Ele foi de 0 a R$1 bilhão em menos de 200 meses, saiba como
Se você já comeu bolo de fubá com goiabada, sabe que quando começa, só consegue parar quando acaba. O mesmo é possível falar do livro Na Raça da jornalista Maria Luíza Filgueiras, lançado no mês passado pela editora Intrínseca.
A instigante história de como a XP se transformou em uma das maiores instituições financeiras proporciona lições para investidores e empreendedores. Adicionalmente, o livro retrata a evolução da indústria financeira nas últimas duas décadas.
Destaco algumas das lições apresentadas no livro.
Persistência é característica básica dos empreendedores e investidores de sucesso. O livro descreve como a perseverança de Benchimol em enfrentar adversidades moldou a cultura da empresa e de seus colaboradores.
No entanto, perseverar não significa bater a cabeça na parede e achar que vai atravessar. Tão importante quanto, é descobrir rápido que se está errado. Essa foi uma constante nos negócios da XP. Guilherme mantinha, como chamava, um “stop curto”. Se não estava dando certo, ele já interrompia.
Um caso bastante ilustrativo foi quando ele acabou com a rede de assessores, contratando todos como funcionários, mas em pouco tempo, voltou atrás e os transformou em assessores independentes novamente.
Saber quando mudar ou perseverar nos momentos em que se está enfrentando uma adversidade ou uma aplicação malsucedida é uma arte que separa os corajosos dos fracassados.
Controlar custos
Tanto em sua empresa quanto em sua vida pessoal você deve sempre cortar custos. Filgueiras destaca este atributo de Guilherme.
As receitas de seu empreendimento e seus rendimentos são incertos, mas a despesa é certa. Portanto, se deseja elevar seu lucro ou sua capacidade de formar poupança, deve controlar de forma rígida os custos.
Você deve avaliar com muito cuidado cada gasto para entender se ele será capaz de produzir resultados que compensem. Vários são os exemplos disto no livro. Alguns deles foram: a rígida atuação de Guilherme em resposta à queda de 35% no lucro da XP em 2014 e a forma como enfrentaram os reflexos da crise financeira de 2008, a qual apelidaram de “modo de sobrevivência lunar”.
Incerteza natural dos negócios
Quem vê as ações da XP hoje valendo mais de R$ 80 bilhões não faz ideia do número de vezes que Benchimol quase vendeu toda a empresa por uma fração do valor.
A empresa de private equity (PE) (empresa de investimento em companhias fechadas) Actis, por exemplo, comprou em 2010 um participação de 20,5% da XP por R$ 100 milhões. Metade desta posição foi vendida em 2012 pelo mesmo valor para a General Atlantic, outra empresa de PE. Portanto, em dois anos ela já recuperou seu investimento.
A outra metade foi vendida em 2016 também para o mesmo comprador por R$ 300 milhões. Logo, em seis anos a Actis teve um lucro equivalente a três vezes seu investimento. Parece ser um bom ganho. No entanto, se tivesse mantido sua aplicação, ela seria 160 vezes maior, ou seja, sua posição seria de R$ 16 bilhões e seu lucro de R$ 15,9 bilhões.
Este e outros exemplos no livro demonstram a incerteza que se enfrenta na avaliação de empresas e que se reflete quando se deseja comprar ou vender ações.
Carta aos sócios
Filgueiras transcreve no livro o e-mail que Benchimol enviou a seus sócios quando da venda de participação para o Itaú.
Este e-mail tem relevantes recomendações que deveriam ser seguidas por muitos investidores. Transcrevo um trecho do e-mail:
“… Não se metam a fazer a gestão de seu patrimônio de forma ativa. Isso tira o foco na empresa/ metas e a maior parte das pessoas perderá seu dinheiro. O dinheiro não é para se “brincar”, é para se investir a longo prazo, buscando preservação de capital e mitigação de risco.”
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.