Evite em 2020 estes três erros que cometeu em seus investimentos de 2019
O início de ano é um momento de reflexão e promessa. Refletir sobre o que errou no ano anterior e prometer a si mesmo o que deve evitar no ano que se inicia. Analiso três destes erros que muitos cometeram em 2019 e proponho alternativas para melhorar o desempenho de sua carteira em 2020.
Caderneta de Poupança
Segundo relatório do Banco Central do Brasil (BC) de 03/01/2020, o saldo em caderneta de poupança acumulava ao final de 2019 o total de R$ 844,3 bilhões. Pior que o saldo é saber que a captação líquida neste ano que se encerrou foi de R$12,2 bilhões.
A rentabilidade da poupança em 2019 foi de 4,18%. Esta rentabilidade deve se equiparar com a inflação medida pelo IPCA para o mesmo período. Logo, o investidor que aplicou na poupança teve apenas a correção de seu poder de compra. Mas a perspectiva deste produto é muito pior.
A caderneta rende 70% da taxa Selic. Portanto, ela deve se valorizar apenas 3,15% ao ano (ou 0,26% ao mês) a partir de dezembro de 2019. Como a meta de inflação do BC é de 4% em 2020, o investidor da poupança deve perder da inflação mesmo que o BC seja eficiente em sua responsabilidade.
Então por que tantos brasileiros continuam aplicando, mesmo sabendo que vão ter um resultado certo ruim?
Existem dois falsos argumentos que são usualmente utilizados para justificar a aplicação na poupança.
Alguns argumentam que a poupança seria uma alternativa para investimentos de liquidez, mas isto é uma falácia. A poupança não é um investimento de liquidez. Se resgatada entre as datas de aniversário, ela perde seu retorno. As alternativas de liquidez à poupança são fundos DIs ou CDBs de liquidez diária que remunerem mais de 83% do CDI.
Com relação ao risco, muitos confundem que a poupança seria garantida pelo governo. Isso não é verdade. A poupança tem o risco do emissor e é garantida pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) até o limite de R$250 mil. Existem alternativas como CDB, LC, LCI e LCA que possuem o mesmo risco e podem proporcionar maior retorno.
Concentrar em CDI
O passado de altos juros fez com que os brasileiros concentrassem suas carteiras em ativos referenciados ao CDI, pois eles proporcionavam alto retorno e quase nenhuma variação. Esta concentração ainda se manteve em 2019.
O investidor brasileiro se acostumou mal com estas aplicações de baixa volatilidade e a esperar que seu portfólio suba todos os dias e meses. Muitos se auto definiram como conservadores mesmo tendo capacidade de correr mais risco, tendo em vista o ciclo de vida e momento financeiro. Sua habilidade de suportar variação na carteira foi perdida pela falta de prática.
Investidores desenvolveram uma resistência a ativos que tenham possibilidade de variar para baixo, pois atribuem a eles um risco maior que o real. Seria equivalente a uma pessoa que tenha pavor em andar de bicicleta, pois pode morrer se cair. Este risco existe, mas a maior probabilidade, se andar com cautela é de que uma queda provoque apenas arranhões que serão curados com o tempo.
Para investimentos destinados ao longo prazo, como aqueles para aposentadoria, o ideal é que se corra mais risco, pois há tempo para recuperar eventuais perdas no futuro. Assim, seu plano de previdência deveria ser a parcela de maior risco de sua carteira.
Diversifique seu portfólio em fundos multimercados, imobiliários, de ações e internacionais, mantendo em liquidez e baixo risco apenas o que deve utilizar em até 2 anos.
Ganhos fáceis e rápidos
Neste momento de juros mais baixos, vários são iludidos por anúncios de alternativas com ganhos elevados e rápidos. Comento dois que foram muito divulgados em 2019.
Um destes foi o de investimento em ações de empresas de maconha. O maior ETF (fundo negociado em bolsa) do mundo, conhecido pelo código MJ, que possuía há um ano mais de R$ 4 bilhões de patrimônio e é composto por 36 empresas do setor, caiu mais de 35% em 2019. Algumas ações de empresas badaladas deste setor como a Tilray caíram mais de 70% no ano passado.
Analise com muito cuidado aplicações que tiveram forte desempenho no passado e que o preço atual já considera tudo de bom que possa ocorrer com o ativo.
Outra febre que tem se espalhado desde o ano passado é a de que pessoas simples podem ganhar a vida trabalhando apenas alguns minutos no dia realizando operações com ações e derivativos (instrumentos financeiros conhecidos como futuros e opções).
O pesquisador Bruno Giovannetti já atestou em pesquisa o quanto os investidores pessoas físicas perdem em seus investimentos em operações de day trading e de swing trade. As primeiras são aquelas em que o investidor compra e vende ações ou derivativos no mesmo dia e a segunda é aquela em que ele permanece com a ação por mais dias.
O maior erro para aqueles que desejam investir no mercado acionário é achar que a simplicidade na negociação das ações se reflete em facilidade de ganhar.
Seguir carteiras recomendadas por corretoras também não tem se mostrado uma saída lucrativa. O Jornal Valor Econômico organiza uma carteira formada pelas 10 ações mais recomendações pelas corretoras. Esta é chamada Carteira Valor. A Carteira Valor perde do Ibovespa em 60, 48, 36, 24 e 12 meses, ou seja, em todos os horizontes de tempo.
Selecionar ações não é fácil. Muitos investem em ações de grandes bancos como Itaú e Bradesco com o argumento de que o elevado dividendo e o fato de serem grandes empresas as torna imbatíveis. No entanto, mesmo se considerado o dividendo, estes investidores estariam melhores nos últimos 36, 24 e 12 meses aplicando com menor risco no Ibovespa. A ação do Itaú, por exemplo, rendeu 70% menos que o Ibovespa em 2019, mesmo considerando os dividendos. Outra queridinha de anos anteriores, tida como “segura” e grande pagadora de dividendos, a Cielo caiu mais de 20% em 2019 enquanto o Ibovespa subiu mais de 30%.
Se deseja investir em ações, faça este investimento em fundos de ações indexados ou em fundos de ações de um gestor especialista. Desta forma, estará diversificado e contará com a ajuda de um profissional. Entenda que os gestores profissionais contam com vantagens de acesso à informação e equipes para ajudá-los a encontrar as melhores oportunidades.
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.