Descubra se você está errando como a maioria dos brasileiros

Estudos empíricos atestam que a decisão de alocação estratégica entre as classes de ativos é crucial no retorno de longo prazo. Quando se fala em longo prazo, deve-se imaginar um horizonte de investimento de 10 anos ou mais. É justamente nesta parcela de longo prazo que a média dos brasileiros está errando.

Antes de avaliar como os brasileiros investem, vamos entender quem provavelmente tem acesso à melhor orientação sobre investimentos.

As instituições financeiras segregam investidores, quando pessoas físicas, em três segmentos básicos: varejo, varejo de alta renda e private. A segmentação está relacionada ao volume de investimentos.

Usualmente, o private é formado por aplicadores com mais de R$ 5 milhões, equivalente a US$1 milhão em aplicações financeiras líquidas. O varejo de alta renda costuma ser constituído por aqueles com mais de R$ 100 mil reais. Por fim, aqueles com investimentos menores que R$100 mil constituem o varejo.

Dos três segmentos, qual você acredita que, na média, tem mais acesso à informação e orientação financeira?

Concordamos que por serem uma parcela menor e que concentram mais recursos, investidores do segmento private, costumam ter acesso à  melhor orientação financeira. Que tal entender como eles estão alocando seus portfólios?

As três figuras a seguir são distribuições de alocação de recursos em fundos de investimento para cada um dos três segmentos, com dados da Anbima. Seu desafio é atribuir cada gráfico a seu segmento. Qual seria a distribuição de alocação dos investidores private?

Distribuição de fundos de investimentos entre classes de ativos para os segmentos varejo, varejo de alta renda e private. Cada letra representa um segmento. Fonte: Anbima.
Distribuição de fundos de investimentos entre classes de ativos para os segmentos varejo, varejo de alta renda e private. Cada letra representa um segmento. Fonte: Anbima.
Distribuição de fundos de investimentos entre classes de ativos para os segmentos varejo, varejo de alta renda e private. Cada letra representa um segmento. Fonte: Anbima.

Em qualquer dos segmentos, existem investidores conservadores, moderados e agressivos. É razoável estimar que a média de todos os investidores resulta em um perfil moderado. Portanto, podemos afirmar que os gráficos seriam atribuídos aos investidores moderados.

Se você disse que a distribuição do varejo é aquela com letra C e o private é aquela com letra A, você acertou. Perceba, que o percentual em fundos de renda fixa alocado para o private está em apenas 20%. Enquanto, no varejo, este percentual supera 80%.

A alocação em fundos de ações, para o varejo, é a menor entre todos os segmentos.

Apenas uma pequena parcela dos brasileiros se enquadra na categoria private. Portanto, a grande maioria dos brasileiros deve estar com alocação em ações menor do que deveria. Com a queda das taxas de juros a patamares, historicamente baixos, esta reduzida alocação em ações pode ter um reflexo considerável no potencial de retorno de longo prazo para estes investidores.

Entretanto, esta ainda não é a maior falha entre os investidores. Quando se avalia os recursos totais em previdência privada, o problema pode ser ainda maior.

Os recursos investidos em previdência privada são usualmente aqueles de perfil de longo prazo. Este horizonte de investimento é justificado pela finalidade da aplicação que costuma ser para aposentadoria ou sucessão.

Os dados da Anbima mostram que o volume total alocado em previdência privada aberta alcança R$ 928 bilhões. No entanto, os fundos de previdência qualificados como de renda fixa somam R$ 818 bilhões. Ou seja, quase 90% dos recursos de brasileiros em previdência são mais conservadores que a distribuição em fundos de investimentos.

Menos de 3% dos fundos de previdência dos brasileiros estão alocados em fundos de ações. Este número demonstra uma grande incoerência na alocação para aposentadoria.

Como os recursos em previdência têm perfil de mais longo prazo que fundos abertos, eles deveriam ser a parcela mais agressiva dos investidores. Seria de se esperar que a alocação em ações média, em previdência, superasse aquela apresentada pelos investidores private em fundos abertos.

O reflexo da remuneração mais baixa recente das taxas de juros certamente vai promover esta movimentação, mas não espere os outros fazerem primeiro, pois pode ser tarde para você salvar sua aposentadoria.

 

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.