Como o coronavírus afetou seus investimentos e o que fazer
O ano começou com o receio de que o preço do barril de petróleo atingisse US$100 com o assassinato do general iraniano Soleimani. Naquele momento, havia um receio de que uma escalada de ataques entre EUA e Irã dominaria o risco pelos mercados. Entretanto, um inimigo de tamanho muito menor e que surgiu na mesma data fez todos esquecerem o ocorrido.
E o preço do petróleo? Em vez de subir, caiu mais de 15% desde a morte de Soleimani. Foi afetado pelo receio de queda de crescimento mundial pelo coronavírus. Este passou a ser o novo terror dos mercados.
Analistas econômicos apontam que o crescimento mundial em 2020 poderia arrefecer para 3% de 3,4% esperado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Esta e outras previsões alarmistas sobre o reflexo da pandemia afetaram os mercados nos últimos dez dias do mês de janeiro. Comento abaixo estes impactos.
Renda Fixa
Os detentores de títulos prefixados ou referenciados à inflação longos se sentiram aliviados. Até o dia 23 de janeiro, o título mais vendido na plataforma do Tesouro Direto – Tesouro IPCA 2035 – perdia do CDI. Mas o cenário mudou após esta data.
Os receios de desaquecimento econômico global e os reflexos em redução da inflação esperada promoveram queda nas curvas de juros pelo mundo. A taxa de juros de dez anos americana caiu para 1,5% ao ano de 1,8% até meados do mês.
Essas quedas de juros pelo mundo elevaram as apostas com relação a novas reduções da taxa Selic e também uma redução da curva de juros no Brasil.
Portanto, os títulos de renda fixa saíram de rentabilidade negativa para positiva, embora ainda abaixo do CDI para os títulos referenciados a IPCA mais longos como o Tesouro IPCA 2035 no gráfico acima.
Ações e Fundos Imobiliários
Os mercados acionários pelo mundo caíram de suas máximas históricas atingidas em meados do mês para encerrar o mês no território negativo.
O Ibovespa chegou a se valorizar mais de 3%, mas encerrou o mês com queda de 1,63%.
Os mercados emergentes foram os mais afetados, pois são os mais dependentes da China. A tabela abaixo mostra o desempenho do mercado americano medido pelo S&P500 e da composição dos mercados Globais.
Os fundos imobiliários que tiveram alta superior ao Ibovespa em dezembro, devolveram parte deste desempenho e encerraram o mês com queda de 3,76%.
Câmbio e Ouro
Tanto o câmbio Real/ USD quanto o ouro se valorizaram ao longo do mês.
Ambos serviram como fuga de investidores dado os dois eventos de estresse que surgiram neste início de ano. O ouro é favorecido pelo cenário de baixas taxas de juros. Quando os juros estão muito baixos como os atuais, o custo oportunidade de carregar um ativo como o metal, que não paga juros ou dividendo, fica mais baixo.
Mesmo com os receios de desaceleração global, a expectativa ainda é de crescimento e de elevação dos lucros das empresas. As perspectivas de crescimento econômico para o Brasil são especialmente positivas e o cenário de mais quedas de juros favorecem ainda mais.
Portanto, investidores com menor exposição a ativos de risco devem aproveitar eventuais baixas dos preços para adequar sua exposição ao perfil de risco.
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.