Em que os investidores estão aplicando com a queda dos juros
A queda das taxas de juros tem provocado uma grande movimentação de recursos no mercado financeiro. Investidores estão diversificando, saindo de aplicações antes tidas como tradicionais.
A mais tradicional das aplicações dos brasileiros, a caderneta de poupança, está sofrendo com a queda de rentabilidade. O retorno da poupança caiu para menos da metade de três anos atrás. Ela rende agora apenas 3,85% ao ano. Este retorno equivale a 0,32% ao mês.
Até o final de setembro, segundo dados do Banco Central, a poupança sofre resgate líquido de quase R$ 5 bilhões, contra captação líquida de mais de R$ 25 bilhões no mesmo período de 2018.
Entretanto, não é só a poupança que está perdendo recursos. Aplicações de renda fixa estão perdendo a relevância nos portfólios dos investidores.
Segundo a Anbima, os fundos de renda fixa perderam participação no portfólio dos investidores nos últimos anos.
Conforme pode ser visto nos dois gráficos abaixo, o volume investido em fundos de renda fixa representava 48% do total investido em fundos em dezembro de 2016. Naquele momento, a taxa básica da economia, a taxa Selic, ainda estava em 13,75% ao ano.
A Selic vem caindo continuamente desde outubro de 2016 e, desde o mês passado, se encontra em 5,5% ao ano. Esta queda promoveu uma rotação nos portfólios dos investidores e hoje os fundos de renda fixa representam apenas 41% do total.
O destaque de alteração ocorreu justamente nos fundos de ações. Em 2016, estes representavam apenas 4% do total. Em setembro de 2019, a participação desta classe de ativos já representava 8% do total de fundos.
Esta elevação pode ser explicada parte pela valorização de 74% do Ibovespa no mesmo período, mas a captação se destacou. Enquanto de janeiro de 2018 a setembro de 2019 os fundos de renda fixa tiveram captação líquida de R$ 1,2 bilhões, os fundos de ações captaram R$77 bilhões. Esta evolução pode ser observada no gráfico abaixo.
Neste mesmo período, os fundos multimercados tiveram captação líquida ainda maior que os fundos de ações, acumulando mais de R$ 100 bilhões.
Claramente, o investidor está aprendendo a diversificar a carteira. No entanto, ressalto que este aumento de risco das carteiras deve ser sempre realizado com cuidado, pois momentos de maior volatilidade de mercado são naturais e ocorrem com mais frequência do que se imagina.
Portanto, os aplicadores devem atentar para três fatores que respondem pelo seu perfil de investidor: sua necessidade de recursos no curto prazo, sua habilidade e capacidade em suportar oscilações de mercado e o horizonte de longo prazo destas aplicações. O cuidado com estes fatores é fundamental para não haver desapontamento com os investimentos.
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.