Descubra se você está comprando o investimento errado neste momento
O ciclo de vida médio de um produto é similar ao ciclo de nossa renda. Esta similaridade determina qual portfólio seria mais adequado para cada estágio. A maior parte dos investidores falha em reconhecer o momento em que estão e quais ativos deveriam compor a carteira nos respectivos instantes.
Um produto passa durante sua existência por quatro estágios: introdução, crescimento, maturidade e declínio. Sua renda segue ciclo análogo. No início, sua renda é constituída pelos proventos de seu trabalho e ao fim pelos resultados de seus investimentos e segue a forma apresentada na figura abaixo.
No início da carreira, seu salário é baixo e, para muitos, guardar o mínimo de 10% é um desafio. Vamos assumir que você se esforçou e consegue poupar pelo menos este mínimo. Como ainda está aprendendo sobre investimentos, a maior parte aplica em produtos conservadores como poupança, títulos de renda fixa referenciados ao CDI ou à Selic e de curto prazo de vencimento.
Este é o instante em que seu horizonte de investimento é o maior, superior a trinta anos. Logo, grande parte do portfólio, deveria estar alocado em ativos de maior risco ou de renda variável, como fundos de ações. Como seu portfólio ainda está em formação, nos primeiros anos, seu portfólio cresce basicamente devido aos aportes adicionais.
Deixe em renda fixa apenas o que pode precisar para despesas correntes e eventuais. Aproveite que o valor aplicado é baixo para aprender a suportar a volatilidade dos mercados de renda variável.
Investidores que não adquirem a habilidade de tolerar a volatilidade de seu portfólio no início da carteira, costumam tomar decisões inadequadas quando mais velhos, por exemplo, vendendo quando os ativos caem de preço.
Evite investir em imóvel neste período, ou seja, até os 35 anos de idade. Como provavelmente não desenvolveu família e tem grande probabilidade de mudança de endereço por mudança de emprego, o imóvel adquirido neste momento não será adequado para você em poucos anos.
Se você está no estágio da maturidade ou declínio e tem um filho no período inicial de carreira, pelo mesmo motivo, também evite investir em um imóvel para ele.
O segundo estágio, costuma ocorrer entre os 35 e 50 anos. Neste intervalo, seus rendimentos mensais costumam ter forte aceleração. Seu horizonte de investimento também é muito elevado.
Entretanto, diferente do período anterior, agora você terá constituído família. Suas despesas são mais elevadas, pelas obrigações com filhos, financiamento imobiliário e outros. Assim, uma reserva de emergência maior é fundamental. Mesmo assim, como ainda está no período de aceleração da renda, seu portfólio ainda deve ter risco menor que o do estágio anterior, mas ainda elevado.
Após os 50 anos, sua renda atinge a maturidade. Neste período ela deve crescer de forma mais moderada. Isto significa que o risco de sua carteira também deveria ser reduzido. No entanto, ainda deve manter exposição a ativos de renda variável, pois seu horizonte de investimento é em média de trinta anos segundo o IBGE.
Se investiu de forma adequada e disciplinada, sua renda do trabalho se iguala à proveniente dos investimentos nesse intervalo de tempo.
No estágio final, o de declínio, após 65 anos de idade, seu portfólio deve estar preparado para dois efeitos: produção de renda e sucessão. Com esta idade, seus filhos já deixaram sua casa. Imóveis são mais custosos em processos de inventário e como não são divisíveis, podem se tornar motivo de briga familiar. Portanto, você deveria vender seu imóvel para se aproveitar da renda proveniente dos investimentos e permitir uma sucessão mais barata e amigável.
Lembre-se que produtos de previdência são excelentes veículos de sucessão. Se não os adotou ao longo da vida como forma de planejamento fiscal, ou seja, redução de impostos, esta é a hora.
Não é porque atingiu o estágio de declínio de renda que não pode ter produtos de renda variável. Conforme o IBGE, indivíduos com 80 anos ainda possuem uma expectativa de vida de mais dez anos. Logo, é tempo suficiente para ter uma pequena exposição a risco.
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.