O que deve ocorrer com a bolsa em ano de eleição americana?

A incerteza política econômica (EPU, Economic Policy Uncertainty) global se elevou ao seu máximo desde 1997, segundo o Global Economic Policy Uncertainty Index. Usualmente, a volatilidade dos mercados financeiros caminha em conjunto com esta incerteza, que pode se elevar ainda mais em ambientes conturbados de eleições. No entanto, ao contrário do esperado pelo nível do EPU, as bolsas de valores pelo mundo estão no seu máximo. Mas será que esse máximo se sustentará com o importante evento que vai ocorrer no próximo ano?

O índice conhecido como EPU foi criado em 2016 por três pesquisadores – Scott Baker, Nick Bloom e Steven Davis – e é baseado em três fatores: cobertura da mídia, alterações fiscais e divergências de projeções econômicas por analistas. O gráfico abaixo apresenta a evolução do índice.

Evolução do Economic Policy Uncertainty (EPU). Fonte: www.policyuncertainty.com

Os dois últimos máximos do índice foram atingidos no final dos anos de 2016 e 2018. No fim do ano passado houve um acirramento da guerra comercial e incerteza sobre o crescimento econômico. O índice da bolsa de valores americana caiu 9,2% em dezembro de 2018. O mesmo não ocorreu em 2016, pois naquele ano, a vitória do presidente Trump foi seguida de medidas importantes de redução de impostos para as empresas, o que elevou o lucro das empresas.

No próximo ano ocorrerá a eleição presidencial que mais preocupa os investidores pelo mundo, a americana. Neste sentido, considerando as eleições americanas do último século, o que podemos esperar para as bolsas no próximo ano?

Nos 92 anos, desde 1927, em 61 anos, ou seja, 66% do total, o S&P 500 apresentou valorização positiva. Neste período, o índice subiu 17.415%. Isto significa que se tivesse investido R$1.000 ao fim de 1927, teria hoje R$175.146. A média de ganho anual foi de apenas 5,8%.

Neste período, ocorreram 23 eleições presidenciais. Nestes 23 anos eleitorais, a bolsa se valorizou uma média anual de 5,8%. Portanto, os anos eleitorais americanos, na média, não foram diferentes dos outros anos.

No entanto, é interessante notar que em dezessete dos 23 anos, ou seja, em 74% do total, a bolsa subiu. Nos anos de alta, o retorno médio anual foi de 14,1%. Curiosamente, nos anos de queda, a média de rentabilidade foi de 14,7% ao ano.

Logo, em uma maior proporção, os anos eleitorais americanos tendem a ser positivos. Dentre eles, o melhor resultado foi uma valorização de 38%. Coincidentemente, o pior resultado foi uma queda de intensidade similar, 38.5%.

Em resumo, anos eleitorais americanos tendem a ser bons, mas não diferentes da média. Considerando, o alto nível do EPU e o nível do mercado acionário americano é importante estar atento e tomar cuidado com o nível de risco de seu portfólio, pois o mercado pode ficar mais sensível às notícias negativas.

Lembre-se, uma queda dos mercados globais, pode afetar também o bom humor do mercado brasileiro. Portanto, não corra riscos acima do necessário para seu objetivo de retorno.

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.