Três descobertas surpreendentes para quem investe em ações

Se você já se interessou por investir direto em ações, provavelmente já consultou o YouTube e se deparou com personagens se vangloriando da facilidade de se ganhar dinheiro na bolsa de valores. Entretanto, os números mostram que a realidade é muito diferente.

Estudo publicado por Bruno Giovannetti em conferência na CVM no ano passado apresenta três resultados surpreendentes.

Os resultados deste estudo deveriam mudar o comportamento de todos os investidores. Mas eles não são uma surpresa. Profissionais experientes como o reconhecido investidor Warren Buffett e seu mestre Benjamin Graham já alertaram, mesmo sem ter dados que comprovassem.

Giovannetti utilizou informações de negociação todas as pessoas físicas brasileiras que operaram ações entre 2012 e 2017 na B3. Estes números foram disponibilizados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Para a análise abaixo foram excluídas as operações de day trade. Sobre os resultados destas últimas operações, já comentei em artigo no passado.

O pesquisador investigou três questões:

1 – Os investidores individuais de forma agregada conseguem ganhar de um índice amplo como o Ibovespa?

2 – Na média o investidor individual ganha do Ibovespa?

3 – A flexibilidade de comprar em qualquer momento do dia faz com que o investidor compre melhor que o último preço de fechamento do mercado?

O professor analisou as duas primeiras perguntas em relação a um índice de referência como o Ibovespa por dois motivos. Primeiro, o aplicador tem sempre a alternativa de usar um fundo passivo e, sem trabalho algum, de forma mais barata e com menor risco, ter o retorno médio do mercado. Outra justificativa é retirar o viés de ganho ou perda simplesmente porque o mercado subiu ou caiu.

Foram avaliados vários períodos diferentes de manutenção da posição em carteira: 5, 10, 20, 40, 60, 80, 100, 120 e 240 dias.

Na primeira pergunta, ele encontrou que os investidores individuais de forma agregada tomam decisões erradas de investimentos. Estas decisões levaram a perdas de forma agregada entre R$ 230 milhões e R$ 1,3 bilhões. Esta perda foi relativa a um índice amplo, ou seja, em relação ao Ibovespa, por exemplo.

Logo, as pessoas físicas poderiam ter ficado até R$1,3 bilhões mais ricas se tivessem simplesmente aplicado em um fundo de ações passivo em vez de escolher suas próprias ações.

A resposta para a segunda questão não traz alívio a quem deseja fazer seus investimentos na bolsa de forma direta, ou seja, evitando os profissionais que fazem a gestão de fundos.

Na média, os investidores que aplicaram em ações perderam entre 0,3% e 2% em relação ao Ibovespa no período em análise.

As perdas apresentadas não consideraram dois pontos que pioram ainda mais os resultados. Não foram subtraídas as taxas de negociação, como as de corretagem e emolumentos da B3. Também não se considerou os prejuízos pela diferença de preços nas ofertas de compra e venda nas operações.

Uma justificativa que vários investidores argumentam para justificar a preferência em aplicar em ações diretamente em vez de aplicar em fundos de ações é a possibilidade de saber exatamente qual preço está comprando ou vendendo. Nos fundos, o aplicador entra ou sai do mercado pelo preço de fechamento do fim do dia.

A terceira pergunta responde se a possibilidade de decidir o preço realmente traz vantagem. Os resultados mostram que não. Ou seja, na média das operações, o investidor teria feito melhor se tivesse comprado ou vendido no preço de fechamento do que no preço que escolheu. Portanto, na média, o que se supõe ser uma vantagem, na verdade gerou ainda mais prejuízo.

Essa é mais uma falácia que se verifica em vídeos nas redes sociais. Analisando o passado, quando se pode ver ex-post, é fácil ver qual foi o melhor preço para vender ou comprar ao longo do dia. No entanto, a realidade mostra que esta escolha é uma atividade extremamente desafiadora.

Estudos empíricos apresentam que, mesmo para profissionais, ganhar de um índice amplo como o Ibovespa é um desafio. É lógico que para pessoas físicas sem suporte, dedicação e experiência, a perda deveria ser natural.

Se a perda é quase certa, por que muitos ainda se aventuram? Giovannetti explica por meio dos vieses de finanças comportamentais. Ou seja, se agissem racionalmente, as pessoas físicas sem suporte, dedicação e experiência não deveriam se aventurar em investir diretamente escolhendo quais ações aplicar.

Portanto, se pretende investir em ações, não perca tempo ou se desgaste emocionalmente, invista por meio de fundos de investimentos em ações. Assim, além de ter mais chances de sucesso, vai poder concentrar seu tempo em atividades que poderão gerar mais dinheiro para poder investir.

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.