Duas dicas para selecionar fundos de ações
Segundo pesquisas, quando o investidor escolhe qual fundo de ações aplicar, usa como principal fator de decisão o retorno passado. Restringir sua decisão a este único fator pode te levar a falhas. Discuto abaixo duas situações comuns durante o processo de seleção de fundos e dicas para mitigar erros.
A regra de ouro de Buffet.
Antes de discutir a primeira lição, convido o leitor a escolher o seu fundo entre os dois gráficos abaixo. As duas figuras apresentam a evolução de um fundo e seu índice de referência (benchmark).
Normalmente o benchmark é um índice amplo, utilizado para aferir se o gestor apresentou resultados satisfatórios.
Perceba que no primeiro caso, o fundo apresentou resultado bem superior ao seu benchmark que teve retorno negativo. E no gráfico seguinte, o fundo teve retorno próximo do benchmark.
Qual dos fundos você acredita que possui o melhor gestor?
Você provavelmente escolheu o gestor do fundo apresentado na figura superior. Se eu dissesse que o gestor no gráfico inferior é o famoso investidor Warren Buffett e o benchmark é o principal índice de ações americano, o S&P 500, sua decisão mudaria?
A única diferença entre os dois gráficos é o período. Na figura inferior, o período selecionado foi os últimos dez anos encerrados em agosto. Na superior, os dez anos anteriores. Ou seja, os dois gráficos compostos apresentam o resultado completo de Warren Buffett ao longo dos últimos vinte anos. Esse resultado agregado é descrito na próxima figura.
Perceba que o resultado agregado de Warren Buffett nas últimas duas décadas parece impressionante. Esse é um assunto que abordarei em seguida, mas antes vamos à primeira dica.
Este exercício ilustra as duas lições que podem ser definidas como a regra de ouro ensinada por Buffett:
Regra 1: Não perca dinheiro.
Regra 2: Não esqueça a Regra 1.
Isto nos ajuda na definição do gestor quando investir. Mais importante que avaliar quem ganhou quando o mercado foi bem é analisar quem não perdeu quando o mercado se apresentou mal.
Devagar, mas sempre
Quando avaliamos o resultado de Buffet nos últimos vinte anos nos deparamos com um retorno surpreendente que equivale ao dobro do apresentado pelo índice S&P 500.
Resultado também superior pode ser acompanhado no gráfico abaixo. Em dez anos, o fundo rendeu mais que o dobro de seu benchmark. Em dez anos, o fundo rendeu 138% e o índice de referência, apenas 58% no período.
Você seria capaz de dizer quanto, anualmente, em média o fundo rendeu acima de seu benchmark?
Talvez tenha feito a conta a seguir. Percebeu que o fundo rendeu uma diferença de 80% em relação ao seu benchmark. Como o período é de dez anos, dividiu 80% por 10 e chegou a um rendimento médio de 8% ao ano acima do benchmark.
Se fez esta conta, errou. Os retornos compostos ao longo dos anos proporcionam a grande mágica do investimento no longo prazo.
O retorno médio anual acima do benchmark foi de apenas 4,18% ao ano. Essa pequena diferença quando composta ao longo dos anos proporciona um grande diferencial em um período extenso.
A lição que esta simulação ilustra é a consistência. Em vez de procurar o fundo que rendeu mais no ano passado, analise aqueles que apresentam maior consistência ao longo dos anos.
Todos sabemos que retorno passado não significa retorno futuro e dificilmente um retorno extraordinário no ano anterior vai se repetir no próximo.
Se só consegue analisar retorno para decidir, prefira aquele gestor que apresenta resultados consistentes ao longo dos anos, pois isto pode ser uma evidência de um estruturado processo de investimento que o gestor pratica e mais chances tem de repetir no futuro.
Nos últimos vinte anos, Buffet ganhou em média 7,9% ao ano acima do benchmark, mas na última década, o resultado foi bem mais tímido. Sua empresa de investimentos superou o S&P500 em apenas 0,5% ao ano, desde 2009.
Entretanto, ele também apresentou retornos extremos. Desde 1999, houve pelo menos um ano fechado em que a Berkshire, sua empresa de investimentos, teve rendimento de 50% acima do benchmark, e de 30% abaixo. Portanto, não é porque seu gestor perdeu em um ano do benchmark que você deve resgatar. Existem outros fatores a se avaliar.
Apenas o retorno passado não é a melhor ferramenta para avaliar qual fundo investir, mas estas dicas podem reduzir as probabilidades de erro em seu processo de escolha.
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.