que 0,1% ao ano. Isto ocorre devido ao poder da escala.

A Caixa ganha dos trabalhadores o valor de R$5 bilhões ao ano em taxa cobrado no fundo. Se a taxa de administração fosse o percentual adequado de 0,1%, a rentabilidade do investidor poderia subir mais 0,9%.

Tanto o Banco Central quanto o governo falam que a competição entre os bancos deveria elevar, mas ainda falta fazer o dever dentro da própria casa.

Acredito que a publicidade destas taxas acima do mercado poderá promover a revisão e fazer com que o trabalhador tenha sua renda recuperada.

 

Quanto você deve ganhar no futuro?

Conforme anunciado, o aplicador deve passar a receber 100% dos lucros do FTGS. Se o fundo repetir o lucro de 2017 em 2018 em diante, o retorno do investidor deve ser de 6,4% ao ano a partir deste ano.

Nesta conta foi considerado os tradicionais 3%, o rendimento atual nulo da TR e o dobro da distribuição de lucro adicional de 2017, ou seja, 3,4% (1,7% * 2).

Deve-se lembrar que esta rentabilidade é isenta de IR. Logo, ela equivaleria a um retorno bruto de cerca de 7,5% ao ano.

Considerando as estimativas dos economistas no relatório Focus do BC, na qual se prevê o CDI caindo para 5,4% ao ano no fim de 2019, a rentabilidade do FGTS deve equivaler a 139% do CDI a partir de 2020. Poucas aplicações têm este retorno.

Acredito que as taxas cobradas possam ser revistas e cair pelo menos 1%. Portanto, o investidor pode chegar a ganhar o equivalente bruto de IR a 8,7% ao ano, ou seja, 161% do CDI.

 

O que você deve fazer com os recursos investidos?

No passado, muitos lamentavam ter seu dinheiro retido por causa da baixa remuneração. Entretanto, com esta nova perspectiva, o cenário para o aplicador no FGTS muda completamente.

O FGTS deve se tornar uma das melhores aplicações da grande maioria dos brasileiros se o cenário de retorno acima se concretizar.

Aqueles que em 2017 aproveitaram a flexibilidade para sacar a parcela em contas inativas, possivelmente podem se arrepender do feito.

Muitos imaginavam comprar um imóvel apenas para poder ter o valor do FGTS aplicado em algo que renderia mais de 3% ao ano. Agora este movimento também pode não compensar. Com esta nova expectativa de retorno, a compra não planejada de um imóvel se torna desvantajosa.

Portanto, só vai valer a pena sacar recursos do FGTS quem tiver dívidas a pagar.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.