Onde investe e quais os novos desafios de Guilherme Benchimol, CEO da XP
Nesta quarta-feira, 11 de dezembro, ocorreu o IPO da XP Investimentos na bolsa eletrônica americana, a Nasdaq. O evento foi cercado de otimismo, pois o grande interesse nas ações reflete a expectativa positiva de investidores estrangeiros em relação a empresas brasileiras e, por consequência, no país.
Quem imagina que o maior desafio de Guilherme Benchimol – CEO da XP – foi alcançado está engando. Ele acredita que a transformação do mercado brasileiro de investimentos, que iniciou há 18 anos, só está começando.
Mas os desafios não se restringem apenas à esfera profissional. Após uma maratona de entrevistas com mais de cem investidores em menos de dez dias e das atividades na semana do IPO, da qual tive o privilégio de participar, o sábado se inicia com uma corrida de dez quilômetros no Central Park em Nova Iorque com sua equipe e time de assessores financeiros. Nesta corrida ele também buscou superar seus limites, terminando a prova com tempo próximo de 40 minutos.
Ao final da corrida, realizei a entrevista que transcrevo abaixo.
Você democratizou o mercado brasileiro de investimentos. Qual o próximo desafio?
O processo de democratização dos investimentos dos brasileiros está só no início. Ainda há uma grande jornada pela frente. Neste sentido, o que melhor define nosso desafio é fazer mais do mesmo e melhor.
Temos de continuar levando educação financeira às pessoas, mostrando a elas que terão mais qualidade de vida se aprenderem a lidar melhor com dinheiro.
Portanto, temos um plano muito audacioso neste tema. Nos próximos anos devemos implementar o maior plano de educação financeira do Brasil. Vamos levar aos brasileiros conhecimento de finanças pessoais em todos os níveis, desde o mais básico ao mais avançado.
A intenção é possibilitar até mesmo àqueles que ainda não conseguiram acumular recursos, o aprendizado de como fazê-lo, começando pela administração de suas despesas pessoais. Adicionalmente, também possibilitar aos mais avançados dar maiores passos.
Com o crescimento acelerado da XP, o que você tem feito para não se transformar nas instituições financeiras que são criticadas por todos?
Cada empresa tem sua essência, seus propósitos e seus valores. O propósito da XP é muito genuíno: queremos transformar o mercado financeiro para melhorar a vida das pessoas.
Os valores que regem esse propósito são ter sonho grande, mente aberta e espírito empreendedor. Este é o nosso tripé cultural, nosso DNA.
Minha missão na empresa é garantir, junto com o time, a manutenção destes valores através de um sistema meritocrático no qual todas as pessoas que possuam posição de destaque dentro da empresa tenham este propósito enraizado e sigam os mesmos valores como mecanismo para atingir suas metas audaciosas. Logo, se garantimos isto, a empresa nunca sai do prumo que fez ela chegar até aqui.
Como você toma suas decisões de investimentos financeiros pessoais?
Tenho um assessor financeiro na XP que é a pessoa que garante que minha carteira combina com meu perfil de investidor.
No entanto, essencialmente, gosto de investir em fundos de ações. Acredito que a melhor maneira de se ganhar dinheiro no longo prazo é o investimento em ações de boas companhias. Para implementar esta estratégia, a melhor forma é investir em bons gestores experientes, que possuam histórico comprovado e estejam alinhados com você no longo prazo, ou seja, aqueles que boa parte de seus próprios recursos estão investidos no fundo que eles administram.
Diria que a maior parte do que possuo de recursos financeiros líquidos está aplicado em fundos de ações. Este é um produto que cada vez mais as pessoas vão dar atenção, pois o cenário de taxas de juros no Brasil mudou brutalmente e todos devem migrar o foco do CDI para investir como se investe mundo afora.
Quais são os desafios do investidor brasileiro para o próximo ano?
O brasileiro vai precisar encarar que acabou o dinheiro fácil.
Antes, era possível investir em um título público ou CDB (Certificado de Depósito Bancário) e ter o melhor dos cenários, ou seja, alto retorno, alta liquidez e baixo risco. Esse cenário dos sonhos acabou.
Desde o Plano Real a média de taxa de juros no Brasil foi de 13,5% ao ano. Logo, nos últimos 25 anos ninguém teve de aprender a correr risco.
Agora com a taxa básica da economia, a taxa Selic, a 4,5% ao ano e podendo cair ainda mais, quem quiser ter a mesma remuneração do passado vai ter de aprender a correr risco. Isso passa por alongar seus investimentos, abrir mão de liquidez e aceitar mais volatilidade em suas carteiras.
Assim, os aplicadores vão ter de aprender a diversificar em fundos multimercados, fundos de ações, fundos imobiliários e ativos internacionais. Enfim, agora os investimentos começam a entrar na pauta de todos, pois o cenário macroeconômico os obriga a buscarem alternativas para rentabilizar seus portfólios.
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.