O mundo está entrando em recessão?
Não é só a floresta Amazônica que está pegando fogo. Neste mês, as queimadas se estendem no mercado financeiro. A justificativa para os resultados negativos é receio com relação a uma possível recessão global a frente.
Segundo a enciclopédia eletrônica Wikipedia, desde 1785, ocorreram 47 recessões nos Estados Unidos. Por ser a maior economia do mundo, o recuo econômico traria impactos globais.
A última recessão nos EUA ocorreu em 2008. Considerando os 223 anos desde 1785, na média, ocorreu um período de queda econômica a cada cinco anos. O período mais longo entre retrações foi de dez anos e ocorreu na década de 1990.
Estamos agora vivendo o período mais longo de crescimento e isto deixa muitos ansiosos sobre uma potencial recessão apenas pelo prazo. Desta forma, investidores procuram qualquer sinal que tenha ocorrido no passado e que possa de alguma forma antecipar. Dentre muitas variáveis econômicas, esta busca sempre é bem-sucedida para qualquer cenário que se queira provar. E um foi encontrado…
Qual o sinal mais comentado?
Em agosto a taxa de juros dos títulos de dez anos ficou abaixo da dos de dois anos.
Este fenômeno é chamado: inversão da curva de juros. O nome se explica, pois normalmente investidores demandam mais prêmio por investir em prazos maiores devido ao risco. Portanto, as taxas de juros tendem naturalmente a serem ascendentes com a elevação do prazo de vencimento.
Segundo artigo publicado pelo FED de Chicago no ano passado, desde 1970, uma inversão da curva de juros ocorreu antes de cada recessão. No entanto, os autores alertam que nem toda inversão pode ser vista como preditor e ela pode apenas refletir condições de mercado e expectativas com relação aos próximos movimentos de redução de juros da autoridade monetária.
Essa opinião é compartilhada em artigo neste mês pela economista, Tiffany Wilding e pelo estrategista Anmol Sinha, da maior gestora de renda fixa do mundo, a Pimco.
A economista americana declara que não acredita que uma recessão seja iminente e que o FED está atento e reduzirá as taxas de juros como forma de administrar a desaceleração.
No entanto, ambos concordam que os riscos de uma recessão estão maiores, pois várias economias como a Alemanha apresentaram dados econômicos recentes desfavoráveis. E os EUA não estão imunes. Também sofreriam com a redução do comércio internacional provocada pela disputa de tarifas comerciais entre o Presidente Trump e a China.
Os preços já estão ajustados?
Segundo o relatório da Pimco, os preços já refletem em parte esse risco de retração econômica.
As recentes quedas do principal índice americano de ações, S&P 500, trouxeram o índice para o patamar de preço que reflete um múltiplo Preço/ Lucro de 17. Este múltiplo está em linha com sua média histórica.
Dois refúgios dos investidores em crises estão nas suas máximas dos últimos cinco anos: ouro e os títulos públicos de renda fixa americanos.
O que fazer?
Segundo o relatório da Pimco, “ao contrário do que ocorreu em recessões passadas, os riscos de estabilidade financeira se mostram moderados, os bancos estão com balanços fortes, o endividamento das famílias está administrável e a poupança dos indivíduos se apresenta em taxa máxima”. Portanto, isto eliminaria um risco de crise eminente.
Os nervos dos investidores internacionais estão sensíveis. Os próximos dados econômicos ditarão o andamento do mercado. Entretanto, ao que tudo indica, o mundo está desacelerando o crescimento, mas não está entrando em uma recessão.
Em apresentação realizada no último dia 23 pelo presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos, nossa economia, ao contrário do mundo, mostra sinais de retomada do crescimento.
Considerando que estamos vivenciando apenas uma desaceleração controlada, as quedas recentes se mostram uma oportunidade para elevar a participação de ativos de risco no portfólio para aqueles que ainda não ajustaram suas carteiras para a recente realidade de taxas de juros no Brasil.
Ressalto que qualquer alteração do portfólio deve considerar o perfil de risco do investidor.
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.