Taxas de juros mais baixas pelo mundo têm feito ouro e bolsa subirem; saiba qual o melhor agora
A redução das taxas de juros pelos bancos centrais no mundo tem promovido intenso movimento nos preços dos ativos de risco e quebrado correlações históricas entre eles. Ouro e ações que, costumavam, ser ativos descorrelacionados, apresentam oscilação forte e na mesma direção este ano.
O gráfico abaixo que demonstra a evolução do preço do ouro (invertido) e da taxa de juros real (acima da inflação) explica a variação recente do metal precioso.
No gráfico acima, quando a linha amarela – representada pelo preço invertido do ouro – está mais baixa, significa que o preço do ouro está mais elevado. É possível ver que o metal dourado retoma o máximo atingido no fim de 2012.
No ano de 2018, quando o FED (Banco Central americano) aumentava as taxas de juros, com receio de aquecimento na economia, o ouro atingiu sua mínima nos últimos 9 anos.
O ouro é um ativo que não produz renda. Quem está comprado em ouro, deixa de ganhar qualquer taxa de juros. Portanto, quando as taxas de juros estão mais elevadas, o ouro costuma cair de valor devido ao custo de oportunidade mais alto.
No entanto, a queda das taxas de juros e a expectativa de não elevação, pelos próximos meses, torna barato manter ouro no portfólio.
Não é só este metal que é favorecido com taxas de juros menores. O mercado de ações também se beneficia. Mas a correlação entre bolsa e ouro, usualmente é negativa, pois o metal costuma ser comprado em momentos de incerteza.
Conforme dados da Bloomberg, a correlação entre o índice de ações americano S&P500 e o ouro era ligeiramente negativa até o final de 2019. Neste primeiro semestre de 2020, esta relação linear entre os dois subiu para 0,52.
A correlação é um indicador de relação linear entre dois ativos que varia entre -1 e 1. Uma correlação de 1 representa que quando um ativo sobe, o outro também sobe e quando um ativo cai, o outro também apresenta variação negativa.
Importante mencionar que a correlação não expressa a intensidade dos movimentos, mas a relação entre a direção do movimento conjunto para cima ou para baixo. Logo, uma correlação 0,5 não significa que quando um ativo se valoriza, o outro sobe apenas metade do movimento.
O gráfico abaixo apresenta a evolução do ouro e do S&P500 na última década. Percebe-se que um investimento de US$ 100 no S&P500 se transformou em quase US$ 300. Ou seja, foi multiplicado por 3. Enquanto o mesmo recurso aplicado em ouro se valorizou apenas 50% no mesmo período.
Se observarmos o gráfico dos dois desde o início de março de 2020, quando o receio sobre a pandemia ficou pior, é possível ver uma relação mais próxima entre os dois.
A correlação entre ouro e bolsa parece ter sido quebrada no curto prazo. No entanto, outra correlação pouco se alterou neste período. A correlação entre o DXY e o ouro se manteve negativa e próxima de -0,5 antes e depois deste ano. O DXY representa o dólar contra uma cesta de moedas.
Isso significa que a relação entre ouro e DXY são inversos. Assim, usualmente, quando o DXY sobe, o ouro se desvaloriza. Isto pode ser visualizado no gráfico abaixo que mostra a evolução do DXY e do preço do ouro invertido.
Ambos, ouro e S&P500 estão próximos de suas máximas históricas. No entanto, se você acredita que não deve haver muito mais queda de juros ou variação significativa do DXY, prefira apostar no S&P500, pois além do mercado de ações americano ser menos impactado, há os dividendos das ações que o ouro não produz.
Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.