Qual o maior presente que sua mãe deseja?

O sonho de qualquer mãe é garantir que seu filho atinja a segurança e liberdade financeira. Entretanto, a maioria dos pais não teve uma educação financeira. Portanto, o caminho para este objetivo leva a falhas que são inconscientemente aprendidas e repetidas pelos filhos.

A forma como lidamos com o dinheiro tem raízes na família. As crianças absorvem por meio da observação dos pais. Portanto, o segredo para que uma mãe consiga alcançar seu maior desejo é criar um ambiente de repetições que gerem hábitos virtuosos nos filhos.

Como destaca o renomado autor Harv Eker no livro “Os Segredos da Mente Milionária”:

“sua programação conduz aos seus pensamentos; seus pensamentos conduzem aos seus sentimentos; seus sentimentos conduzem às suas ações; suas ações conduzem aos seus resultados.”

Discuto a seguir alguns hábitos que parecem fazer sentido para os pais, mas podem ter efeitos adversos, pois nosso subconsciente nem sempre age conforme a razão. De fato, como Harv ensina:

“quando o subconsciente tem que optar entre a lógica e as emoções profundamente enraizadas, as emoções quase sempre vencem”.

 

1- Não crie uma poupança para seus filhos

Muitos pais mal conseguiram acumular uma reserva para sua aposentadoria e já planejam fazer uma poupança para os filhos.

Colocar o interesse de seu filho na frente do seu, parece uma atitude generosa. No entanto, essa é apenas uma desculpa, pois a poupança das crianças é mais fácil que a nossa, já que o valor a ser guardado é menor e não há uma obrigação como cobrir seu déficit previdenciário.

De fato, seria muito bom planejar o futuro financeiro de seu filho, mas este deveria estar integrado ao seu e vir como meta secundária, tendo as suas metas como alvo principal. Adiar sua meta, que é mais difícil, para cumprir a do seu filho é um péssimo exemplo a deixar para ele.

Mostre para seu filho que você vai alcançar sua independência financeira, pois criou um planejamento e tem cumprido disciplinadamente suas metas. Ele vai aprender que este é o caminho.

Convide-o para abdicar de algum presente e investir junto com você, demonstrando que ele vai aplicar melhor se for em conjunto.

Se criar uma poupança para seu filho, em uma conta separada dele, pode ter certeza, como ele não passou pelo aprendizado da dificuldade de abdicar do consumo imediato para investir, ele vai comprar um automóvel ou vai gastar todo o dinheiro assim que tiver idade suficiente para ter autonomia sobre a conta.

 

2- Nunca dê um “porquinho” para seu filho

Qual criança nunca ganhou um cofrinho com formato de porquinho. Normalmente esse ato é alardeado como forma de ensinar os filhos a darem os primeiros passos no ato da poupança. Entretanto, esse “porquinho” cria pelo menos dois vieses comportamentais nocivos ao sucesso financeiro.

O ato de adiar o consumo deve ser premiado com um ganho para que no futuro se possa consumir mais. Para que isso seja verdade, o rendimento das economias precisa ser superior à inflação. Entretanto, com o cofrinho, a criança aprende na prática justamente o contrário. Quando ela quebra o cofre, depois de meses de privação, percebe que o valor do dinheiro é menor que o inicial, pois a inflação já corroeu parte dele. Ou seja, acabou de aprender que poupar, além de não ser prazeroso pela privação do consumo imediato, não traz benefício no futuro.

O “porquinho” também gera o hábito de se consumir toda a economia de forma periódica e limita a capacidade de formação de um patrimônio que trabalhe para seu filho. A maioria dos adultos repete o hábito de começar uma poupança, mas assim que atingem um determinado valor, “quebram o porquinho”, e despendem todo o montante guardado. Muitas vezes, em um bem que não gera mais riqueza, mas que se transforma em um passivo, por exemplo, um novo automóvel. Logo, nunca conseguem acumular um patrimônio.

Ensine seu filho sobre as aplicações financeiras. Se você ainda não sabe, aprenda, pois é seu dever ensinar com exemplo. Separe uma aplicação exclusiva para ele. Pode ser um VGBL, um fundo de investimento ou mesmo um título público no site do Tesouro Direto. Desenvolva, no filho, o hábito de monitorar o investimento periodicamente. Assim, ele aprenderá que guardando, terá mais no futuro e esse hábito não tem limites físicos, ou seja, o “porquinho” é ilimitado.

 

3 – A vida não é dura

Normalmente os pais ensinam os filhos que a vida é dura. Os filhos se programam para ter uma vida árdua e desenvolvem essa crença.

Como ensinam os pesquisadores comportamentais, toda crença é auto realizável. Portanto, os filhos acabam trabalhando contra eles próprios para não correrem o risco da desaprovação da mãe. Quando obtém algum sucesso financeiro, gastam toda a riqueza, pois se ficassem ricos, poderiam não ter a aprovação da mãe que os ensinou que o contrário era o que deveria ocorrer.

 

4 – Não guarde dinheiro para os dias difíceis

Como menciona Paulo Vieira em “Fator de Enriquecimento”, quando ensinam guardar para os dias difíceis, os pais estão levando os filhos para uma armadilha:

“Quando você toma a decisão de guardar dinheiro para os dias difíceis, está, em primeiro lugar, dizendo para seu cérebro que os dias difíceis virão. A segunda mensagem subliminar é que você precisará desse dinheiro guardado para gastar nesses dias difíceis.”

Portanto, ao criar essa mentalidade em seus filhos, eles trabalharão para sempre construir dias difíceis para então satisfazer o desejo do consumo que é natural e irresistível. E toda a reserva financeira para formação de independência financeira será perdida.

 

5 – A oportunidade nunca vai aparecer, você precisa criar

De forma comum os pais ensinam aos filhos para trabalharem duro, pois a oportunidade vai aparecer. Assim, muitos passam a vida trabalhando duro e planejando empreendimento, que nunca sai do papel, esperando que a oportunidade chegue. E ao final da vida, lamentam-se que não atingiram o sucesso financeiro, pois não tiveram sorte de a oportunidade bater em suas portas.

As oportunidades não surgem. Elas precisam ser desenvolvidas. O planejamento e trabalho, embora importantes, não geram oportunidades se não houver ação.

Desenvolva a mentalidade de prosperidade nos seus filhos, criando neles a mentalidade de que podem ter o que quiserem se lutarem por isso.

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.