Evite estes dois mitos nos investimentos

Os hábitos nos investimentos são constituídos ao longo de nossa vida, iniciando por conhecimentos passados por nossos pais e se estendendo hoje pelos inúmeros vídeos na internet. No entanto, dois problemas surgem nestes costumes que acabam levando investidores a adotar estratégias de investimentos inadequadas.

Nossos pais não tinham acesso à diversidade de ativos financeiros hoje existente. Portanto, seus hábitos de investimentos acabam se restringindo muito mais ao que eles sempre aplicaram como poupança, renda fixa ou imóvel. Adicionalmente, eles viveram em um ambiente de taxas de juros completamente diferente. Assim, não era necessário diversificar o portfólio para ter boa rentabilidade.

Estes dois fatos mudaram. Hoje temos uma disponibilidade ampla de produtos nacionais e internacionais com estratégias diferenciadas. Por exemplo, embora os fundos imobiliários existam há mais de duas décadas, sua popularização tem menos de dez anos.

Outro fator é a percepção de risco e liquidez. A volatilidade do mercado acionário brasileiro hoje é quase 50% menor que a existente há vinte anos. Portanto, este mercado era visto como muito mais arriscado que sua realidade atual. Adicionalmente, a liquidez de negociação e governança das empresas se elevou consideravelmente.

Com relação às informações online, elas podem estar desatualizadas ou serem generalizadas de forma inadequada. Deve-se lembrar que há menos de três anos, a taxa básica da economia ainda era superior a 12% ao ano e a taxa real, acima da inflação, em títulos de baixo risco era superior a 6% ao ano. Logo, a decisão de investimento era outra.

Neste novo ambiente, você deve evitar dois mitos nos investimentos.

 

Aposentados e idosos não devem ter aplicações de risco

Este é um dos grandes mitos que foi aprendido pela atual geração e que também foi adotado pela anterior.

Investir em fundos de ações diversificados é muito menos arriscado que se imagina quando o horizonte de investimento é superior a três anos.

Por exemplo, considere uma pessoa com 79 anos. Provavelmente, você aprendeu que esta pessoa não deveria investir nada em fundos de ações. No entanto, este pensamento não pode ser generalizado.

Segundo o IBGE, a expectativa (média) de vida deste idoso é de mais dez anos. Logo, se assumir que ele gastará 50% do patrimônio nos próximos cinco anos, os outros 50% possuem horizonte de investimento superior a cinco anos. Assim, pelo menos 10% de seu patrimônio atual poderia estar alocado em um ativo que olhando oito anos à frente terá retorno superior.

Sem dúvida, a habilidade deste investidor suportar a volatilidade do mercado deve ser considerada para que ele não se desespere e resgate o investimento no primeiro solavanco do mercado.

 

Reserva de emergência deve estar em liquidez

A reserva de emergência é aquela soma de seu portfólio que deve ser acumulada para cobrir suas despesas nos momentos em que sua renda se interrompa, por exemplo, em troca de emprego.

No passado, as taxas de juros eram elevadas e investir esta reserva com liquidez era perfeitamente confortável.

Após o último corte de taxas de juros ocorrido na última quarta-feira pelo Comitê de Política Monetária (COPOM), a taxa Selic Meta caiu para 4,25% ao ano. Assim, títulos atrelados à Selic diária ou ao CDI passaram a render apenas 4,15% ao ano.

A meta de inflação do Banco Central é de 4% ao ano com uma faixa de 1,5% para baixo ou para cima. Logo, qualquer surpresa na inflação, como a que ocorreu no último dezembro (IPCA = 1,15%) com a alta do preço da carne, pode fazer com que seu investimento de liquidez perca da inflação.

Mesmo sem considerar estas surpresas, quando líquido de IR, seu investimento de liquidez deve perder da inflação.

Portanto, você deve planejar seu fluxo de caixa e manter em liquidez apenas recursos que possa precisar no curto prazo para pagar despesas ou para rebalancear seu portfólio.

Se você perder o emprego, não vai utilizar toda a reserva em um único dia, muito menos no primeiro mês. Logo, a reserva de emergência pode ser distribuída em aplicações de baixo risco, mas com prazo de 30 ou mais dias.

Se quebrar estes dois mitos, poderá distribuir melhor seu portfólio e alcançar melhores oportunidades de retorno.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.